História "SAVE ME" tae.kook - Cap 7 - Não quero lembrar do passado

Eram quase 18h quando acordei morrendo de fome. Minha barriga fazia barulhos estranhos, me senti enjoado de repente, corri para o banheiro e vomitei quase toda a bebida que tinha tomado naquela maldita festa, escovei os dentes. Decidi comer alguma coisa, coloquei a cabeça para fora no corredor e não vi Jungkook por ali, desci as escadas com cautela olhando para os lados. Ele também não estava na cozinha, agradeci mentalmente. Comi algo leve por ainda estar um pouco enjoado. Subi as escadas pensando em fazer uma maratona de anime no meu computador, mas assim que entrei no quarto a porta se fechou sozinha, sendo trancada. Virei-me para encarar Jungkook com o coração acelerado. Ele quase me matou de susto.

- O que você...?

- Shiiii, só escute – me interrompeu, o observei pôr a chave no bolso da calça. Engoli em seco. – Precisamos conversar.

Vendo que não tinha escapatória, suspirei derrotado. Olhei para mim mesmo e percebi que estava sem camisa, mas ele não pareceu se importar. Sua expressão séria estava me assustando. Peguei uma camisa caída no chão e a vesti, Jungkook mediu meus movimentos antes de se escorar na porta e dar com a língua nos dentes.

- Eu queria pedir desculpas, Taehyung. Eu sei que não deveria ter te beijado, é só que... eu havia bebido. Me perdoe. Sei que somos primos e isso não pode acontecer.

Cruzei os braços sobre o peito, "somos primos e isso não pode acontecer...", ouvir a realidade foi como levar um soco no estomago. "Nós não somos primos de verdade", pensei automaticamente. Fiz um biquinho irritado.

- Só queria dizer que me arrependo e que isso não vai acontecer de novo.

Encarei o chão. Ele disse que estava arrependido, então... tudo bem, certo?

- Tudo bem – concordei.

Ele sorri parecendo aliviado. Sorrio fraco.

- Ótimo! – Disse se aproximando e estendendo a mão. – Amigos?

- Sim – agarrei sua mão de volta. – Amigos.

Ele concordou com a cabeça e meteu a mão no bolso puxando a chave de volta. Destrancou a porta e saiu, me deixando ali mergulhado em pensamentos. Decidi pensar nisso mais tarde e tomei umas pílulas para amenizar a dor de cabeça, voltei a dormir.

Estava sonhando com o beijo do Jungkook, quando meio atordoado, acordo com o ranger da minha porta sendo aberta. Jungkook entrou vestido de preto.

- Vai sair de novo? – Perguntei me sentando na cama.

- Vou, e você vai comigo – disse jogando um casaco preto que estava na minha cabeceira da cama em mim. – Vista isso rápido.

O fiz e calcei meu tênis. Acompanhei-o até descermos os galhos da árvore. Em vez do carro preto, não tinha ninguém ali, ele seguiu a pé mesmo. Enquanto andávamos, a mochila do Jungkook fazia os mesmos barulhos que sempre me acordava todas as noites. Eu ainda estava com um pouco de vergonha, então segui mais afastado.

Andamos por várias quadradas, passaram-se meia hora até chegarmos a um beco largo e iluminado, lá encontramos o Jimin, o Suga, o Jin – que parecia estar emburrado –, o Namjoon e o J-Hope.

- Olha só quem chegou, o nosso maknae de ouro – disse Jimin dando uns tapinhas nas costas do Jungkook, que riu.

- Você trouxe? – Namjoon vinha sorrindo receber a mochila. Dali tirou latas de tinta em spray... mas espere... olhei em volta e percebi várias pichações, mas não pichações como aquelas que encontramos por aí feitas só de zoeira por pessoas em noção, e sim pichações tão bem feitas que me deixaram boquiaberto.

- Você gostou? – Jungkook apareceu ao meu lado. – Metade foi eu quem fiz. Aquela ali eu terminei anteontem – apontou uma paisagem, nela estava um cara caminhando por uma estrada ladeada por uma floresta densa e fechada. O mais incrível era a combinação de cores que ele usou, um jogo de sombras que eu nunca imaginaria que ficariam tão bons juntos.

- É incrível – murmurei ainda extasiado.

Jungkook começou a tirar o casaco, ficando só com uma regata branca fina que estava por baixo. O que mais me chamou a atenção foi os músculos de seus braços, fiquei olhando um tempo ele escolher uma tinta e começar a fazer esboços numa parede lisa.

Me sentei ao lado de Jin num sofá abandonado no canto. Jin parecia ansioso e nervoso ao mesmo tempo, olhando a todo o momento para os lados e resmungando sozinho.

- Você está bem Jin? – Resolvi perguntar.

- Estou sim.

- Ele está com medo – disse J-Hope rindo – do que aconteceu da última vez em que veio com a gente.

- O que aconteceu foi que... a polícia apareceu e o Jungkook e o Namjoon foram em cana – Suga se deu ao trabalho de responder.

Jungkook riu.

- É, a minha mãe pirou quando teve que me buscar delegacia.

"Oh, então foi isso que tia Jess quis dizer com '-Não quero ter que buscar mais ninguém na delegacia'.", pensei comigo mesmo.

- Desde então o Jin virou um medroso, parece até nossa Omma – Jimin brincou.

- E com razão, eu sou o único que se preocupa de verdade aqui, vocês nunca me ouvem – Jin ralhou ao meu lado. Ele se virou para me encarar. – Não seja como eles, Tae.

- Não dê ouvidos a ele, Tae – Namjoon, que estava apoiado em seu carro, riu vindo até nós. – Ele vai plantar um monte minhocas na sua cabeça.

- Sério, eu mereço mais que isso – Jin rosnou e cruzou os braços irritado.

Fiquei quieto querendo rir da cara dele até não aguentar mais, comecei a rir e o J-Hope foi o primeiro a me acompanhar, seguido por Jimin, Suga, Namjoon e o Jungkook.

- Ah é? Vocês acham engraçado? – Jin se levantou. – Não vão achar engraçado quando um de nós for preso de novo.

Todos pararam de rir na mesma hora, um pouco tensos, e voltaram a fazer o que estavam fazendo, Jin voltou a se sentar com um ar de satisfeito.

Depois de um tempo o esboço de Jungkook começou a tomar forma, era uma flor. Um lírio branco para ser mais exato. E então horas se passaram e todos estavam se divertindo. Parece que ter amigos não era tão ruim assim, afinal.

Estava quase amanhecendo, o céu começava a ganhar tons rosados, eu estava quase cochilando com a cabeça apoiada no ombro do Jungkook quando vejo o Namjoon encostar o Jin na parede. Ergo a cabeça para ver melhor e Jungkook nota o movimento. Jin estava com uma cara de bravo e Namjoon ria quando levou as mãos ao rosto de Jin e o beijou.

Jungkook seguiu meu olhar e riu voltando seu olhar para mim.

- Eles...?

- Sim, eles namoram - respondeu sorrindo. - Estão juntos a um ano. Algum problema?

- Não... eu só... tudo bem - engoli em seco lembrando de coisas que... eu não queria lembrar. Merda.

- Você está bem mesmo, Taehyung? Está ficando pálido - juntou suas sobrancelhas parecendo preocupado.

- Eu... quando eu tinha quatorze anos, eu... tinha um amigo, meu único amigo, ele era gay e... - deixei a frase morrer. Ele não precisa saber que eu gostava desse amigo e ele..., argh, não gosto de lembrar. - Quero ir embora, Jeon. Agora.

Mal esperei resposta e me levantei já apalpando a calça. Jungkook deu um pulo do lugar dele se despedindo dos amigos. Sai pisando duro, queria chegar em casa o mais rápido possível.

Estávamos andando, eu na frente e o Jungkook meio afastado. Minha cabeça girava em pensamentos, aquelas cenas que por anos me consumiram, que por anos me causaram idas infinitas a muitos psicólogos. Lágrimas tomaram minha visão e eu as limpei com raiva.

- Taehyung? - Ouvi Jungkook me chamar.

Odiava chorar na frente das pessoas.

Sua mão agarrou meu braço, me forçando olha-lo.

- O que houve, Tae? Pode me dizer tudo o que quiser, eu sou seu amigo.

Limpei mais lágrimas que escaparam. Eu estava com raiva de mim mesmo por estar chorando na frente do Jungkook, eu tinha um pacto comigo mesmo de nunca chorar na frente de ninguém. Funguei.

- Só... só vamos para casa, Jeon. Por favor - pedi com a voz trêmula.

Ele não respondeu, só me puxou para um abraço apertado. O doce aroma de seu perfume me inebriou por alguns instantes. Assim que chegamos em casa tornei a explodir em lágrimas, só deu tempo de por um pé dentro do quarto, enterrei a cara no travesseiro e chorei. Mal sabia eu que Jungkook me observava apoiado no batente da porta. O ouvi bufar frustrado e logo em seguida senti os meus sapatos sendo retirados dos meus pés. A cama ao meu lado se afundou, percebi que Jungkook me cobria com a coberta.

- O que você está fazendo? - Gemi.

- Só vá dormir, Tae - disse afofando o meu travesseiro com as mãos.

Assim o fiz, virei para o lado e dormi.