História Secret Soul - Tatuagem

Três horas e muita dor depois, nós estávamos na estrada novamente, agora voltando para o castelo. Faltava muito pouco para a cerimônia e eu ainda tinha que me arrumar para tal. Damon resmungava ao meu lado algo sobre nós estarmos quase atrasados, mas eu não estava dando muita bola, estava animada o suficiente para faze-lo.

-Não é linda?- Estiquei minha mão direita em sua direção, meu sorriso praticamente rasgava minha cara de tão grande. Talvez fosse por esse sorriso que meu pai não estivesse brigando pelo quase atraso.

-É sim. Eu só não entendo porque quis tanto essa tinta em seu corpo por toda a eternidade.- Revirei os olhos, porém sem tirar o sorriso feliz dos lábios.

-Eu senti que deveria fazer.- Voltei a colocar a mão tatuada em meu colo e fiquei encarando o desenho permanente na lateral esquerda da mesma, pegando uma parte do dedão. Contornei com meu dedo indicador da outra mão os detalhes em preto com extremo cuidado por ainda estar sensível. O rapaz quem o fez era realmente talentoso. Fez em um tempo recorde e o resultado mesmo assim ficou magnífico.

-E esse desenho tem algo a ver com aquela humana?- Perguntou sugestivo e eu senti minhas bochechas esquentarem como o inferno. Abri a boca para dizer algo, porém ele fora mais rápido:- E nem adianta negar, eu escutei você chamando-a de lua. 

Abri um pequeno sorriso tímido e ao ter uma mecha de cabelo atrapalhando minha visão coloquei-a atrás da orelha. A tatuagem consistia em duas luas interligadas com alguns pontinhos pretos e mais alguns pequenos desenhos abstratos. E sim, fora feita pensada em Lauren.

-Mas você sabe que poderia te-la feito após a transformação, não sabe?- O encarei rapidamente após aquela informação. Juntei minhas sobrancelhas em confusão.

-Mas...- Olhei para a estrada escura em nossa frente antes de voltar a encara-lo.- Mas vampiros se regeneram, a tatuagem seria desfeita assim que feita.

Damon sorriu.

-Você está certa. Mas eu conheço alguns vampiros que fizeram com brasa junto e acabou dando certo, não somos muito fãs de fogo e a regeneração de algo do tipo é meio falha. Não é nada colorido e essas coisas toda, mas da para fazer alguma coisa. Principalmente em preto. Porém acredito que seja bastante doloroso.

Voltei a olhar para a tatuagem que eu ainda contornava com o dedo e suspirei baixinho.

-Mesmo assim, não me arrependo de te-la feito hoje. Queria leva-la comigo ainda humana.- Deitei a cabeça no encosto do banco e fechei os olhos, a imagem do rosto sorridente de Lauren se materializando perfeitamente por detrás de minhas pálpebras. Parecia estar gravado em minhas retinas. E eu agradecia por isso. Era uma imagem muito agradável de se ter sempre.

-Você está irrevogávelmente apaixonada.- A voz profunda de Damon cortou o silêncio que havia se instalado. Não respondi. Eu já havia entendido que aquilo já havia se tornado óbvio até para quem visse de fora.- Isso só irá aumentar depois de hoje.- Alertou e eu senti meu peito formigar. Eu não me importava.

-Eu não me importo.- Externei o que pensava.- Por algum motivo não tenho medo de cair aos pés daquela menina na mais pura paixão. Talvez tenha sido por isso que me apeguei tão rápido. Ela me passa uma confiança sem limites. Tenho a sensação que com ela ao meu lado posso fazer qualquer coisa.

-Você irá voltar para ela.- Ele não perguntou, apenas afirmou o que já era uma certeza dentro de mim. Eu escolhi minha família, mas isso não significava que eu deixaria Lauren para sempre. Havia pensado bastante naquilo no tempo em que fiquei sozinha no quarto do castelo.

-Sim.-Decidi confirmar.

-Espero que saiba que eu não posso deixa-la sair daqui até saber se defender, saber controlar sua sede e se, por algum acaso, renascer com um dom, saber controla-lo.- Ele falou de forma gentil, mas havia também um tom explícito de ordem.

-Eu sei, papai.- Reabri os olhos e foquei nele.- Nem passou pela minha cabeça fazer o contrário. Não quero colocar Lauren em perigo em hipótese alguma. Eu só sei que voltarei para ela, nem que se passe 50 anos.- Umedeci os lábios e desviei o olhar para a estrada. Já era possível ver a ponte do castelo.- Mas eu não deixarei passar tanto tempo.- Falei firme.

Meu pai não disse mais nada. E em silêncio chegamos finalmente no castelo, nossa família toda estava na escadaria da entrada.

-Pensamos que Camila havia usado você para fugir, papai.- Allyson falou de forma divertida. Era a primeira vez que via todos tão animados e sorridentes, até mesmo Dylan tinha um sorrisinho de canto no rosto.

Parecia que agora que havia passado aquele peso todo sobre qual seria minha escolha, eles finalmente se deixaram relaxar.

-Ela teria que fazer muito bico de choro para conseguir.- Mamãe disse ao se aproximar e abraçar o marido após deixar um selinho em seus lábios.

-Aposto que um já seria o suficiente.- Ash alfinetou Damon.

-Do jeito que a Mila é nosso xodózinho, qualquer um faria qualquer coisa que ela pedisse.- Edgar piscou para mim e eu senti minhas bochechas esquentarem.

-Parem de falar de mim como se eu não estivesse aqui.- Resmunguei envergonhada.

-Mas afinal, o que vocês foram fazer na cidade?- Ally perguntou. Ela estava sendo abraçada por trás pelo marido.

-Damon pode responder essa. Camila precisa ir se arrumar. A cerimônia será em menos de trinta minutos.- Dylan nos lembrou.

-Caramba, é verdade.- Estava tão entretida em vê-los tão soltos comigo que havia me esquecido do que tinha que acontecer naquela noite.- Eu vou subir e me vestir.- Avisei antes de sair correndo para dentro. Chegar até o quarto onde estava dormindo era realmente cansativo. Tive que subir dois longos lances de escadas, para enfim chegar no corredor e andar até a última porta de madeira escura.

O vestido branco rendado estava ali a minha espera. Pronto para ser usado.

Não perdi mais tempo e o vesti após retirar toda minha roupa, ficando totalmente nua por baixo da peça de roupa. Soltei meus cabelos, os deixando cair volumosos sobre meus ombros e fiquei descalça.

Tinha um relógio em uma das paredes, e nele pude ver que faltavam 15 minutos para a meia noite.

Um embrulho tomou conta do meu estômago. Oh céus. Estava tão perto. Respirei profundamente, as mãos trêmulas e as pernas bambas.

Coragem, Camila!

Quando sai do castelo novamente, somente Dylan estava ali a minha espera.

-Eles já foram.- Meu irmão disse antes que eu perguntasse algo. Ele abriu a porta do carro para que eu entrasse.- Vamos encontra-los na clareira.

Balancei a cabeça em concordância e entrei no automóvel. Mal fechei a porta e Dylan já estava sentado no banco do motorista. Havia usado de sua velocidade sobrehumana.