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História Segunda Temporada: A Belieber - Capítulo 7: Me Tornando a Somália


Escrita por: MariFeeernandez

Notas do Autor


Esta Fanfiction é de autoria de Mariana Monteiro Fernandes.
Todos os personagens são de uso livre, mas as personalidades, acontecimentos e escritas são de MINHA autoria. Plágio é crime!
Crime de Violação aos Direitos Autorais no Art. 184 – Código Penal, que diz: Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.
Esta é uma obra de ficção e faz apologia ao uso de álcool, drogas. Apologia ao sexo e violência.
Se você não está familiarizado com o conteúdo e não se sentir confortável, busque algo que combine com o seu perfil.

Capítulo 9 - Capítulo 7: Me Tornando a Somália


Fanfic / Fanfiction Segunda Temporada: A Belieber - Capítulo 7: Me Tornando a Somália

África — Somália — 15/04/2018  05:37 AM

 

 

Fotografo o dia raiando, as pessoas começando a trabalhar e aquele havia se tornado um grande hobbie em minhas horas livres, além do piano que fazia com que eu me sentisse próxima a Justin, então tocava todas as noites antes de dormir.

Todas as vezes que Miguel ia a cidade resolver coisas na ONG ele levava minhas baterias e as recarregava para que eu pudesse usar minha câmera, já que aqui não existia energia elétrica.
Eu havia começado um grupo de estudos e apoio com mulheres, jovens e crianças, eu as ensinava coisas diferentes por suas idades, mas as fazia entender que sem o conhecimento elas não poderiam ser nada e que se elas os obtivessem, elas saberiam sair de situações que nenhuma outra pessoa saberia.
Então eu e Chloe as ensinávamos tudo que elas precisavam saber sobre a vida.

Eu praticamente já falava árabe e somali, já sabia fazer todas as coisas simples de medicina, como suturar, aplicar uma vacina, lhes pôr soro e amava alimentar os bebês.
Havia um garotinho, Addae, a mãe dele tinha aulas conosco, ele era como o dia raiando, ele trazia esperança de dias melhores, ele nos fazia rir, nos fazia ama-lo sem dificuldade alguma e vivíamos juntos andando pelo acampamento, enquanto a mãe dele ajudava as outras mulheres no que precisavam. Kebbi é uma mulher forte, determinada e mesmo com todas as merdas que nos cercam, feliz.

— Já fotografando? — Theo me assusta e eu viro tirando algumas fotos dele.

— Como estão as coisas? — Pergunto parando de tirar fotos e o olhando nos olhos.

— Mal, não conseguimos encontrar água mais, não importa o quão fundo cavemos, a comida vai acabar em no máximo quatro dias se fizermos uma contensão rigorosa, mas eles já mal comem trezentas calorias por dia e as mortes só estão aumentando — conta e eu suspiro.

Tiro meu colar no pescoço e ponho em sua palma a apertando no meio das minhas mãos.

— Compre o que conseguir de suprimentos com isto, eles precisam mais de comida do que eu de uma aliança que não carrega minha história e sim eu — peço e ele sorri.

— Veja que a riquinha egoísta está começando a se tornar a Somália — reviro meus olhos.

— Você não pode simplesmente agradecer? — Peço e ele nega se retirando.

Theo e eu temos uma relação absolutamente maluca. Brigamos vinte e quatro horas por dia, mas quando precisamos desabafar, contar problemas, procuramos um ao outro.
Ele me irrita ao ponto de que eu parta para cima dele algumas vezes, mas sempre tem alguém no meio do fogo cruzado que impeça que eu lhe dê algumas bofetadas.

— Leve minhas baterias para carregar — peço e ele assente sem me olhar.

— Talvez você salve a África com suas fotos — ironiza e eu bufo.

— Porque você não vai para a puta que pariu? — Pergunto e ele gargalha ainda andando.

— Ela se esconde muito bem em uma cobertura na fria Londres — fala e eu reviro meus olhos.

Odeio ingleses — admito e rimos.

— Bem-vinda ao meu mundo — riu mais voltando a fazer minhas fotos.

Por estar sempre com eles e os ajudando em todas as cabanas os árabes e os somalis não se importavam que eu os fotografassem.
Eu tinha fotos desde os seus rituais, até de quando alguns pais iam enterrar seus filhos, fotos deles sorrindo, fotos deles sofrendo, eu agora entendia o mundo deles, eu entendia o que eles passavam todos os dias e cuidava deles o máximo que podia.

— Hooyo Katie — Addae grita vindo em minha direção e Kebbi ri indo fazer suas coisas.

— Hey, meu garotinho — pego o pequeno no colo beijando sua bochecha.

— Você está tirando fotos? — Pergunta com dificuldade no inglês e eu assinto.

— Deixa que eu tire uma foto sua — falo o pondo no chão que sorri com o nascer do sol e o acampamento de fundo.

Tiro algumas sequencias de fotos com ele simplesmente desistindo de tirar fotos e brincando com a areia vermelha do deserto me dando fotos lindas.

Depois destes dezesseis dias eu consegui aprender absolutamente tudo que precisava sobre o local, sobre como trabalhar, sobre as coisas que podia e não podia fazer ou falar. Criei laços com pessoas especiais e ganhei uma família absolutamente pura, que não poderia me julgar pelos meus erros do passado, exatamente por não os conhecer.
Todos os dias que eu tinha um pouquinho mais que certeza que não estava grávida e que todos aqueles sintomas eram apenas estresse pelo medo de perder Justin que me atingiam, eu ficava um pouco mais triste, porque mesmo em meio ao caos, eu gostaria de carregar e ter para sempre uma parte dele comigo, mesmo que houvesse mais um motivo para que ele nunca mais me perdoasse, esconder um filho dele é mais um ato de egoísmo, mas antes eu não sabia não ser egoísta e ainda culpar os outros pelo meu egoísmo.
Eu acreditava que escondendo tudo de Justin, estava o protegendo, mas na verdade eu estava além de cavar minha própria cova, traindo sua confiança em mim.
Se eu tivesse contado tudo, talvez ele tivesse podido me perdoar, mas isso é passado.

Eu não sei quanto tempo vou ficar na Somália, até por não sabermos até quando estas pessoas vão sobreviver aqui, estamos lutando por todos eles incansavelmente, mas não há mais de onde tirar suprimentos e até a água que vem da terra não está nos ajudando.

Meus tios as vezes me contam notícias sobre minha família. Meu pai havia tido um pequeno princípio de infarto, Annie estava indo mal na escola, Madison estava começando a tratar do seu casamento, minha mãe havia encontrado uma designer de joias a altura para me substituir, meus avós estavam viajando pelo mundo, René estava ganhando no tênis, Pierre estava esperando pelo segundo filho com Line, Charlie estava crescendo sem precedentes, o bebê de Selena estava se desenvolvendo bem em sua barriga, a vida fluía bem sem mim, sem a minha intromissão e eles pareciam não se lembrar da minha existência. Eu nunca recebia nenhuma notícia de Justin, mesmo que minha tia soubesse, ela se mantinha calada e eu não perguntava para não sofrer, preferia esquecer que ele havia passado pela minha vida, mesmo que fosse impossível eu me tornava mais forte todos os dias. Doar minhas alianças para minha nova família foi uma forma de me desapegar dele de forma positiva também, ajudando outras pessoas.

Chloe acena na minha direção me chamando, provavelmente para o café da manhã e eu assinto fazendo mais algumas fotos antes de finalmente descer com Addae.

— Do que nós vamos brincar hoje? — Faz uma carinha de sapeca e eu riu.

— Do que você quer brincar? — O observo e ele dá de ombros mesmo eles sendo pequenos e ossudos.

— Sei que você vai inventar alguma brincadeira para ensinarmos as crianças, certo?! — Concorda.

— Hã — chamo antes dele correr ainda mais para longe de mim.

— Nenhuma brincadeira perigosa, nenhuma brincadeira que nos leve para longe do acampamento ou que perturbe outras pessoas e que eu vá até minha mãe agora — assinto orgulhosa sorrindo o vendo sumir.

Caminho até a cabana dos “funcionários” e abraço meus tios assim que entro os fazendo sorrir me enchendo de beijos.

— Fico tão feliz que esteja aqui, filha — beija minha testa e eu sorriu.

— Pedi para que Madison tire um tempo para conhecer aqui, vai ser importante para a carreira profissional dela e temos algumas mulheres que precisam de obstetra — minha tia segura meu rosto e eu engulo seco.

— Você está magoada ainda — constata e eu assinto atraindo a atenção de Theo.

— Nós precisamos de uma obstetra, acho melhor passar por cima desta futilidade — Theo fala e eu o encaro com raiva.

Simplesmente saio da cabana para não fazer mais uma das cenas indo para um dos meus lugares favoritos ali.
Me sento na rocha observando todo o deserto, as montanhas e toda aquela areia escaldante me trazendo paz.
Estou no meio do nada, não tenho nada, mas ainda assim consegui fazer com que o meu coração completamente destruído se regenerasse um pouquinho, consegui sentir alegria de novo e dar risadas verdadeiras, mas Theo consegue me tirar completamente do sério em alguns momentos, me fazendo ter vontade de mata-lo. Seus comentários desnecessários e a mania de me julgar como uma patricinha fútil, eu nunca fui assim, nem nunca serei, talvez um pouco egoísta, mas nunca fui fútil, mesmo tendo mais que algumas pessoas.

— Você realmente ficou chateada? — Pergunta e eu me assusto.

— Quero que me deixe em paz — falo ainda sem olha-lo e ele ri levemente.

— Katherine, eu não posso me desculpar por algo que eu pense ao seu respeito — diz simplesmente e eu me levanto.

Você mal me conhece ou a minha história e me julga como se soubesse pelas coisas que eu já passei, você não sabe qual é a dor de ter milhões de câmeras apontadas para você te julgando e esperando um passo seu em falso, você não sabe a dor de adoecer por isso, de ter inseguranças com o seu corpo e se tornar bulimica e anoréxica por conta disso, você não sabe a dor de perder uma filha, você não sabe a dor de perder uma família ainda viva e muito menos a dor de perder o grande amor da sua vida pelos seus próprios erros, então se me dá licença, eu peço que me julgue longe de mim, porque eu já tenho os meus problemas para cuidar e minhas dores para curar — grito com ele aos quatro ventos que nem se move.

— Você quer suas alianças de volta? — Pergunta com deboche.

— Elas não tem utilidade alguma para mim, eu só quero que você faça a merda do seu trabalho, o mais longe possível de mim, quero que pegue estas duas coisas que importavam muito para mim e salve estas pessoas, sua opinião pouco me importa — passo por ele esbarrando meu ombro.

Eu ainda penso que você é uma mulher mimada e fútil — constata e eu paraliso.

— Theodore, sua opinião para mim é a mesma coisa que bosta, fede, polui e o quanto mais longe, mais aliviada eu fico — sigo meu caminho ouvindo sua risada.

Ele precisa ser cruel, precisa se auto afirmar em cima da dor dos outros, então para ele quanto pior as pessoas ao redor estiverem, melhor.

Caminho cumprimentando algumas pessoas do acampamento e sigo para o hospital improvisado encontrando Chloe lá ajudando com os doentes.

— Ele consegue te irritar, não é mesmo?! — Reviro meus olhos e ela ri.

— Eu o odeio tanto — falo pegando um leite com alto teor de nutrientes molhando a boca das crianças que estavam praticamente desenganadas.

Algumas respondiam, outras apenas seguiam vivas, mas absolutamente imóveis. Todos ali lutavam todos os dias por suas vidas, lutavam para respirar, para se mover, apenas por mais um dia, a vida era muito preciosa para eles, mesmo em meio a miséria, a tristeza e a destruição eles queriam viver, a vida era o mais importante para eles.
Eu não conseguia entender como eles conseguiam viver com tanta fome e sem água no começo, mas hoje faz sentido... Eles querem viver, não importa como, mas eles preferem a vida!

— Você sabe que amor e ódio andam juntos, certo?! — Chloe debocha e eu riu sem humor algum. 

— Só se for da parte dele, porque ele me causa nojo — conto e ela ri.

— Era para doer? — Theo entra no local com toda sua ironia e checa alguns pacientes.

— Não dirija a palavra a mim! — Mando e Chloe engasga de rir.

— Oh garotinha mimada, não se preocupe, eu não faço questão nenhuma de falar com você e não se preocupe, sua priminha tem coisas mais importantes e fúteis a fazer do que se importar com negros e árabes à beira da morte — debocha e eu o olho chocada.

— Madison não vem ajudar estas pessoas? — Theo me observa e nega incerto.

— Como assim? — Pergunto indignada saindo da barraca e indo atrás da minha tia.

Ela subia no carro em direção a cidade e eu a gritei impedindo.

— O que houve? — Pergunta quando eu chego ofegante.

— Madison não vem ajudar estas mulheres? — Pergunto ainda ofegante.

— Ela disse que pode fazer uma doação, mas que esta vida não é para ela, foi algo que eu e Victor escolhemos. Que vai se manter o mais longe possível das pessoas que tiraram os seus pais dela — fala e vejo as lagrimas em seus olhos.

Abraço minha tia aperto e a ouço fungar.
Em todos os meus anos de vida eu nunca havia visto tia Marcy chorar, mesmo aqui quando as coisas complicam, ou quando algo brutal acontece, minha tia já viu coisas demais pelo mundo para se abalar com qualquer coisa, ela é uma mulher forte, uma mulher marcada pela vida e pelo seu trabalho.

— Eu sempre quis ser uma boa mãe, Katherine, mas Madison estava sendo bem cuidada, ela sempre teve a você e estas pessoas nunca tiveram nada, elas sempre precisaram mais de mim do que ela, mas ela é egoísta ao ponto de não enxergar isso e se negar a ajudar mulheres que precisam dar à luz — segura meu rosto me olhando nos olhos.

— Tia, você sempre foi uma mãe incrível, ela sempre te admirou muito, não se deixe abalar pelo momento de crueldade dela, provavelmente vai passar e ela vai se arrepender — acaricio seu rosto e ela nega.

— Ela sempre foi esta pessoa, Katie, não percebe pelo que ela fez com você? — Pergunta e eu dou de ombros —, aquela casa sempre foi sua, foi paga com o seu suor e ela não lhe permitiu entrar em um lugar onde é seu, ela não lhe amparou quando você precisou e você fez isso por ela a vida toda. Você sabe melhor que ninguém o porque Madison se tornou pediatra e obstetra, ela se sente culpada por ter tirado aquele bebê. Você nunca a abandonou, mas ela fez isso com você e talvez a culpa disso tudo seja minha — funga e eu riu.

— Titia, não seja absurda, nós criamos os filhos da melhor forma que podemos e eles se tornam no que acham que devem, se Madison se tornou um ser humano egoísta, a culpa não é sua, ela quis ser assim — acaricio seu rosto.

— Ela escolheu fazer o aborto por ter apenas quinze anos de idade, ela nunca se arrependeu do que fez, Tia, Madison é assim, nós temos que amar as pessoas como elas são. Madison sempre foi uma pessoa pró vida, não pró nascimento. Ela entendia que não seria uma boa mãe naquele momento, então abortou, isso não é culpa de ninguém, foram as escolhas dela e não são todas as pessoas que se adaptam a um lugar como este — tento ajudar e ela assente.

— Mesmo com tudo que existe de ruim aqui, eu consigo enxergar a beleza, consigo enxergar o esforço que todos fazem diariamente para sobreviverem, eu luto por eles tanto quanto eles, mas alguns desistiriam no primeiro segundo, você vê amor e otimismo aqui, seu coração é lindo, não se sinta mal por o ter — ela sorri e eu seco suas lágrimas.

— Eu tenho orgulho da mulher que você é, querida — sorriu tímida.

— Ela pode ser melhor ainda — rimos.

— Eu não vejo como, você é incrível, filha — meu tio nos abraça e eu sorriu.

— Obrigada, Tio — ele beija a minha testa.

Depois de nos desvencilharmos do nosso momento família e de ter acalmado um pouco mais a minha tia eles puderam seguir viagem.

— Estamos indo a cidade vender suas alianças para comprar suprimentos, você tem certeza de que quer se livrar das alianças que Justin te deu, nós podemos dar um jeito — minha tia segurou meu rosto e meu tio assentiu.

Eles precisam de medicamentos e alimentos mais do que eu preciso de diamantes, minha história com Justin está aqui — aponto para minha cabeça — e aqui — tiro do bolso da minha calça uma foto nossa que já está amassada.

Justin e eu estávamos sorrindo muito com nossos cachorros no colo em nosso quintal.

 

FLASHBACK ON:

 

Justin e eu acabamos nosso café e estávamos apenas curtindo o lado de fora, vendo os cachorros correrem pelo gramado e Jatie se divertir na piscina.
Nossos empregados fazendo suas tarefas domesticas e o fluxo da casa seguindo de forma natural.

— Você tem algo em sua agenda hoje? — Justin pergunta ainda de olhos fechados e aproveitando o sol.

— Na verdade eu preciso ir me arrumar já — falo me levantando e lhe dando alguns beijos.

Quando estou seguindo o caminho para dentro o sinto me jogando nos ombros.

— O que você está pensando em fazer, amor? — Pergunto e ele ri como um garotinho sapeca.

— Amor, não, por favor — riu e ele me acompanha.

— Você ainda vai sair? — Pergunta perto da piscina e eu riu ainda mais de nervoso.

— Eu preciso, por favor — falo e ele ameaça de jogar fazendo com que eu me agarre a ele.

— Justin! — Grito agudo e ele gargalha.

— Você vai sair? — Pergunta e eu riu.

— Podemos negociar... — Tento, mas é tarde demais, ele nos joga na piscina.

Chego a superfície tirando a água do meu rosto e ele ri sacana.

 — Você, ah você, seu garotinho levado — falo e ele gargalha.

Jatie vem nadando em nossa direção e Justin o pega no colo beijando seu focinho molhado me tirando um sorriso.
Os abraço enchendo de beijos e vejo Esther e Chanel com ciúmes do lado de fora da piscina me tirando risos.

— Eles estão com ciúmes — aviso e Justin assente pondo Jatie para fora da piscina, saindo e me ajudando a sair.

Justin pega seu celular, lhe entrega a Eron e nos unimos para uma foto molhada de família, seguro os dois secos e ele Jatie que é mais pesado.
Eron entrega o celular e eu vejo o quão perfeita ficou a foto, mas ela só espelha o quão feliz nossa família é.

 

FLASHBACK OFF.

 

 

— É uma bela foto, amor — tio Victor beija a minha testa.

Éramos uma bela família — falo com pesar.

— Eu tenho certeza que um amor como o de vocês não vai acabar assim, ele vai cair em si e vocês vão ter uma grande e feliz família — riu triste.

— Mudando de assunto — imploro antes que chore — você poderia enviar este cartão postal para mim, é para Annie, pague o que for necessário para que seja algo entregue em mãos — peço e ela concorda.

O cartão postal era uma foto linda do deserto que eu havia tirado, não inclui minhas coordenadas por segurança, eu realmente não quero que saibam onde eu estou, não quero que saibam como me encontrar, apenas quero viver minha vida o mais longe possível da interferência de pessoas que eu magoei tanto e me feriram ainda mais.

— Com certeza, não se preocupe — trocamos um sorriso.

Trocamos um sorriso e eles subiram no carro partindo para a civilização.

— Precisamos nos preparar, os que dizem proteger os negros vão tentar roubar a carga que a sua tia vai trazer — Miguel avisa e eu o encaro.

— Eu não vou permitir mesmo — falo irritada e ele ri.

— Não temos muita escolha, pelo menos quatro sacas de cada carro — completa e eu nego.

— Eles não conhecem a ira de Katherine Chermont — informo saindo.

 

 

Trabalhei tanto durante o dia que não tive tempo para pensar em nenhum problema pessoal, não tive tempo de lembrar da minha família ou de Justin Bieber.
O acampamento recebeu algumas vítimas do recente atentado, as que mais me feriam eram as mulheres brutalmente estupradas ou espancadas. Elas simplesmente estavam andando na rua e de repente eram pegas por homens.
Nós não tínhamos os coquetéis necessários contra as doenças sexualmente transmissíveis ou para HIV, nós não tínhamos uma ginecologista, mas Theo dava o seu melhor para que elas recebessem a melhor atenção possível.

— O meu filho! — uma delas gritou em somali e eu me assustei parando o que estava fazendo.

— Chloe — chamo e ela assente.

Algumas crianças haviam vindo junto com eles, mas não sabíamos se poderia ser o filho dela.

— Se acalme, nós estamos procurando por ele aqui no acampamento, tudo bem?! — A tranquilizo em sua língua e a mesma assente.

— Quantos anos ele tem? — Pergunto e mesmo em meio a dor ela dá um leve sorriso me fazendo entender o amor de uma mãe, o senti tão pouco.

— Cinco — assinto.

— Você tem sede? — Concorda e eu busco um pouco de água lhe dando.

— Você tem um marido ou família? — Pergunto e ela assente.

— Nós vamos precisar tentar localiza-lo, certo?! — Ela nega.

— Por favor, não, ele vai achar que a culpa foi minha — começa a chorar por trás dos ferimentos.

— Como você se chama? — Pergunto.

— Yanna — assinto.

— Eu sou a Katherine, Yanna. A culpa nunca foi e jamais será sua, não se preocupe que eu pessoalmente tranquilizarei seu marido — concorda me passando o telefone para contato.

Algumas crianças entram no hospital improvisado e assim que vê a mãe o menino corre para seus braços a deixando mais tranquila.

Saio da tenda indo até a administração e Miguel tenta resolver milhões de coisas ao mesmo tempo. Pego um dos rádios ali presentes e passo a situação para a ONG que se prontifica a entrar em contato com o marido o pedindo que venha até aqui com meus tios que ainda estão na cidade.

— As coisas mudam em segundos aqui — Alicia se senta de forma cansada bebendo uma xicara de café.

— Eu demorei a me acostumar com isso, sempre tive uma vida agitada, mas nada comparado a isso — conto e eles riem.

— A agitação das baladas e premiações que o namoradinho rico dela a levava — Theo fala e eu reviro meus olhos.

— Oh querido, não sinta ciúmes, mesmo o pau dele sendo maior que o seu eu prefiro a vida que levo aqui, com você — pisco para ele com toda a ironia presente em meu corpo.

Ouço as gargalhadas de Alicia e Miguel saindo esbarrando no ombro de Theo. Saio da administração e caminho até a sala onde tem o piano me sentando ali.
Tudo que podíamos fazer pelas pessoas que chegaram, fizemos, agora precisamos que meus tios cheguem com os medicamentos.
O acampamento não comporta a quantidade de pessoas presentes aqui e temos medo que eles briguem, principalmente pela falta de comida, isso os deixa desesperados.

Perco a noção do tempo de tanto que toco, sinto minhas mãos doerem, mas a saudade está cada vez mais forte e eu preciso me lembrar de quem é ele todos os dias.
Tenho a sensação que um dia eu vou acordar e não vou lembrar do rosto dele. Não vou lembrar da sua voz, das suas mãos em mim ou de como ele me fazia rir até perder o fôlego. E eu não posso me esquecer, não dele!

Naturalmente os acordes de Nothing Like Us saem do piano e é como se um buraco se abrisse no meu peito.

Lately I've been thinking

Thinking about what we had

And I know it was hard, it was all that we knew, yeah

Have you been drinking

To take all the pain away?

I wish that I could give you what you desserve — canto e é como se ele estivesse ali comigo, na sala da nossa casa me ensinando a tocar essa música no piano.

Ultimamente tenho pensado

Pensado sobre o que tivemos

E sei que foi difícil, e isso era tudo que sabíamos, sim

Você tem bebido

Para aliviar toda essa dor?

Queria poder te dar o que você merece

 

Cause nothing can ever

Ever replace you

Nothing can make me feel like you do, yeah

You know there's no one

I can relate to

I know we won't find a love that's so true — me proíbo de derramar qualquer lágrima, eu preciso estar forte, sempre.

 

Porque nada nunca

Poderá lhe substituir

Nada pode me fazer sentir como você faz, sim

Você sabe que não há ninguém

Com quem posso me conectar

Sei que não encontraremos um amor tão verdadeiro

 

There's nothing like us

There's nothing like you and me

Together through the storm

There's nothing like us

There's nothing like you and me

Tog — quanto estava terminando a estrofe Theo entrou me atrapalhando e irritando.

 

Não há nada como nós

Não há nada como você e eu

Juntos, enfrentando a tempestade

Não há nada como nós

Não há nada como você e eu

Juntos

— O que é droga? — Pergunto bufando.

— Bela música e bela voz, mas os caras estão tentando pegar a carga.

Levanto-me rapidamente fechando a tampa do piano e saindo da sala atrás de Theo.
Havia um carro com Miguel na direção, subimos sem nem abrir a porta e ele partiu antes mesmo de estarmos acomodados.
Subimos a areia em uma velocidade surpreendente e antes mesmo do carro parar eu já desci partindo para cima do cara que estava próximo demais a minha tia.

— O que você pensa que está fazendo? — O empurro gritando em somali.

Ele tinha quase três vezes a minha altura e no mesmo instante todas as armas foram engatilhadas e apontadas em minha direção.

— Esta comida e vacinas é para o seu povo, como você tem coragem de os roubar? — Grito mais alto e ele me olha parecendo ter raiva.

— Eu protejo o meu povo, mas eu preciso comer — fala vindo na minha direção e eu riu sem humor.

— Porcos — Sarahah fala cuspido para o lado.

— Você não vai levar nada — cruzo meus braços o fazendo rir junto de todos os seus homens.

— Estas sacas foram compradas para quem realmente precisa e você não precisa, vá roubar de quem não faz nada pelos mais fracos — os somalis presentes aplaudem me abonando.

— Você não sabe com quem está se metendo, eu mando aqui e posso matar todos vocês — ameaça pondo a arma na minha testa.

— E quem vai cuidar do seu povo? — Pergunto empurrando a arma da minha testa.

— Abaixem as armas e sumam daqui — ordeno e os homens começam a abaixar.

— Levantem estas armas — ordena e eu riu.

— Você não faz ideia de com quem está lidando, Warda — informo e ele ri.

— Muito menos você — apontas as armas.

— Tirem oito sacas de cada caminhão — ordena e eu grito.

— Ninguém encosta nos caminhões. Essa comida é para o seu povo que está morrendo de fome e doenças, se você os protege, não pode tirar comida deles — informo.

— Minha palavra é uma só — avisa.

— Os caminhões são meus — cruzo os braços.

— Eu vou ter que te dar uma lição? — Pergunta e eu riu.

Eu estou te dando uma lição de amor pelo seu povo e cidadania — informo e ele parte para cima de mim me dando um soco no nariz.

O caos se instala, os somalis brigam com os “defensores”, Theo e Miguel tentam proteger os caminhões junto com meu tio e minha tia tenta tirar Warda de cima de mim.
Mesmo que eu estivesse apanhando, eu havia tido aulas de boxe, eu lhe dava alguns golpes, o filho da puta não sairia impune das minhas mãos.

Em um movimento rápido minha tia está recebendo um mata leão dele, com seu fuzil apontado para a sua cabeça me deixando em pânico.

— Nós teremos oito sacas de cada caminhão ou ela morre! — Warda decreta me fazendo olhar para meu tio em pânico.

 

Continua...

 


Notas Finais


EITA CARALHO!

Socos, armas, vida ou morte!
Como isso vai terminar?

Encham de comentários, eu AMO ler, não tenho tido tempo de responder, mas amo saber que estão comigo e apreciando a história.
Tivemos 29 comentários no capítulo anterior, VINTE E NOVE, fiquei feliz demais.

Se comentarem muuuuuuuuuuuuito amanhã posto mais um <3

Amo vocês <3

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