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História Seacht - Scáthanna


Escrita por: AyzuLK e ByaNamikaze

Notas do Autor


Scáthanna - sombras!

Capítulo 32 - Scáthanna


Havia um recanto em minha mente para onde eu sempre fugia.

Eu podia apenas descansar minha cabeça, fechar os olhos e deixar de existir.

E isso me assustava tanto, porque sempre que eu ia para esse lugar, eu não queria mais voltar.

Não existir era tão mais fácil.

Viver era o mais difícil

........................... 

SASUKE LEMBRAVA DAQUELA FLORESTA. Era a mesma que visitava quando criança com o pai e o irmão para acampar. Lembrava das grandes sequoias que mudavam de cor naquela época do ano, das folhas secas que faziam barulho nos pés. De como sempre podiam cruzar o caminho com os mochileiros em certas épocas. Aquele cheiro sempre o acalmou. Havia algo na floresta que o fazia se sentir diferente.

Agora mesmo, estava deitado nas folhas, sentindo a terra nas mãos e nos pés descalços. Um barulho de pegadas lhe chamou atenção e levantou a cabeça devagar, porém alerta. Ah, lembrava daquilo. Do pelo vermelho, os olhos curiosos e inteligentes. Lembrava de ter 10 anos e ter se afastando um pouco do acampamento para pegar água em um riacho, apenas para se deparar com uma Raposa Vermelha pela primeira vez. Apesar dos avisos de seu pai quando se encontrasse com um animal selvagem, ela o deixou fascinado. Apenas ficou parado, a encarando, tentando não ceder a vontade de ir até lá. Os dois se encararam por muito tempo, até que o animal se foi sem mais.  Desde esse dia percebera, mais do que decidira, que as raposas eram seus animais favoritos. Sentiam uma inclinação por elas, e por várias vezes depois daquilo se afastara do acampamento, tentando ter sorte novamente.

Lembrava do olhar de Itachi ao descobrir sua nova obsessão. Só agora entendia aquela pontada de tristeza nos olhos dele. Agora mesmo, olhando a linda raposa que o encarava conseguia sentir o mesmo. O pelo dessa não era vermelho, era dourado como as raposas do deserto. O tamanho também era diferente. Era bem maior que um lobo, e caminhava de forma orgulhosa, a cabeça erguida, os olhos azuis o fitando com algo que conhecia muito bem. Inteligentes, antigos. Doloridos.

Voltou a descansar a cabeça nas folhas, ainda virada em direção ao animal que após uma pequena pausa, checando ao redor, continuava a caminhar orgulhosa em sua direção. Não sentia medo, mas cautela. Sentia vontade, como anos atrás, de ir ao encontro do animal, afundar suas mãos no pelo, testar sua consistência, se era macio como parecia. Porém, ficou parado, sabendo que não devia ser ele a fazer a aproximação. Ele perdera esse direito, apenas sabia disso.

Apenas quando o belo animal estava ao alcance da sua mão, sentou-se devagar, em posição submissa. Os olhos azuis pareciam checá-lo, e, quando ergueu a mão devagar em direção ao animal, a deixando estendida em permissão, ele aproximou-se por conta própria, a cheirando, para então o deixar acariciar o pelo macio e quente. Quente e confortante. Seguro. Assim, de perto, via que os olhos tinham um brilho cinzento e algo nobre. Algo que reconhecia, no fundo sempre reconhecera.

Ficaram assim por algum tempo, até o animal se afastar, devagar. Ficou imóvel, até que a raposa parou perto das árvores, o encarando. Soube no mesmo momento que ela queria ser seguida. O fez, sem relutar.

Não soube quanto tempo passou, por vezes perdia de vista o pelo dourado por entre as árvores, apenas para encontrá-lo mais na frente. Tudo ao redor ficava mais escuro, mais profundo dentro das árvores. Uma névoa parecia vir do chão, e tudo ficava mais frio. Tremeu, sentindo-se grato quando ela voltou a se aproximar, o emprestando seu calor enquanto caminhava. Sons começavam a surgir ao redor. Como sussurros, que nunca pareciam audíveis o bastante para serem entendidos. E a sensação de que era observado era no mínimo enervante.

Quando a raposa finalmente parou, estava em meio a uma clareira novamente. Mas diferente das cores de outrora, essa era escura. As flores pareciam mortas, as árvores se retorciam em formas estranhas, como em seus pesadelos infantis. A névoa era tão densa, que demorou um tempo para perceber que havia algo no centro dela. E era para lá que o animal olhava. Treinou sua visão, e viu que era um embrenhado de raízes, que surgiam do chão e formavam algo como um matagal espinhento.

Aproximou-se, como se atraído. E quando estava apenas a poucos passos, uma mão saiu das raízes, pálida e suja de terra. Juntamente a um grito estridente e enfurecido. Caiu para trás no susto, e se viu face a face com um rosto pálido como papel o fitando por trás das raízes. Estava sujo de terra, e os olhos eram vermelhos sangue e furiosos. Asas negras saiam das costas, sangrando em alguns pontos onde se debatiam contra a prisão. Algumas das raízes pareciam ter sido arrancadas, e havia sulcos no chão, como se o que quer que tivesse ali dentro, tivesse sido puxado para as raízes a força.

Que agora entendia que não eram apenas raízes: Era uma gaiola. 

Sugou a respiração. Aquele rosto era idêntico ao seu.

Não pode ser...  Murmurou. Noland?

Só podia ser. E pelo grito doloroso, raivoso que recebeu devia estar certo. Olhou os lanhos no chão.

Como....

Você o colocou lá.  A voz ao seu lado o fez virar o rosto rapidamente, e onde antes estava a raposa, estava Naruto.

Não, não era Naruto. Aqueles olhos cinzentos não tinham nenhum sentimento que os azuis de Naruto tinham. Não o amor que via nele, mesmo sabendo que não o merecia. Havia apenas...nada. E ele era no mínimo, pela aparência, cinco ou seis anos mais velho do que Naruto.

Noland gritou o nome sem parar na gaiola. Com raiva e dor.

Aeron. murmurou o nome, sentindo um peso que quase o fez cair de joelhos quando o garoto o fitou. Era o mesmo rosto bonito, a mesma postura orgulhosa. Mas os olhos eram totalmente errados. Estes o mediram, e rapidamente soube que não gostavam dele. Quando foi libertado, conseguiu respirar, de quatro no chão.

Ele esteve aqui por anos. Você o combatia sem se dar conta, todos esses anos. Vi o templo mental que criou. Aeron apontou para cima e viu um ponto vermelho no topo de uma montanha, que conseguia avistar dali. O templo dos seus sonhos, uma imagem mental do lugar que visitara quando criança e que lhe fazia ter equilíbrio. Mesmo de forma inconsciente, você tentava o combater por controle. Nem sempre com sucesso.  Os olhos fitaram os lanhos e as raízes arrancadas. Isso foi da noite que machucou Naruto.

Os olhos novamente estavam no seu, e tossiu, sentindo como se as mãos dele estivessem em sua garganta.

Cada coisa estúpida que fazia, as grades enfraqueciam, até que ele conseguiu fugir.  Ele se agachou na sua frente, onde sufocava. E quase matar a pessoa que fiz de tudo pata deixar viva todos esses anos. A pessoa que infelizmente, ama você.

Mesmo falando isso com certo desdém, ele o soltou da força invisível. Caiu no com tudo dessa vez, cara no chão.

Vou admitir algo, Sasuke.  A voz estava mais calma. Os gritos de Noland eram um pano de fundo. -lo soltado foi estupidez, mas a maneira como conseguiu prendê-lo novamente, foi impressionante. Talvez você ame Naruto no fim das contas. Talvez eu não deva matá-lo.  

E.eu... sua voz estava rouca pelo esforço, ainda assim sentia a necessidade de falar aquilo. Ergueu-se de quatro, ainda tossindo. Eu o amo.

Palavras não são suficientes.  A voz de Aeron parecia mais triste agora. Sasuke sentou e notou que ele estava mais próximo de Noland agora, e enquanto os olhos vermelhos pareciam insanos, os cinzentos pareciam tristes. Noland costumava me dizer isso todo o tempo. E realmente acredito que era verdade, assim como eu o amei com tudo o que podia, e como podia. Ao menos como um deus podia amar um mortal. E ainda assim, nós destruímos um ao outro. Amor não é o bastante.

Sasuke queria rebater, mas sabia que era verdade. Aeron continuou.

Você queria domá-lo também, como Noland tentou. Queria prendê-lo. E tudo o que conseguiu com isso foi quase perdê-lo. Uma parte dele, nunca vai esquecer o que você fez, justamente porque, e deuses me expliquem o porquê, ele ama você. E ser machucado por alguém que se ama é pior do que ser torturado por qualquer inimigo. Você entende isso?

Ele o fitou por cima do ombro, e Sasuke assentiu. Ele entendia. Havia entendido isso há muito tempo. E Aeron pareceu ver isso em seus olhos, pois os olhos pareciam menos antipáticos.

O que torna Naruto forte, mais forte do que eu jamais fui, é também o que torna fraco. O que o faz precisar ser protegido, mesmo que ele não queira admitir isso. Ele é leal. Ele faria qualquer coisa pelas pessoas que ele ama. Qualquer coisa. Você vai protegê-lo. Você não vai duvidar dele, nunca. Você vai respeitá-lo. E não vai fazê-lo chorar por sua morte. Mesmo o carvalho mais forte vai cair se não tiver uma raiz forte. Você será a raiz dele, Sasuke, ou eu mesmo vou destruí-lo.

Eu dou minha palavra. Sasuke rebateu, seus olhos mostrando toda a sinceridade nas suas palavras.

Atrás dos dois, Noland continuava gritando.

Ele...

Um pedaço de alma há muito perdido. Aeron voltou a fitar a gaiola. A única redenção que encontrará para ele, Sasuke Uchiha, será destruí-lo. No momento certo.

Foi a última coisa que ele disse, antes de seu corpo brilhar, e novamente a raposa aparecer no seu lugar. Quando ele se distanciou do lugar escuro, o seguiu. Tentando não se ater aos gritos da alma perdida que ficava para trás.

.....................................

A floresta mudou. As folhas estavam mais úmidas, as árvores mais verdes. E havia sons de riacho por perto. Não estava mais na floresta conhecida.

A raposa parou novamente no fim das árvores, e, dessa vez, Sasuke viu uma cabana parecida com as de caça, mas essa era maior; possuía um anexo como uma garagem. Havia fumaça saindo da chaminé, provando que havia alguém em casa. Olhou de forma curiosa, sem saber o que fazer. Ao seu lado Aeron o empurrou com o focinho, antes de lançar um último olhar para si e voltar pelo caminho de onde viera velozmente, sumindo por entre as árvores.

Não entendia o porquê ele sumira dessa vez, mas se ele queria que ele fosse para a cabana, tinha um motivo. Seguiu pela colina, tentando não escorregar enquanto deslizava pela lama. Ainda caminhou um tempo até a entrada. Todas as portas estavam abertas, cortinas balançavam na janela. Mas de resto, tudo parecia abandonado, se não pela fumaça, como quem quer que tivesse vivido ali, houvesse saído às pressas.

Entrou com cautela. Havia um sofá de madeira na sala, assim como poltronas rústicas. Tudo ao redor o era. Na lareira algo fervia, e havia couro no chão. Uma estante estava repleta de livros, e havia vários porta-retratos, todos virados de cabeça para baixo. Aproximou-se curioso, pronto para olhar o que era escondido, quando um som veio de cima, do outro andar.

Olhou para a escada de madeira curva, esquecendo os porta-retratos. O som era uma melodia desconhecida, em outra língua, calmante e triste ao mesmo tempo. Seguiu a voz até uma das duas portas que havia em cima. A abriu com cautela, e havia caixas por todo lado, papéis voavam pela janela. Objetos antigos, móveis, um piano velho. Era como um sótão, exceto por uma cama pequena no canto.

Seguiu a voz por entre a bagunça, que parou de frente a um espelho empoeirado. Sentado no chão, de frente a ele, havia uma criança loira, de uns seis ou sete anos. Havia curativos em seu rosto, o cabelo estava grande o bastante para lhe cobrir os olhos. As mãos pequenas desenhavam na poeira do espelho enquanto ele cantava. Mesmo quando se sentou a seu lado no chão, ele não parou de cantar.

Sasuke sabia que era Naruto. Tinha uma compreensão borrada do que acontecia ali. Aeron, Noland, e agora Naruto. As mentes deles estavam conectadas. Agora mais do que nunca. A última coisa de que lembrava, era de Naruto correndo em direção a floresta, os gritos do gigante. E então ele viu a cena pelos olhos dele. Viu o sangue, sentiu a dor. Ele deu aquela ordem tanto quanto Naruto. Ele matou aqueles homens também.

Você sabe onde ele está? Naruto perguntou, os azuis o olhando com certa tristeza que um menino nunca devia ter.

Quem?

O vovô. Ele não voltou ainda.

Sentiu um aperto no peito ao ouvir aquilo.

Não quero ficar sozinho.  O garotinho se encolheu mais e sussurrou. O monstro vai aparecer.

Sasuke sentiu uma angústia inimaginável ao vê-lo tão pequeno e vulnerável. Estendeu a mão e o garotinho a tocou sem hesitar. Só então notou que sua própria mão era menor. Ao olhar no espelho, viu que também tinha sete anos de idade. Abraçou o outro de forma desajeitada. Mesmo naquela idade, era mais alto do que Naruto.

Eu posso te fazer companhia. Ofereceu, estranhando sua própria voz infantil.

Mas...o monstro vai pegar você também.  A voz chorosa e baixa se fez ouvir.

De repente pegadas pesadas foram ouvidas no corredor. Naruto ficou rígido, os olhos azuis apavorados encararam os seus e ele o empurrou.

Se esconde! o loirinho correu por entre as caixas, se escondendo.

Sem saber o que fazer Sasuke fez o mesmo, abaixando-se apenas a tempo da porta se abrir com um estrondo. Seu coração batia forte. Podia ouvir uma respiração pesada, e ao erguer a cabeça de onde estava viu um ser feito apenas de sombras, como um monstro de um pesadelo infantil podia ser. Ele não possuía rosto, mas havia um sorriso sádico e branco, congelado na escuridão. Ele tinha uma faca na mão, brilhante e perigosa. Engoliu em seco. Tinha que achar Naruto. Engatinhou por entre as caixas, tentando encontrar o outro menino.

 Ninfetinho, apareça.  A voz sinistra se fez ouvir, e Sasuke tentava não se sentir paralisado. Aquilo não estava acontecendo, não era real. Era na cabeça de Naruto ou na sua? Tenho um presente, só precisa aparecer.

Não!! ouviu um grito e o barulho de caixas sendo jogadas. Correu e notou que agora o quarto parecia bem maior e não conseguia achá-lo. Quando os avistou havia um sofá velho e encardido e aquela sombra estava em cima da criança, a faca afiada desfigurando o rosto que sangrava. Então aquela era a lembrança. O primeiro monstro de Naruto.

Correu em direção aos dois, pulando nas costas do monstro, suas mãos pequenas tentando agarrar alguma coisa. Quando conseguiu com que ele largasse Naruto, sentiu ser jogado contra a parede. O monstro agora indo para sua direção.

Naruto! gritou ao outro, que parecia em choque. Ele estava sem roupas, sangue escorrendo com lágrimas pelo rosto. Naruto! Aqui você é mais forte!

Os azuis piscaram, ainda encolhido. Sasuke sentiu o pavor da mão em seu pescoço, o sufocando.

Na..ruto... tentou falar, sentindo lágrimas nos olhos.

Foi o que bastou.

Não! o viu pegar a faca e correr, pulando em cima da sombra. A faca sendo enfiada no que seria o peito do monstro, que caiu. As sombras se espalharam, como se saíssem de dentro do monstro, deixando tudo escuro.

Naruto! Gritou tentando achar o outro. Avistou um ponto de luz e correu até lá, vendo que uma porta havia sido aberta. Ao alcançá-la, estava de volta no corredor de antes. Havia barulho embaixo dessa vez, nas escadas. Tiros e gritos. Correu, ainda chamando pela criança assustada. Paralisou ao chegar no meio das escadas e ver que nada estava como lembrava. Os porta-retratos estavam virados dessa vez, mostrando imagens do que sabia ser a família de Naruto.

E tudo estava coberto de sangue.

Havia vidraças estouradas. E em meio ao caos de móveis virados, havia corpos ensanguentados. E Naruto. Um Naruto mais velho, embora ainda uma criança. Ele estava agarrado a um dos corpos, o balançando.

Aproximou-se, deixando marcas no sangue. Viu que ele abraçava um velho, ou o que sobrara dele. Não entendia o que havia acontecido, mas havia dor em cada soluço, uma dor que não conseguia suportar. Ficou de joelhos ao lado dele, notando novamente que tinha a mesma idade desse Naruto também. O abraçou com força, o corpo entre os dois.

Sangue, tem tanto sangue... o sussurro era assustado. Nunca acaba, nunca vai embora, nunca vai embora...

Ergueu o rosto do outro do seu ombro, limpando o rosto sujo com carinho, apenas para depositar um beijo na testa da outra criança.

Eu estou aqui.

Mais uma vez a cena mudou. Se encontrou em outra escada, dessa vez de uma casa grande e rica. Desceu devagar, sabendo que esse era o caminho ao ouvir gritos de uma briga. Encontrou Naruto no meio do caminho, sentado no degrau. Ele era ainda mais novo, devia ter 5 anos, no máximo. Estava encolhidinho, abraçando os joelhos. Sasuke, também com 5, sentou-se a seu lado. Pelas grades podia ver dois ruivos discutindo na sala. Esse evento não parecia tão traumático quanto os outros dois, por isso não entendia o que fazer.

Tio Naa vai embora.  O loirinho falou, sem tirar os olhos da cena. Ele não gosta mais de mim. Eu assusto ele.

Passou os braços pequenos pelos ombros do outro menino, o puxando para perto, ficando paradinhos no lugar.

Você não me assusta. falou em conforto. Os olhos azuis desviaram da cena para os seus, curiosos dessa vez. Não te acho assustador.

Ele sorriu.

...............

—Os antibióticos estão fazendo efeito rapidamente. Parece impossível, mas nesse ritmo, ele logo irá se recuperar. — Kimimaro olhou os aparelhos, notando os sinais vitais mais estáveis. A febre ainda estava alta, mas temperatura já abaixava rapidamente.

Nagato não conseguiu segurar um suspiro de alívio. Fora por pouco. No momento em que vira Naruto na maca sendo removido do helicóptero, sabia que tinham pouco tempo para agir. O havia levado para outra ala, longe dos outros. Não queria ninguém perto do seu sobrinho, onde pudessem machucá-lo. Sabia bem que naquele ponto, eles poderiam tentar se livrar de algum dos participantes, apenas para terem mais chances nas apostas que faziam entre si. Não podia arriscar isso.

Sabia que era o mesmo motivo de Itachi e Madara estarem com Sasuke também, mesmo que Madara fosse mais discreto que ele. Nagato apenas não saíra de perto do sobrinho durante aqueles dois dias.

—Preciso olhar os outros participantes. — Kimimaro continuou. — Naruto vai ficar bem, fisicamente ao menos. Agora é esperar e ver como ele vai reagir. Em algumas horas, talvez já possa transferi-lo para algum dos quartos.

Não respondeu. Fisicamente. Fisicamente ele iria se recuperar, como um milagre.

Emocionalmente, ninguém tinha certeza.

............................

Aquela cena Sasuke conhecia. Estava no escritório de Obito, e sentia a bile subir por sua garganta. Pelas janelas de vidro, via que tudo era uma massa escura lá fora, como se o quarto estivesse solto na escuridão. Sombras se moviam na parede, se desprendendo delas como corvos flutuando ao redor no quarto.

Logo avistou Naruto, apunhalado pelas mãos no chão coberto de sangue. O monstro de escuridão estava lá novamente, mas dessa vez havia um rosto nele. Era como se a escuridão usasse uma máscara com o rosto de Obito. Não perdeu tempo e correu.

Naruto precisava destruir mais um monstro.

.......................................

Sasuke não acordava. Ninguém sabia ao certo a razão. Fisicamente, não havia nada que o impedisse de acordar. Suas costelas foram cuidadas, os ferimentos tratados. Estava recebendo nutrição através do soro, os vitais estavam estabilizados. Ele simplesmente não acordava.

Itachi, sentado ao lado da cama do irmão, notava apenas que de vez em quando o coração dele acelerava abruptamente, como se ele estivesse em um pesadelo.

Seus pensamentos foram interrompidos por Kimimaro que entrava no quarto. Sem falar nada, ele apenas analisou o prontuário e checou os sinais.

Itachi o encarava, fazendo uma pergunta muda por Naruto. Sabia que Nagato confiaria apenas no albino em cuidar do garoto nesse momento, assim como ele e Madara confiavam nele para cuidar de Sasuke. Todos os demais podiam ser persuadidos.

—A infecção está sendo combatida.

Apenas assentiu. 

...............

Estavam em uma praia, e havia um mar de corpos na enseada. Naruto estava sentado na areia, os olhando. Reconhecia alguns. Gaara estava lá, e o gigante. Além do seu, o de Itachi e de tantos outros.

Havia sussurros no ar. Quanto mais chegava perto de Naruto, mais eles eram audíveis. Havia corpos formando um círculo ao redor dele, todos com um tiro na testa. Todos diziam a mesma coisa.

É sua culpa.

Assassino.

Você é um assassino.

Apenas correu até Naruto.

..............................

Kimimaro estava certo. Após dois dias, fisicamente Naruto estava bem. As costelas ainda estavam se curando, mas todos os ferimentos menores haviam sumido. A infecção, que fora o maior perigo, se fora rapidamente, e, mesmo com os antibióticos, fora um milagre ele não ter que perder sua mão. Mesmo sem ordenar, sabia que Kimimaro não falaria nada dessa recuperação milagrosa. O que o garoto menos precisava agora era ser alvo de mais experimentos. Ele sabia que Tobirama não teria escrúpulos em relação a isso.

Ainda assim, Naruto não acordava. Sabia que um dos participantes já havia acordado, mas os outros dois continuavam inconscientes. E ninguém sabia a razão, além de uma carga emocional absurda.

—Quando ele quiser, ele vai acordar. — O albino explicou.

A questão era, se depois de tudo, Naruto iria querer acordar.

....................................

A escuridão estava lá novamente. Em cima de Naruto. E dessa vez, era pior do que qualquer coisa: a máscara que ela usava dessa ve tinha o rosto de Sasuke.

.................................

Itachi observou o irmão atentamente. Havia algo de diferente.

Quando encontrou o que era, suspirou.

Lágrimas. Mesmo desacordado, ele estava chorando.

..............................

Dessa vez, tudo era vazio. Estava solto em um vazio claro e brilhante. Ouviu novamente a canção triste, e avistou Naruto sentado naquele branco sem nada, de frente ao mesmo espelho que vira antes. Dessa vez, ele tinha a sua idade atual. As roupas que ele usava, as reconhecia, eram as mesmas que usava no baile.

À medida que se aproximava do outro, ele parecia ainda mais distante, como se tentasse alcançar um ponto sem referência no deserto.

Notava também, que o branco não era mais branco ao redor de Naruto. Era como se tinta fosse derramada no chão a seus pés, manchando o branco e o tornando escarlate. E como um pingo de tinta na água, ela se espalhava rapidamente.

Sasuke entendia, ele finalmente entendia por que Aeron havia o guiado até ali. Ele havia feito Sasuke ver algumas das coisas horríveis que Naruto havia passado. Por um momento, pensou que para puni-lo, mas agora entendia que não era esse o caso.

Ele queria que ele tirasse Naruto dali. Que o fizesse derrotar seus monstros, para conseguir sair dali. Ele queria que ele entendesse a dor de Naruto, para que pudesse entender quem ele era.

Para que ele fosse a raiz que ele precisava ser.

Nesse momento, finalmente o alcançou. Passou os braços ao redor dele com força.

Sasuke. Naruto sussurrou, como se acordasse de um transe.

Nesse momento, sentiu uma força os sugar.

Eles eram arrastados para dentro do espelho.

Quando abriu os olhos, novamente, estava em um lugar diferente. Novamente em uma floresta, verde e úmida. Mas dessa vez, havia flores em toda parte. Ouviu risadas e correu por entre as flores na clareira em que caíra, até avistar um riacho.

Naruto estava lá, deitado por entre as flores perto do rio. Sua cabeça estava recostada contra a grande raposa que sabia que era Aeron. O mesmo brilho dourado contra o sol vinha dos dois, e se espalhava ao redor. Havia outras criaturas no ar, vindo das flores. Como em um conto-de-fadas. Era de lá que vinham os risos.

Naruto.  Chamou, e o viu erguer a cabeça, surpreso. Ele falou algo a raposa, logo antes de abraçá-la pelo pescoço com força e carinho. Sasuke correu ao mesmo tempo em que ele se levantou e correu em sua direção, Aeron logo atrás em um passo mais lento.

Sasuke!

No momento em que seus braços se puseram ao redor do corpo quente, que sentiu o cheiro refrescante, uma paz o percorreu e suspirou aliviado. Ali, sem monstros, sem escuridão. Apenas paz. Apenas a alma dos dois.

Atrás dos dois, a grande raposa o olhava de forma solene.

E pelo olhar sabia que havia provado, ao menos um pouco, o seu valor. Quase sorriu com isso. Ainda havia um longo caminho aos olhos de Aeron.

Via os seres das flores ao redor dos dois, rindo de forma travessa, algumas puxando seus cabelos. Naruto sorriu.

Vamos Sasuke.  Sussurrou, erguendo o rosto do seu ombro. As mãos em sua nuca o puxaram para perto. Vamos para casa.

Um beijo, e tudo ao redor se esvaiu.

Na área leste, dos vencedores, em uma enfermaria, olhos negros se abriam pela primeira vez em dias.

Do outro lado do castelo, em uma ala mais desconhecida, em uma outra enfermaria, Nagato Uzumaki finalmente via os olhos azuis do sobrinho abertos. 

...............


 Scáthanna  sombras! 



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