História Save Me - Tour

    Fomos para a casa de J–Hope no carro do motorista que a empresa enviou. Tivemos que sair mais cedo para evitar algumas coisas do tipo: Namjoon ficar bêbado e começar a flertar com todo mundo a sua volta — incluindo meninos —, Jin ficar no mesmo estado e começar a contar histórias infantis — sim, ele contava a história de João e Maria toda isso acontecia —, ou eu mesmo beber um pouco mais e acabar desaparecendo. Eu sempre sumia quando ficava bêbado. Saía me agarrando com qualquer uma que me dava mole e depois não lembrava nem qual era o meu nome. Sempre assim, e já havia levado muitas broncas da empresa por causa daquilo. Graças a Deus nunca nenhum fotógrafo me pegou no flagra. Imagina só a confusão que seria se lêssemos “JungKook é visto bêbado em uma praça totalmente despido” no dia seguinte. Os jornais nunca contaram com essa notícia, mas eu já havia ficado bêbado e tirado a roupa na praça. A sorte foi que Jimin estava passando na hora, foi rápido até mim e antes que eu pudesse arrancar a cueca me puxou para o carro dele. Eu realmente era um problema bebendo.

O portão estava aberto e havia um segurança de terno ao lado. Desci do carro e entrei sorrindo para o segurança, cumprimentando-o e sendo acompanhado pelos meninos. Passando pelo jardim, olhei em volta. Toda vez que eu ia ali havia algo novo, daquela vez era um chafariz em forma de uma bailarina na piscina, rosa, espirrando a água pelo pé. A bailarina segurava uma perna esticada e a outra ponta do pé estava no chão. Ri baixinho olhando, apontei e os meninos acabaram rindo junto comigo. Entramos na casa que estava com a porta aberta e a primeira coisa que vi foi Suga deitado em um dos sofás mexendo no celular. Engoli em seco. Ele parecia bem entediado, mas entretido com o aparelho, digitava lentamente e talvez nem havia percebido nossa chegada.

— J-HOOOOOOOPE — gargalhou depois de gritar. —, onde fica o açúcar? — uma voz feminina e doce vinda da cozinha ecoou pela casa. Meu coração automaticamente disparou. Não acreditei que ela já estava ali. J-Hope desceu as escadas e foi para a cozinha choramingando, provavelmente por conta do primeiro grito. Suga seguiu J–Hope com o olhar e em seguida fitou a porta, onde estávamos. Assim que percebeu minha presença começou a me encarar com uma aura de fúria. Meu estômago se embrulhou pelo inacreditável medo de Suga.

— Eu acho melhor ir tomar um banho — falei rápido e corri escada acima. Sentia Suga me encarar a cada passo que eu dava e consequentemente acelerava mais ainda os mesmos.

Fui para o quarto de hóspedes, notando as minhas coisas que já estavam lá desde o início da semana. Necessitava de uma ducha gelada imediatamente. Andei até o banheiro, tomei banho e enrolei a toalha em volta da minha cintura sem me secar. A água do cabelo pingava sobre minha barriga magra — assim como o resto do corpo. Abri a porta do banheiro e, assim que saí, vi alguém de costas mexendo no closet. Sim, era ela. Meu coração acelerou. Ela parecia procurar algo, vestia uma calça de moletom cinza com duas listras em um dos lados e uma blusa preta, masculina, pelo que aparentava. Ficava como um vestido em seu corpo, folgado, e aquilo deixava ela ainda mais linda.

— O que faz aqui? — perguntei em um tom calmo e ao mesmo tempo de deboche. Ela deu um pulinho e se virou. Provavelmente se assustou com minha presença.

— Ah, meu Deus! — tapou seus próprios olhos e deu uns dois passos para trás por impulso. — Nunca ouviu falar em roupa? — berrou séria. Até mesmo brava ela continuava muito fofa.

— E você? Não viu que tinha gente aqui? — retruquei e ri baixinho, a irritando mais ainda. Ela soltou o ar pesado pela boca tentando manter a calma.

— Deve ser porque o quarto estava vazio! — Ela continuou com as mãos nos olhos e voltou a suspirar pesado, dessa vez pelo nariz.

— Você é surda? Não ouviu o chuveiro ligado? — debochei e a encarei fortemente mesmo sabendo que ela não poderia me ver. Era estranho, mas eu gostava mais dela irritada do que calma, ela parecia mais adorável.

— EU ACABEI DE ENTRAR NO QUARTO! — Tirou as mãos dos olhos assim que começou a berrar e me fitou séria. Seus olhos continham fúria e ódio.

— Deu pra perceber — larguei o tom de deboche. —, estava até procurando alguma coisa — me aproximei e pronunciei grosso. Estava perto até demais. Nos encontrávamos cara a cara enquanto ela estava meio encostada na porta do closet.

— Eu estava atrás de uma roupa mais quente, o Hope disse que aqui teriam algumas cobertas. — Aparentava estar um pouco mais calma. Sua voz até soava meio trêmula.

— Ou será porque você queria me ver tomando banho? — sorri cínico falando baixinho e grave.

— QUAL O SEU PROBL… — foi interrompida.

— O que está acontecendo aqui? — uma voz fria, seca e baixa soou pelo quarto. Senti meu corpo tremer, então engoli em seco e me virei lentamente, me deparando com Suga. — Min Hyorin, vá para o seu quarto! — ordenou.

Olhei-a abaixar a cabeça e seguir o movimento com o tronco se desculpando, para logo depois sair do quarto. Assim que ela se foi, Suga se aproximou de mim.

— Fica longe dela, Jeon Jungkook — ditou tão seco, tão frio, sentia a fúria dele em cada partícula de oxigênio no quarto. — Ela não é uma qualquer. Ela é da minha família. E eu quero você bem longe dela. — Por que estava com tanto medo dele? Nunca vi o Suga tão ameaçador e tão bravo daquele jeito antes.

Saiu do cômodo lentamente, deixando a porta aberta. Eu me sentei na ponta da cama e comecei a refletir e cair na real quanto ao que realmente estava acontecendo. Nem acreditava que havíamos acabado de ter uma discussão.

De algum jeito ela conseguia ser mais grossa do que eu, podia até parecer tímida, mas sua rudez se assemelhava ao jeito de Suga. Quem era Min Hyorin? Eu realmente havia levado dois foras de uma versão feminina do Suga? Era apenas o que eu conseguia pensar.

[ . . . ]

Durante a noite eu não saí mais do quarto, apenas me troquei e fui me deitar. Jin se acabou se acomodando em um das duas camas de solteiro que haviam no cômodo.

Fui despertado com alguém batendo em uma panela, abri os olhos lentamente e vi o Hoseok com o objeto metálico na mão cantando alguma música que não conhecia.

— VAMOS ACORDANDO, AMIGUINHOS, DE ACORDO COM ESSE SOM! VAMOS NOS ARRUMAR, TRABALHAR E NOS DIVERTIR COM ESSA CANÇÃO! — berrava com alguma melodia, sorridente, e batia naquela coisa barulhenta com uma colher de pau.

Enfiei o travesseiro na cara e choraminguei baixinho. Senti alguém pressionando a cama, tirei o travesseiro e fitei o Park rindo e pulando sobre o colchão. — SAI DAQUI! — disse fazendo manha e vi o Jin sair do banheiro escovando os dentes também rindo.

Bufei e joguei o travesseiro em Jimin o desequilibrando e fazendo-o cair no chão. J–Hope parou de bater na panela e começou a gritar — ou talvez aquilo fosse uma risada.  Gargalhei e levantei da cama, dando uma ajeitada no meu cabelo com a mão.

— SUGA! ACORDA! — Hoseok saiu do quarto continuando sua diversão com utensílios de cozinha.

[ . . . ]

Desci as escadas já vestido e com as malas na mão. Olhei para Min Hyorin e abaixei a cabeça. Suspirei fundo, indo com o Jimin, Namjoon e Jin em um carro, junto a um motorista da empresa. No outro carro estavam V, Suga, Hyorin e J-Hope, com outro motorista. O caminho no direcionava para o aeroporto, onde pegaríamos o voo para o primeiro destino na América, o Canadá.

[ . . . ]

Já estávamos nos assentos do avião, eu ao lado de V, que estava com uma máscara de dormir com desenhos de dois olhos abertos no rosto.  

Fitei a janela do meu outro lado admirando o cenário a minha volta. Eu amava completamente as nuvens e aquele imenso céu azul. Tudo era especialmente lindo dali de cima. Tudo poderia ser tão fácil daquela perspectiva. E em meio a meus pensamentos, fui percebendo que meu mundo cinza já estava mais me machucando do que confortando.

[ . . . ]

Depois de cerca de 15 horas chegamos ao aeroporto de Vancouver. Havia dormido metade do tempo de voo, mas fiquei acordado até a hora do pouso. Estava com a cabeça cheia, realmente cheia, preocupado com o que seria daquela viagem, imaginando a possibilidade de Suga e eu brigarmos.

Ao sermos informados que deveríamos descer do avião, senti um frio na barriga. Hyorin tinha sentado na frente com Suga, então foram os primeiros a sair. Olhei para V que ainda dormia e o cutuquei.

— Hey, acorda. — O mesmo sequer se mexeu. Olhei para J-Hope que estava se levantando do assento. — Hope, dá ajudinha aqui. — Fiz um biquinho e ele sorriu sonolento, mas ao mesmo tempo animado.

Caminhou até onde estávamos, se agachou ficando bem pertinho do ouvido de Tae e gritou: — ACORDAAAAA! — O coitado deu um pulo do assento e eu gargalhei com a cena. Namjoon estava passando na hora e riu junto.

— Vai haver revanche! — Tae se pronunciou, bravo e sonolento. Ainda mais fofo. Ele parecia uma garota ao ficar bravo, dava um pouco de medo, mas ainda assim continuávamos implicando chamando de aegyo.

Saímos do avião comigo atrás de todos. Estava acordado, mas viajando em algum lugar, andava muito pensativo. Caminhamos até uma van que já nos esperava, entramos e sentamos, eu em um banco no fundo com Jimin e J-Hope. No banco do meio estavam Tae, Namjoon e Suga. Hyori foi no banco do passageiro ao lado do motorista.

— O clima está muito pesado — Hope falou baixinho, em um tom calmo e triste. Fitou os bancos da frente, em seguida direcionando o olhar para a janela.

— E a culpa é toda minha — sussurrei e abaixei a cabeça. Apoiei os cotovelos na coxa e passei as mãos no cabelo, bagunçando o mesmo e descendo os dedos pelo rosto.

— Ninguém mandou você levar um fora da prima do Suga — Jimin falou prendendo o riso e eu o encarei sério.

— Um não... dois — falei ainda com as mãos no rosto, baixinho e abafado por conta do isolamento do espaço.

— Como foi isso? — Namjoon se virou para trás, ficando de joelhos apoiado na traseira do banco.

— Você estava prestando atenção na nossa conversa? — Hope encara-o meio confuso e ao mesmo tempo prendendo o riso. Enquanto isso, eu e Jimin olhávamos Namjoon com os olhos estreitados.

— Estamos em uma van. O que você queria? — sussurrou como resposta. Ao menos só ele havia ouvido, o som não chegou ao primeiro banco.

— Quando eu saí do banho ela estava no quarto de hóspedes, tentei me aproximar e... digamos que eu tenha falado uma besteira — expliquei muito envergonhado.

— Digamos? — Jimin pergunta rindo. — E quando você não fala ou faz alguma besteira? — riu junto com os outros dois. Fitei cada um deles com os olhos encolhidos de raiva.

— Continuando… — Suspirei fundo e arfei pela boca. — Ela gritou comigo e bem na hora o Suga apareceu — sussurrei e engoli em seco.

— Ah! — os meninos afirmaram em uníssono. Arqueei a sobrancelha e encarei eles.

— Digamos que Suga tenha chegado te xingando na sala… — J-Hope falou em um tom normal e riu com os meninos.

— Agora vou xingar você, seu fofoqueiro! — ameaçou Suga lá da frente, em um tom frio, mas brincalhão. O jeito dele…

— NÃO ESTOU MENTINDO! — berrou J-Hope fazendo gestos afeminados. Ouvi uma risada gostosa e doce ecoar pela van e meu coração acelerou. Qual era o meu problema?

Suspirei fundo, peguei meus fones junto a meu celular no bolso, encaixei os mesmo nos ouvidos e coloquei uma música aleatória para tocar. Fechei os olhos e apenas fiquei ali, quieto no meu próprio mundo. Mesmo estando rodeado de gente, eu só queria estar sozinho naquele momento. Acabei pegando no sono.

[ . . . ]

Senti alguém me balançar e gritar no meu ouvido, bufei e abri os olhos devagar. Encarei Hope. — Eu quero te matar! — falei entredentes, ainda sonolento.

— Chegamos no hotel. — Sorriu fofo. Tão aegyo. — E devemos nos arrumar para o evento daqui há duas horas.

— Eu estou com fome — Jin falou choramingando enquanto saia da van.

— Conta uma novidade. — Jimin falou sorrindo cínico e riu em seguida.

— O sujo falando do mal lavado — Tae deixou claro, descendo da van.

— Pelo menos eu sou o mal lavado. É tipo, cinquenta por cento de sujeira. Enquanto o sujo é cem por cento. — Jin ditou com tanto orgulho que eu quis me matar por ele.

— Você é cheiroso — falou Hyorin sorrindo. Ela abraçou Jin e Suga. E eu arfei pela boca.

— SE FOSSE EU, VOCÊ ESTARIA QUERENDO ME MATAR — berrei encarando Suga.

— O Jin não deu em cima dela — falou frio e me fitou com os olhos semicerrados. — E levou um fora...

— DOIS! — Namjoon, Jimin e J-Hope completaram juntos.

Encarei os três muito bravo e, antes que Suga pudesse falar algo, enfiei novamente meus fones no ouvido e coloquei uma música alta pra tocar. Saí da van rápido, entrando no hotel.

[ . . . ]

Eu fiquei em um quarto com o Rap Monster. Deixei-o ser o primeiro a tomar banho e, enquanto ele o fazia, fiquei apenas encarando o teto deitado na cama e ouvindo músicas. O que ela havia comigo? Por que eu não parava de pensar nela? Os pensamentos só seguiam aquela linha de raciocínio.

Assim que o Namjoon saiu do banheiro, já vestido com um blazer preto, uma blusa azul escura por dentro, uma calça preta, e uma bota, suspirei fundo e entrei passando por ele sem falar uma palavra sequer. Fiquei debaixo do chuveiro por bastante tempo, ao ponto de um dos produtores do evento baterem na porta e mandarem eu me adiantar.

Eu estava completamente sufocado. Não aguentava mais. Precisava mudar aquela situação.