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História Seacht - Maithiúnas


Escrita por: AyzuLK e ByaNamikaze

Capítulo 42 - Maithiúnas


 

As fadas são justiceiras. Elas gostam de se envolver nos assuntos dos mortais com frequência, e dar sua punição como assim achar que se é merecido. Há inúmeras lendas que contam sobre a justiça das fadas contra a humanidade, e elas quase nunca apresentam benevolência.

Se você cometeu seu pecado, elas irão lhe punir. Não importa quanto tempo passe, não importa para onde fuja. Elas vão lhe achar, elas vão lhe enganar em falsa segurança, e vão lhe fazer pagar pelo que fez.

Da mesma forma se você conseguir ganhar o respeito delas, não importa seu infortúnio, você estará protegido. Enquanto você tiver seu respeito, sua vida será prospera.

E o que acontece se uma fada te amar e depois não amar mais?

Espere grandes desgraças na sua vida, mo sionnach beag, pois uma fada nunca esquece, e sempre cobrará seu preço.

.....................

A PRIMEIRA LEVA DE FERIDOS HAVIA CHEGADO AO HOSPITAL com queimaduras severas, alguns com sinais de inalação de fumaça. Um deles estava com as pernas esmagadas, e havia sido encaminhado imediatamente para a sala de cirurgia.

Kushina dava as ordens ao redor, tratando dos mais graves antes de encaminhá-los. Alguns eram apenas um pouco mais velhos de que seu filho.

Minato não havia retornado, sabia que o marido só viria trazendo o filho dos dois.

—Levem esse para a sala de emergência!

Você prometeu Minato, você prometeu.

.................

 Você parece bem cansada, Kushina.

 Mikoto olhou a amiga de forma preocupada. Fazia uns bons anos que não a via, as duas morando de lado opostos do país, mas nunca haviam parado de se falar por telefone e email. Uma conferência na cidade havia lhe dado a oportunidade de uma visita surpresa.

Tenho pegado muitos plantões. Kushina sorriu, mas notou que não era um sorriso que alcançava os olhos acinzentados. Franziu os lábios, colocando a xicara de chá na mesa e a olhando de forma penetrante, a sobrancelha erguida inquisitivamente; Jesus, Itachi puxou mesmo a você nisso ai, de ler a alma das pessoas, mulher.

Não vai me distrair. Kushina.

A ruiva suspirou passando a mão nos cabelos recentemente cortados, colocando também a xícara na mesa.

Minato e eu...estamos tendo problemas.

Mikoto tentou não parecer surpresa. Era difícil acreditar que aqueles dois, que claramente idolatravam o chão que o outro pisava, podiam ter algum problema no casamento. Parecendo ler seus pensamentos a outra riu, sem humor.

É, eu sei.  Ela passou a mão no rosto cansado. Nós dois andamos muito estressados ultimamente, às vezes perdemos a linha nas discussões sobre de quem é a culpa.

Isso é sobre Naruto.  Não era uma pergunta. Kushina havia falado sobre os problemas do filho durante as ligações. Mikoto tentava colocar a imagem do adolescente problemático no menininho que conhecera há tantos anos, mas não conseguia.

Ela havia visto Naruto durante três vezes na vida. Um quando ainda estava grávida de Sasuke, outra logo quando o sequestro aconteceu e Kushina precisou tanto de si quando descobriu tudo, e uma terceira durante um ato de um ano da morte de Jiraya, cinco anos atrás.

Ele foi expulso de mais uma.  Kushina franziu a sobrancelha. Minato...não está nada feliz. Ele disse algumas coisas bem duras outro dia.

Mikoto esperou em silêncio. Sabia que havia mais sobre a história. Kushina não ficaria tão irritada com o marido por dar uma bronca simples no filho, ainda mais em uma situação como essa. Por um lado, tinha certeza de que ele nunca levantaria a mão para a criança dos dois, ou Kushina não estaria mais ali com ele.

Ele falou sobre Jiraya, Mikoto.  Kushina balançou a cabeça. Que ele estaria decepcionado com Naruto. Minato estava tão irritado, e Naruto irresponsivo, como se não ligasse. E então ele falou isso, e a expressão do Naruto...tão magoada. Eu sei que ele se arrependeu de imediato por ter dito aquilo, mas o estrago já estava feito. Os dois não se falaram essa semana, Minato nem mesmo dormiu em casa nos últimos dias. Naruto não sai do quarto.

Mikoto suspirou e segurou a mão da amiga, enquanto ela limpava as lágrimas com a outra.

E eu sei que tem alguma coisa que Naruto não está falando sobre tudo isso. Minato deve saber também, por isso o puxou tanto. Naruto...não é assim.

Ele passou por muita coisa, Kushina... tentou de forma delicada.

Eu sei! Mas...ele não é assim. Eu conheço meu menino. Mikoto, Naruto nunca machucou alguém só porque ele podia. Ele apenas não é assim.

Mikoto deixou a ruiva chorar, a confortando em silêncio. Kushina era sempre tão forte, vê-la assim lhe partia o coração. Talvez fosse uma boa ideia Fugaku falar com Minato, se ela estava assim, Minato devia estar em estado bem pior. Sabia o quanto era apegado ao filho, se as coisas estavam realmente como Kushina dizia, não imaginava o que estava se passando na cabeça dele no momento.

Quando a sentiu se acalmar mais, resolveu fazer mais chá. Talvez fosse uma boa ideia estender sua visita, não poderia deixá-la sozinha nesse estado.  

Não era muito familiar com a cozinha ainda, por isso demorou um pouco para achar o que precisava. Apenas para fechar o armário e dar de cara com uma cópia de Minato com um copo de água na mão. Os dois se avaliaram por alguns instantes. A posição do garoto parecia relaxada, mas havia convivido o bastante com o marido e o filho mais velho para saber que o adolescente estava pronto para atacar se preciso. Os olhos azuis não pareciam surpresos, apenas curiosos e guardados. Ele apertou o copo minimamente, os olhos fixados nos seus, como se lessem sua alma.

Você cresceu, Naruto.  Ele pareceu surpreso quando ela deu as costas e resolveu ignorá-lo, indo preparar o chá. Quase sorriu quando sentiu os passos muito suaves a seguindo. Sempre funcionava.

Não conheço você.

A voz dele era rouca, agressiva. Olhou por cima do ombro por alguns segundos e ele estava recostado no balcão a analisando. Ainda em guarda. Não o culpava.

Mikoto Uchiha. Sou...

A melhor amiga da minha mãe.  Ele relaxou, minimamente os ombros. Sua voz mais suave, menos agressiva.  

Hai.

Hum... sentiu o garoto se movendo na cozinha. Logo havia uma bandeja no suporte do armário, com xicaras, o bule, leite e mel. Sorriu de forma disfarçada enquanto o garoto a ajudava em silêncio, sem ela precisar pedir nada.

Os dois prepararam a bandeja, e só então ela voltou a olhar o menino. E agora ele parecia mais frágil. Mais jovem do que minutos atrás. Os cabelos loiros caindo sobre os olhos, ainda no rosto mais bonito que Mikoto lembrava. Havia também visto muito durante anos trabalhando com crianças no serviço social para conhecer bem a dor nos olhos do garoto, cicatrizes menos evidentes, mas mais profundas do que as que ele trazia no rosto. E Mikoto sabia que Kushina tinha razão. Aquela pessoa que ela via ali era gentil demais para machucar alguém sem nenhuma razão.

Você sabe que pode falar com eles, não sabe?

O garoto a olhou surpreso, curioso. Novamente aquela expressão como se a lesse mais cuidadosamente. E então ele sorriu de forma triste.

Sra Uchiha...

Pode me chamar de Mikoto, Naruto. Você me abençoou uma vez, acho que isso nos retira dessa formalidade.

O garoto franziu a testa, intrigado. Os olhos então ficaram levemente enevoados, como se ele lembrasse. O que era impossível, ele era muito jovem na época. E então ele balançou a cabeça, voltando ao foco.

Certo. Mikoto. Cuide da minha mãe, por favor. Ela precisa de alguém com ela agora.

Antes que pudesse responder, ele havia saído da sua vista, como um fantasma silencioso. Mikoto suspirou, levando a bandeja para a sala.

E quem vai cuidar de você, hum?

.................

Os três pararam tensos olhando a porta do furgão, que se abriria a qualquer momento. Havia se armado com tudo o que podiam colocar as mãos ali, mas o fato de não saberem o que os esperava quando abrissem a porta era preocupante.

Isso e o fato que Itachi mal conseguia ficar em pé. Sasuke focou em Naruto, nas costas tensas. Ele havia fechado os olhos, se concentrando em algo. Itachi parecia saber exatamente o que ele fazia, seu corpo tencionando perto do seu onde o apoiava.

— Okay. — Ele se colocou um passo à frente dos dois Uchihas. — Vou dar uma chance para fugirmos daqui, ou ao menos aguentar até meu pai chegar, dependendo como estiver a situação ali fora.

—Naruto...— ele ergueu a mão, seu irmão se calando, embora não parecesse feliz.

—Porém, eu não vou aguentar muito tempo, e provavelmente depois não vou servir de muita coisa, por isso teremos que ser rápidos e eficientes nisso.

Os dois assentiram. Naruto olhou Tobirama por alguns segundos. O homem continuava apagado, mas sabia que não ia durar muito até que ele voltasse a consciência. Sasuke conhecia o bastante de Naruto para saber que ele queria matá-lo naquele instante, antes que causasse mais problemas. E, sinceramente, Sasuke também queria. O homem havia torturado seu irmão de forma cruel e metódica. Havia torturado Naruto na frente dos dois. E tinha certeza de que era completamente insano. Não havia lógica em nada do que ele fazia.

A chance passou quando ouviram o som da tranca da porta se abrindo. Naruto ergueu a mão na frente do rosto, em uma pose que já conhecia.

Antes mesmo que a porta de abrisse Naruto estava a arrancando, levando guardas armados ao chão pelo caminho. E depois de alguns segundos de um silêncio surpreso, começaram os tiros.

.................................

As explosões e tiros o levaram para o lugar certo. Ficou parado ao longe, de cima tinha uma visão privilegiada do que acontecia perto do precipício. Deviam ser no mínimo 40 homens, todos do círculo interno de Tobirama, altamente treinados, e ainda assim não conseguiam controlar os três garotos. Haviam passado na fase de tentar capturá-los sem os matar, isso era claro.

Seu menino usava uma porta de metal a frente dos outros dois, blindada para se defender dos tiros, enquanto avançavam sobre os homens, os dois Uchihas derrubavam quem estivesse no caminho com as armas que pegavam. Ainda assim, mais homens pareciam surgir, um dos jeeps que chegava era arremessado dentro da floresta por um impacto desconhecido. Outro era erguido a frente da porta de metal, um dos tiros acertando seu tanque e causando uma explosão, levando ao menos meia dúzia pelo caminho.

Outra porta de metal era arremessada em mais um grupo, os que não conseguiam sair do caminho caindo no mar revolto abaixo. O chão parecia estremecer abaixo de seus pés, mesmo dali. O céu escuro de nuvens, como se uma tempestade estivesse chegando. Reconhecia bem aquela cena. Lembrava de Aeron no dia de sua execução, quando se livrara das correntes. Lembrava dos olhos tempestuosos, dos gritos das pessoas ao redor quando ele se erguia em toda a sua forma de um deus sanguinário e destruía tudo ao redor.

Sabia que ele podia fazer mais do que fazia agora. Podia aniquilar todos aqueles homens da existência se quisesse. Algo o segurava. Ele ainda não era seu Aeron por completo. Naruto ainda estava ali, no comando.

Um pedaço das rochas que beiravam o mar caia, levando mais homens. Ainda assim outros viam dos jeeps que chegavam, armados e treinados, muito mais treinados do que aqueles três adolescentes feridos.

Olhou de forma quase estoica para a cena, focando em seu menino. Os cabelos loiros revoltos. Mesmo dali podia ver os olhos duros no rosto cansado. Ele não aguentaria muito tempo assim. Não tentando salvar aqueles dois malditos também.

Teria que interferir.

....................

Tobirama acordara com as explosões. Apenas seus reflexos rápidos permitiram que saísse do furgão antes que ele fosse arremessado longe. Olhou o metal sendo retorcido, o veículo arrastando homens para o precipício.

—Senhor! — um dos homens estava ali, o amparando. Seus membros estavam fracos do choque.

Malditos moleques.

Não conseguia não olhar, fascinado a porta de metal erguida como uma barricada no ar.  A terra tremia abaixo dos seus pés. Conseguia imaginar o garoto em um campo de guerra. Se conseguisse controlá-lo, nunca perderiam. Mesmo ferido, ele estava conseguindo ir contra seus homens.

—Não o matem! — gritou contra o barulho dos tiros. — O incapacitem, mas não o matem!

Parem! — uma voz gritou por entre os tiros, alta e em comando. Nenhum homem parou. O fragmento da corrente que havia entregado a cada um os impedindo de serem afetados pelo garoto. Sorriu.

Eles tinham poder de ataque, mas não estamina. Não iriam aguentar por muito tempo. Já estavam recuando.

— Continuem atacando! Eles estão perdendo forças. — Comandou pegando uma arma. — Incapacitem Naruto, mas não o matem!

............

—Aquele jeep! — Naruto gritou entredentes. Não esperou resposta dos dois e começou a recuar. Seus músculos pareciam que iam se partir. O gosto de sangue na sua boca era forte.

Se continuar assim, vai morrer.

Ignorou a voz de Aeron na sua cabeça. Sabia que não estava em um bom lugar. Nunca havia usado aquilo naquele ponto, por tanto tempo. Sentia que estava destruindo seu corpo, mas não tinha opção. E Aeron devia saber também, ou não estaria o emprestando tanto dele.

Tinham que sair dali; esperar seu pai não era uma opção quando mais homens chegavam a cada minuto. Não iria aguentar por muito tempo. Nenhum dos homens parecia ter percebido que o foco dos três era um dos jeeps, pensavam que apenas estavam recuando.

Quando se deram conta era tarde demais. Ouviu os gritos de comando de Tobirama para atirarem no jeep. Nesse momento jogou a porta do furgão contra os tiros que vinham em direção ao veículo, os deixando desprotegidos por segundos. Sentiu a dor em seu abdômen, penetrante. Olhou momentaneamente para baixo, esperando ver o sangue jorrando do ferimento, mas não havia nada. Demorou segundos para perceber que não havia sido ele que havia sido ferido.

—Sasuke! — gritou, quase perdendo a concentração.

—Estou bem!

Ele sabia que ele mentia. Chegaram ao jeep, e fazia de tudo para não olhar para o outro, mantendo o foco na batalha a sua frente.

—Entra! Naruto! —Itachi gritou, já na direção, Sasuke a seu lado, a mão tentando parar o sangramento em vão.

Não iriam conseguir. Olhou para a cena a sua frente. Havia homens demais, e ele era o único que os impedia de avançar.

Não conseguiriam.

—Vão! — gritou.

—Não! Não sem você!

Malditos teimosos. Fechou os olhos com força, trêmulo. Estava em agonia. Estava apavorado. Sabia que se ficasse nunca mais iria vê-los. Apenas sabia.

Mas se fosse com os dois eles morreriam.

Naruto...

Desculpe, tenho que salvá-los.

—Eles querem a mim. Não vão me matar. — Preparou sua voz de comando mais forte. Sabia que eles não teriam chance a não ser ir. Sabia que iriam odiá-lo por isso, mas ao menos estariam vivos.

—Não ouse... — a voz de Sasuke estava fraca, o pânico evidente, sabendo o que ele faria. A adaga estava com Naruto, não tinha como resistir a seu comando.

Antes que pudesse abrir a boca, no entanto, algo caiu entre eles e os soldados que avançavam. Não teria percebido em meio ao caos, se um dos soldados não tivesse recuado de forma rápida.

Uma granada.

—Vão! — gritou.

A explosão foi violenta, mal teve tempo de se proteger com a barricada, e ainda assim o impacto o jogou longe.

Teve alguns segundos de clareza ainda, Itachi acima de si, o chamando. Gritos ao redor. Explosões. Alguém gritando.

E mais nada.

................

—Ele não está acordando.

Vozes distantes. Movimento. Pânico. Sentiu uma mão gelada em sua testa. E frio.

Chuva.

Dor.

Escuridão.

......................

A situação dos três não era nada boa, Itachi sabia disso. Olhou para o banco de trás pelo retrovisor. Sasuke mantinha a cabeça de Naruto em seu ombro. O rosto do irmão estava pálido pela perda de sangue, pela dor. A bala havia ficado alojada, não haviam tido tempo de parar e remover. Sasuke havia improvisado uma faixa e parado o sangramento, mas sabiam que se não encontrassem ajuda em uma hora...E Naruto não havia acordado desde a explosão. Estava vivo, mas seu corpo estava gelado, trêmulo, e sabia que não era da chuva que caia.

Havia visto isso antes. Lembrava de Rodolfo, de como ele havia derrubado aqueles soldados alemães tanto tempo atrás, e como ficara depois. Rodolfo quase morrera naquele dia, e não havia usado nem metade do que Naruto havia usado contra os soldados de Tobirama.

Tobirama. O homem devia ter reagrupado já naquele momento. A distração de Obito não o pararia por muito tempo. Mesmo sabendo que o homem havia feito aquilo apenas para salvar Naruto, e muito provavelmente agora também estava os perseguindo, ele havia chegado no momento certo. Havia os dado a oportunidade de fugir de um beco sem saída.

Ainda assim ouvia os sons distantes. Carros. Sabia que estavam os procurando. Desligou os faróis. Tentou o rádio mais uma vez. Tinha que saber, talvez alguns daqueles carros fossem a ajuda. Shisui. Seu pai. Mas não podia arriscar. Não conseguia sinal para falar com os outros pelo rádio. Não sabia qual caminho estavam tomando. Escolhera ficar mais próximo da encosta, e isso os tornava um alvo mais fácil. Se não fizesse algo, tudo seria em vão. Perderia seu irmão. Perderia Naruto. Tudo seria em vão.

Estava acontecendo tudo de novo, tudo, e não conseguia...

—Itachi...

Era sua culpa, tudo aquilo, era sua culpa...

—Itachi! Respire.

A voz do irmão estava baixa, o tom preocupado. Sentiu a mão gelada em seu ombro por trás.

—Vai ficar tudo bem. Vamos sair dessa.

Encontrou os olhos do irmão pelo retrovisor. A expressão dele tentava passar uma segurança que nenhum deles sentia. Sabia que ele estava com medo. Os dois estavam.

Ainda assim relaxou minimamente, soltou uma das mãos e apertou a outra em seu ombro com força. O irmão sorriu de leve, e então os olhos arregalaram.

—Itachi! Cuidado!

Tudo aconteceu rápido demais. O carro vinha do lado, descendo a ribanceira em direção aos três na estrada, sem desacelerar um segundo. Se acelerasse tentando desviar, havia um risco de que não fosse rápido o suficiente e o impacto fosse inteiro para os dois atrás.

—Segure Naruto! — gritou, freando com força. O impacto veio de lado, do lado vazio do passageiro. A força do carro maior os jogou para fora da estrada. Ouviu o grito do irmão e então houve uma explosão de sons, vidro quebrado e metal esmagado assim que o carro começou a capotar.

..................

Acorde Naruto...

Aquele som. O oceano perto. Ouvia as ondas. Ouvia...

Você tem que acordar.

Estava à deriva.

Agora!

Arregalou os azuis, em alerta. O mundo estava de cabeça para baixo. Tonto, enjoado, dolorido, machucado. Sentia-se mais morto que vivo naquele momento, seu corpo entorpecido de alguma maneira, seus braços pendurados. Feridos por vidro estilhaçado e metal contorcido. Seu sangue parecia se acumular todo em sua cabeça, o deixando desnorteado.

Não sabia como havia ido parar ali, a última coisa de que lembrava era...explosão.

Suas costelas doíam, suas pernas doíam. Aos poucos foi entendendo o que via. O painel do carro a sua frente estava retorcido, podia ver o banco amassado do motorista que tomava sua visão junto ao do passageiro, que parecia ter saído do seu eixo. Mas o pior era que tudo estava de cabeça para baixo... Ou ele estava.

Ouviu um gemido.

Lentamente virou o rosto para o lado. O corpo de Sasuke, pendurado como o seu, era seguro pelo cinto. Os braços caídos, os cabelos no rosto e aí que notou o sangue.

Finalmente acordou do torpor e da tontura. Desesperado, finalmente teve o choque de realidade e sentiu o estomago gelar. Levou a mão boa para a trava do cinto e se soltou, caindo no teto de lona do carro, machucando as costas com o metal e vidro. Ignorando tal fato engatilhou até o outro garoto, ficando por baixo dele.

Naruto entendia o bastante para saber o quão uma má ideia seria mover alguém naquela situação. Poderia agravar um ferimento dessa forma. Porém, diante das circunstâncias, o pior seria ficar ali e esperar o carro explodir ou alguém os pegar. Apesar do pouquíssimo espaço, destravou o cinto, Sasuke caindo sobre si, batendo as cabeças.

Grunhiu algo e o ajeitou em seu colo.

— Sasuke! — chamou baixo. — Sasuke acorde.

Levou a mão ao pescoço dele. Tinha batimentos, ao menos isso.

Outro gemido. Dessa vez a frente. Olhou e encontrou os olhos de Itachi no banco do motorista, acordando. Atordoado.

—Itachi. — Suspirou aliviado. — O que...

Antes que terminasse a frase a porta a seu lado abriu com violência. Olhou assustado e encontrou olhos avermelhados nos seus, uma face pálida e furiosa.

—Obito! —Itachi gritou, tentando destravar o cinto que parecia preso. —Não!

Uma mão se agarrou a seu calcanhar e gritou, sendo arrastado para fora pelo vidro estilhaçado. Não conseguia mover seu corpo bem. Não conseguia de defender. Sasuke caiu sem o apoio, ainda desacordado, enquanto era arrancado de dentro do carro a força.

Apagou por alguns instantes pela dor que sentia. Quando retornou estava na lama, abaixo de uma chuva torrencial. Tentou se mover, e cada músculo do seu corpo protestou.

Mova!

Estava paralisado. Havia usado o poder de Aeron demais, agora pagava o preço. Os olhos o analisaram de cima, e pareceram perceber isso. Ele o largou sem falar nada, e só então notou que tinha outro carro parado, a frente amassada. Era para lá que o homem se dirigia, o deixando caído.

Ficou sem entender por alguns segundos, ainda não totalmente consciente. O homem acelerou o carro, e por um momento pensou que ele apenas iria embora, o que não fazia sentido nenhum.

Isso até ver a direção para onde ele estava indo.

Em direção ao carro capotado, a beira do precipício. Por isso ouvia o som do mar tão nítido. Obito queria jogar o carro caído para o mar. O carro em que Sasuke estava desmaiado, e Itachi preso.

—Não! — gritou, a voz saindo fraca demais para ser ouvida acima da chuva. O carro derrapou na lama.

Aeron, por favor, Aeron

Você vai morrer!

Ignorou o outro, os olhos desesperados. Foi apenas um movimento fraco em direção ao carro, o jogando um pouco longe, o parado. Tentou o segurar, sentindo o sangue se acumular em sua boca. O carro derrapou.

Pare! Naruto!

Só mais um pouco. Não podia soltar. Seu coração acelerou. Estava em agonia.

Solte!

—Não!

O carro parou repentinamente. Teve um segundo de alívio até ver que o homem vinha em sua direção. Estava indefeso quando ele o prendeu no chão lamacento, sentando-se em suas pernas. O rosto furioso acima do seu. Uma mão dele foi a seu pescoço, na outra viu a adaga. Ela devia ter caído durante tudo aquilo. E agora estava nas mãos de quem menos deveria.

Ele apertou mais seu pescoço, a adaga em seu rosto. Os olhos avermelhados nos seus, insanos.

—Sem mais truques, Aeron.

—Eu não sou Aeron. — murmurou como podia, com o pouco ar que ele deixava passar em sua traqueia. Por alguma razão a mão em seu pescoço aliviou com isso. Os olhos vermelhos sumiram por segundos, até retornar. Com dificuldade segurou a mão que tinha a adaga, sem força alguma. O homem balançou a cabeça como se estivesse confuso.

A adaga parecia ser apertada com força, e então afrouxar. Era como...

Arregalou os olhos, em entendimento.

—Obito? Você está lutando, não é? Contra Davlin.

Ouviu o rosnado e a adaga estava em seu pescoço. Os olhos vermelhos insanos nos seus. Um sorriso cruel.

—Ele não está mais aqui.

O impacto veio com o cabo da adaga em sua têmpora, o deixando tonto. O homem se erguia novamente, em direção ao carro. Entrou em pânico, segurando seu braço, o impedindo de se erguer. Esperava que ele o empurrasse longe, sabia que estava sem força alguma, mas ele parou, o olhando. Sabia então que estava certo. Obito estava ali ainda. E havia uma parte dele, em algum lugar, que ainda tinha sanidade.

— Os deixe, e eu vou com você. — pediu. — Eu juro que eu vou com você, sem resistir, apenas os deixe em paz.

Isso o fez o olhar atento. Os olhos ainda vermelhos, mas menos insanos.

—Para qualquer lugar? — O homem se ajoelhou a sua frente, as mãos em seu rosto com cuidado, o fitando de maneira profunda.

—Qualquer lugar.

Os olhos suavizaram de uma forma que Naruto nunca vira, por meros segundos Obito estava ali. Um Obito que nunca conhecera.

—Me desculpe. — Foi quase um sussurro, e por algum tempo pensou se imaginou aquilo, pois logo ele havia o empurrado longe. Olhou atordoado e ele estava de joelhos ainda, as mãos na cabeça, se encolhendo com um grito.

—O que...

—VÁ! —Não tinha certeza do que estava acontecendo, mas não desperdiçou a chance. Seus músculos ainda protestavam em agonia, ainda assim andou, quase se arrastando até o carro, que balançava perigosamente contra o penhasco. O homem continuava gritando e lutando contra algo na sua cabeça, os gritos o fazendo tremer.

—Itachi!

O outro ainda lutava tentando se livrar, e agora Naruto via que sua perna estava presa contra um dos destroços. Foi até ele, suas mãos lutando conta as ferragens e vidro. Não tinham muito tempo.

—Não! Tire Sasuke primeiro!

O olhou incerto, apenas para o outro sorrir com uma expressão dolorida.

—Lembra o que falamos, Naruto. Por ele.

Assentiu, sentindo um aperto no peito. Os olhos nos seus por segundos, até se virar para o outro, ainda inconsciente. Mais tarde pensaria em como teria feito aquilo. Como conseguira tirar Sasuke dali e colocá-lo seguro do lado de fora, quando apenas se mover era tão doloroso. Aeron talvez o estivesse ajudando ali, pois tudo o que seu corpo parecia querer era cair ali e desistir de tudo.

Retornou para Itachi no mesmo instante, removendo com esforço o destroço que o prendia e ele não conseguia alcançar. A perna dele estava arruinada. Conhecia o bastante sobre medicina por sua mãe para saber que o dano era muito extenso. Removeu o cinto, agora de forma segura, amparando o mais velho que trincava os dentes para não gritar de dor.

Quando estavam prestes a sair, aconteceu. O impacto foi direto contra o seu corpo, o jogando na porta do outro lado. O carro envergou mais e a porta abriu. Teve apenas tempo de segurar no trinco e seus pés estavam balançando contra o oceano embaixo.

Acima, Itachi lutava contra Obito, que parecia ter perdido sua batalha contra Davlin. O homem gritava chamando Aeron, toda a sanidade havia sumido de seus olhos. Tentou escalar de volta, mas seu corpo já havia chegado a seu limite.

Sua mão se soltou, e no mesmo momento outra a segurou. Olhou para cima esperando encontrar Itachi, apenas para ver o rosto pálido de Sasuke no seu. Os olhos puxados estavam nos seus em uma intensidade diferente. Desfocados. 

Era Noland, olhando para um precipício como aquele, prestes a pular.  Era Alfred o olhando de cima enquanto morria na neve. O rosto dele se contorceu de forma dolorosa. A mão afrouxou na sua. E Naruto sabia.

Noland causaria a morte de Aeron, fosse por auto sacrifício, fosse por assassinato. Davlin mataria Noland. Ewen mataria Davlin. Tudo se repetiria. Era naquele momento que tudo se repetiria.

—Sasuke!

Sasuke balançou a cabeça, o aperto novamente forte e seguro. Os olhos voltando aos seus determinados.

E ele o puxou.

.........

Havia algo de diferente em Obito. Como estava, nunca teria conseguido segurá-lo por tanto tempo. Nem em seu melhor havia conseguido vencer Obito em luta na vida. Olhou os olhos do tio, e eles pareciam transtornados, desesperados. A mão em seu pescoço apertando e afrouxando, como se não a comandasse.  E por alguns segundos, ali quando ele focou em si, havia uma clareza naqueles olhos, de que não lembrava desde que o conhecera, quando criança. Antes de tudo aquilo cair na cabeça dos dois, antes de lembrarem quem foram, há tanto tempo.

—Me desculpe.

O barulho de ferro contorcido quase engoliu as palavras no ar, e a mão em seu pescoço afrouxou.

Duas coisas aconteceram ao mesmo tempo. A primeira, Sasuke conseguiu puxar Naruto para cima; com o impulso, os dois rolando para fora do carro. A segunda, Obito o soltou totalmente, o empurrando forte para o lado contra o banco, trocando de posição. A porta em que os dois estavam se abriu e o jogou no oceano abaixo. Mesmo com o impulso do tio, perdeu o equilibro, sua perna inútil, e caiu contra a porta aberta. Se segurou no trinco, em uma posição tão igual a de Naruto minutos antes.  

  —Itachi!

Não sabia qual dos dois havia gritado, mas era Sasuke que estava ali, a mão na sua. O carro envergou mais. Naquele ritmo, os dois iriam cair. Ele não tinha forças para puxá-lo. Não ferido como estava.

—Você tem que sair!

—Não vou te soltar!

Os dois cairiam. O carro despencaria e levaria os dois. Em meros segundos encontrou os olhos dele. E viu ali que Sasuke sabia disso, sabia que não conseguiria puxá-lo.

Sorriu. Os olhos do irmão se arregalaram quando se soltou, os dedos se tocaram por segundos, antes de entrar em queda livre, direto no oceano abaixo.

..............................

Me perdoe, irmão.

............

Maithiúnas  perdão 


Notas Finais


Próximo capítulo chegamos ao prólogo.


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