Amsterdam
SEXTA-FEIRA, 22 DE AGOSTO - 8 HORAS DA MANHÃ
Daniel Cooper e os dois detetives de plantão no posto de escuta ouviam a conversa de Demi e Nick ao café da manhã.
- Um pãozinho doce, Nick? Café?
- Não, obrigado.
Daniel Cooper pensou:
É o último café da manhã que eles tomam pelo resto de suas vidas.
- Sabe o que está me deixando mais animada? A nossa viagem na barca.
- Este é o grande dia e você está animada com uma viagem de barca? Por quê?
- Porque seremos só nós dois. Acha que sou doida?
- Absolutamente doida. Mas é a minha doida.
- Beije-me.
O som de um beijo.
Ela deveria estar mais nervosa, pensou Cooper. Eu quero que ela fique nervosa.
- De certa forma, Nick, lamentarei ir embora daqui.
- Veja a coisa por outro ângulo, querida. Não ficaremos mais pobres pela experiência.
A risada de Demi.
- Tem razão.
A conversa continuava às nove horas e Cooper pensou:
Eles devem estar se preparando. Devem estar aprontando os planos de última hora. E Monty? Onde irão encontrá-lo?
Nick estava dizendo:
- Querida, você poderia cuidar de tudo na recepção, antes de sairmos? Estarei muito ocupado.
- Claro. O concierge tem sido maravilhoso. Por que não existem concierges nos Estados Unidos?
- Acho que é somente uma instituição europeia. Sabe como começou?
- Não.
- Na França, em 1637, o Rei Hugo construiu uma prisão em Paris e pôs um conde para dirigi-la. O rei deu-lhe o título de comte des cierges ou concierge, significando "conde das velas". Seu pagamento era de duas libras e as cinzas da lareira do rei. Posteriormente, qualquer um no comando de uma prisão ou um castelo passou a ser conhecido como concierge. E, finalmente, isso incluiu os que trabalham em hotéis.
De que diabo eles estão falando? - perguntou-se Cooper. Já são nove e meia. Está na hora de partirem.
A voz de Demi:
- Não me diga onde você aprendeu isso... já namorou uma linda concierge.
Uma voz estranha de mulher:
- Goede morgen, movrouw, mijnheer.
A voz de Nick:
- Não existem lindas concierges.
A voz da mulher estranha, perplexa:
- Ik begrijp het niet.
A voz de Demi:
- Aposto que você as descobriria se existissem.
- Que diabo está acontecendo lá embaixo? - indagou Cooper.
Os detetives estavam confusos.
- Não sei. A camareira está no telefone, ligando para a sua chefe. Entrou para arrumar o quarto, mas diz que não compreende... ouve vozes, mas não vê ninguém.
- O quê?
Cooper estava de pé, correndo para a porta, descendo apressadamente a escada. Momentos depois, ele e os detetives, adentaram a suíte de Demi. Exceto por uma confusa camareira, estava deserta.
Um gravador tocava numa mesinha diante de um sofá.
A voz de Nick.
- Acho que vou mudar de ideia sobre o café. Ainda está quente?
A voz de Demi:
- Está, sim.
Cooper e os detetives se entreolharam com expressões de incredulidade.
- Eu... eu não compreendo - balbuciou um dos detetives.
Cooper indagou bruscamente:
- Qual é o telefone de emergência da polícia
- Vinte-dois-vinte-dois-vinte-dois.
Cooper correu para o telefone e discou.
A voz de Nick no gravador estava dizendo:
- Acho que o café deles é melhor do que o nosso. Como será que conseguem?
Cooper gritou pelo telefone:
- Aqui é Daniel Cooper. Entre em contato imediatamente com o Inspetor Van Duren. Diga-lhe que Lovato e Jonas desapareceram. Avise-o para verificar a garagem e descobrir se o Camião ainda continua lá. Estou indo para o banco.
Ele bateu com o telefone.
A voz de Demi estava dizendo:
- Já tomou alguma vez café fermentado com cascas de ovo? Fica uma coisa...
Cooper já passou pela porta.
O Inspetor Van Duren disse:
- Está tudo certo. O camião saiu da garagem. Eles se dirigem para cá.
Van Duren, Cooper e dois detetives estavam no posto de comando da polícia, no telhado de um prédio em frente ao Banco Amro, O Inspetor acrescentou:
- Provavelmente eles decidiriam apressar seus planos quando descobriram microfones nas suítes. Mas relaxe, meu amigo. Dê uma olhada.
Ele empurrou Cooper para a luneta no telhado. Na rua lá embaixo, um homem de macacão polia a placa de latão do banco... um gari varria a rua... um jornaleiro estava parado na esquina... três eletricistas trabalhavam, todos equipados com walkie-talkie em miniatura.
Van Duren falou por seu walkie-talkie:
- Ponto A?
O homem de macacão disse:
- Estou ouvindo, Inspetor.
- Ponto B?
- Tudo bem, senhor - respondeu o gari.
- Ponto C?
O jornaleiro levantou a cabeça e balançou-a.
- Ponto D?
Os eletricistas suspenderam o trabalho por um instante e um deles disse pelo walkie-talkie:
- Tudo pronto aqui, senhor.
O Inspetor virou-se para Cooper.
- Não se preocupe. O ouro ainda se encontra em segurança dentro do banco E eles só poderão levá-lo se vierem buscar. No momento em que entrarem no banco, os dois lados da rua serão bloqueados. Não poderão escapar. - Ele consultou o relógio. - O camião deve aparecer agora a qualquer momento.
Dentro do banco, a tensão era crescente. Os empregados haviam sido informados e os guardas tinham ordens para ajudarem a levar as barras de ouro para o camião, quando este chegasse.
Todos deveriam cooperar plenamente. Os detetives disfarçados fora do banco continuavam a trabalhar, observando a rua furtivamente, atentos à aproximação do camião.
No telhado, o Inspetor Van Duren perguntou pela décima vez:
- Algum sinal do maldito camião?
- Nee.
O detetive Witkamp olhou para seu relógio.
- Eles estão treze minutos atrasados. Se...
O walkie-talkie entrou em funcionamento abruptamente:
- Inspetor! O camião acaba de aparecer! Está cruzando a Rozengracht, a caminho do banco! Deverá vê-lo aí do telhado dentro de um minuto!
O ar tornou-se subitamente carregado de eletricidade.
O Inspector Van Duren falou rapidamente pelo walkie-talkie:
- Atenção, todas as unidades. O peixe está na rede. Vamos deixá-lo nadar.
Um camião blindado cinzento encaminhou-se para a entrada do banco e parou. Enquanto Cooper e Van Duren observaram, dois homens desceram, usando uniformes de guardas de segurança, avançaram para a porta do banco.
- Onde ela está? - Indagou Daniel Cooper em voz alta. - Onde está Demetria Lovato?
- Isso não tem importância - disse o Inspetor Van Duren. - Ela não ficará longe do ouro.
E mesmo que fique, isso não faz diferença, pensou Daniel Cooper. As gravações vão condená-la.
Nervosos empregados ajudaram os dois homens uniformizados a levarem as barras de ouro do cofre do banco para o camião blindado. Cooper e Van Duren observavam os vultos distantes do telhado no outro lado da rua. O carregamento demorou oito minutos. Depois que a traseira do camião foi trancada e os dois homens se encaminhavam para a boleia, o Inspetor Van Duren gritou por seu aparelho:
- Todas as unidades fechem o cerco!
O pandemônio começou. O homem de macacão, o jornaleiro, os três eletricistas e um enxame de outros detetives correram para o veículo blindado e o cercaram, empunhando armas. A rua foi isolada, não havendo tráfego em qualquer direção.
O Inspetor Van Duren virou-se para Daniel Cooper e sorriu.
- Vamos descer.
Está tudo acabado finalmente, pensou Cooper.
Eles desceram apressadamente para a rua. Os dois homens uniformizados foram colocados contra a parede, as mãos levantadas, cercados por detetives armados. Daniel Cooper e o Inspetor Van Duren se adiantaram.
Van Duren disse:
- Podem se virar agora. Estão presos. Os dois homens, muito pálidos, viraram-se para enfrentar o grupo. Daniel Cooper e o Inspetor Van Duren ficaram chocados. Eram totalmente estranhos.
- Quem... quem são vocês? - indagou o Inspetor Van Duren.
- Nós... nós somos os guardas da agência de segurança - balbuciou um dos homens. - Não atirem. Por favor, não atirem.
O Inspetor Van Duren virou-se para Cooper.
- O plano deles saiu errado. - Havia um tom de histeria se insinuando em sua voz. - E eles acharam melhor cancelar tudo.
Uma bílis verde surgira no estômago de Daniel Cooper e lentamente começava a subir pelo peito e garganta. Quando ele conseguiu finalmente falar, a voz era sufocada:
- Não... nada saiu errado.
- Do que está falando?
- Eles nunca estiveram atrás do ouro. Não passava tudo de uma armação falsa.
- Mas é impossível. O camião, a barca, os uniformes... temos fotografias...
- Será que não compreende? Eles sabiam que os estávamos vigiando durante todo o tempo!
O Inspetor Van Duren empalideceu.
- Oh, Deus! Onde eles estão...
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