História Second Chance - Prólogo

     Querido Diário,

   Já estava há algumas horas naquele avião pensando na minha vida de agora em diante. A morte do meu pai me abalou muito psicologicamente e tudo que eu estava planejando para mim. Fiquei 2 anos com depressão, não queria fazer nada e não queria ver ninguém. Para algumas pessoas isso provavelmente é frescura, mas só quem realmente tem ou já teve sabe.

  Cochilei, acordei e cochilei de novo e nada de chegar naquela cidade no interior dos Estados Unidos. Perguntei várias e várias vezes a aeromoça se faltava muito para chegar, mas a resposta sempre era a mesma

- Não sei.

  Tinha anos que eu não colocava meus pés nessa cidade, 8 anos pra ser mais específico. Na separação dos meus pais acabei decidindo viver com ele, não que eu não gostasse da minha mãe, mas sabe quando você é apegado à alguém? Meu pai era a pessoa mais próxima de mim e sempre me dava os melhores conselhos que um filho pode receber. Depois da morte dele minha mãe foi ficar uns dia comigo, mas por causa do trabalho ela teve que voltar e nunca mais durante esse período eu soube de algo relacionado à ela. Assim que liguei para ela, com todo medo do mundo de ser rejeitado, falando que estava voltando, pulou de alegria do outro lado da linha e mandou eu ir o mais rápido possível, pois tinha uma notícia para me dar e queria fazer isso pessoalmente.

  Para ser sincero, não sei o que vai acontecer comigo e com o meu destino daqui pra frente. As pessoas que vou reencontrar, não sei nem se elas ainda vivem lá. Isso me faz lembrar do namorado que tive que deixar pra trás na época. Como será que ele está agora? Será que já tem filhos? Tenho que arrumar um jeito de tirar isso da minha cabeça e focar no único objetivo que sempre tive que acabou sendo interrompido daquela forma trágica: Entrar na faculdade de fotografia. Desde que eu me entendo por gente gosto de tirar fotos minhas, de outras pessoas, lugares e objetos. Nas festas de família sempre era eu que registrava os momentos mais importantes e por isso resolvi pesquisar sobre essa área. No início pensei que não ia gostar, que era coisa do momento, de criança. Mas não é que me apaixonei? Agora é investir nisso.

  Fiquei algumas horas ouvindo músicas no celular e olhando as nuvens pela janelinha do avião, até que finalmente anunciaram que íamos aterrissar. Assim que saí pelo portão de desembarque, minha mãe já estava lá com um cara que parecia íntimo demais, na verdade parecia um namorado quase marido. Ele é alto, cabelo grisalho, parece que malha bastante, tem uma voz de locutor de rádio e é bem simpático. Gostei! Conversamos um pouco ali mesmo até que eu pedi pra gente ir pra casa, pois já não aguentava mais esse cheiro de viagem que estava impregnado em mim.

   Assim que chegamos, veio um flashback rápido na minha cabeça da família se divertindo na frente de casa... Bons tempos que infelizmente não voltam mais. Meu quarto estava exatamente do jeito que deixei quando fui embora: mesmo carpete, papel de parede, quadros de adolescente, até mesmo o cheiro era igual. Minha mãe apareceu atrás de mim e disse que não decidiu mexer em nada pois tinha a esperança que um dia eu ia retornar e bom, ela estava certa.

   Agora estou aqui, escrevendo nesse caderno que atualmente é meu melhor amigo e a única pessoa que tenho coragem para desabafar sem medo de ser criticado, mesmo sabendo que não é uma pessoa real. Sabe de uma coisa? Vou dormir e acordar só amanhã, que vai ser um dia longo na faculdade e com pessoas que nunca se importaram com a minha existência vindo me cumprimentar ‘’Nossa! Quanto tempo que não te vejo! Saudades!’’ e coisas do tipo.