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História Secret Soul - Cerimônia


Escrita por: Mykbello

Notas do Autor


Em comemoração ao vigésimo capítulo, as quase duas mil visualizações, os 56 favoritos e os 71 comentários, aqui está o cap mais longo da fic até agora.

Obrigada pelo apoio galerinha de fé, amo vocês! 💞

Boa leitura. 😊

Capítulo 20 - Cerimônia


Fanfic / Fanfiction Secret Soul - Cerimônia

-Camila?- Dylan chamou quando já estávamos na ponte do castelo, indo em direção a clareira.

-Hmm?- Fiz um som nasal em resposta. Estava entretida mais uma vez em minha tatuagem. Seria muito bobo dizer que toda vez que a olhava me lembrava de Lauren?

-Gostaria de pedir desculpas por te-la colocado para dormir nesses últimos dias.- Disse em um tom baixo. Ao olha-lo de esguelha, pude perceber que ele apertava o volante com força, os olhos pregados na estrada.

-Pode ter certeza que quando eu for mais forte que você, irei lhe dar uma surra como troco.- Podia parecer uma ameaça séria, mas eu sorria tranquila. Era minha maneira de dizer para ele que estava tudo bem. Dylan me olhou rapidamente, querendo ver em minha expressão se eu estava falando sério, e ao me ver sorrindo acabou fazendo o mesmo.

-Vai sonhando, tampinha.- Esticou o braço e bagunçou meus cabelos. Empurrei sua mão com um resmungo irritado, ajeitando meu cabelo logo depois.

Depois daquela pequena descontração ficamos em silêncio até chegarmos na clareira na qual seria feita minha cerimônia. Era ali que ocorria todas as transformações de nossa família, porém nunca tinha ido até o local num dia de transmutação.

Descemos do carro e a brisa fria nos abraçou num sopro. Meus cabelos chicotearam o ar e pude perceber que o cheiro floral de Katherine predominava.

-Por que o cheiro da mamãe é tão marcante? Até eu que sou humana o sinto.- Perguntei verdadeiramente curiosa. Nunca havia parado para perguntar aquilo.

-Cheiros fortes são características dos vampiros mais poderosos. Até um humano pode sentir a fragrância. Se você acha marcante, imagina então para nós da espécie, as vezes chega a ser sufocante de tão potente. Porém acontece mais quando esses vampiros estão usando seus dons.

Ele segurou meu braço para me ajudar a pular um tronco de árvore. Caminhávamos por entre uma trilha estreita e escura, por isso Dylan quem estava me guiando pelo caminho difícil.

-Você e Ashley também possuem dons e eu não sinto o cheiro de vocês.

-Como eu disse, apenas vampiros realmente poderosos. Ash e eu podemos estar um pouco acima dos vampiros normais por conta desses dons, mas não chegamos nem aos pés de mamãe. Além de que, quanto mais velho o vampiro é, mais marcante ele se torna. E quando você se tornar uma de nós, logo perceberá que os cheiros são muito presentes e essenciais em sua nova vida imortal.

Ele parou no final da trilha, tampando minha visão do que estava em sua frente. Até que ele deu um passo para o lado e eu pude finalmente ver a clareira iluminada por centenas de velas vermelhas. Minha família estava lá, no centro do local. Todos usando vermelho e preto.

Eles formavam um circulo ao redor de uma mesa de pedra e ao lado dessa mesa havia um altar dourado, sendo todo trabalhado em figuras antigas. Em cima desse altar havia um grande calice de prata com o brasão da família Petrova entalhado, uma adaga de cabo vermelho e outro cálice, esse sendo menor que o outro e de vidro, o que deixava amostra um líquido vermelho e viscoso dentro. Claramente sangue.

-Seja bem vinda, Camila Petrova Cabello.- Quase senti meu coração sair pela boca quando um homem alto e vestido de preto dos pés a cabeça saiu de uma parte escura da floresta, extremamente muito perto de mim. O olhei assustada, não sabia quem era a figura etérea e assustadora em minha frente, minha família não havia falado nada sobre ter alguém de fora na cerimônia. Seus olhos estupidamente vermelhos e brilhantes, deixando nítido que sua refeição preferida era sangue humano, estavam pregados em minha figura pequena e amedrontada. Em um piscar de olhos ele poderia drenar todo o sangue do meu corpo. Nunca havia ficado tão perto de outro vampiro que não fizesse parte da família, ainda mais um que se alimentava fielmente de sangue humano. Coisa que eu ainda era.

-Não precisa ter medo, criança. Sou Damian Morgado, o ancião do clã de sua família e a partir de hoje, seu também.- Pude reparar que suas mãos eram lotadas de anéis, e um em particular me chamou a atenção, mas desviei o olhar quando senti um toque em minha lombar.

-Desculpe por não termos dito que teria alguém de fora. Damian não gosta muito que humanos saibam de sua existência.- Dylan falou baixinho, provavelmente tentando me deixar mais a vontade. Engoli a seco e balancei a cabeça em concordância. Damian realmente me colocava um pouquinho de medo.

-Pois bem.- O vampiro ancião se virou, ficando de frente para minha família.- É um prazer estar na presença da família Petrova novamente.

-O prazer é nosso, Damian.- Minha mãe murmurou de volta, sua expressão séria e postura rígida.

Dylan me guiou silenciosamente para mais perto da mesa de pedra e depois se distanciou, indo completar a roda ao meu redor.

-Fico contente que tenha decidido se tornar uma de nós, Camila.- Damian voltou a se pronunciar. O vampiro ultrapassou o circulo que minha família fazia e parou em frente ao pé da mesa.- Seria uma pena você ter que se distanciar de sua família.

Não acreditei muito em suas palavras. Ele não parecia ser um homem muito confiável.

Apenas balancei a cabeça, não sabia o que falar ou fazer. E graças aos céus fui salva por um barulho que vinha do próprio vampiro, parecia ser um tipo de relógio despertando.

-Chegou a hora.- Sua expressão se tornou ainda mais sombria que o normal de repente, o vermelho de seus olhos ficaram mais intensos e quando ele abriu um sorriso, que eu julguei ser maligno demais, seus caninos reluziram nas labaredas das velas, essas que tremelicaram por conta do ar que se tornou mais agitado. Senti meu corpo todo tremer na base, amedrontado com sua figura assustadora.

-Camila, minha filha.- Katherine chamou, me tirando daquele transe que me coloquei por conta do medo. A encarei rapidamente, quase implorando para que ela me tirasse dali. Não gostei nem um pouco de Damian. Eu tinha a sensação que a qualquer momento ele me mataria, e por mais que eu fosse ser morta naquela noite, não queria morrer para sempre em suas mãos, com meu sangue sendo sugado até a última gota.- Você precisa escolher um tutor.

-U-um...- Limpei a garganta ao perceber que não conseguiria falar direito.- Um o que?

-Um tutor, Mila.- Allyson tomou a frente, erguendo o olhar e fixando-o nos meus assustados.- É esse vampiro quem irá lhe morder hoje e após sua transformação, irá ser responsável pelo seu treinamento e qualquer coisa relacionada a você.

Pisquei várias vezes. Eles não haviam falado sobre aquilo também. Abracei meu próprio corpo, tentando parar aquela tremedeira na qual eu estava. O frio e o novo sentimento de medo sendo os responsáveis. Eu não fazia idéia que ficaria tão apreensiva naquele momento no qual esperei tanto tempo. Sempre fui tão decidida a morrer para renascer uma vampira, que aquele medo repentino era questionável. Talvez fosse por causa daquela figura estranha atrás de mim. Damian não parecia o melhor vampiro do mundo e eu não o conhecia. Ou talvez fosse a minha ficha caindo de que eu realmente morreria.

Meu estômago embrulhou e me senti temporariamente tonta.

-Tudo bem, maninha?- Ashley perguntou, de repente estando muito perto de mim, segurando meus ombros e me encarando com seus olhos vermelhos.- Você está ficando pálida, quer desistir?- Perguntou baixinho, os dedos pálidos fazendo um carinho em meus ombros trêmulos.

-E-eu... não... eu só...- Respirei fundo e fechei os olhos por breves segundos. Não podia bancar a fracote logo agora. Eu não era a pessoa mais corajosa que existia, mas não poderia deixar aquele medo me consumir e me fazer desistir.- Não. Eu não vou!- Falei firme, reabrindo os olhos.- Dylan.

-O que?- Ashley perguntou baixo, confusa.

-Dylan. Eu quero que ele seja meu tutor.

Minha família inteira me encarou surpresa, até mesmo o próprio Dylan.

-Camila, eu não sei se é uma boa idéia.- Dylan murmurou. Ele parecia sem jeito, por mais que estivesse sério como sempre. A forma que tencionava os músculos dos braços o entregava.- Eu nunca fui tutor de ninguém.

-Para tudo se tem uma primeira vez.- Respondi. Dylan se remexeu inquieto no lugar e então assentiu com a cabeça, aceitando minha escolha.

-Tudo bem.- Ele deu um passo a frente. Ashley se retirou de perto de mim e Dylan ficou no lugar da loira, porém de frente para Damian que tinha uma expressão que eu diria entediada.- Perante a vossa majestade, eu, Dylan Petrova Cabello, me responsabilizo por Camila Petrova Cabello. Seus atos serão meus atos, assim como qualquer punição que ela vir a receber.

-Pois bem, prepare a garota.- Damian aceitou as palavras do vampiro mais novo. O ancião caminhou graciosamente para o altar dourado, enquanto isso Dylan se virou para mim.

-Deite-se na mesa de pedra, Mila.- Sussurrou. Olhei para o monumento mencionado e engoli de forma seca. Balancei a cabeça de um jeito estabanado e com calma me sentei na mesa, logo depois me deitei de barriga para cima.

-Por que eu tenho que ter alguém para se responsabilizar pelos meus atos?- Perguntei enquanto meu irmão ajeitava meu vestido, arrumando minhas mãos entrelaçadas em cima da minha barriga. Ele me olhou e acariciou meus cabelos para trás com carinho. Dei um pequeno sorriso. Eu sabia que havia feito a escolha certa. Dylan podia ser qualquer coisa, mas sabia ser um irmão incrível e eu tinha certeza que ele faria de tudo por mim. 

-Foi uma das condições que Damian exigiu para nossos pais quando eles decidiram adotar uma criança humana. Ele não gosta muito dos humanos, e não confia nenhum um pouco neles, então ter um que cresceu tendo ciência da existência dos vampiros e depois se tornando um de nós, é algo que ele demorou a aceitar.

-Entendi.- Murmurei baixinho.

-Mila, eu quero que saiba que o que está prestes a acontecer será a pior dor que um dia já sentiu.- Ele disse sincero, fazendo com que meu coração batesse alucinado no peito.- Mas você precisa ser forte, resistir ao máximo que puder. Não se entregue fácil, está me entendendo? O quanto você conseguir se manter acordada, fique. O veneno precisa se espalhar por todo seu corpo para que a transformação seja o mais rápido possível e assim você não sofra muito.

-O que vai acontecer?- Perguntei baixinho, a voz quase falhando. Minhas mãos tremiam em minha barriga. Dylan olhou para o lado, na direção do altar, o que acabou chamando minha atenção também. Damian ainda estava lá, e cada um da minha família se aproximava e cortava a palma da mão com a adaga, deixando com que seus sangues escorressem para dentro do cálice de prata.

-Após beber do cálice de prata, eu irei lhe morder, injetando meu veneno em você. É ai que a dor vai chegar alucinante, Camila. E é onde você vai precisar resistir. A sensação do veneno é como ácido em suas veias, e é essa mesma sensação que irá lhe matar. O veneno fará seu trabalho, mas enquanto estiver morta, seu sofrimento não vai ter acabado. É algo como uma luta extracorpórea consigo mesma, você vai sentir todas as suas mudanças, toda a magia chegando até você e isso, não vou mentir, consegue ser ainda mais doloroso que a mordida. E além de tudo, ainda tem a mudança física que vai ocorrer.

Não vou mentir, aquilo havia me assustado um pouco. Nunca havia me aprofundado muito nas questões da transformação, e minha família não davam muitas informações também. Talvez tivessem medo de que eu desisti ao saber que era algo tão doloroso.

-E porque eu preciso resistir à morte? Não seria mais fácil me entregar logo?

-Quanto mais tempo para o veneno correr pelo seu metabolismo vivo, mais rápido você acorda depois. Eu não aguentei muito e passei quase dois dias de puro sofrimento. Acredite, é melhor sentir a dor da mordida do que a do que acontece depois.

-Tudo pronto.- Damian se aproximou, me assustando.- Sente-se, menina Camila.

Fiz o que o ancião mandou e ele me entregou o cálice de prata.

Olhei para o conteúdo e senti meu estômago embrulhar ao ver o líquido viscoso. Sobre aquilo eu já sabia. Era algo mais simbólico do que qualquer outra coisa. Não intervia na minha transformação. Ali continha a mistura do sangue de todos da minha família, e eu infelizmente precisava beber tudo.

Fechei meus olhos e levei o objeto até os lábios, sentindo o cheiro forte de sangue. Quase vomitei, mas me mantive firme. Criei coragem e virei o cálice, bebendo o conteúdo o mais rápido possível. O gosto era horrivel e forte, parecia ferro enferrujado.

-Deite-se.- Dylan mandou.- Você está pronta?

Olhei para o céu escuro. E por uma coincidência muito agradável, a lua estava bem acima de nós. Balancei a cabeça em concordância e fechei os olhos. Mais uma vez a imagem de Lauren veio até mim. Ela sorria e por mais impossível que fosse, a garota sussurrou carinhosamente um "vai ficar tudo bem".

E depois disso, tudo que eu me lembro é de uma dor insuportável em meu pulso direito, como dentes perfurando minha pele, e eu soube no exato momento que senti algo queimando minhas veias, que Dylan havia me mordido.

A dor não era nem mesmo explicável. Dylan pegou leve quando falou sobre ácido no sangue. Aquilo era muito pior. E não sei quantas vezes desejei me entregar ao que meu ser queria, que era a morte, mas Lauren sempre acabava aparecendo para mim em uma ilusão prazerosa em meio a tanto sofrimento.

Mas chegou uma hora que nem mesmo os pedidos desesperados da garota pela qual eu era apaixonada, me fizeram ficar viva.

E eu me arrependi profundamente. Porque a morte, ah, a morte não tinha nada de tranquila. Eu deveria ter ficado com Lauren. Deveria ter ficado com seu sorriso selvagem e seu olhar carinhoso. Porque te-la era algo mil vezes melhor do que aquela escuridão sem fim, do que aquelas vozes que pareciam vir do além, e que pareciam muito com a minha, mas em vários tons diferentes. Na verdade, qualquer coisa teria sido melhor do que ter que ter enfrentado eu mesma para voltar para meu corpo, me sentindo rasgada e violada.

Eu só não sabia dizer se a Camila certa havia renascido.

Eu lutei. Lutei com tudo de mim. Mas algo havia dado errado no percurso. E eu tinha medo de abrir os olhos e descobrir, porque sabia que no momento que eu me deixasse voltar a "vida", alguma coisa mudaria.

E tinha algo comigo, eu não sabia dizer se era um alguém, uma vontade, um sentimento, eu só sabia que esse algo queria sair e por um descuido eu deixei.

Senti cada célula do meu corpo explodir em mil pedacinhos e logo depois se regenerar e sem mais...

Abri meus olhos.



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