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História Segunda Chance - Capítulo XIV


Escrita por: rose_apothecary

Notas do Autor


Voltei, mas antes de irmos ao capítulo (que voltou as suas dimensões normais diga-se de passagem) tenho alguns comentários a fazer:
1° - Eu não tenho nem palavras para descrever o quanto estou emocionada com a recepção que essa história está recebendo. Passamos de 200 comentários, mas isso nem é algo que eu me importe muito e sim a fidelidade que conquistei, não esperava nem ter 3 leitores assíduos e aqui estou com bem mais que isso. Pessoal no twitter comentando, divulgando e fazendo memes, tudo isso me deixa muito feliz. Muito obrigada por todo esse carinho.
2° - Fui abrir uns capítulos passados e percebi que de alguma forma quando copio e colo o texto aqui o Spirit está retirando as passagens em itálico. Mil perdões por não ter percebido isso antes! Alias estou até envergonhada porque tem várias passagens que são pensamentos diretos do Pedro que devem ter ficado incompreensíveis, não só isso como todas as visões deveriam ser em itálico. Enfim, estou voltando um por um e fazendo as alterações necessárias.
3° - Como vocês podem ver a classificação mudou. Primeiro porque embora eu não sou capaz de escrever um hot, tendei escrever algo que fosse o mais explicito que eu conseguiria porque eu queria dar uns mimos para vocês (alias peguem leve comigo eu estou tentando). Outro motivo foi que eu precisei escrever uma palavra imprópria, pelo simples fato de que não encontrei um termo melhor. Ainda sobre linguagem optei por deixar a escrita das palavras o mais português possível e seguirei essa regra até o fim para manter um padrão, por mais feio que fiquem algumas palavras (nesse capítulo temos um exemplo disso).
Espero que curtam o capítulo :)

Capítulo 14 - Capítulo XIV


— Sabe o que eu estava pensando.

—  Diga… — ela pronunciou aquelas duas sílabas vagarosamente.

— Eu estava pensando que eu não consigo encontrar palavras para descrever a noite de ontem...Não seria capaz de fazer isso nem se minha vida dependesse disso.

— Pedro — Teresa disse séria e parou de entrelaçar e soltar as mãos deles, passatempo que ela fazia desde que havia despertado. — São cinco da manhã e cedo demais para seus surtos de intensidade.

— Vai ser assim então? — Pedro fingiu estar ofendido. — Pois fique sabendo Dona Teresa Cristina que já se passaram das nove da manhã.

— Certo, vou reformular… — ela se mexeu ficando por cima dele. — Pelo dia e principalmente pela noite que tivemos — ela deu um beijo rápido em seus lábios, aquele ato era de uma intimidade que poderia ser espantosa, uma vez que não havia nem vinte quatro horas que os dois haviam começado a namorar de fato. Mas não para eles. Por mais que os dois tivessem optado seguir em frente, alguma parte deles lá no fundo se lembrava, seus corpos de alguma maneira pareciam se lembrar que eles se conheciam a muito mais tempo . — por isso é cedo demais para suas declarações intensas.

— Mas o que eu ia dizer é justamente o contrário, porque eu não sou capaz de colocar em palavras, foi indescritível.

— Tem certeza de que o que você acabou de dizer não se enquadrada? — ela desafiou.

— De certa maneira quase tudo que eu te disse nas semanas mais recentes foram, de um jeito ou de outro, declarações à sua maneira.

— Tenho notado.

— Tem notado e nunca disse nada? Você é cruel Teresa — tentou dizer sério em tom de reprovação, mas logo que terminou de falar os dois começaram a rir.

Houveram duas batidas na porta do quarto da única filha de Maria Isabel. Teresa logo cessou o riso e tapou a boca de Pedro com uma de suas mãos para que ele ficasse quieto. Do outro lado era possível ouvir uma mulher bufando impaciente. 

  — Sei que estão acordados — disse Celestina. — Podem ir levantando.

— Deveríamos… — tentando dizer quando se livrou das mãos de Teresa que cobriam sua boca.

— Vamos fingir que estamos dormindo.

— E se ela estiver precisando de ajuda?

— Por isso mesmo, estou exausta. Agora silêncio — sua namorada sussurrou determinada. E para garantir que ele ficasse calado Teresa o beijou. Pedro aproveitou para trocar a posição em que ambos se encontravam na cama, mas primeiro desceu a mão vagarosamente pela cintura dela e a puxou mais para perto. A arqueóloga aprofundou o beijo assim que Pedro ficou por cima dela.

— Dispensei todos os empregados, então o almoço de hoje é por nossa conta. Ou melhor dizendo, de vocês, já que eu já tratei de providenciar o café.

— Estamos indo! — Teresa respondeu contrariada enquanto empurrava seu namorado para o lado. Depois daquele balde de água fria que naquele momento Pedro desejou que não fosse apenas figurativo como literal também, ele afundou na cama levemente aborrecido.  — Você vai tomar uma ducha, certamente está precisando. Vou pegar umas roupas do meu irmão emprestadas para você.

— Alguma chance de você vir junto? — tentou, afinal ele era o homem mais sortudo do mundo, bastava olhar para a visão que ele teve ao acordar e seu corpo entrelaçado no de Teresa.

— Vou pensar no seu caso — respondeu se levantando. 

Pedro a viu vestir uma camisola e se enrolar no robe antes de partir. Depois disso foi direito para o banheiro adjacente ao quarto de Teresa e tratou de deixar a água o mais fria possível. Sua ideia era fazer com que a água gelada o despertasse de vez e revelasse que tudo que havia ocorrido nas últimas horas era apenas um sonho. A água correu por seu corpo, esfriou seus músculos e não alterou mais nada. Então é real. E aquilo só poderia significar uma coisa: que Pedro estava no paraíso.

Teresa acabou não se juntando a ele no banho. Todos já os esperavam no andar debaixo e era melhor não perder tempo e talvez fosse melhor assim já que ele precisou de um banho longo demorado e gelado para não se deixar levar pelas lembranças da noite anterior. Depois, quando foi a vez de Teresa utilizar o banheiro, ele vestiu as roupas que julgou ser do irmão mais velho dela pelo tamanho das peças. Quando ela voltou, Pedro pensou em admirá-la decorar sua rotina após o banho, mas não havia pressa para isso, eles tinham todo o tempo do mundo. Passou então a arrumar a cama para ter algo com o que se ocupar.

— Eu estava pensando…

— Pensei que tinha te deixado sem palavras — ela devolveu olhando sobre o ombro com um sorriso que era praticamente irmão gêmeo daquele que ela havia dado antes de empurrá-lo para o quarto na noite passada.

— Justo — ele deu de ombros derrotado. Depois deles trocaram sorrisos que nem um dos dois sabiam dizer o motivo, Pedro prosseguiu. — Você gostaria de considerar ontem nossa data de aniversário ou há duas semanas quando propôs nosso namoro de fachada?

— Você está realmente falando em aniversário de namoro sem nem ter completado um dia?

— Primeiro dia de muitos — ele pegou a mão esquerda dela e levou aos lábios. Teresa sorria divertida e o objetivo de Pedro havia sido alcançado. Por ele, a arqueóloga sempre estaria assim leve como uma pluma, brilhante como um raio de Sol. — Então estamos combinados, os dias que se passaram após o noivado de Januária e Luís vão ser desconsiderados.

 — Por favor!

— Eu até gosto daqueles dias…

— Não seja por isso podemos voltar a eles…— Teresa provocou.

— De jeito nenhum. O que você tem contra eles?

— Nada — ela envolveu o rosto de Pedro entre suas mãos quando ele fingiu estar ofendido. O astrônomo aproveitou para passar o braço esquerdo pela cintura dela de uma maneira tão natural que parecia que ele fazia isso há anos. — Acho que você não tem ideia de o quanto fez por mim, apenas esperando. Ninguém nunca teve essa consideração comigo antes, ninguém nunca respeitou meu tempo. Mas…

— Sempre tem um mas…

— De jeito nenhum eu irei dizer para os meus irmãos que aceitei uma proposta de um namoro de fachada só para irritar minha mãe.

— Mesmo funcionando? Porque ela fez questão de deixar bem claro que não sirvo para você.

— É bem verdade que Carlos acharia graça disso, até mesmo Luís...Mas não, em hipótese alguma essa história pode chegar aos ouvidos de Celestina. Se ela ficar sabendo disso não terei um dia de paz! 

— Certo, será nosso segredo então.

— É melhor irmos logo…Aliás, acho dia vinte três é a data perfeita.

Com a data decidida os dois deram as mãos e seguiram para a cozinha. Pedro deixou-se guiar pela dona da casa mais uma vez, não fazendo questão de decorar a disposição da residência. Claro que seria útil aprender a se locomover ali dentro uma vez que ele pretendia fazer daquela a primeira visita de muitas, mas o magnetismo natural de Teresa parecia ter se multiplicado por mil. Talvez fosse porque antes havia apenas sua beleza estonteante e sua voz melodiosa nublavam seus sentidos, agora todos eles eram estimulados. Agora ele podia dizer com certeza que conhecia seu cheiro que ia além do perfume floral com toque amadeirado que Teresa tinha um tinha costume de usar; agora ele conhecia seu gosto e a maciez de toda a extensão da pele dela. 

Finalmente eles chegaram à cozinha, a ilha central fora improvisada como uma mesa e era estreita demais para os três casais presentes. O café que Celestina havia preparado era tudo que a noiva de Ferdinando havia conseguido encontrar na geladeira e na despensa, ela ainda se gabou de ter proporcionado um café digno de hotel sem ter precisado ligar o fogão. Todos estavam com roupas leves e soltas e compartilhavam em menor ou maior grau da ressaca da festa. Sua irmã mais velha era a única que estava vestida para ir a piscina, com biquíni e uma saída de praia por cima, os demais não pareciam tão empolgados.

— Teresa pensou que você estava do meu lado! —  Januária disse dramática como sempre. Enquanto ela colocava as mãos ao peito simbolizando que o que quer que Teresa tivesse feito para provar que estava contra a noiva de Luís a havia ferido muito, Pedro foi cumprimentando a todos e puxando a cadeira da namorada. —  Estou começando a achar que há um complô contra mim nesta casa! Não é possível que nenhum de vocês esteja disposto a nadar comigo, o dia está tão lindo lá fora…

— Meu amor, nem todos são como você que já se recuperou da noite de ontem… — o noivo dela se desculpou.

— Eu te acompanho, mas só porque você é minha cunhada favorita — disse Ferdinando e a irmã de Pedro ficou tão contente que ignorou o fato de que ela era obviamente a favorita porque também era a única, isso claro porque os demais pareciam desconsiderar Zayla.

— Carlos e mamãe onde estão? — Teresa perguntou. 

— Mamãe pegou o motorista e foi para a empresa, disse que tinha alguns assuntos a resolver — disse o noivo de Celestina sem remorso algum na voz como se já fosse algo esperado, quando ele voltou a falar, dessa vez sobre seu irmão seus olhos carregavam certa mágoa. — Carlos foi embora como sempre. Parece que tem alergia a momentos em família.

— Não é bem assim… — a arqueóloga defendeu. 

— Pois refresque minha memória então, não consigo me lembrar de uma vez que ele fez questão de ficar conosco nem quando mais precisamos.

— E ele se culpa por isso todos os dias, se culpa por todos nós, não vejo a necessidade alguma em continuarmos fazendo o mesmo. 

— Certo…

— Vamos deixar isso de lado apenas hoje, certo? É melhor assim, estamos todos de pós-ressaca e Carlos provavelmente nos colocaria em outra. Além do mais é Véspera de Natal — disse Celestina num tom conciliador que não lhe parecia estranho. Pedro conseguia ver porque ela era uma boa negociadora, ela boa em contornar problemas e persuadir todos a focarem apenas apenas no lado positivo. — Então o que achamos de Zayla?

— Eu mal conversei com ela — Luís disse contente por trocar de assunto.

— Antes dos convidados chegarem, troquei algumas palavras com ela. É uma garota bastante viajada para a idade dela — foi a vez de Ferdinando falar. — Acabamos descobrindo algo em comum, ambos vivemos por um tempo em Nova Iorque. E é esperta também, soube se portar muito bem quando o advogado da mamãe me procurou e interrompeu nossa conversa.

— Você também falou com ela, não foi Pedro? Vi vocês dois no bar…Me passa a geleia de goiaba  — Januária que estava ao seu lado bateu a ponta da faca sem serra no pulso do irmão. Tanto para que ele tratasse de pegar logo o pote que ela havia pedido quanto para estimulá-lo a falar e dividir com os outros o que ele pensava da namorada de Carlos. Ele não sabia o que teria para acrescentar no que já fora dito, principalmente tendo em vista que o veio a mente do astrônomo naquele momento lhe pareceu muito pessoal. 

— Eu gostei dela — falou e de repente os cinco pares de olhos se voltaram para ele com expectativa esperando que ele contasse mais.  

Embora sua primeira conversa com Zayla não tenha sido ideal, algumas de suas falas pareciam ter ressoado com as inseguranças que Pedro sequer sabia que tinha. Tanto as falas dela quanto a de Carlos e a ausência de Teresa serviram para alimentar os delírios sem sentidos que sufocaram sua mente no começo da noite. Era uma ideia estúpida cogitar que a arqueóloga não tinha um pingo de consideração por ele. Por conta disso, o astrônomo estava agora reavaliando o encontro que teve com a modelo. 

Já era injusto julgar uma pessoa à primeira vista, ou nesse caso, após uma primeira conversa. Ainda mais tendo em vista o quanto Pedro estava sufocado naquele momento. Porém, como todos à mesa esperavam que ele dissesse algo, ele resolveu passar por cima das palavras de Zayla que mais pareciam indiretas. Agora sem toda a pressão do dia anterior ele era capaz de admirar a moça, ela mesmo muito jovem parecia ser capaz de ver por trás de todas aparências, dos luxos daquela família e enxergar quem eles realmente eram. E talvez por ser uma pessoa de fora ela era capaz se compadecer de Carlos e não deixá-lo sozinho em um ambiente que o deixava desconfortável. Por mais inconveniente que o homem fosse, Pedro precisava dar o braço a torcer, ninguém tinha aversão a família sem motivo algum. Por fim, Zayla era extremamente franca e o astrônomo apreciava isso. 

— Ela é bastante honesta...sobre tudo na verdade. Não escondeu o que achou da festa ou das pessoas.

— E por pessoa você quer dizer minha minha adorável mãe, certo? — perguntou o filho do meio de Maria Isabel. 

— Sim…

— Vamos não se acanhe! Diga o que ela disse de Maria Isabel — Celestina pediu curiosa, ao seu lado os olhos do irmão mais velho de Teresa o fitavam com expectativa. Foi então que a irmã de Pedro o cutucou de novo com a faca o estimulando a prosseguir. — Não precisa ter medo, estamos aqui pra fofocar mesmo.

— Ela só disse que ela não era o que esperava.

— E o que ela esperava? Vamos Pedro, você não está dando nenhuma informação interessante para a gente discutir. — depois desse pedido de sua irmã e de Teresa apertar a mão que eles mantinham entrelaçada para estimulá-lo a continuar, o astrônomo se deu por vencido. 

—  Ela disse que pela fama de autoritária da sogra esperava que ela estivesse mais interessada em conhecer a nova namorada do filho.

— Ela tem sua língua afiada Celestina — pontuou Luís.

— Gostei dela — automaticamente Ferinando soltou. — Ela até me parece esperta demais para nosso Carlos. Areia demais para o caminhãozinho dele, arrisco a dizer que eles não têm nada em comum. 

— É aí que você se engana cunhado — Januária deu um sorriso vitorioso como se estivesse esperando esse momento chegar. Ela sacou o celular e depois de alguns cliques furiosos que fizeram barulho por conta das unhas enormes ela apresentou o dispositivo aos demais. — Eles se conheceram num camarote de um jogo de futebol. O que foi? — ela perguntou quando a mesa ficou em silêncio. — Vocês acharam mesmo que eu não ia vasculhar as redes sociais dela depois de descobrir que uma modelo que eu gosto estava namorando o irmão de Luís?

— Viu só, é por isso que temos que sempre ter Januária nas nossas avaliações, nunca se sabe quando vamos precisar das habilidades investigativas dela.

— Você sabe muito bem porque ela não participou da última vez… — Celestina começou a dizer respondendo o cunhado, mas Teresa o interrompeu.

— Como assim última vez? Sempre fomos nós cinco, a menos que ela tenha sido… — Teresa começou e virou para o namorado que disse ao mesmo tempo.

— …Sobre nós — depois disso ele e Teresa cruzaram os braços esperando explicações.

— Podem parar com isso de completar frases um do outro. É claro que fizemos uma mesa redonda para discutir sobre o mais novo integrante da família, é tradição — Celestina explicou. — Ou por acaso você pensou que sairia impune dessa avaliação só porque nunca apresentava alguém, ein Teresa?

— Teresa não participar, eu entendo ela não tem direito a uma opinião nesse caso é o combnado, mas por que eu fiquei de fora? Estou realmente sentida com vocês três! —  reclamou Januária, quando Teresa não seguiu em frente com o seu protesto.

— Você é irmã dele, jamais seria imparcial.

— Isso é verdade… — sua irmã deu o braço a torcer e deixou de lado a postura ofendida.

— Certo voltando a Zayla… — Celestinha seguiu conduzindo a conversa. — Todos de acordo que gostamos dela, certo? Muito bem, vamos torcer que esse relacionamento seja mais duradouro que os últimos dele…

— Se ela for esperta do jeito que aparenta, ela pula fora o quanto antes…

— Querido, você não está ajudando, estou tentando encerrar o assunto — a noiva de Ferdinando disse entre dentes. —  O que vamos fazer hoje?

— Nós deveríamos aproveitar o clima e nadar — insistiu Januária mais uma vez. — Vamos lá gente não custa nada me acompanhar como Ferdinando vai fazer — ela fez uma pausa na expectativa de que seu pedido seria atendido, mas pelas feições desanimadas dos demais ela se deu por vencida. — Vocês são uns estraga prazeres.

— Poderíamos jogar algum jogo de tabuleiro, tenho certeza que ainda devemos ter Monopoly em algum canto desta casa…

— Monopoly é pra crianças! Vamos jogar truco.

— Você só diz isso porque é sempre o primeiro a falir, Luís — disse o irmão mais velho de Teresa que seguiu defendendo porque todos deveriam optar pelo jogo de tabuleiro como atividade recreativa.

— Ferdinando leva jogos muito a sério — a namorada comentou no ouvido de Pedro. — Ele é extremamente competitivo — ela então virou o rosto para os demais. — Por que não um filme?

— Gosto da ideia, mas tem que ser um filme de Natal! — exigiu Januária.

— Tudo bem, mas não pensem que vocês dois vão se livrar do nosso almoço.

— Desde quando virou minha obrigação e a de Pedro cozinhar pra vocês todos? — quis saber Teresa mais uma vez, implicando com a amiga. Para falar a verdade Pedro não via problema nenhum naquilo já que teria sua namorada só para ele na cozinha.

— Abusar dos seus dotes na cozinha é mais do que natural, já que você é a única que tem eles nessa família.

— Ótimo, estamos todos conversados, enquanto vocês dois fazem o almoço eu vou nadar um pouquinho — Januária voltou a se animar. — Mas antes, vou precisar de todos vocês para colocar cinco sacos de ração de cachorro na caminhonete de Luís…Não podemos dizer que Carlos não é criativo na hora de dar presentes, mas essa brincadeira de me dar comida de cachorro para o meu gato poderia sido mais comedida, um só saco de vinte e cinco quilos teria passado a mensagem…muito embora eu não seria capaz de levantar nem um que seja sozinha.

Após todos ajudarem a levar os pacotes para o carro, cada um seguiu seu rumo. Luís foi levar os sacos de ração para sua clínica com a promessa de que voltaria logo, Januária finalmente conseguiu o que queria e praticamente arrastou o cunhado para que eles fossem aproveitar a piscina, Celestina estava com atenção totalmente voltada para a tela de seu celular enquanto atendia um segundo que Pedro supôs que fosse seu telefone de trabalho. Pelo visto não será só Maria Isabel que tem assuntos da empresa pra resolver. O astrônomo torceu que fosse algo de simples resolução para que a noiva de Ferdinando não precisasse abandoná-los. Por fim, ele seguiu Teresa para cozinha para que eles começassem a preparar o almoço.

Na realidade, para que Teresa pudesse começar, Pedro pretendia ajudá-la assim como tinha feito em Petrópolis e por ser uma visita ele deixou que a arqueóloga conduzisse tudo primeiro. Ela buscou ingredientes da geladeira: uma lata de popa de tomate, queijo ralado, manjericão, rúcula e alguns peixes pequenos que ele não fazia ideia de qual espécie era. Depois ela se dirigiu ao congelador e pegou uma série de pacotes congelados e estendeu na direção do namorado.

— São seus — ela disse sem mais explicações. — Tem vinho e água tônica na geladeira, você só precisa juntar tudo...espera você sabe…

— Teresa, eu sei fazer uma sangria. Você precisa de ajuda?

— Não, vou fazer algo simples. Estamos todos cheios da festa de ontem e o calor está insuportável — Ela seguiu andando pela cozinha pegando utensílios para a receita dela quanto para a bebida que ela havia encarregado Pedro de fazer. — E já que você não entende de molhos mediterrâneos pensei que você poderia usar seus cortes grosseiros em outro lugar.

— Continue fazendo graça dos meus cortes grosseiros o quanto quiser, ao menos eles estão sendo úteis. Faca? — ele se dirigiu a gaveta que Teresa apontou com uma colher de pau. — Então vocês sempre passam o Natal assim?

— Atualmente, sim. Nós costumávamos fazer troca de presente na Véspera e uma ceia também. Mas fomos crescendo e cada um acabou indo para o seu canto, suspeito que mamãe realiza essa confraternização tão próxima do Natal porque não consegue mais nos manter em casa dia vinte quatro.

— Isso soa meio triste… — disse sem pensar. Porém a verdade era que quando ele pensava na família de Teresa sentia uma enorme tristeza, por ela principalmente, mas não só por isso a situação em si causava esse tipo de comoção. Lares quebrados sempre o deixavam melancólico. 

— Triste seria passar o Natal rodeada de pessoas miseráveis se esforçando ao máximo para esconder o desconforto em estar ali — sua expressão facial era suave do jeito que queria dizer que mais uma vez ela estava surpresa com a consideração dele. Se você soubesse o quanto eu me preocupo.  — Você é um doce...Eu estou acostumada, já passei a Véspera de Natal de todos os jeitos possíveis, sozinha, com amigos...Esse ano devo acompanhar Celestina e Ferdinando. 

— Esses todos os jeitos possíveis incluem passar a Véspera de Natal com a família do namorado? — ele perguntou, mas na verdade estava sugerindo uma vez que Pedro já sabia a resposta. A arqueóloga considerou por alguns instantes que para ele pareciam longos demais. — Minha mãe vai adorar recebê-la e ninguém lá se importa com presentes...bom talvez Marie se importe mas posso dizer que o livro que comprei na verdade é nosso — falou tudo de uma vez com uma velocidade que até ele mesmo se assustou. E se ele estava surpreso era muito provável que Teresa estivesse bem mais. Sua intensidade ainda vai fazer ela fugir… — É só uma sugestão...entendo se você não quiser e sempre tem o Ano Novo não é mesmo?

— Obrigada pela oferta, eu…Eu vou pensar — o sorriso no rosto dela dizia que muito provavelmente ele teria uma resposta positiva. Teresa parecia animada com a ideia — Aliás, vou pensar nas duas ofertas.

— Já cortei todos os cubos de abacaxi e… — ele limpou as mãos no papel toalha e se aproximou de Teresa por de trás. — estava pensando…

— Eu já sei o que você está pensando e muito embora eu goste da ideia nada de distorções enquanto eu cozinho — Pedro acatou o pedido dela não antes de depositar um beijo em seu pescoço. Ele estava aprendendo novos jeitos de explorar a diferença de altura gritante que existia entre eles. 

— O que você está preparando?

— Estou adaptando duas receitas, vou pegar o pão de forma, colocar molho e queijo por cima e levar ao forno. Com sorte vai ter o gosto de uma pizza siciliana mesmo sem a massa.

— Posso te fazer uma pergunta? — depois de um longo silêncio em que ele acompanhou Teresa finalizar o molho e começar a distribuir os pedaços de pão pela forma. 

— Claro.

— Você não precisa me responder, ainda por conta do assunto… — na realidade, no fundo Pedro achava que não tinha o direito de saber, mas agora que ele estava entrando de fato para família talvez fosse o momento certo. Ele jamais invadiria o espaço da arqueóloga, mas não dava mais para ficar ouvindo aquelas trocas de farpas, indiretas sem entender o que de fato estava acontecendo. A figura geral ele já era capaz de enxergar: Maria Isabel fazia de tudo para controlar a vida dos filhos. Mas isso não explicava tudo, principalmente o relacionamento dos irmãos. — O que aconteceu entre Ferdinando e Carlos? É impossível notar uma certa inimizade entre os dois…

— Você não precisa ter vergonha em me perguntar essas coisas…eu provavelmente deveria ter pincelado o quadro geral da família antes de apresentar…A verdade é que eu nem sei por onde começar, falar em voz alta deixa tudo mais fantasioso parece até que eu não estou falando da minha família mesmo e sim de algo ficcional de tão exagerado que é.

— As vezes só vivendo mesmo para dizer que é real — falou Pedro, eles mesmos eram a prova real daquilo, quem não acharia graça se os dois disseram em voz alta que já foram casados na vida passada?

— Por onde eu começo…Eles sempre foram assim. São praticamente gêmeos mal têm mais de um ano de diferença e disputam a atenção de todos desde o berço. Ferdianando era claramente o favorito de papai e Carlos parecia ser o favorito de mamãe. No começo parecia ser coisa de criança e como os dois eram exemplares na escola, um sempre querendo superar o outro, não parecia ter problema algum — até então realmente não parecia ter nada demais, Pedro mesmo tinha uma irmã extremamente competitiva e perfeccionista em casa que por muito tempo e por contra própria competiu com a irmã mais velha. Mas com o tempo Francsica percebeu o quanto aquilo era sem sentido. — Tudo piorou na adolescência, porque enquanto Ferdinando tinha a predileção de papai ele também sempre poderia contar com nossa mãe que nunca foi de nos deixar fora do radar dela...Nós quatro sempre dançavamos conforme a música que ela tocava e nem sempre percebíamos isso...Onde eu estava mesmo? Certo Ferdinando no final das contas tinha a atenção dos dois enquanto Carlos por mais que tentasse,e ele tentou muito de todas as maneiras que você pode pensar, jamais conseguiu a atenção de papai.  Não do jeito que Ferdinando recebia. O máximo que Carlos conseguiu foi acumular brigas com todos, pudera ele vivia alterado. Enfim chegou uma hora que felizmente Carlos simplesmente desistiu e se afastou e não voltou a nos procurar nem quando descobrimos que papai estava doente. 

Só voltamos a vê-lo após o velório, já que ele foi incapaz de visitar papai em seu leito de morte.

— Nossa…

— Fodido não? Se ao menos fosse só isso… — ela fez uma pausa perdida em suas próprias memórias. — Carlos nunca se perdoou por isso, os meninos também não…

— E você…

— Se um dia eu o culpei foi há muito tempo. Se as coisas chegaram ao ponto que estão hoje a culpa não é dele, nem de nenhum de nós quatro. Eramos crianças no meio do fogo cruzado, isso...claro que saímos com feridas . Poderia ter sido qualquer um de nós naquela situação. O tanto que mamãe tem de difícil meu pai tinha de recluso, só conseguimos ter uma relação boa de verdade com ele no fim e também porque éramos velhos o suficiente pra entender o que se passava naquele casamento — foi então que ela percebeu que havia parado de depositar o molho nos pedaços de pão. — Não consigo entender como Luís e Ferdinando são incapazes de perceber isso também…Enfim, chega de falar sobre isso! Aprecio sua preocupação, mas como eu já disse uma vez não tem muito o que pode ser feito.

— Teresa meu interesse aqui é em você e não porque penso que posso fazer algo para ajudar. Claro se você precisar de algo qualquer coisa eu estarei aqui, mas eu quero entender o que acontece entre vocês por isso é uma parte sua… — ele sabia que Teresa preferia se calar e continuar seguindo em frente como se nada estivesse acontecido. Mas a verdade é que ela não precisava guardar aquilo tudo dentro de seu peito.  — Quando você sentir que precisa desabafar ou não sei simplesmente gritar de frustração, eu vou estar aqui te ouvindo.

—  Obrigada —  ela entrelaçou os dedos de sua mão na dele. —  Você também pode me procurar, serei toda ouvidos. Não só sobre assunto de família, pra qualquer coisa. Até mesmo se forem visões…Nada nelas vai me perturbar do que ver você sufocado por elas.

— Então nada de esconder um do outro quando esses tipos de aborrecimentos acontecerem. Combinado? — o astrônomo estava realmente tocado que Teresa estava disposta a não só se abrir para ele como também havia pedido que ele fizesse o mesmo. Pedro  então aproveitou para repetir o gesto que havia feito no início da manhã beijando a palma da mão dela quando a arqueóloga balançou a cabeça positivamente selando o acordo.

Pedro esperava ter Teresa só para ele quando ela enfim colocou a forma no forno, porém seus cinquenta minutos foram rudemente interrompidos no logo início quando Luís retornou trazendo consigo um projetor que era de sua clínica. Ele animadamente expôs a ideia de fazer um cinema ao ar livre durante a tarde, aparentemente sua irmã Januária havia feito muita propaganda das noites que os irmãos passavam ao ar livre em Petrópolis assistindo filmes com a mãe deles. Embora a ideia fosse realmente boa, o astrônomo mal prestou atenção no discurso que lhe roubou mais de vinte minutos sozinho com a arqueóloga.

Seguiu levemente contrariado quando mais tarde os demais habitantes da residência foram chegando um por um à cozinha. Celestina foi a primeira a aparecer, felizmente o que quer que ela tinha que resolver era simples e não tomou muito o seu tempo. Depois vieram Ferdinando e Januária atraídos pelo cheiro do almoço. Logo que a primeira fornada saiu todos se posicionaram apertados ao redor da ilha. A refeição seguiu bastante animada com os irmãos contando histórias antigas de outras datas comemorativas. Pedro e a irmã aproveitaram para compartilhar o quanto eram caóticos os Natais na casa do pai deles. 

— Estava delicioso como sempre — elogiou o irmão do meio de Teresa. Estava de fato maravilhoso, a combinação da sangria com a pizza era exatamente o que um dia de verão pedia.

—  Eu sabia que era uma boa ideia deixar o almoço como responsabilidade dela… —  falou Celestina.

—  Nada disso, os méritos são todos meus —  Teresa devolveu.

— Falando em responsabilidades, como fica o filme? —  Ferdinando trocou de assunto.

— Eu consegui um projetor, podemos fazer ao ar livre.

—  Você e Januária podem ficar responsáveis por organizar o espaço. —  sugeriu Pedro logo depois de Luís. Um plano começou a se formar em sua mente. —  Celestina e Ferdinando ficam com a cozinha? Tudo bem?

—  Não me importo em lavar a louça, certo, Tina? —  Celestina olhou de soslaio para as unhas muito bem cuidadas antes de responder o noivo.

— Eu fico com a pipoca, já que a única coisa que estou disposta a preparar hoje!

—  Certo, eu e Teresa ficamos responsáveis pelo filme.

Pedro tratou de sair da cozinha com Teresa o quanto antes, para que os demais não mudassem de ideia. Contudo todos pareceram ter achado a divisão de tarefas extremamente justa. Quando finalmente chegaram ao final do corredor a arqueóloga que estava bastante calada até então finalmente falou.

—  Pedro, o que você está tramando? 

—  Nada demais, apenas consegui uns momentos a sós com minha namorada — disse casualmente enquanto a encurralava contra a parede do corredor. Eles estariam mentindo se não tivesse pensado em fazer algo do tipo desde o primeiro beijo dos dois em que ambos se encontravam em posições opostas.

— Que eu saiba nós temos que encontrar um filme de Natal, que seja capaz de prender a atenção de seis pessoas — ela devolveu, mas não fez nenhuma menção a sair da posição em que ela se encontrava. —Meu irmão mais velho é muito exigente com filmes…

— Já tenho isso resolvido também. Conheço um filme de irá entreter a todos — ele disse próximo aos lábios mas ao invés de se perder neles de uma vez ele preferiu dirigir sua atenção ao pescoço dela. — Ele atende aos seus requisitos — seguiu fazendo um trilha de beijos por toda extensão do pescoço dela, enquanto isso os dedos de Teresa foram em direção ao cabelo dele.  — é de Natal e também é de suspense…

— Pedro, você vai nos fazer ver um filme de terror em pleno Natal? — ela interrompeu Pedro envolvendo suas mãos na face dele e fazendo que ele olhasse nos olhos dela. 

— Não é terror, não tem nada com que se assustar, só vai te deixar apreensivo…

— Certo. Gostou do seu plano — ela o interrompeu. — Agora onde nós estávamos…


Notas Finais


Como eu já disse antes o XV está 60% pronto então muito em breve estarei voltando aqui. O foco principal da trama está se alterando como vocês podem perceber e logo logo vamos embarcar de vez na família da Teresa e descobrir como isso vai se encaixar no plot principal de vidas passadas.
Espero que tenham curtido não deixem de me seguir lá no twitter, muito embora eu não comente tanto da fic assim por lá (morro de vergonha) eu estou disposta me abrir mais. Meu user é @moiras_rose
E não esqueçam de dar uma olhada na playlist em construção dessa fic: https://open.spotify.com/playlist/0zeIzbnnWLptbvS1uuEAWY?si=89a50a0f069c4d8b
Feliz Ano Novo e até mais!!


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