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História Segunda Chance - Capítulo XIII


Escrita por: rose_apothecary

Notas do Autor


Nem eu mesma estou acreditando que vou conseguir postar no prazo, ainda mais porque em seis dias eu escrevi mais de quinze mil palavras. Falando em número de palavras eu já disse que se ficasse muito grande eu iria dividir, mas esse capítulo eu não posso fazer isso, até porque estava prometendo a muito tempo essa festa (espero conseguir não decepcionar vocês!).
Em um determinado momento do capítulo dois personagens irão conversar sobre as ações de empresa e tenho que confessar que sei muito pouco sobre essas coisas, portanto tudo que eu disse ali só faz sentido na lógica dessa história.
Estou tão animada com esse que nem sei o que escrever e até me esqueci de responder os comentários de vocês no último. Já já eu faço isso.
Bem espero que gostem, boa sorte lendo esse capítulo imenso, qualquer erro já sabem.

Capítulo 13 - Capítulo XIII


O céu estava carregado, nuvens pesadas anunciavam que uma típica chuva de verão estava por vir. Enquanto ela não chegava a umidade parecia triplicar a sensação térmica,era isso ou smoking que Pedro estava usando era na verdade um forno. Não pela primeira vez naquela noite ele se xingou metalmente por ter alugado um terno com gravata borboleta e não com uma comum por ter julgado que o primeiro conjunto era mais sofisticado. Parecia que aquela gravata era dez vez mais apertada que o normal e ao mesmo tempo que ele sofria com o calor, o astrônomo era sufocado pelo laço de seda em volta do pescoço. Em suma, todos os preparativos para que ela festa mais pareciam uma tortura milimetricamente arquitetada para fazê-lo sofrer.

Ao menos o presente estava resolvido. Com dois dias de antecedência o astrônomo já tinha se decidido, agora só faltava finalizar a embalagem de um jeito que ela não denunciasse o seu conteúdo.  No final das contas não tinha sido necessário quebrar a cabeça para perceber o que Teresa realmente não iria gostar. Em primeiro lugar ele até tinha pensando em comprar um daqueles filmes antigos que ela havia torcido o nariz quando estudou a coleção de filmes da mãe de Pedro em Petrópolis. Depois pensou em dar a ela algo que a deixasse realmente entediada, uma vez que a arqueóloga parecia não suportar ficar quieta por longos períodos de tempo.  

Por fim, a ideia perfeita finalmente veio. Ele esperava que ela apreciasse a ironia e entendesse o recado que ele estava passando. Naqueles últimos dias Pedro havia deixado claro que era capaz de dissociar o que ambos haviam vivido em outras vidas do que eles possuíam agora. Contudo, aquele presente simbolizaria perfeitamente que eles seguiram em frente.  Aquele presente, aquela noite, seria o primeiro dia do resto da vida deles.

—  Como estou mãe? —  Pedro perguntou quando chegou à sala.  Sua mãe estava com um livro no colo de maneira relaxada, ela está tranquila e fazendo oposição ao filho que era uma verdadeira pilha de nervos.

—  Você está muito elegante —  respondeu depois de se levantar e avaliar o filho. Demorou um bom tempo observando a gravata, felizmente seu olhar crítico que parecia ainda mais analítico com aqueles óculos de leitura não encontraram nenhum defeito.

—  Ótimo. Estou pagando caro por essa elegância — resmungou a última frase e Leopoldina revirou os olhos, deveria ter sido a oitava vez que ela havia escutado uma reclamação daquele tipo nos últimos dias.

—  Uma extravagância de vez em quando não faz mal… — ao ouvir aquelas palavras Pedro bufou e se preparou para protestar, mas sua mãe passou as mãos pelos ombros dele alinhando o paletó. —  O mais caro você nem comprou e sim pegou de mim.

—  Você mesma disse que estaria em boas mãos!

—  E está mesmo. Tenho certeza que a maneira dela, Teresa fará bom uso. Agora tire essa cara fechada do rosto, disse aquilo apenas para descontraí-lo, mas você está ansioso demais!

—  Eu não deveria?

—  Claro que não é uma festa, divirta-se. Aproveite a noite com sua namorada, conheça a família dela…Afinal o que pode dar errado? —  O que pode dar errado? ele pensou e provavelmente Leopoldina conseguiu ler o assombro em seu rosto pois ela soltou um suspiro levemente preocupada. 

— Tudo? —  respondeu como se fosse óbvio.

—  De onde está vindo essa preocupação toda, ein? Está com medo da família dela não gostar de você?

— Não… — Na realidade Pedro só não havia conhecido Carlos o filho do meio que pelos comentários dos demais não parecia ser fácil de lidar. Pelas mensagens que o irmão de Teresa mandava no grupo, o astrônomo teve a impressão de que ele era a mistura de seus dois irmãos:desinteressado como Luís e jovial como Ferdinando, e talvez por conta daquela combinação ele fosse visto como o mais antipático. Após refletir um pouco sobre o questionamento da mãe, ele percebeu que era provável que ele estivesse um tanto nervoso por conta daquela visita, haveriam alguns tios dela também na festa e Pedro torcia para que ele não fizesse feio. Contudo havia algo mais importante em jogo, e por mais que ele precisasse desesperadamente de falar com alguém que não fosse Teresa sobre o quanto ele estava apreensivo com o fim daquela noite, o astrônomo preferiu desconversar. — Bem, talvez…Você conhece como é a mãe de Teresa.

— Sim, mulherzinha difícil aquela — foi então que seu deu conta que sua mãe conhecia Maria Isabel e que ele tinha passado o dia inteiro se torturando à toa, imaginando um milhão de possíveis cenários fantasiosos em que os dois conversavam a sós, enquanto poderia estar tirando as dúvidas com a professora. — Januária diz que ela é daquele tipo de mulher que é praticamente impossível agradar. 

— Felizmente não é ela que eu quero agradar — respondeu se sentindo um pouco mais relaxado. Não importava o que acontecesse e tentaria não se deixar levar pela sogra, ela poderia seguir com as alfinetadas dela que Pedro tentaria não se deixar levar. — Você já conversou com ela alguma vez? Além dos cumprimentos em festas…

— Conversar, conversar mesmo foram duas vezes. A primeira quando Januária e Luís haviam começado a namorar e ele queria levá-la para a casa de praia durante o feriado de Páscoa.  Parece que era uma tradição deles ir para lá, eram quatro dias de feriado e embora sua irmã já fosse maior de idade ela tinha menos de vinte e eu apreciei bastante que Luís e sua mãe vieram aqui conversar comigo — ela fez uma pausa enquanto para para pensar. — Nesse dia ela me pareceu muito polida e séria. Depois disso só voltamos a conversar esse ano e já somos da mesma família a quase treze! Ela me envia cartões de aniversário e de final de ano nada mais. Só voltou a me procurar esse ano quando veio com a proposta de bancar o casamento do filho, seu pai não gostou muito e ficou com orgulho ferido. Não sei que fim teve aquela batalha de egos, mas eu honestamente não me importo. 

—  Acho que vou seguir com meu plano de tentar não me afetar…

—  Nada disso! Você não deve engolir sapos por educação. Se ela ou qualquer outra pessoa for desagrádavel como você não há sentido nenhum em ficar calado e evitar um conflito, eles estão errados e você deve sim expressar seu descontentamento —  aconselhou ela enquanto envolvia o rosto de Pedro com suas mãos. —  Você é um homem bem-educado e afável. Criei para que fosse assim, tenho certeza que você será capaz de sua insatisfação sem ofender ninguém.

— Vou tentar me lembrar disso.

— Ela alguma vez já te destratou?

— Apenas soltou algumas indiretas —  deu de ombros. Mesmo nem todas as palavras desagradáveis que ele tinha escutado sair da boca de Maria Isabel fossem bem menos inofensivas do que indiretas o astrônomo achou melhor poupar sua mãe. —  É melhor eu ir…Onde estão as chaves do carro?

—  Certo, se divirta! E se você não se divertir eu irei saber, sua irmã vai me contar tudo.

—  Mãe! Somos adultos nada de usar a tática de colocar um irmão para vigiar o outro…

—  Dessa vez é por uma boa causa! Januária vai se certificar que você não vai se esconder em um canto da festa e sumir, se fizer isso vou tomar medidas drásticas e ligar para Teresa.

— Mamãe…

— Estou brincando…Não acha melhor chamar um carro? 

— Você está certa, é melhor mesmo — pegou as chaves de casa e o presente, depois deu um abraço na mãe. — Eu só queria ir dirigindo para ligar o ar condicionado no último mesmo…Tchau mamãe tenha uma boa noite.

— Pode deixar eu e meus livros vamos ter uma noite animada. Você também, só quero ouvir notícias suas amanhã. Dê um beijo em Teresa por mim.

Pedro passou quinze minutos torturando na portaria do prédio enquanto esperava que o carro que ele havia chamado por aplicativo chegasse. Para tentar esquecer o calor ele pegou o celular e leu uma por uma as setenta mensagens que haviam surgido no grupo dos irmãos de Teresa durante os minutos que ele e a mãe passaram conversando. A maioria deles já estava na festa, já que todos moravam sob o mesmo teto de Maria Isabel, até mesmo a irmã mais velha dele já estava presente. Pelo que havia entendido a enxurrada de mensagens fora causada pela chegada da nova namorada de Carlos que até então era uma incógnita para todos. 

Diferente do que Celestina havia previsto, a moça não era filandesa e sim uma modelo angolana. Seu nome era Zayla e a única pessoa que a conhecia de rosto antes da festa era surpreendentemente a irmã mais velha de Pedro que conhecia a moça de algumas campanhas publicitárias de perfume. Aparentemente o que havia gerado aquele grande número de mensagens em tão pouco tempo era que Carlos e Zayla no mínimo deveriam ter doze anos de diferença, já que Januária jurava de pé junto que a estrela da moda em ascensão teria vinte quatro anos recém completados. Felizmente a angolana não havia sido adicionada no grupo ainda para agitação.

Quando o carro chegou Pedro travou o celular e seguiu prestando atenção no caminho. A motorista chegou a mencionar algumas vezes o quanto ela achava o local onde o astrônomo iria chique. Foi então que pensou em como seria a casa em que Teresa e seus três irmãos moravam com a mãe. Por se tratar de um terreno que era da família Bourbon a tanto tempo quanto a transportadora marítima que eles possuíam, ele imaginava que a casa, ou melhor mansão, só poderia ser o mais tradicional possível. Mas foi então que ele se lembrou de um comentário que sua irmã mais velha tinha feito a muito tempo, de uma reforma que havia durado três anos e que havia colocado tudo abaixo e construído uma casa do zero.  Então o astrônomo não sabia o que esperar mais. 

Ao chegar ao local da festa foi surpreendido com a mata que rodeava a propriedade, era quase como se os Bourbon tivessem uma selva particular. Porém o que mais o deixou surpreso foi o fato de que a mansão era incrivelmente moderna. As paredes externas eram quase todas de vidro do primeiro ao segundo andar e se mesclavam com estruturas em concreto de uma maneira harmoniosa. Ela mais parecia uma estufa perdida num imenso jardim, era linda e ao mesmo tempo tão exposta.  A impressão era de que havia pouca privacidade ali.

Pedro dispensou o carro e com uma mão sustentou o guarda chuva para se proteger da tempestade que havia se iniciado enquanto digitava uma mensagem para avisar Teresa que ele havia chegado. A porta de entrada era tão larga que permitiria que cinco pessoas passassem por ela, além disso a altura dela era quase do tamanho do pé direito de cinco metros do primeiro andar da residência. Logo que entrou uma moça nova baixinha pegou seu guarda chuva e se ofereceu para levá-lo ao salão onde estava acontecendo a festa. Quando Pedro agradeceu, mas dispensou a ajuda, Teresa apareceu na escada.

Como ela havia prometido, a arqueóloga estava de azul da cabeça aos pés. O tom escolhido era o marinho que lhe caia com perfeição assim como o caimento do vestido que marcava a parte superior do corpo delineando sua cintura e descia reto até o chão. Mesmo com a distância que os separava, Pedro foi capaz de constatar que o vestido era inteiro de veludo devido ao seu brilho intenso semelhante a um espelho d’água, o toque final ele só foi capaz de perceber quando sua namorada começou a descer as escadas. O vestido sem alça possuía preço nas costas, algo que Pedro só conseguia ser capaz de descrever com uma espécie capa, de um outro tecido mais leve e cintilante. 

Era sem sombra de dúvidas uma visão de tirar o fôlego, de confundir todos os sentidos, ele mesmo tinha suas dúvidas se o mais hábil dos poetas seria capaz de colocar em palavras a mulher que caminhava em sua direção. E havia um último detalhe, ela não precisava usar nenhuma joia e nenhum outro adorno para estar simplesmente deslumbrante. Se algum escritor fosse se desafiar a descrever a arqueóloga naquela noite chegaria a conclusão de que a única palavra capaz de representar a mulher seria simplesmente: Teresa.

— Então, gostou do vestido?

— É como se ele tivesse sido feito para você — conseguiu dizer depois de um tempo.

— É porque foi — respondeu ela após soltar uma gargalhada. — Mandei fazer.

— Bom, você tem muito bom gosto — depois de pensar tanto na dificuldade que poetas e escritores teriam para descrever o quão bela Teresa estava, foi a vez dele de não fazer o que dizer. — O vestido é lindo de fato, mas sozinho não seria nada, você está estonteante essa noite.

— Só esta noite?

—  Mais do que é todos os dias e eu cheguei a achar que não era possível.

— Muito obrigada. Você também está muito bonito.  — dito isso ela entrelaçou o braço de Pedro que estava livre e seguiu indicando o caminho para o interior da casa. Pelo caminho ele constatou feliz que seria possível sobreviver aquela festa usando um traje de gala uma vez que a residência era toda climatizada. — Vamos guardar esse presente primeiro. Antes que eu me esqueça acabei não mencionando algumas coisas. Primeiro se você vir eu ou meus irmãos chamando qualquer um daqueles senhores de tios, não necessariamente eles são. A maioria trabalha na empresa ou são amigos empresários de mamãe,  viviam aqui quando éramos crianças e acabamos por chamá-los assim.

— Certo… e quantos deles são realmente seus tios? Gostaria de conhecê-los.

— Vou te apresentar a eles. Mamãe é filha única e por parte de pai eu tenho três tios, apenas dois deles estão vivos. Você vai adorar Alberto, já tio Miguel você vai precisar de um pouco de paciência…— fez uma pausa para pensar um pouco. — A outra coisa que eu queria dizer era para não estranhar se algum convidado acabar me abordando propondo novos projetos para a transportadora.

— Por que eles iriam te aborrecer com isso? Ainda mais em uma festa?

— Porque, por mais que eu adoraria não me envolver nesses assuntos, eu não posso fugir. Sou uma das acionistas da empresa — respondeu. Não era tão surpreendente assim descobrir que Teresa tinha uma participação tímida na transportadora, era uma empresa familiar logo seria sua herança. — Mas eu também não posso reclamar já que ela é a fonte de renda desde que eu tenho dezoito anos. Papai presenteou todos os filhos com cinco por cento de suas ações assim que cada um adquiriu a maioridade penal, depois herdamos nós quatro metade dos sessenta por cento dele após sua morte.

— Então vocês…

— Você a conta não fez? — ela parou de caminhar para que pudesse encará-lo.

Mesmo que Pedro não tivesse feito antes, ele o faria agora. Se Maria Isabel havia herdado a outra metade, isso quer dizer que os quatro filhos juntos eram donos de metade da transportadora marítima. Na realidade, seriam necessários apenas três deles para superar o poder que a mãe deles tinha sobre a empresa. O astrônomo sequer queria pensar o quão ainda mais caótico a relação dos cinco era depois de saber dessa informação, ainda mais com dois deles trabalhando ativamente com a progenitora. 

— Bem, acho que agora você foi realmente introduzido a família, porque é essa é sem dúvida a maior herança que papai deixou, nos prendeu uns aos outros por conta dessas ações — sua fala era carregada com uma leve dose de amargor, o que chocou o astrônomo até então ele apenas tinha ouvido Teresa falar de seus irmãos com carinho. — Não me leve a mal, eu amo meus irmãos. É só que nós provavelmente teríamos tomado rumos diferentes se não fossem essas benditas ações. Certamente cada um teria seguido sua vida se não fosse por elas. Ao invés disso estamos todos aqui vivendo sob o mesmo teto…Desculpa, eu não deveria estar despejando isso em cima de você, vamos continuar.

Pedro pensou em dizer que não havia nada com que se preocupar, mas Teresa parecia não querer render o assunto. E de certa forma, ele achou melhor deixar o tópico de lado, uma vez que o astrônomo sequer sabia o que dizer. Por mais distante que fosse a relação dele com suas irmãs, ele duvidava que ela chegasse perto do nível de tensão que era viver todos os quatro juntos ainda mais com uma  mãe controladora. Por fim, chegaram a uma sala de estar que com exceção da parede da porta todas as demais eram de vidro, nela estava uma gigantesca árvore de Natal prateada.

 — Pedro, que bom que chegou  —  Celestina o cumprimentou. Ela usava um vestido cinza que deixava um de seus ombros expostos e o cabelo castanho estava preso em um coque. Estava elegante como sempre, mas sua mente não podia deixar de fazer comparações com a arqueóloga, o que era totalmente injusto.  —  Então o que acha?

 —  Você está muito bonita.

 —  Eu sei!  —  ela riu.  — Se não soubesse disso, tenho o espelho para me lembrar e quando me esqueço de olhar pra ele, tenho Ferdinando para fazer este papel. Mas obrigada, estava falando da decoração da sala. Teresa mencionou uma vez que sua irmã mais velha era design de interiores.

 — Sim, Francisca é decoradora.  —  respondeu sem jeito ao perceber do que realmente se tratava a pergunta anterior. Teresa deu uma risada o que tornou ainda mais difícil se concentrar. A árvore prateada ao invés de bolas de Natal possuía flores artificiais de mesmo tom e havia luzes que piscavam ao redor não só do tronco mas de outros móveis como a estante da televisão. Pedro certamente preferia as cores tradicionais da festa, mas não podia deixar de notar a beleza daquela disposição.  —  Bem, eu não sou um especialista como minha irmã, mas eu gostei.

 —  Não acha que a árvore prateada é um pouco demais?

 —  Eu acho que combina com o conjunto da obra.

 —  Era o que eu estava dizendo  —  a noiva de Ferdinando disse diretamente para Teresa, pelo que parecia que as duas deveriam estar discutindo sobre isso há um tempo.  —  Eu estou satisfeita, tendo em vista que tive que arrumar isso tudo em quarenta e oito horas. Vinte e um de dezembro e ninguém moveu um dedo para decorar a casa. 

 —  Bem, o que seria de nós se você não fosse multitarefas?  — a arqueóloga disse reconhecendo o esforço de Celestina.

 —  Vocês Bourbon não seriam nada sem mim. Ainda bem que eu estou apaixonada demais para decidir fazer parte dessa família assim vocês sempre vão me ter por aqui para apagar qualquer incêndio. Mesmo que ele seja apenas decoração de Natal.

 —  Eu deveria ter pensando no assunto…estive em casa o mês inteiro fazendo nada…

 — Ajudar a organizar uma festa é exaustivo  —  Celestina disse para a amiga.  —  Você sabia, Pedro, que tem um dedo Teresa nessa festa?

 —  Ela não me contou.

 —  Pois é ela é tão multitarefa quanto eu. Minha sogra tem mil e uma coisas pra fazer, provavelmente só encontrou tempo para assinar os cheques para bancar essa pequena extravagância em forma de confraternização. 

 — Celestina, você conhece minha mãe, sabe que ela fabricaria tempo apenas para organizar tudo do jeito dela   —  falou Teresa reafirmando o caráter controlador da mãe e Pedro se lembrou de outros eventos que Maria Isabel fazia questão de comandar.  —  Dessa vez eu só assumi nas últimas semanas porque houveram imprevistos.

 — Sempre modesta. Agora podem ir embora os dois, aproveitem a noite.  —  ela tomou o presente de Pedro das mãos dele e depois de ditos os até breve o casal se dirigiu aos fundos da residência.

Não era de se espantar que o Bourbon tinha um salão de festas dentro da própria casa. Assim como a sala de estar em que os dois haviam acabado de sair, o cômodo também era cercado de paredes de vidro. Do lado da parede de concreto havia um bar onde a maioria dos convidados estava disposta. As cadeiras e mesas estavam cobertas com  tecidos prateados e ao que parecia aquela era a cor da festa. Ele não sabia o quanto Teresa havia feito e o quanto ali tinha dedo de sua sogra, mas com exceção da iluminação que ele considerava escura demais, estava tudo impecável. 

Teresa seguiu lhe contando sobre seu tio Alberto, ela tinha certeza que ele e Pedro se daria muito bem uma vez que seu namorado tinha alma de velho. A arqueóloga definitivamente estava passando tempo demais com Januária para ter dito isso, mas Pedro não deixou de achar graça. A festa parecia já ter começado a algum tempo e ele passou os olhos pelo salão em busca de rostos conhecidos. De repente Teresa parou fazendo com que o astrônomo fizesse o mesmo. 

 —  Meu primo Ralph acabou de me ver  —  disse levemente irritada como se tivesse acabado todo entusiasmo que tinha para aquele evento.  —  Eu não vou conseguir fugir…Afinal são dois anos sem vê-lo…  —  ela passou os olhos pelas mesas provavelmente buscando uma saída.  —  Mas você pode . E acredita em mim quando digo que você não vai querer falar com ele. 

 —  Teresa!  —  uma voz masculina a chamou.

 —  Por que você não vai até o bar e enfrenta aquela fila grande para pegar uma bebida para mim? 

 —  Mas…

 —  Faça isso por sua namorada, está bem?  — ela respondeu entre dentes para não perder o sorriso. Depois ela lhe deu um beijo na bochecha e soltou de seu braço.  —  Peça aqueles coquetéis que demoram para serem preparados.

Foi então que Teresa seguiu para frente ao encontro de um homem com tanto gel no cabelo que os fios reluziam mais que a decoração de Celestina, e o astrônomo foi em direção ao bar. Antes de dar meia volta ele pode ver sua namorada aceitar os comprimentos do primo com apatia, já o homem parecia estar cheio de intimidades com ela. Tentou não pensar no assunto, já que a arqueóloga parecia implorar com os olhos para que ele se sumisse dali e ele confiava em Teresa. 

A fila estava grande como era de se esperar. Parecia que todos os convidados da festa se dispunham pela longa extensão do móvel. Quando Pedro estava prestes a se colocar em uma das diversas ramificações da fila, uma mão tocou seu ombro e o empurrou para frente. Depois de recuperar do impacto percebeu que a pessoa na realidade o estava conduzindo para frente. Era o terceiro irmão de Teresa que gritava demandando que fosse atendido primeiro já que estava pagando por tudo aquilo. Ferdinando era alto e esguio, característica que provavelmente havia puxado do pai, enquanto Luís tinha altura mais baixa, mas era corpulento com a mãe Maria Isabel e por fim, mais uma vez, Carlos era a mediana dos dois: baixo e magro. Ao seu lado estava sua namorada, certamente mais de dez anos mais jovem que ele.  O que o Bourbon tinha de olheiras ela compensava com suas proeminentes maçãs do rosto. Ela trajava um vestido perolado de lantejoulas com uma grande fenda na parte de baixo, os cabelos também estavam presos num coque que deixava vários de seus cachos soltos em volta do rosto. Por fim havia um piercing em seu nariz o que tornava ainda mais impossível desviar o olhar de seu rosto.

 —  Ele está comigo  —  Carlos anunciou para os garçons.  —  Mesmo que eu não tivesse visto chegar com a minha irmã teria o reconhecido a quilômetros de distância, a semelhança com Januária é gritante. Aposto que você tem aquele mesmo maxilar debaixo de toda essa barba…uma pena que minha cunhada não tem a mesma sorte e não consegue escondê-lo como você pode.

 —  Desculpe, ele está bêbado  —  Zayla disse para Pedro enquanto repreendia o namorado com um olhar.

 —  E sabe-se lá o que mais usou…  —  Ferdinando surgiu aproveitando as lacunas entre as filas para também se aproveitar das lacunas formadas na fila. Ele puxou o irmão de lado para uma conversa e Pedro agradeceu que uma banda começou a tocar ao fundo e abafou o que eles diziam mesmo com Carlos falando com um tom de voz visivelmente alterado. O astrônomo estava contente em poder ignorá-los, mal havia conhecido o irmão de Teresa e já o achava desagradável. Espero que seja culpa da bebida. 

 — De novo me desculpe  — a modelo disse como se fosse sua obrigação manter lúcido um homem de bem mais de trinta e cinco anos.

 — Está tudo bem, eu tenho experiência com gente assim  — falou se lembrando de seu pai das inúmeras vezes que ele se tornava um homem repulsivo depois de alguns goles de bebida.   — E não é sua responsabilidade mantê-lo sóbrio…

 — Infelizmente é. Carlos implorou para que eu o acompanhasse nessa festa  — ela respondeu dando de ombros e rapidamente a mente de Pedro viajou por lugares em que ele não queria e não se orgulhava de estar. O que ela queria dizer com aquilo? Os dois não estavam juntos? Começou a especular e juntar as peças,  seria do feitio de Carlos fazer isso trazer alguém para apenas o acompanhar…Eu realmente deveria parar por aqui…  — Foi de dar pena  — expôs sem rodeios.  — Ele não suporta essas confraternizações, até a festa de noivado do irmão ele já faltou…Enfim estou aqui para fazer com que ele se comportasse, mas honestamente não faço o muito o estilo de babá então prefiro voltar a ser o troféu que ele vai exibir pelo salão.

 — É a primeira vez que você vem a uma festa dos Bourbon? — mudou de assunto. Por mais desagradável que Carlos tivesse sido nos trinta segundos de interação que tiveram, o astrônomo não se sentia nem um pouco confortável em seguir conversando sobre aquele assunto. Era muito pessoal e dizia respeito apenas ao homem. 

 — Confraternização de final de ano é a primeira vez. Mas já fui em três da empresa  — ela falava pausadamente e possuía um sotaque muito agradável ao ouvidos.  — Nenhuma delas com Carlos, ele passou o ano inteiro me pedindo para sair e eu neguei até o fim…Se ao menos ele tivesse apelado para o meu lado de boa samaritana antes…

 — Essa é minha segunda  — tentou mais uma vez conduzir a conversa para que ela tomasse novos rumos.  — Embora eu e Teresa não estivéssemos juntos na época do noivado de minha irmã.

 — Acho isso tão fascinante! Duplamente cunhados só poderia acontecer nessa família  — ela bebericou um drinque amarelo que parecia ser muito refrescante. Pedro aproveitou para fazer seus pedidos enquanto ela prosseguiu.  — O noivado de Luís não tem muito tempo…você já foi introduzido oficialmente a mãe deles?

 — Na verdade seria hoje…

 — Que coincidência, Carlos me introduziu hoje  — ela seguiu jogando informações com um ar de desinteresse.  — Você deveria ter chegado mais cedo então, duvido que vai conseguir falar com ela agora…  — usou o copo para apontar na direção de Maria Isabel que estava no canto do recinto rodeada de homens que pareciam todos iguais. Pedro não pode deixar de notar que além da expressão dela que parecia sempre ser carrancuda a mulher mais uma vez se vestida apenas de preto.   

 —  Tenho certeza que oportunidades para isso não irão faltar.  —  não que ele estivesse morrendo de vontade de conversar a sós com a sogra. Teresa não parecia muito interessada e provavelmente evitaria a mãe a todo o custo assim como fez na festa de noivado do irmão. Contudo havia uma parte dele que por mais desagradável que fosse sabia que seria essencial, porque depois daquele encontro tudo mudaria no relacionamento dos dois. 

 —  Certamente vão… Sabe Dona Maria Isabel não é nem um pouco o que eu esperava, depois de ouvir tantas histórias sobre ela. Claro eu não duvido que ela faça jus a fama que tem, mas para uma mulher conhecida por ser autoritária eu esperava que ela tivesse mais interesse na namorada que o filho estava lhe apresentando…Duvido que ela se lembre do meu nome até o final dessa festa.  Com sorte será assim com você também.  —  ela tranquilizou, mas por algum motivo que Pedro não conseguia identificar aquelas palavras lhe causaram o oposto.  —  Então como você e Teresa se conheceram? ouvi dizer que ela é difícil de conquistar.

 —  Ela foi uma das alunas de minha mãe. Ficaram boas amigas e um dia Teresa foi ajudá-la e acabamos nos encontrando. 

 —  E a faísca foi imediata imagino…

 —  Não, o que eu Teresa tinha construído aos poucos  —  fez questão de defender, mesmo que os dias  que eles levaram para chegar ao que tinham não passassem de um mês e que o que o relacionamento deles fosse apenas um namoro de fachada.

 —  Aos poucos? Isso certamente não soa com minha irmã caçula  —  Carlos surgiu na conversa com o tom de voz ainda mais alto, sendo impossível dizer se era por conta da música ou pelo copo de uísque recém finalizado. Ferdinando apareceu atrás dele pedindo para que Pedro ignorasse as palavras do irmão enquanto fazia gestos com a mão.  —  Ela é como eu, um espírito livre!

 —  Você está gritando  —  Zayla gritou desvencilhar do braço que Carlos havia colocado em volta de seus ombros, mas como ele era uns bons centímetros mais baixo que ela a posição não parecia nem um pouco agradável.

 —  Olha só pra ela  —  o irmão do meio disse trocando de assunto e apontando para onde a mãe estava. Celestina havia se juntado ao grupo e conversava animadamente enquanto equilibrava uma taça de champanhe em uma mão e o celular na outra.   —  Sequer olhava pra Celestina, mas só foi a mulher fechar uns contratos para empresa que mamãe passou a desfilar com a nora a tiracolo.  —   era difícil dizer se o amargor das palavras dele eram direcionados a mãe ou a noiva de Ferdinando.

 —   Não foram uns três contratos, foi bem mais que isso, Tina tem sido essencial para a expansão que estamos fazendo  —   disse Ferdinando irritado com o tom de desmerecimento da última fala do irmão.

 —   Certo, certo. Ela tem feito a parte dela, mas não é isso que estou dizendo e você sabe bem. Não acredito que vai defender a mamãe só porque ela anda de gracinha com sua futura esposa.

 —   Que tipo de noivo eu seria se meu primeiro dever para com ela não fosse estar na primeira fila para aplaudir o seu sucesso? O resto são detalhes Carlos e isso se deixa de lado. Você deveria fazer o mesmo  —  o tom de voz dele era orgulhoso.  —   Além do mais, o sucesso cai nela com uma luva. Não acha?

 —   Você realmente quer saber quer ouvir o que seu irmão acha de uma outra mulher? Ainda mais que a mulher em questão é a sua?  —   ao lado dele Zayla revirou os olhos.  —   O que eu estou dizendo é que Celestina só está lá porque está por cima, um erro bobo e mamãe volta a não lembrar da existência dela.

 —  Você só diz isso porque não é você ali  —   Ferdinando rebateu. 

 —   Você acha que eu estou com inveja dela? Por que eu teria inveja de Celestina, ela sequer é da família…

 —  Meninos venham aqui!  —   chamou Maria Isabel que agora estava bem mais próxima do bar, sua fala interrompeu o que o filho mais velho que estava prestes a dizer, que sua noiva era muito mais competente que o irmão ou algo do tipo.  —   Vamos tirar um foto  —   Januária, Luís e Teresa já estavam entre eles, sua namorada parecia particularmente desanimada ao lado da mãe.  —   Pode vir também, Zaya..é Zaya não é?  —  Zayla se virou para Pedro com uma expressão no rosto que dizia: eu avisei.  —   Venham todos.

Todos se dispuseram ao redor da matriarca da família com seus respectivos acompanhantes. Antes do fotógrafo começar a alinhar os pares, Zayla fez questão de corrigir seu nome com a maior graça do mundo. O astrônomo teve pouco tempo para processar tudo, a luz mais fraca da festa já começava a irritar sua visão, a bebida que Teresa havia pedido estava esquecida no balcão e ele pouco havia bebido da sua. Mas ele estava grato de finalmente ter se reunido com a namorada, durante toda aquela conversa no bar ele tinha a perdido de vista. Pedro esperava que depois das fotos eles não voltassem a se separar de novo. 

A arqueóloga seguia tirando o fôlego dele. Era um bálsamo poder admirá-la novamente, principalmente com sua cabeça a mil do jeito que estava. Ele começava a se sentir exausto e volto a se lembrar o porquê de não gostar de festas, eram sempre muito cansativas. Teresa pediu desculpas ao pé do ouvido dele e a voz melódica dela fez com que os pelos de sua nuca se arrepiarem. Ele gostou daquilo e desejou que Teresa usasse saltos mais vezes, muito embora Pedro apreciasse a diferença de altura entre eles.

 —  Agora uma só com meus filhos  —   Maria Isabel disse como uma ordem  —   Não faz sentido guardar uma foto com minhas noras e genro se eu não sei se eles vão estar aqui ano que vem.

Pedro ficou sem reação com a fala direta da sogra, mas fez o que lhe foi dito no automático. Ele não estava chocado e irritado porque aquelas palavras lhe atingiam. Claro ele adoraria dizer que a Maria Isabel que estaria do lado de Teresa o tanto de tempo que a arqueóloga desejasse, que desejava passar o resto da vida dele ao lado dela. Contudo aquilo era entre ele e Teresa. Ele também não se irritou por Zayla, muito embora também poderia devido ao tratamento que ela estava recebendo da sogra. O que havia deixado ele irado fora o fato de sua irmã frequentar a casa daquela mulher desde que ela era uma adolescente, insinuar por algum momento que o que Januária e Luís possuíam poderia se acabar era uma ofensa. Além disso, havia Celestina que estava noiva há quase cinco anos do primogênito de Maria Isabel de Bourbon.

Januária o abraçou por trás e disse que não havia com o que se preocupar. Que aquilo era comum…mas só porque aquele era o tratamento comum que eles recebiam da sogra não queria dizer que deveria ser aceito. Focou seu olhar em Teresa para ver se conseguia esquecer os sentimentos que estavam fazendo seu corpo borbulhar. Depois sua sogra fez questão de tirar fotos com cada um dos filhos e Pedro passou a conversar com a irmã. Finalmente teve uma conversa agradável desde que colocou os pés naquele salão. Sua irmã mais velha estava muito bonita, com os cabelos loiros soltos e um belo colar de pérolas no pescoço e um vestido roxo de mangas compridas.

 —   Finalmente  —   Teresa interrompeu a conversa deles envolvendo os braços ao redor dos ombros de Pedro.  —   Tentei escapar de Ralph a noite toda.  —   ela roubou a taça que Celestina havia acabado de pegar e tomou metade do líquido em dois goles.

 —   Ele ficou perguntando por você minha festa de noivado inteira  —   a irmã do astrônomo disse revirando os olhos. Depois olhou para o irmão e percebeu que ele não fazia ideia de quem se travava.  —  Ele é simplesmente inconveniente, não queria conhecê-lo.

 — Vocês seguem me dizendo isso…  — Pedro começou a dizer.

 —   Teresa você ainda tem que me contar como foi sua estadia em Milão…  —   o mesmo homem com cabelo lotado de gel e um queixo tão proeminente que certamente faria que o maxilar dos Alcantra fosse exaltado como belo em comparação ao dele, surgiu de repente. 

 —   Vou ter que ir de novo  —  Teresa falou soltando o ar dos pulmões e com ele todo o seu ânimo.  —   Desculpe por isso, espero que você encontre outras maneiras de se divertir, mas não se divirta muito sem mim.

 —   Ainda bem Teresa sempre se sacrifica por nós e nos poupa da presença dele  —   Carlos chegou com um copo de outra bebida que Pedro não conseguiu identificar nas mãos. 

 —   Ele não pode ser tão ruim  —   disse da boca para fora apenas para manter a conversa. Januária riu como se quisesse dizer que o irmão estava sendo bondoso e anunciou que iria buscar algo para comer. 

 —   Ele não pode ser tão ruim  —   o segundo filho de Maria Isabel mudou o tom de voz talvez para tentar imitar Pedro, mas ao invés de uma voz profunda o resultado foi uma fala estridente.  —   Ele é um parasita! Sequer é nosso primo, apenas é um dos filhos de uns amigos falidos de papai. Quer nos agradar a todo custo, praticamente lambe nossos pés…O que não é tão ruim assim se ele não fosse uma cobrinha traiçoeira.  Me surpreende que ele não veio te conhecer.

 —   Por que diz isso?

 —  Você não é namorado de Teresa? —  disse como se estivesse explicando o óbvio a uma criança. —   Ele ficou uma fera com os três últimos namoricos dela…mas isso já faz muito tempo, como eu disse eu e minha irmãzinha somos espíritos livres não ficamos no mesmo galho por muito tempo!  — ele pegou puxou Pedro pelo braço tentou fazer o mesma coisa que tinha feito no bar com sua namorada no bar: passar o braço que segurava sua bebida pelo ombro de Pedro.  — Então deve ser por isso que ele não te procurou! Teresa não viu necessidade de contar para ele…

Carlos seguiu insinuando coisas enquanto tentava passar o braço dele por cima do pescoço de Pedro que se sentia mais e mais sufocado. As luzes o incomodavam, as palavras do namorado de Zayla o irritavam num ponto que ele passou a abafar tudo que ouvia até que ele se quebrou. Na realidade, um copo se quebrou. Carlos desequilibrado deixou o copo escorregar por seus dedos que por sua vez bateu no ombro do astrônomo e seguiu em queda em direção ao chão. Contudo antes de cair boa parte do líquido derramou nas costas do paletó alugado. 

— Cara me desculpa! — ele tirou um tecido que servia de enfeite do seu traje e começou a tentar limpar as costas de Pedro.

— Não…não precisa — o astrônomo tentou não deixar com que toda sua irritação alterasse seu tom de voz. Ele precisava sair dali. — Só me diz onde fica o banheiro.

— Segue no corredor, terceira porta a esquerda.

Primeiro o astrônomo pensou em o quanto havia lhe custado alugar aquele smoking apenas deixá-lo fedendo a álcool em uma festa que até então tinha sido mais desagradável do que palatável. E era só naquilo que ele queria focar, pois não queria se deixar levar por tudo que havia escutado naquela noite. Afinal Carlos estava bêbado e isso justificava sua inconveniência, Maria Isabel era desagradável por natureza todos já o havia avisado disso e Zayla por mais astuta que fosse não conhecia a família direito com exceção do namorado. Tudo não passava de indiretas e no máximo sua mente vendo coisas onde não havia nada, uma vez que nenhum deles sabia nada do tipo de relação que ele e Teresa tinham. 

Sua paciência e otimismo chegaram ao limite quando ele chegou ao meio do corredor e descobriu que a terceira porta à esquerda não era o banheiro. A quarta e quinta também não eram e outras em frente a elas também não. Pedro seguiu pela casa passando por outra sala de estar e depois mais outra. Até que finalmente chegou a um cômodo repleto de fotos familiares. Ao fundo dela havia uma porta do que parecia ser um lavabo.

O astrônomo tirou o paletó e sem saber o que fazer jogou água da torneira nele torcendo para que o cheiro de álcool que invadia suas narinas sumisse. Mas ele simplesmente não saia de cheiro nenhum. Derrotado, ele deixou a peça de lado e molhou o rosto. Deixou que água refrescasse não só sua face, mas também sua mente.

Parecia que praticamente todas as palavras que ele havia escutado naquela noite o queriam direcionar para o fato de que Teresa só estava como troféu de exibição ou até pior, que ela não se importava nem um pouco com ele. Afinal Pedro tinha sido jogado na cova dos leões sozinho. E pensar que no começo da noite eu estava ansioso por isso tudo…E como não ficar com a promessa de que os dois poderiam estreitar os laços que possuíam?

Foi então que percebeu que aquilo tudo se tratava de uma mera possibilidade. E ele sempre soube disso. Pedro sempre soube que Teresa gostaria de apresentá-lo a família como seu namorado para irritar a mãe, ele sempre soube que dependendo de como corresse a noite a arqueóloga determinaria como seria o relacionamento dos dois dali em diante. Zayla e Carlos poderiam não ser um casal e talvez ela estivesse ali apenas com acompanhante; talvez trazer acompanhantes fosse costume que ambos os irmãos Bourbon possuíam; talvez primo Ralph ficava irado com os relacionamentos de Teresa porque tem intenções de conquistá-la, tudo isso eram apenas possibilidades que não batia com a única coisa que era certa para Pedro: a palavra de Teresa.

Agora mais tranquilo ele se retirou do lavabo com o paletó enrolado no antebraço esquerdo. Iria procurar Teresa e tentar se divertir como havia prometido a sua mãe. Para tomar coragem e voltar para o salão, o astrônomo ficou observando as fotos de família dispostas na estante. A maior delas se tratava de uma foto de casamento antiga, certamente o casal ali eram os pais de sua namorada. Havia uma dos quatro filhos na escada na porta de uma igreja, Teresa era uma criança graciosa como era de se esperar. Nas fotos antigas dela mostrava uma menina bastante alegre. Foi observando aquelas relíquias de família que Pedro foi capaz de constatar que sua teoria estava correta, Teresa e Carlos eram a mistura de seus pais enquanto Luís e Ferninando puxam a mãe e o pai respectivamente. 

— Aí está você — uma voz surgiu atrás dele. Pedro soltou um leve suspiro que ele torceu para que Maria Isabel não tivesse notado. — Estava te procurando.

— Fui procurar o banheiro e acabei me perdendo. 

— É uma casa muito grande. — disse ela andando na direção do astrônomo parando ao seu lado.  —  Sempre gostei de ir direto ao ponto então vamos lá — Maria Isabel sequer olhava para ele e sim mantinha o olhar fixo na fotografia de seu casamento. — Não gosto de você, é bem verdade que não o conheço, mas não preciso de avaliar muito para chegar à mesma conclusão de que tive aos pés daquela escada: você me lembra demais meu falecido marido.  — a voz dela era carregada de desdém. — Você assim como ele não tem aquele brilho no olhar carregado de ambição. É do tipo de pessoa que se contenta com pouco. Não quero que leve minha filha por esse caminho, embora fosse a cara dela fazer isso por pura rebeldia  — fez uma pausa pensativa e seguiu olhando os retratos, quando parou os olhos no que parecia ser a foto de seu pai em frente a sede da transportadora continuou. — Mas, como eu não há nada no mundo que eu ame mais que meu filhos, estou disposta a recebê-lo de braços abertos. Se você for tão educado quanto sua irmã Januária não será difícil tolerá-lo. 

Era surreal demais pensar no que a sua sogra havia acabado de dizer. Ainda mais naquele tom de indiferença como se estivesse falando sobre a chuva que caía do lado de fora da casa. Ele não sabia nem o que dizer ou fazer, só queria sair dali como se nada tivesse acontecido. Foi então que se lembrou das palavras de sua mãe.  Maria Isabel mesmo havia admitido que não o conhecia e mesmo ali o estava julgando. Então ele não ficaria calado.

 — Eu estava disposto a conhecer melhor a senhora, mesmo com todos os avisos que recebe sobre sua personalidade difícil  — a aquela altura usar aquele termo parecia até mesmo um eufemismo.  —  Avisos esses que vieram de seus próprios filhos. Achei que seria injusto dar ouvidos a eles enquanto não tinha conversado com a senhora antes. Agora vejo que foi ingênuo da minha parte pensar dessa maneira.

  — Pedro! Mamãe!  — exclamou Teresa entrando na sala. 

 — Tive que procurá-lo já que ninguém sabia dele na festa  — disse Maria Isabel.  — Cheguei até que você o estava escondendo de mim. 

 — Não seja boba mamãe  — a arqueóloga envolveu seu braço no de Pedro, o sorriso em seu rosto parecia levemente forçado e seus olhos procuraram os dele tentando entender o que estava acontecendo.  — Mamãe, este é meu namorado Pedro. Pedro está é minha mãe.Pronto as introduções foram feitas e  vejo que vocês até já estavam se enturmando. 

 — Sim, eu estava dizendo a Pedro o quanto ele me fez lembrar de meu falecido esposo  — Teresa fez uma cara próxima de uma careta e o astrônomo teve a confirmação final de que sem sombra de dúvidas aquela não era uma bom paralelo.  — O que faz de você parecida comigo por essa escolha  — sua sogra estendeu e passou pelo rosto da filha de maneira carinhosa.  — Sabe o que meu pai me disse quando eu introduzi Francisco à família?  — fez uma pausa para se lembrar.  — Que eu havia feito uma escolha excelente  porque ele era do tipo de homem que estará sempre por trás de mim me apoiando.  Mas que também era preciso tomar cuidado, porque de trás é muito mais fácil para te apunhalar pelas costas  — ela tirou a mão do rosto da filha e colocou em seu ombros por alguns segundos.  — Já disse o que queria dizer aos dois. É melhor eu ir, tenho negócios a tratar.

 Depois que ela se retirou, restaram apenas os ecos dos seus saltos altos batendo pelo chão. Pedro olhou para Teresa e Teresa olhou para Pedro, os dois sem saber o que dizer ou falar.  Mais uma vez Maria Isabel deixou suas palavras com que havia acabado de dizer. Era um absurdo sem sombra de dúvidas, mas fora ingenuidade da parte dele pensar que seria impossível não se afetar com aquilo. Que motivos os dois haviam dado para que a mulher pensasse assim deles?

 — Ela perdeu completamente o juízo  — Teresa cerrou os punhos e começou a andar de um lado para o outro irritada.  — Ela simplesmente enlouqueceu, como ela ousa dizer uma coisa dessas? E ainda me comparar a ela…Pedro me perdoa, não era isso…

 — Por favor, não faça isso  — ele recuou dois passos para trás quando ela foi em sua direção e o recuo a assustou.

 — Isso o que?

 — Pedir desculpas por algo que você não fez.

 — Alguém tem que fazer, não é mesmo? Imagina dizer aquelas palavras horríveis para você…eu sabia que ela estava mais alterada que o normal hoje, por isso tentei evitá-la, mas…

 — Teresa não é sua culpa.

 — Eu te trouxe aqui, te deixei sozinho…

 — Aconteceram sim uma série de desencontros, mas no geral não há nada que você poderia ter evitado.

 — Eu deveria ter gritado com ela! Deveria ter dito que ela é uma desvairada.

 — Isso teria sido bom  — ele riu e isso a fez sorrir.  — Mas no geral não há nada que pudéssemos fazer. Honestamente acho que o melhor que podemos fazer é…

 — Mostrar que ela não está correta? E que não fomos afetados já que tudo não passa de uma maluquice da cabeça dela, certo?  — Pedro concordou com a cabeça para mostrar a ela que concordava que Teresa havia dito. Ela se dirigiu a uma mesinha onde havia uma garrafa de uísque e entregou um dos copos na mão dele.   — O que mais ela disse pra você

 —  Que eu sou sem ambição.  — ela preencheu o copo e antes mesmo que o astrônomo pudesse pensar em levá-lo à boca, a arqueóloga tomou de suas mãos e bebeu o líquido de uma vez.

 — Eu não acredito nisso  — ela disse simplesmente se servindo mais uma vez.  — E você não acredita que eu só procurei você porque sou uma controladora como ela que apenas o escolheu porque você seria um ótimo pau-mandado?  — o astrônomo se controlou muito para não rir do que Teresa havia acabado de perguntar. Como por algum instante ela poderia cogitar uma coisa daquelas. Mas ele olhou para Teresa, bem no fundo dos olhos dela e viu que havia receio ali. Não de Pedro, mas dela mesma. De que talvez ela fosse isso ou que os outros enxergassem isso dela. 

 — Nem por um instante. 

 — Certo. Vamos esquecer isso então  — ela disse triste e contemplativa.  — Eu sei que disse que hoje eu tomaria uma decisão, mas era pra ter ser uma noite divertida também…difícil voltar a ter um clima festivo agora…  — a arqueóloga serviu Pedro e eles ficaram em silêncio torcendo para que pudessem fingir que o que havia acabado de acontecer não havia sido real.  — Tive uma ideia!

Teresa pegou sua mão e puxou pelo braço para que Pedro a seguisse pelos corredores da casa. Ele não se deu ao trabalho de decorar o caminho e depois de passarem por umas três salas que provavelmente possuíam funções diferentes, mas que para ele, todas possuíam o mesmo aspecto de uma sala de estar, os dois pararam. Assim como todos os cômodos daquela casa a sala em questão era muito bem iluminada,  havia apenas bancos que estavam dispostos na forma de um semi-círculo, voltados para a atração principal do recinto ao centro estava sua atração principal: um piano de cauda preto. 

— Sua mãe me disse que você foi o único dos filhos dela que seguiu seus passos e aprendeu a tocar piano — ela estendeu a mão como se estivesse oferecendo a ele o assento em frente às teclas.  — Me mostre o que sabe fazer…

— Tem anos que eu não toco.

— Pode ser qualquer coisa.

Ela se sentou ao lado dele no banco. Calada, Teresa o observou com curiosidade e expectativa fazendo com que Pedro se lembrasse mais uma vez que não era só ele que desejava com todas as forças esquecer o que havia acontecido na sala de jantar. Foi então que percebeu a real função da ideia de sua namorada, um pouco de música certamente cairia bem. Era bem verdade que a última vez que Pedro havia pegado num piano fora há muito tempo, no aniversário de cinquenta e cinco anos de sua mãe, quando ele aprendeu uma série de sinfonias para presentear Leopoldina com um concerto particular. Contudo ao passar os dedos levemente pelas teclas alvas o astrônomo percebeu que ainda se lembrava de muita coisa.

— Certo, tente adivinhar essa — ele começou com as primeiras notas da melodia que ele conhecia desde que era criança. Pedro só havia aceitado aprender a tocar o instrumento porque sua mãe prometera que a primeira música que ele aprenderia seria a da trilha do filme que o garoto estava obcecado na época.

— Não sei…eu sei que já ouvi antes…é certamente algo instrumental — Teresa disse claramente não reconhecendo a música. — …Um tema de um filme? — seguiu chutando enquanto entrou no refrão. Ele lançou um olhar que era um misto de desafio e encorajamento já que a arqueóloga parecia estar com a resposta na ponta da língua. Depois de mais alguns segundos de contemplação ela respondeu ao mesmo tempo que tinha um tapa entusiasmo em seu braço. — É o tema de Jurassic Park!

— Até que você demorou para reconhecer um clássico…A propósito, doeu.

— Desculpa! Me empolguei — ela disse sem conter a risada. Logo em seguida fez um carinho em seu braço esquerdo e depois deitou a cabeça em seu ombro. — Toca outra, vou tentar ser mais rápida dessa vez. — não foram necessárias muitas notas dessa vez, Pedro nem chegou ao refrão da música do ABBA e a arqueóloga já levantou a cabeça de seu ombro para responder animada. — Take a chance on me!

Pedro acenou com a cabeça e seguiu tocando. A música era realmente algo relaxante, não deveria ter se passado mais do que quinze minutos desde que eles haviam finalizado a conversa com Maria Isabel e ali estavam eles mais uma vez descontraídos totalmente tomados pela melodia. Apenas a mente engenhosa de Teresa poderia ter tido aquela ideia que era tão perfeita que o astrônomo poderia beijá-la. 

Era exatamente o que ele estava prestes a fazer. A festa, a família dela, sobretudo a mãe de Teresa pouco importava. O que importava era que Teresa estava bem ali, mais bela, desejável do que era humanamente possível. Ele a queria e esperava deixar isso estampado em seu rosto e se não fosse o bastante que a letra daquela música deixasse isso perfeitamente claro. Quando ele tirou os olhos do piano e se voltou para ela e percebeu uma coisa que esperava ver por muito tempo: Teresa o queria também.

— Finalmente achei vocês dois!  — Celestina entrou no cômodo com os saltos em uma não e o celular na outra. — Ferdinando achei os dois, me diz que você conseguiu manter os outros dentro daquela sala — ela falou para o telefone provavelmente gravando um áudio ou estava numa chamada no viva voz, Pedro não conseguiu descobrir qual dos dois era de onde estava. Quando Celestina viu que o casal não se moveu, ela prosseguiu. — Vamos, só estão faltando vocês para começarmos o Inimigo Secreto. Por acaso o celular de vocês dois decidiram coletivamente acabar com a bateria? Mandei umas mil mensagens.

— Eu deixei ele no silencioso — respondeu Teresa se levantando e indo em direção a amiga. Pedro fez o mesmo.

— Estão todos presentes, Tina — escutou a voz de seu cunhado sair do telefone da mulher mais velha. — Isso se você considerar presente uma pessoa que está no décimo sono como Carlos está. 

— Estamos a caminho.

Celestina finalizou a ligação e eles voltaram para a sala onde a árvore de Natal estava posta. Assim como Pedro, os demais homens já haviam se livrado das outras peças do traje completo de gala há muito tempo. Ferdinando mais próximo das caixas de presentes só não usava mais o paletó, Luís mantinha só a gravata e Carlos, com os cabelos bagunçados para todos os lados indicando que havia acabado de acordar, matinha apenas a blusa social branca com as mangas enroladas até os cotovelos assim como o astrônomo. Januária estava com a cabeça apoiada no ombro do noivo já bastante cansada e Zayla se encontrava sentada no braço do móvel com uma taça de martini em mãos.

Uma pequena discussão se iniciou quanto a quem deveria começar a entregar o presente. Contudo Pedro não estava muito interessado nela, parecia que ele nem ao menos estava naquele ambiente e sim ainda naquela sala de piano.  Claro que ele sabia que Teresa estava interessada nele, era impossível não notar seus olhares que ela lhe lançava aqui e ali, seus olhos brilhando de desejo com duas brasas em Petrópolis. Porém, até então faltava algo, faltava uma certeza e ele havia enxergado isso essa noite. A hesitação havia ido embora.

Tudo foi resolvido quando Celestina se propôs a começar e o astrônomo se esforçou ao máximo para prestar atenção na dinâmica a fim de saber o que deveria dizer. Ele até havia preparado algo, mas já estava esquecido fazia tempo em sua mente, talvez improvisando eu me saia melhor…Quando a noiva de Ferdinando começou a citar o que ela mais detestava na pessoa que ela havia tirado, Pedro sentiu um leve frio no estômago. O que ele detestava em Teresa?

Nada. Pensou, mas isso era impossível e ele sabia disso. A brincadeira prosseguiu, Celestina havia tirado Luís, claro que ele era o único que combinava a descrição de desleixado que tirava mulher do sério com sua tranquilidade inabalável. Fazia todo o sentido do mundo se ele conhecesse de fato o cunhado, mas ele não conhecia e sim o via de vez em quando, sempre ao lado da irmã de Pedro em ocasiões descontraídas que nenhuma vez exigiram seriedade. Seguiu pensando no que não lhe agradava em Teresa, talvez pudesse ser algo que o irritava apenas uma coisa boba e momentânea.

Luís abriu seu presente, era um kit de facas de churrasco e Januária riu mais alto que todos no recinto já que ela sabia melhor do que ninguém o esforço que o noivo estava fazendo para se tornar vegano. Logo em seguida o terceiro filho de Maria Isabel estava com a caixa de presente em mãos e não demorou muito tempo para que os demais dissessem o nome de Zayla com base no que havia sido dito. Pedro mal viu qual era o presente que ela tinha recebido, a cabeça ainda estava processando tudo quando todos gritaram seu nome com base no discurso da modelo que  dizia que havia tirado alguém que havia sido apresentado à família recentemente.

— Eu não fazia ideia alguma do que você iria odiar, o que me fez optar por algo genérico — disse Zayla após lhe dar um rápido abraço. O conteúdo da caixa eram pares de meias o que fez Pedro sorrir, afinal ela estava certa, ninguém gostava de ganhar meias no Natal. Porém ao menos elas não eram inúteis como dar facas de cortar carnes para alguém que não as consumia. Foi então que ela deu de ombros e voltou para seu lugar. — Até que foi fácil.

— A pessoa que eu tirei… — começou depois de buscar a caixa aos pés da árvore. Todos olhavam para ele com atenção, até mesmo Carlos não parecia mais com sono. Pedro tentou não olhar para Teresa e não entregar tudo sem ao menos ter dito alguma coisa. Talvez fosse até melhor que ele estivesse nervoso o bastante olhando para todas as direções, talvez com o discurso naquela maneira ela não levaria para o lado pessoal…No que eu estou pensando?Apenas diga. O que ele tinha para dizer era certamente nada demais, ele só não queria dizer algo que sentaria no topo da pilha de falas desagradáveis que Teresa teve que ouvir naquela noite. Portanto Pedro não diria o que de fato ele desgostava na arqueóloga e de certa forma ele já havia deixado claro naquela noite. Ele não suportava vê-la pedindo desculpas pela pessoa horrível que era sua mãe. O mais importante daquilo tudo era que em nenhum momento era culpa dela, muito pelo contrário o problema era que Teresa ainda não havia percebido isso. — O que mais me irrita na pessoa que eu tirei é como ela está sempre dez passos à frente de todos. 

— Essa seria eu — disse Celestina sem sequer levantar do sofá. Relaxada como estava ela parecia ter não ter intenção de sair da posição deitava em que se encontrava muito menos parecida certa de seu chute.  A maioria dos presentes concordou com ela e fez coro dizendo seu nome, menos Ferdinando que seguiu massageando os pés da noiva. 

— Não é você Celestina — deu uma risada sem graça. — Na verdade o que me irrita não é o fato de que ela tem um raciocínio rápido e é esperta o bastante para responder um problema enquanto eu mal consegui pensar sobre o assunto. O que me irrita é que eu acabo ficando constantemente para trás, então a única coisa que eu te peço é que você siga me esperando.

— Pare de falar olhando para ela — Carlos protestou e foi só então Pedro percebeu que de fato ele havia dito aquelas últimas palavras olhando para Teresa.

— Sou eu? — Teresa se levantou rapidamente numa onda de brilho azul. A pergunta era retórica e ela se moveu rápido para abraçá-lo.

— Isso é injusto — Luís reclamou.

— O que? Você queria que eu a tirasse como todos os anos? — Ferdinando disse casualmente com um ironia que apenas Pedro poderia detectar e talvez Celestina que o olhou pelo canto de olho. 

— Espero que você odeie — ele riu enquanto Teresa saia dos braços dele e começava a rasgar a embalagem. — Eu…

— Você não precisa explicar… Eu odiei — ela começou a gargalhar enquanto exibia para todos o terço de prata que era da mãe de Pedro. — É mais que perfeito. 

— Não tenho certeza se estou entendendo — disse Januária e Zayla concordou logo em seguida, mas Pedro não se importou nem um pouco com a conversa que se deu início no fundo. Teresa estava feliz, tão feliz quanto no dia que ele disse que deixaria aquelas visões de lado. Era como ter um déjà vu porque mais uma vez ela se lançou em braços jogando todo seu corpo por cima dele. Teresa era tão leve que ele podia tirá-la do chão a qualquer instante.

 — É algo nosso, difícil…

—...de explicar — ele e Teresa disseram ao mesmo tempo depois que Pedro a colocou no chão.

— Por favor me poupe de seus detalhes…Eu não estou nem um pouco interessado em saber o que é! — Carlos disse de olhos arregalados enquanto lançava a cabeça para trás em direção as almofadas do sofá. — Vamos continuar. 

Teresa soltou sua mão e ficou próxima a árvore para fazer seu discurso. Disse que a pessoa que ela tinha tirado tinha uma série de defeitos, mas o que ela mais odiava nele era sem sombra de dúvidas o fato de que todos os anos ela sempre o tirava no Inimigo Secreto. Depois de entregar o presente ao irmão mais velho ela voltou para o lado do astrônomo e não soltou a mão dele pelo resto da noite. Ferdinando tirou Carlos, como Pedro ele tinham combinado. Carlos tirou Januária que tirou Celestina fechando o círculo. Depois de algumas conversas que ele sequer registrou direito, todos começaram a se retirar.  

Sua irmã agora mais acordada seguiu com o seu noivo para cozinha, de novo em busca de algo para comer. Celestina, depois de muito reclamar, calçou de novo os saltos e arrastou Ferdinando de volta para o evento. Com isso só havia sobrado o casal e Zayla, uma vez que o namorado dela havia voltado a dormir. Teresa pediu para que Pedro o seguisse então os dois se despediram da modelo e foram para o andar de cima. A vista era linda por conta das paredes de vidro que rodeavam a casa, mesmo com chuva ainda era possível ver as luzes da cidade contornando as copas das árvores que rodeavam a propriedade. 

—  Está chovendo muito —  Teresa comentou casualmente quando eles pararam no meio do corredor.

—  É dezembro, só por um milagre o céu fica limpo no fim de ano.

—  Então…Ferdinando trocou com você quem ele tinha tirado não foi? —  ela começou nervosa depois deu uma risada quando Pedro a olhou assustada. Claro que a arqueóloga descobriu.

—  Ele me pediu para trocar com ele no dia que sorteamos.

—  Ótimo…não aguento mais receber os presentes dele…ele é péssimo com presente. E aposto que ele adorou poder presentear Carlos…aqueles dois —  ela disse divagando, até que ficou mais séria. —  Ainda bem que as coisas mudam…

—  Sim —  concordou respirando fundo e ela fez o mesmo os dois ainda de mãos dadas. —  Era sobre isso que eu gostaria de falar. Sobre o presente, você entendeu não foi? —  Teresa concordou com a cabeça e Pedro tirou o crucifixo que ela exibia ao peito com um troféu desde que havia sido presenteada. —  Foi para dizer de novo que eu quero sim que as coisas mudem, que eu estou feliz que elas não são como antes. E quero que saiba que primeiro eu concordei por você. Agora eu digo sim de novo por mim…Eu não sabia que precisava disso, não sabia o quão estagnado num passado que nem era meu até que você apareceu. E não importa o que vai acontecer a seguir, e eu estou mais do que entusiasmado para o que vem a seguir como nunca estive em minha vida…Eu quero que saiba que serei eternamente grato, nunca vou me esquecer que você, Teresa, você me deu meu futuro.

—  Você não imagina o quão feliz você me faz ao dizer isso porque eu já me decidi. Esperei que essa noite com minha família me desse respostas. Mas no fundo eu já sabia qual seria, só estava com medo de abraçá-la. Também não sei o que vem a seguir, só sei que quero estar com você.

—  Você está dizendo que…

—  Pedro! Eu estava me declarando, não é só você que pode fazer isso…

—  Perdão, continue. Continue

— O que eu estava dizendo… —  ela desviou o olhar pela primeira vez perdida. —  Eu sempre me senti tão sozinha, tão sozinha que foi preciso que eu fizesse da solidão minha companheira para que eu tivesse alguém. Eu amo minha família e meus amigos, mas nunca tive alguém que me entendesse. Até você chegar, eu sei que não estou mais sozinha. Eu quero estar ao seu lado, não importa o que  —  Pedro não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Seria ele o homem mais sortudo do mundo? Para provar que era verdade, Teresa continuou. —  E como eu sei você não vai mover um dedo antes que eu diga: nosso acordo acaba aqui, sem mais fingimento até porque chegamos em um ponto em que só estávamos enganando a nós mesmos.

—  Esse foi sem sombra de dúvidas o namoro de fachada mais fracassado da história. 

—  Definitivamente ele estava destinado a fracasso —  os dois riram.

— É minha culpa, eu fui o tolo que propôs tudo e ainda deixou claro que estava interessado na garota.

— Ainda bem que você encontrou uma tola que não se assustou nem um pouco com a sua intensidade. Muito pelo contrário ela amou cada uma das declarações que estava recebendo, uma pena que ela demorou tempo demais para perceber isso…

—  Eu não mudaria nada no que aconteceu até aqui — disse por fim. Ele esperou que Teresa colocasse um fim na distância que os separava, para provar que aquilo tudo era real. Ele esperou que ela o beijasse na mesma intensidade que olhava para ele.

—  Pedro —  ela chamou. — Por que você não me mostra as estrelas?

—  O que? O céu está nublado…

—  O meu Deus! —  ela riu dele. —  deixa eu reformular para você … —  foi então que Teresa deu um sorriso, um simples sorriso sem dentes tão pecaminoso que qualquer clérigo a teria condenado se estivesse ali presente. Mas como Pedro era o mais sortudo dos homens eles estavam sozinhos e aquele sorriso era destinado apenas a ele.  A arqueóloga soltou uma das mãos deles e abriu a porta do quarto que estava atrás deles. — Eu quero que você me faça ver estrelas.


Notas Finais


Entãoooo...fica a critério do subconsciente de vocês decidir o que aconteceu a seguir, porque essa autora aqui não vai fazer, simplesmente não é capaz.
Eu não disse pra vocês que eu tentaria ser um amorzinho com essa história o máximo que pudessem e por isso jamais seria capaz de terminar esse capítulo de maneira diferente, mesmo que com isso eu tenha finalizado sem ter explorado o fake dating como deveria. Mas enfim gosto do que conduzi até aqui e vem mais por aí. O capítulo XIV já está todo escrito desde o começo do mês, contudo estou pensando e talvez eu transforme esse em XV e escreva algo no meio, de qualquer forma só devo aparecer aqui no final da semana já que não sou incapaz de me manter esse ritmo de escrita frenético.
E antes que eu fuja para as montanhas preciso dizer que esse capítulo tem uma diversas referências a outras séries e filmes (a cena do theme de Jurassic Park literalmente tirada de Hacks) então se você achou alguma coisa parecida provavelmente é porque é. Enfim essa fic é uma amalgama de várias coisas e principalmente muito amor envolvido. Espero que de coração que tenham gostado e não deixem de dizer o que acharam <3


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