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História Scars - Verdades Cruéis


Escrita por: hyuuga_nashiro

Notas do Autor


Heyoo, people! Não mereço desculpas, eu sei, mas foi um bloqueio criativo dos infernos. Próximo capítulo vou começar a abordar a recuperação de Percy e como seus sentimentos por Nico vão se desenvolver.
Anyway, leiam! Beijinhos, seus gato.

Capítulo 4 - Verdades Cruéis


Fanfic / Fanfiction Scars - Verdades Cruéis

Hades assoviava calmamente enquanto folheava seu jornal matinal. As notícias pareciam desapontadoras como sempre: uma série de tragédias usadas em matérias sensacionalistas com o único propósito de ganhar dinheiro. Ele não se importava muito com isso, no entanto, tudo o que queria era acalmar sua ansiedade. O carro não estava acima de sessenta e ele podia jurar que o tráfico de Manhattan era a coisa mais tenebrosa que ele já enfrentara na vida, mas pelo menos não teria dor de cabeça ou enjoo por ler em movimento. Sempre veja o lado bom.

Uma coluna em especial chamou sua atenção e ele arqueou as sobrancelhas negras em total descrença. Era a seção mais trágica: pessoas desaparecidas ou assassinos procurados pela polícia. Um garoto com roupas sujas e uma bola de rugby embaixo do braço abraçava uma garota com o rosto desfocado. Ele tinha um grande sorriso no rosto e parecia estar comemorando algo. Ao lado, lia-se:

“Percy Jackson, 17 anos. Desaparecido há quase 3 meses, suspeito de assassinato de Sally Ugliano...”

Ele fechou o jornal abruptamente e pressionou a ponte do nariz com dois dedos antes de soltar uma risada baixa que fez seu motorista apertar as mãos em volta do volante.

-O que você acha disso, Albert? –ele perguntou calmamente enquanto tirava o anel para esticar os dedos. –Leu a coluna dos desaparecidos hoje, não?

-Sim, Senhor Pluto.

-Hm. –ele olhou para os prédios luxuosos da cidade, quase um monumento ao estilo de vida dos nova-iorquinos. –Você achou, por algum momento, que pudesse ser verdade?

-Não, senhor! –ele respondeu enfaticamente e Hades suspirou.

-Preciso que seja verdadeiro comigo, Albert. Esse anúncio pode estar aqui há muito tempo e... Você sabe, impressões negativas causam marcas mais permanentes que as positivas. –ele ouviu apenas o silêncio. –E então, Albert?

O homem ajeitou a gravata. –A princípio, apenas por alguns segundos, eu pensei que houvesse algo a mais na história, algo que ninguém me contou. Mas eu conheço o garoto, então para mim isto é puramente calúnia. Provavelmente algo plantado pelo padrasto dele.

Hades franziu a testa. –O que você sabe sobre o Sr. Ugliano?

-O que o Sr. Jackson disse a todos. –ele respondeu. –Era um padrasto abusivo que o fazia trabalhar para pagar suas dívidas em apostas.

Hades alisou o queixo antes de virar o rosto para o espelho retrovisor. –Isso é ruim, Albert. Mesmo você, sabendo de toda a verdade, duvidou por um momento de Percy. Imagino o que as pessoas não pensam sobre ele. Com tudo o que acontece hoje em dia, provavelmente estão acreditando naquele pilantra.

-Me desculpe, Sr. Pluto. –Albert acelerou imperceptivelmente e Hades deu um sorriso para acalmá-lo.

-Nunca se desculpe por dizer a verdade, Albert.

Ele precisava chegar ao destino o quanto antes possível. Se tudo o que havia aprendido sobre Gabe Ugliano era certo, então as coisas poderiam se complicar um pouco. Ele não era exatamente uma pessoa influente, mas pelo que soube, Percy era quem pagava suas dívidas e a maioria das pessoas achavam o garoto conveniente para os negócios. Gabe poderia se aproveitar disso e pedir o apoio de algum peixe grande.

Hades morreria antes daquele verme repugnante colocar as mãos novamente em Percy.

-Chegamos, Sr. Pluto. –o chofer anunciou e Hades abaixou o vidro minimamente para observar o local. Era um prédio de quatro andares, marrom descascado com uma escada de emergência enferrujada. A porta de entrada era verde desbotado e o interfone parecia estar quebrado.

-Eu vou fazer uma visita ao Sr. Ugliano. Vai demorar um pouco, se quiser tomar um café, eu vi um Starbucks ali atrás. Sei que não é do seu gosto, mas dá pro gasto. –ele deu uma nota qualquer para o chofer e abriu a porta. –Não vá muito longe, Albert. –ele piscou como se seu chofer fosse um garoto trapaceiro e saiu do carro. Albert era apenas um garoto órfão que vivia nas ruas antes de conhecer seu patrão. Ele havia sido colocado em um orfanato decente e conseguiu um emprego de confiança assim que se tornou maior de idade.

Hades fazia a missão de sua vida ser ajudar os atormentados e injustiçados. Ele entendia muito bem o sentimento, como era ser deixado de lado, abandonado pela própria família, desenhado como o monstro. Ele havia achado a felicidade em Poseidon e seus filhos, mas não quis parar por ali. Sabia de milhares outros que sofriam e queria ajuda-los. Ver o filho de seu companheiro naquela situação simplesmente partiu seu coração. Ele decidiu que faria justiça assim que colocou os pés naquela calçada suja.

Os óculos escuros que cobriam seus olhos eram discretos e elegantes, não destoavam do seu visual formal de terno e gravata, mas atraiu a atenção de algumas crianças do outro lado da rua. Ele forçou a porta levemente e percebeu estar trancada.  Anunciar sua chegada não estava nos planos, então ele apenas abriu a carteira e tirou um cartão de crédito perto do vencimento, forçou na entrada e a porta abriu.

-Nada que um cartão de crédito não resolva. –ele sorriu para si mesmo e adentrou o prédio. O local cheirava a mofo e a infiltração era um caso sério em uma das paredes descascadas. Havia um balde pela metade embaixo de uma goteira e o som parecia ecoar pelo pequeno hall. –Um bom lugar para proliferação de dengue... –ele tirou a caderneta do bolso do paletó e começou a fazer anotações sobre o estado do lugar.

O elevador parecia estar funcionando, mas um bom olhar revelava molas gastas e um botão de emergência quebrado. Ele fez mais anotações antes de subir pelas escadas de madeira que rangiam mais do que torcida de estádio. O segundo andar era o corredor do apartamento de Gabe, cheio de latinhas de cerveja, sacos de salgadinhos e até uma meia encardida. Hades torceu o nariz e rezou por paciência antes de bater na porta, um leve temor de que bactérias se infiltrassem em sua pele.

Gabe soltou insultos a uma vizinha e abriu a porta. Seu rosto endureceu e ele tentou fechá-la, mas o pé de Hades bloqueou suas tentativas.

-Eu não tenho dinheiro! –ele gritou e Hades finalmente tirou os óculos, guardou-os em seu bolso e deu um falso sorriso.

-Acho que a roupa formal me dá uma impressão negativa. –ele comentou. –Eu não me importo com seu dinheiro, Sr. Ugliano. Vim tratar de outros assuntos.

O homem coçou a barba mal-feita e abriu a porta com um olhar de cima a baixo em Hades.

Ele entrou, analisando o ambiente. A cozinha tinha louça de dias, havia vestígios de comida no chão e baratas passeando livremente. O piso possuía um amarelo claro, o que significava que o local era bem mantido, porém há algum tempo não recebia tratamento devido. Isso o levou a concluir que Sally deveria fazer todo o trabalho de casa.

-Eu sou Hades Pluto. –ele disse sem cerimônia e puxou a cadeira mais aceitável para se sentar. –Sente-se por favor, Sr. Ugliano. –o homem se jogou no sofá e pegou a cerveja. –Como você deve saber, eu era um conhecido de Sally há muitos anos atrás. O filho dela se encontra sob meus cuidados desde o acidente e, mesmo que você não se importe, ele está feliz, saudável e vivo.

Gabe se levantou e jogou a latinha na parede. –Aquele pivete teve a audácia de viver? Ele matou a vagabunda da mãe dele e fugiu!

-Eu sugiro que lave sua boca antes de difamar os mortos. –ele estreitou os olhos e pareceu que um rastro de vermelho havia passado ali. –E eu não lhe disse para levantar. Ainda não acabei. -estranhamente, Gabe se sentou, abriu outra cerveja e esperou pacientemente. –Estou aqui porque quero facilitar nossas vidas. –o homem franziu a testa em desconfiança. –Quero que assine os papéis de desistência da guarda de Percy.

-Nem morto! O pivete me dá dinheiro de sobra e todo mundo gosta dele.

Hades franziu a testa, uma leve dúvida surgindo em sua mente. –Eu sabia que diria isso. Estou disposto a pagar uma quantia.

-Seu dinheiro não chega perto do lucro do pivete.

Hades olhou em volta, imaginando as coisas que aconteciam naquele lugar. –Que tipo de serviços Percy fazia?

-Não é da sua conta, Wall Street.

Hades colocou uma nota de cem reais na mesa. –Que tipo de serviços Percy fazia? –ele perguntou novamente.

-Ele era bom no pôquer, sabia enganar e nunca perdia uma.

-E nunca descobriram nada?

Gabe negou com a cabeça.

-Você me disse que as pessoas gostavam dele. –outra nota na mesa. –Por quê?

-Ele era engraçado, eu acho. Era bonito, as barangas gostavam de ficar perto. Ganhava a conversa fácil, tinha esse olhar de cachorrinho que todo mundo tinha pena.

Hades torceu o anel em seu dedo. –Eu dei uma olhada na ficha médica de Percy. –ele observou o tique nos dedos de Gabe. –E vi com meus próprios olhos as inúmeras cicatrizes e lesões ósseas do garoto.

-Ele se metia em muita encrenca. –Gabe respondeu e Hades suspeitou. Até então, tudo o que ele disse foi por impulso de raiva ou incentivo de dinheiro. Aquela resposta obviamente era uma defesa, o que significava que havia algo mais.

-Mas você disse que todo mundo gostava dele.

-Ele tinha uma piranha que vivia grudada nele. Riquinha, cheia de gracinha. Loira, gostosa, todo mundo dava em cima.

Hades torceu o nariz. –Calypso Atlas. –ele respondeu. Percy a havia abandonado sem sequer dizer adeus e ela acreditava fielmente que ele havia morrido. –Eu conversei com ela. Percy era um garoto educado e amoroso que nunca se metia em problemas e evitava uma briga até o final, mesmo que soubesse como dar uma boa pancada. Não acredito que todas aquelas marcas pudessem estar no corpo dele se o garoto sabia se defender tão bem. Obviamente, Percy sofria abuso.

Gabe se irritou. –Eu não to nem aí pro que acontece com aquele viado! Aquele arrombado pode morrer que eu não to nem aí.

Hades descobriu que seu tique na sobrancelha havia voltado. A escolha de palavras, a defesa, a irritação... Gabe estava mentindo porque obviamente abusava de Percy.

-Você batia nele, Sr. Ugliano?

-Claro. Alguém tinha que educar aquela praga!

Ele finalmente reparou na marca roxa do rosto dele. –Quem foi a adorável criatura que deixou sua cara roxa?

Gabe murmurou alguma coisa e tomou a cerveja. Hades se lembrou que Percy vivia com uma garota órfã. O nome dela surgiu em sua mente e ele gargalhou internamente.

-Foi a Reyna. –ele disse e riu. –Eu não acredito, você deixou uma garota te bater?!

-Ah, que porra você quer?? –Gabe finalmente se irritou e Hades se levantou.

-Assine. –ele disse simplesmente. –Percy não vai voltar pra você agora que encontrou o pai dele. A justiça vai ver que suas condições de vida atuais são melhores do que... isso. –ele apontou ao redor. –E considerando tudo o que eu sei sobre você, o laudo médico dele e a opinião de Percy sobre tudo... Você pode acabar se dando muito mal.

Gabe ainda assim negou. Hades se pegou pensando que direito aquele verme pensava que tinha. Ele havia rezado por paciência antes de entrar ali, mas o estoque havia esgotado feito água escorrendo entre os dedos. Ele segurou brutalmente o pulso do homem, quebrou o dedo mindinho dele e depois piscou os olhos, irritado com os gritos. Era como um golfinho estrangulado. Ele colocou uma caneta preta brilhante em sua mão e os papeis em cima da mesa.

-Assine. –ele repetiu. Gabe parecia ser a epítome da ganância, ele realmente pensava que poderia se safar daquela –Tsk, coitado. –Hades murmurou. Ele tentara ser educado, manter as aparências, deixar sua fama negra pra trás, mas o assunto se tornara pessoal demais para ele se segurar. Ele pegou as notas de dinheiro, guardou-as na carteira. –Eu vou dar uma olhada no antigo quarto de Percy. Quem sabe eu acho algo mais pra lista...

-Ta bom, ta bom, eu assino! –ele pegou a caneta e assinou todas as folhas com raiva, quase rasgando o papel.

Hades guardou os documentos e sorriu educadamente. Sua sobrancelha esquerda tinha um tique e seu lábio tremia levemente. Ele trabalhava há anos, vira casos piores, entrara na linha de frente para defender seus clientes, mas aquele homem simplesmente puxou para fora o pior dele. Antes que ele se rendesse e permitisse dar a Gabe o que ele merecia, ele se lembrou do horário e riu baixo.

-Foi um prazer fazer negócios com o senhor. –ele colocou a mão em seu ombro como se fossem camaradas, mas antes que Gabe pudesse sequer pensar em se afastar, ele apertou um ponto específico e, sem mais delongas, o homem caiu em um sonho profundo. -Hora de investigar. –ele falou para si mesmo e entrou no quarto. Hades já sabia o que encontraria, mas mesmo assim ele não pôde conter a ânsia de vômito. Havia trabalhado com casos similares durante toda sua vida, mas de alguma forma, saber que aquilo havia acontecido com o garoto enrolado nos cobertores chorando enquanto tinha pesadelos...

Hades conhecia o inferno, mas aquela era apenas uma porta pra algo muito pior.

---x---

Havia um certo silêncio no ambiente. Não a ausência do som propagado em ondas porque haviam pessoas correndo para baixo e para cima arrumando as coisas. Mas era silêncio. Calado e vazio, agitado, ansioso. Tão superficial...

Hades nunca havia passado mais de dois dias fora de casa e em todos os casos ele havia avisado a todos sobre cada detalhe e motivo. E agora, ele havia sumido por quase cinco dias, a única informação como sendo “estou resolvendo vidas aqui, eu volto logo”. Não era como se eles não confiassem em Hades, mas aquela não era uma família de segredos e o ambiente pesado apenas refletia a preocupação de todos. Sim, ele sabia se virar, era um homem bem crescido de trinta e seis anos e lidou com coisas piores do que pequenas crises aqui e ali.

Mas ele nunca havia perdido um aniversário, muito menos dois de uma vez. Os gêmeos de Nix, a irmã desnaturada de Hades, fariam dezenove anos em 21 de agosto. Hippie não estava se importando muito, ele só queria dormir e, se pudesse, assoprar uma velinha com um desejo de “que Hazel Levesque pare de me falar sobre como os músculos de Frank Zhang são incríveis”. Porque nenhum ser humano quer ver sua irmã menor babando em uma montanha de músculos muito menos descrevendo cada mísero diálogo com o tal “amor de sua vida”. Pelos deuses, ela só tinha quatorze anos! Iria encontrar o amor da vida pelo menos trinta vezes antes de cair na real.

Nate, por outro lado, estava em sua árdua tarefa de impedir que Tony enxergasse o quanto ele odiava festas porque o garoto simplesmente amava qualquer tipo de comemoração e ele não queria estragar o momento, muito menos aquele sorriso infantil cheio de sardas e purpurina. Sério, eles fariam dezenove anos, não precisavam de purpurina na decoração!

-Tony, você tem certeza que isso é necessário? –ele perguntou cansado, sem poder mais fingir que estava remotamente animado com a ideia de chamar a metade da cidade para uma festa que ele poderia comemorar com um cupcake e um chapeuzinho do Pooh na cabeça.

O garoto virou-se para ele e suspirou. –Eu já disse um milhão de vezes que o Tyson gosta de bexigas brilhantes, então sim, nós temos que jogar purpurina nas bexigas.

Nate choramingou, totalmente atípico de sua pessoa. –Mas é o meu aniversário! –ele exclamou. –E nem eu nem o Hippie gostamos de purpurina, ou bexigas, ou chapeuzinhos do Pooh!

-Você está sendo egoísta. –ele falou com uma sabedoria forçada. –Sinto muito, mas o Tyson gosta e todos nós sabemos que aquele pirralho manda em todo mundo nessa casa porque a Bianca faz tudo o que ele quer.

Nate encostou a testa na parede e contou até dez mentalmente antes de desistir. Tony o olhava um pouco desanimado e a bexiga em suas mãos acabou estourando. Ele sobressaltou-se e torceu a boca, seus olhos verdes perderam o brilho e ele simplesmente não sabia o que fazer com as mãos. Nate entrou em uma batalha interna de odiar a si mesmo ou insultar Tyson.

-Tony... –ele chamou-o relutante e levantou seu queixo com um dedo, o polegar brincando suavemente com a linha da sua mandíbula enquanto seus olhos cinzas o encaravam divertido. –Desculpa arruinar sua diversão. –com a outra mão, ele começou a brincar com os dedos de Tony, mas acabou segurando firmemente naquela mão grande e forte. –Você sabe que eu sou um idiota... E eu não consigo entender sua fascinação com socialização, mas me desculpe por estragar sua festa.

-Você não estragou a festa. –ele resmungou. –Estragou minha vontade de estar nela.

Nate aproximou o rosto dele e apoiou seu queixo no topo da cabeça de Tony. Seu perfume invadiu as narinas do garoto e ele aspirou o quanto pôde, pensando no quanto aquilo realmente era bom. Então, ele começou a pensar em um milhão de coisas que Nate fez só porque ele pediu quando era mais do que óbvio que ele odiava aquelas coisas.

-Você está fazendo essa festa só porque eu quero? –ele perguntou em um muxoxo, sentindo-se um pouco egoísta. Nate riu baixo e tirou o queixo de sua cabeça, um sorriso sarcástico no rosto.

-Claro que não. Por que eu faria qualquer coisa por você? –ele alfinetou e então revirou os olhos. –Deixa de ser idiota, Tony, você sabe que eu adoro te ver bêbado e pagando micos.

Tony lhe deu um soco de brincadeira no braço, mas acabou doendo um pouco porque ele era muito mais forte que Nate. Mesmo assim, ele continuou sorrindo e mexendo nos cabelos escuros do garoto. Ele reparou que estavam muito perto e ele podia sentir o ar quente que saía dos lábios entreabertos do outro. Seus olhos acinzentados percorriam seu rosto e ele podia ver claramente a adoração em sua expressão.

-Você quer me beijar, Tony? –Nate perguntou e deslizou a mão para seu pescoço, causando arrepios onde sua pele fria tocava a quente.

-Claro. –ele respondeu como se não fosse uma bomba nuclear, como se fosse simples e casual, mas sua mente só ficava martelando o que ele estava prestes a fazer e, mesmo que fosse a coisa que ele mais queria no mundo, Thanatus era seu irmão.

Então ele se afastou gaguejando e saiu correndo. Ele entrou na primeira porta que viu aberta e logo a fechou, sem reparar no nome colado na madeira pintada de azul. Respirando rápido, ele choramingou algo sobre alimentar os peixes.

-Você sabe que eu não gosto que brinquem de esconde-esconde com o Tyson no meu quarto, Tony. –uma voz soou atrás de si e ele se virou, encarando Percy com os braços cruzados e um sorriso sarcástico.

-Tyson? Eu to fugindo é do Nate. –ele sussurrou e colou o ouvido na porta, mas sem ouvir nada.

-Nate? Ah... –ele descruzou os braços e sentou na cama larga, o skate de Nico estava jogado ali perto e ele começou a brincar com as rodinhas. –Achei que vocês se dessem bem. –ele comentou. –Tipo... até bem demais. –ele piscou o olho e Tony avermelhou-se, batendo a cabeça na porta.

-Ah, Santa Ariel, isso é um desastre. –o garoto murmurou e Percy riu.

-Ok, agora você se parece comigo tendo uma crise existencial. –ele se levantou e puxou Triton até ele cair na cama, choramingando e resmungando sobre a vida. –Vai me contar o que houve? Porque eu não posso ajudar se não souber o problema.

-Não tem problema. –ele se virou na cama, encarando o teto. –Talvez tenha, mas sequer deveria ser considerado um problema e sim uma salvação. O que as pessoas vão pensar de mim quando souberem que eu gosto de um cara? Nate ser meu irmão apenas me ajuda em não estragar minha...

-Reputação? –Percy arqueou a sobrancelha. –Claro, quando estiver triste, solitário ou de pau duro, abrace sua reputação.

Tony riu por dentro, mas acabou por bufar. –Você não entende. Você não se apaixonou por um cara.

-Eu já estive com outros caras antes. –ele soltou antes que pudesse segurar e Tony o encarou cético. –Muitos, na verdade. Eu nunca gostei de nenhum deles, mas... Ninguém nunca soube disso, Triton, o que me leva a pensar que a reputação é o que os outros pensam de você e isso não importa nem um pouco. A consciência precisa ta limpa e se você ama aquele cara de verdade, foda-se tudo, vai atrás antes que perca. –Triton piscou sem acreditar que estava ouvindo aquilo. –Mas eu duvido muito que Thanatus vá pra algum lugar... Ele venera o chão que você pisa e se você soubesse o quanto ele odeia bexigas e purpurina, então entenderia o tamanho dos sacrifícios que ele faz por você.

-Mas...

-Ele te ama, Tony. –Percy disse como se fosse um ultimato. –E você ama ele. Agora some do meu quarto que a situação já se resolveu e eu preciso estudar ou vou passar a vida limpando privada.

Tony suspirou e se levantou da cama, uma leve sensação de liberdade no peito e alguns pensamentos agradáveis sobre seu novo meio-irmão. O cara não era tão ruim quanto ele havia pensado, na verdade, era mais compreensivo e inteligente do que a média e o fato de que ele não conseguisse resolver um único problema de Trigonometria não o fazia burro. Ele tinha um tipo de sabedoria que era rara de se encontrar, um dom especial de não se importar muito com o que as pessoas pensam, de dar valor apenas aos que importam para ele e resolver as coisas com simplicidade e rapidez.

Ele era um bom irmão...

-Valeu... Cabeça-de-alga. –ele sorriu agradecido e abriu a porta.

-De nada, Ariel. –ele respondeu e correu para trancar a porta antes que Tyson resolvesse chama-lo para se vestir de Pooh. Os deuses sabem o quanto seu pai estava tenebroso com aquela fantasia de urso. Cara, seria a festa mais terrível do século.

Pensando bem, talvez ele não devesse se trancar ali. Ele poderia se socializar um pouco, falar com alguém decente. Não que houvesse alguém que entendesse metade de seus dramas, de seus pensamentos, mas... Se ele não estava enganado, Thalia tinha um quarto de hóspedes e ainda não havia ido embora... Ela era estranha e lhe dava medo, ele seriamente receava que ela o prendesse a um poste o deixasse fritar até a morte se a deixasse zangada, mas pessoas quebradas sempre lhe atraíram e ele sabia que ela havia passado por coisas ruins.

O quarto estava vazio. Mas havia retratos em cima de uma cômoda roxa e branca. Ele reconheceu Thalia e Jason, seu irmão mais novo. A maioria tinha Bianca, Thalia e Piper, algumas tinham Thalia e Chase jogando baseball e uma, particularmente engraçada, chamou-lhe a atenção. Parecia ser Halloween, Rachel estava com uma roupa de fada do mal ou algo do tipo e Nico estava fantasiado de Loki. Ele riu sozinho, mas passou muito tempo olhando a foto sem pensar em nada. O sorriso do garoto tinha uma covinha pequena, os olhos eram levemente puxados nos cantos, a pele azeitonada merecia a capa da Vogue, mas Percy não reparava em nada, apenas encarava. Talvez fosse mais o significado de tudo aquilo. Ele não tinha uma única foto consigo, tudo havia se perdido no acidente, nunca teve um celular, todos seus momentos cômicos estavam gravados no iPhone dourado de Calypso e ela estava... a quilômetros dali, em uma universidade famosa, seguindo seu sonho.

Ele deixou o quadro na cômoda e se apoiou nela. Sabia que estava chorando, sabia que estava triste, mas era tudo automático. Ele nem mais se importava quando doía, não ligava pra nada, apenas sentia em silêncio e fechava os olhos para afundar mais rápido.

-Você está me dando pena. –uma voz falou e fechou a porta. Ele levantou os olhos apenas minutos depois, ele ainda estava lá. –Oi.

-Oi. –Percy respondeu.

-Não desceu pra almoçar hoje, Bianca queria te dar uma surra e a Reyna disse que ia ajudar. –ele riu fraco. –Eu conversei com ela, aliás. Reyna. Ela é meio...

-Rabugenta?

-Eu ia dizer séria, mandona, carrancuda... Mas rabugenta serve.

Percy riu dessa vez e encarou Nico. –Ela é a melhor, mesmo quando é um pé no saco.

-U-hum. –Nico concordou, sem saber o que falar. Toda vez que encarava aqueles olhos verdes, algo clicava em sua cabeça. Não sabia o que era, talvez apenas gostasse de simplesmente encará-lo por horas a fio, talvez fosse o jeito como seu cabelo selvagem caía em sua testa. Ele era agradável de se olhar. Nico não sabia dizer se era por sua beleza ou por algo mais. Ele apenas se sentia confortável fazendo aquilo e Percy não parecia se importar.

-Você não tem nada pra fazer agora?

-Ta me expulsando? –Nico perguntou.

-Não. Só queria ter certeza que não vou ficar sozinho.

-É impossível ficar sozinho nessa casa. –Nico riu, mas Percy apenas olhou para o teto.

-É mesmo... ?-ele perguntou a si mesmo.

-Você realmente se sente assim? –Nico aproximou-se e encarou seus olhos verdes. O garoto virou o rosto para ele e sorriu triste.

-Eu estou sozinho, Nico... De verdade. –ele murmurou com um tom melancólico e o outro suspirou indignado.

-Fala isso outra vez e tu leva um tapa na cara. –ele cruzou os braços. –Como assim sozinho? Eu sou o seu melhor amigo ou não! Todo mundo aqui te considera da família e nós mataríamos e morreríamos por você. Isso foi tão deprimente e triste que eu vou cortar os meus pulsos e já volto. –o garoto falou com um tom indignado e se virou. Percy riu e, em um impulso, levantou-se e o puxou de volta. Eles ficaram próximos por um momento, apenas sorrindo. Ele colocou a mão nos cabelos negros de Nico e se conteve em bagunça-los levemente, fazendo o garoto fechar os olhos. Ele acabou por, lentamente, dar um abraço no garoto.

A sensação era tão boa que ele sorriu feito um bobo.

-Você realmente daria um tapa na minha cara? –ele perguntou apreensivo.

-Não tão forte... Você é muito bonito pra estragar.

Percy riu alto e separou-se dele. –Valeu, Nicks... –ele agradeceu um pouco constrangido e olhou para os pés, pensando em cada furada que ele se meteu e Nico o salvou, em cada briga que ele se enfiou para defender o menor, mesmo que ele nunca houvesse precisado de ajuda, em cada vez que ele havia segurado sua mão ao acordar de um pesadelo, em cada vez que ele roubou a sobremesa de Hippie para os dois dividirem mais tarde...

Ele havia se acostumado tanto com Nico que era como se eles fossem apenas uma pessoa. Eles não pensavam iguais, eles tinham visões diferentes do mundo e vidas diferentes, mas conheciam um ao outro tão bem que poderiam dizer o que estavam pensando, poderiam se olhar e planejar uma guerra... Nico era mais do que uma parte de si.

Era raro para Percy se apaixonar antes de amar alguém, sempre havia sido o contrário, principalmente com Calypso. Mas com eles foi diferente.

Ele descobriu que gostava de Nico assim que roubaram o primeiro pudim da Bianca juntos. E isso realmente estava além do seu campo de controle. Amar era uma palavra muito forte, muito definitiva, tão cheia de significados e ele não queria pensar em nada além de seu teste demoníaco de Trigonometria e a festa desastrosa dos gêmeos, mas sua mente não conseguia parar de girar em torno daquele sorriso, daqueles cabelos compridos, daqueles olhos escuros, de cada gesto que fazia...

Ele gostava de Nico. De um jeito saudável e confortante.

E não se sentia nem um pouco errado por isso.

---x---

Thalia não era uma stalker. Ela era o tipo de pessoa que não se importa se seus namorados olham para a bunda de outra garota ou não. Não é que ela não se importasse, ela apenas sabia que era mais do que boa para mantê-los rastejando aos seus pés e tudo aquilo que era Thalia Grace simplesmente se tornava irresistível. Mas existe uma pessoa que sempre a tirou de seus trilhos, que sempre a fez andar nas nuvens e fazer planos para o futuro. Existia alguém que a fazia sentir-se insegura e que sempre a trazia de volta para Long Island mesmo que ela odiasse aquele pedaço lindo e magnífico de luxo e vida perfeita.

E quando alguém te afeta a esse nível, você se torna uma stalker. Descobrir onde Luke Castellan trabalhava era muito fácil, o próprio Percy havia dito. Entrar escondida sem marcar um horário também foi muito fácil. Encará-lo por dez segundos seguidos sem ter ideia do que dizer foi o momento mais tortuoso de sua vida.

-Thai? –Luke perguntou atônito e a puxou para sua sala antes de fechar a porta. –O que você está fazendo aqui?  Eu nem sabia que você tinha voltado! –ele passou os olhos por sua figura baixa e abriu um sorriso ao ver que ela continuava do mesmo jeito de sempre.

-Eu voltei... há alguns meses. –ela torceu a boca. –Mas... –encolheu os ombros como se não houvesse nada pra falar e a porta da sala abriu. Um homem alto e loiro entrou, ela facilmente o identificou como Dr. Apollo Solace. Ele estava tão imerso em seus afazeres que sequer a notou e deu as costas para si, iniciando uma conversa com Luke.

-Eu estava dando uma olhada nisso... –ele começou falando. –O Sr. Pluto me disse que era de vital importância que tivéssemos o histórico médico do garoto antes de ir ao julgamento. –ele suspirou e abriu uma pasta. –Mas isso realmente vai além do que eu pensei. Contusões, mais de treze fraturas de ossos, hematomas em todos os lugares possíveis. Nós fizemos exames de sangue e ele possui anemia, além de que o exame geral que fizemos mostraram sinais de que ele já teve relações sexuais, eu só espero que não tenha sido um est... –ele finalmente virou para trás e encarou Thalia.

-...Oi. –ela disse após um tempo.

-Ah, você estava aí. –ele riu. –Nem te vi, pequena desse jeito. –ela emburrou-se e ele sorriu mais ainda. –É bom te ver de novo. –ele virou-se para Luke e entregou a pasta em sua mão. –Você deve saber mais sobre isso porque conheceu ele. O Sr. Pluto vai precisar de toda a ajuda possível nesse caso.

Então deu um sorriso amarelo para Thalia e saiu da sala. Luke olhou para a pasta sem saber o que fazer para ela e Thalia estreitou os olhos com a única informação que viu nas folhas recém-impressas: “Jackson, P...”. O restante estava coberto pelo braço de Luke, mas ela tinha certeza que era sobre Percy. Hades havia sumido para resolver um caso e ela havia visto as marcas no corpo do garoto por acidente, facilmente reconhecendo sinais de que ele era espancado constantemente. Ela também havia passado por aquilo... Foi por isso que arrancou os dedos de Hera, uma solução drástica, mas ela apenas estava se certificando de que Jason não passaria pelo mesmo inferno dela.

-Então... –Luke deixou a pasta em cima da mesa. –Eu preciso entregar o relatório de um paciente que acabei de ver hoje, mas... –ele tirou um cartão de seu bolso e guardou no bolso traseiro de seu jeans, trazendo-a para perto com o movimento. Ela deu-lhe um sorriso sarcástico enquanto ele fingia-se de inocente. –Me liga. De verdade. –ele a alertou. –Você me deve um encontro, senhorita. –ele abaixou a cabeça e deixou um beijo em sua bochecha, mas arrastou levemente os lábios até tocar o canto de sua boca. Thalia arregalou levemente os olhos enquanto ele se afastou e saiu da sala com um sorriso pequeno.

Sua cabeça girou por alguns segundos, mas ela logo acordou de seu estupor e olhou em volta.  A pasta estava virada e ela rapidamente a abriu. Realmente era uma ficha médica de Percy. Ela havia escutado o que o garoto havia dito para Luke na Mansão Pluto-Jackson: ele havia passado no hospital muitas vezes, mas não era nem metade do que deveria ter ido. Ele provavelmente havia se machucado muito mais do que aquilo, mas eram as únicas provas e embora fossem boas, ela conhecia bem o poder do dinheiro para saber que podia não ser suficiente.

Um endereço no final da folha chamou sua atenção e ela rapidamente tirou o celular do bolso, tirou uma foto e pensou brevemente que Manhattan era onde Hades havia viajado e onde Percy costumava morar.

-Ugliano, Gabe. Padrasto. –sua mão fechou-se em um punho conforme ela lia aquela palavra e seu sangue ferveu levemente antes de se acalmar. –O homem é o lobo do próprio homem. –ela citou para si mesma pela milésima vez e fechou os olhos por um momento.

No momento, era melhor se concentrar no fato de que Luke Castellan havia acabado de chama-la para um encontro. Haviam alguns lobos que ela não se importava de andar junto.

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Albert estacionou o carro escuro em frente à casa e Hades sorriu ao ouvir o barulho que tremia os chãos e a decoração abusivamente colorida de super-heróis. Pelo menos Bianca não havia sucumbido ao ursinho Pooh ou seria desastroso.

-Obrigado por seus serviços, Albert. –ele agradeceu ao seu chofer. –Se quiser entrar por um momento, tenho certeza que as crianças acharam um jeito de contrabandear bebidas. –ele riu levemente e saiu do carro sem esperar uma resposta, deixando espaço para que o homem decidisse por si próprio. Ele havia observado, pela milésima vez, o quanto sua presença podia ser intimidante.

Entrou pela porta lateral da cozinha e gargalhou ao ver Bianca enxotando todo mundo e oferecendo copos de plásticos ao invés de vidro. Ela sequer reparou em sua presença e ele subiu rapidamente para o andar de cima, procurando seu quarto. Tirou os sapatos, afrouxou a gravata e jogou o terno para longe, então caiu na cama e suspirou de alegria com a sensação. Dormir em hotéis era um pesadelo.

-Hades? Você voltou? –ele virou o rosto para a voz e encontrou Poseidon jogado no sofá do outro lado do cômodo com fones de ouvido e um livro no colo.

-Tendências antissociais? –ele perguntou com um sorriso sarcástico enquanto se sentava na beira da cama.

-Más influências. –ele respondeu inocentemente e levantou-se, avaliando o homem. Seu cabelo havia crescido e ele tinha uma barba mais espessa no rosto. –Você está acabado. –ele cruzou os braços esperando uma explicação e Hades fez um muxoxo, puxou-o pela cintura e enterrou o rosto em sua barriga. –Eu sei que você sentiu minha falta, mas não. –ele fez-se de difícil e o pobre homem revirou os olhos.

-Eu sei que não avisei, mas isso era importante e eu tinha certeza que você contaria às crianças.

-Bom, eles não são exatamente crianças, tirando Tyson. –resmungou contrariado.

-Eu estava investigando Gabe Ugliano.

-O padrasto de Percy? –arqueou as sobrancelhas interessado. –E o que descobriu?

-Coisas terríveis. –ele suspirou. –Eu tive que andar pelos cantos mais nojentos daquela cidade. –ele estremeceu. –Pensei que nunca teria que voltar que lá, mas não imaginei que Percy passasse quase todas as noites naquele lugar.

-O que você quer dizer? –ele tencionou os músculos e sentou-se ao seu lado.

-Gabe usava Percy como... um meio de obter dinheiro. –ele passou a mão no rosto, enojado com as coisas que viu. –As confissões estão na pasta. –ele apontou para sua pasta preta. –Consegui ajuda de alguns profissionais e, com algumas notas, eles confessaram e assinaram que...

-O que? –ele perguntou com o rosto tenso.

-Percy dormia com algumas pessoas... Favores sexuais, esse tipo de coisas. Quando Ugliano perdia uma aposta ou simplesmente quando precisava de dinheiro.

Poseidon levantou-se, apoiou as mãos na porta que se abria para a varanda e procurou pelo ar. –O que mais? –ele perguntou e, mesmo que não quisesse ouvir, era seu dever porque ele havia caído na ilusão de que Percy não precisava de sua proteção quando era tudo o que faria diferença na sua vida.

-Ele era espancado constantemente. –soltou e Poseidon teve que se segurar mais forte ou acabaria perdendo a firmeza em suas pernas.

-Me diz que você pelo menos deu um soco nele. –ele perguntou desolado e Hades levantou-se com um sorriso triste.

-Eu quebrei alguns dedos. –ele afastou os cabelos negros dos olhos verdes. –Nós temos o que precisamos para um julgamento. O mínimo que ele pode pegar é prisão domiciliar e uma multa que ele não pode pagar... Mas advogado nenhum poderia ir contra todas as provas dessas atrocidades. Nós temos as confissões, o laudo médico e o testemunho do Percy. Eu espero não envolve-lo diretamente em um tribunal, mas ele vai ter que falar do mesmo jeito. Não acredito que ele vá...

-Não, ele vai falar. –Poseidon suspirou. –Aquele garoto é forte. –ele disse orgulhoso.

-Me pergunto quem ele puxou... –uma risada baixa foi escutada e Poseidon revirou os olhos. –Don...

-Oi... –ele murmurou cansado.

-Não foi sua culpa. Nem de Sally. É nossa natureza confiar nas pessoas. Você confiou na pessoa errada, assim como ela confiou no homem errado.

-Eu queria ter feito algo mais...

-Nós estamos fazendo agora. Ele tem uma chance nova, amigos, uma família de verdade. O escuro vira só sombra quando tem muita luz por perto... Você me disse isso, lembra? –ele beijou o topo de sua cabeça e afastou-se, certo de que estava fazendo o possível para manter as pessoas que amava felizes.

Porque quando se ama, é isso o que se faz.

---x---

A festa continuou em sua máxima animação para o completo desgosto de Nate. Hippie, no entanto, extremamente bêbado e totalmente fora de si, anunciou que tinha uma filha de cinco anos com sua antiga professora. A revelação foi no mínimo chocante, mas não haviam muitos sóbrios para se importarem com aquilo e logo todos haviam esquecido.

Bianca desistiu de tentar tomar conta de seus irmãos e virou um copo de bebida para dentro, soltou os cabelos e tomou coragem. Era burrice ou o destino. De qualquer forma, ela sempre podia arranjar a desculpa de que havia sido drogada por Thalia.

Piper estava sozinha a festa inteira e ela seria idiota demais se simplesmente não fizesse algo sobre aquilo. Mas enquanto dançava e ria com a garota na varanda gigantesca da casa, Piper parecia quebrada e solitária, não importasse o quanto sorrisse para disfarçar. Seus cabelos castanhos desfiados e trançados com fitas coloridas pareciam sem brilho e seus olhos quase nunca deixavam o chão.

Bianca realmente tentou colocar um pouco de alegria nela, mas parecia que havia algo extremamente errado com Piper quando ela simplesmente se desculpou e saiu correndo para as ruas escuras.

-Talvez eu só sirva pra colocar ordem no barraco. –ela sentou-se no banco e virou metade do segundo copo. Os cabelos vermelhos de Dare saíram de trás da parede e ela sentou-se ao seu lado.

-Eu acho que ela precisa de tempo. –a ruiva sorriu tristemente para a imagem longínqua de Piper tirando os saltos para andar melhor. –Ela acabou de terminar com o Jason, mas... Eu sei que não é ele. Ela não confessa muito pra mim, mas eu posso ver que ela gosta um pouquinho de você. Ela ta confusa, nem todo mundo aceita o amor de cara. Ficam se perguntando se são isso ou aquilo quando, na verdade, a gente só tem que pensar se ama ou não. Essa deveria ser a única dúvida, sabe?

Bianca revirou os olhos e virou o resto do copo. –Ótimo. De todas as garotas desse mundo... justamente a mais problemática.

-É... justamente a mais problemática.... –ela pegou-se murmurando. Não conseguiu deixar de pensar em Nico e Percy. Não estava sendo uma namorada paranoica e, embora soubesse que aqueles eram apenas abraços inocentes de conforto, ela conseguia ver além dos olhos. Em um universo paralelo, talvez eles nunca houvessem se apaixonado. Mas eles não estavam nesse universo paralelo e ela sentia que Nico e Percy foram feitos um para o outro e ela era apenas a pedra no caminho. Assim como Piper, eles só precisavam de tempo.

Ela apenas estava atrasando o processo e a sensação de que era um estorvo a fez sentir-se pior do que qualquer coisa. Ela queria a felicidade de Nico porque acima de qualquer coisa, ela o amava e eles eram melhores amigos desde crianças. Um amor daqueles nunca morreria e, mesmo que ela pudesse se “desapaixonar” dele, nunca o deixaria de amar, de querer seu bem.

E tem Percy. Ela definitivamente possui uma afeição por ele, por seu jeito quebrado e forte, pelo jeito como ele sempre arrumava algum tipo de cola para manter seus cacos juntos e nunca desabar. Ele era um vaso trincado ainda em pé e ela queria ajuda-lo. Mas Dare sempre foi um pouco egoísta, apesar de lutar fortemente contra isso, e a pergunta que não se calava, que não a deixava agir... Como ela ficaria ao final de tudo? Absolutamente sozinha? Ela nunca havia estado assim antes e o pensamento a apavorava.

Durante seu sofrimento e discussão interna, Bianca achou um jeito de dormir em seu colo e ela pegou o pulso da garota para checar a hora. A festa já estava acabando e em breve as pessoas começariam a ir embora, mas ela ainda podia se salvar de uma ressaca se tomasse alguns copos de água. Com algum sacrifício, tirou Bianca de seu colo, jogou sua jaqueta sobre seus braços e ajeitou o vestido comprido sobre suas pernas.

Entrou na cozinha e tomou um pouco de água, sentindo como a leve tontura se dissipava e sua mente se clareava pouco a pouco. Olhou ao redor, para as pessoas dançando e para os cochichos. Algo não parecia estar certo e quando ela se aproximou de uma roda de pessoas, o assunto a deixou, no mínimo, pálida.

Percy Jackson se prostituía.

Ela não precisou de um segundo pensamento para saber que não era a verdade completa, que havia muito mais e era apenas mais uma das sombras de seu passado, mas as pessoas não se importavam com isso. Nico havia lhe dito suas desconfianças de que Percy havia passado por uns bocados ruins e ela era a última pessoa na terra a julgar algo.

Sua mente começou a girar e não precisou sequer pensar em quem espalharia algo como isso porque todos naquela casa confiavam e gostavam do garoto, a não ser...

A não ser Octavian que pensava que ela tinha alguma queda por ele e morria de ciúmes.

Não foi preciso perguntar quem havia espalhado aquele boato porque o nome de Octavian circulava como sendo o autor da informação. Ela subiu as escadas e encontrou Percy largado na cama de Nico, aparentemente bêbado e com os olhos fixos no teto. Ele murmurava coisas sem sentido e apertava os olhos para não chorar. Ela não queria lidar com aquilo, tudo parecia sua culpa no momento. Octavian... ela sabia que não deveria ter convidado o maldito, mas, em um ato de insanidade, achou que ele pudesse ser uma boa companhia.

Ela viu Nico no corredor e foi até ele. –Percy... –ela gesticulou com as mãos em direção ao quarto.

-Eu sei. –ele deu um murro na parede. –É melhor você tirar aquele crápula da minha casa ou eu juro, Rachel, eu juro que eu vou arrancar a língua dele com minhas próprias mãos!

-Ta, ta, só... O Percy, por favor, fica com ele, eu...

-Se acalma. –Nico obrigou sua raiva a desaparecer para mantê-la sob controle. –Só termina essa festa idiota. Eu vou cuidar dele, vai...

Nico realmente cuidou dele. E em todos os dias seguintes, quando ele parecia ter mudado de uma figura alegre e forte para alguém melancólico e desanimado, Nico ainda era a única pessoa que conseguia arrancar sorrisos dele.

  Ela sentia-se mal, sentia-se doente e não conseguia pintar, não conseguia cantar ou ouvir músicas. Tudo parecia cruel e triste para ela. Talvez fosse uma crise existencial precoce, talvez um aviso do que a esperava se continuasse com aquelas ideias na cabeça, mas apesar de todo seu egoísmo, Dare sempre fez o que era certo, mesmo que fosse machucar.

Então ela terminou com Nico. Não esperou por sua resposta, não deu seus reais motivos ou disse nada além do necessário para que ele não se sentisse extremamente mal.

E deu o melhor soco de sua vida em Octavian Solace.

Ela estava cansada da vida sem cores, da tristeza e da pressão, da crueldade do mundo e das injustiças. Cansada da falsidade, cansada de sorrir e dizer que estava bem, você não fez nada de errado, não foi sua culpa, tudo está bem... Nada. Estava. Bem.

-Você é a pior pessoa que eu já conheci. –ela soltou as palavras do fundo de seu coração e observou sem um pingo de ressentimento o rosto de Octavian se desmoronar em uma careta de dor.

Se o mundo seria cruel com as mentiras, ela seria cruel com as verdades.

E a verdade era que o mundo estava podre.


Notas Finais


Nah... meio dramático, meio nhe-nhe-nhe, meio sla... O que acharam?


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