História Sem Rumo - Capitulo 5

*Era tudo muito confuso, como se eu fosse duas pessoas ao mesmo tempo. Senti o vento batendo em meu rosto com força e as gotas de chuva me ensopando o cabelo, meu vestido preto de renda estava colado ao meu corpo, eu olhava para alguma coisa abaixo de mim, algo que realmente me irritava, como se eu detestasse tudo e todos que estivessem ali.

De outro ângulo consegui ver meu suposto eu, estava de costas para meu mais novo ponto de vista, fiquei observando com atenção enquanto a mulher morria aos poucos.

Meus olhos focalizaram uma figura quase transparente ao lado. Não me atrevi a olhá-lo, apenas me mexi desconfortável enquanto ele cruzava os braços sem saber mais o que fazer. Virei meu rosto para o ser quase transparente. Sua expressão de sofrimento e reprovação me dava uma vontade enorme de rir, como se a dor dele não passasse de apenas mais uma comédia para mim.

Senti que seus lábios desejavam imensamente pronunciar algo, qualquer coisa que viesse a me convencer de que o que queria fazer era loucura.

Eu sorri para o chão, para as pessoas, para a morte eminente que clamava pelo corpo que eu usava, suas vozes gritavam, riam, choravam e agonizavam desesperadas queriam aquele pedaço de carne mortal e insignificante que eu usava.

- Vai mesmo fazer isso? – ele me perguntou solenemente.

Meu primeiro ponto de vista sorriu de algum modo eu sabia que sempre esteve ao meu lado tentando me ajudar mesmo que eu pessoalmente não concordasse com a maneira. Ali estava ela, morrendo segundo após segundo, me abandonando na terra, sozinho e não parecia mesmo abalada com isso. Ela virou de costas para a queda, movimento perigoso para alguém que parecia a ponto de se desmanchar em um milhão de pedacinhos.

- Não faça isso! – não pude deixar de implorar. – pelo menos me leve com você! – ela fez uma careta.

- Ainda está ancorado a esse mundo! – meus olhos se fecharam, pude sentir o momento em que minha alma e meu corpo começavam a se separar. - a pessoa que vai te livrar deste maldito fardo ainda está para nascer! Tenha paciência pobre pecador, será recompensado!

O ar abandonou meus pulmões, meu corpo ficou mole e frio em um súbito e de repente eu estava em queda livre. Podia sentir meu corpo abraçando a terra e minha alma sendo arrastada para os céus. Enquanto observava podia ver o corpo transparente correndo ao meu encontro e podia sentir o riso se formando em meus lábios.*

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Acordei alarmada e sem ar nos pulmões, suor escorria por minha testa e eu quase podia sentir dor pelo impacto de meu corpo com o chão. Pousei a mão no peito tentando controlar minha respiração e lembrar a mim mesma que não passara de um sonho ruim.

- Bolinhos... – Theo resmungou virando para a parede.

Levantei meus olhos para a cama. Os lençóis estavam emaranhados nos pés da cama, Theo  estava com as pernas abertas como uma tesoura, os cabelos todos bagunçados e a blusa do Red Hot Chili Peppers embolada e amaçada. Coloquei-me de pé, arrumei a blusa, peguei os lençóis e o cobri até os ombros. Ele resmungou mais alguma coisa inteligível, abraçou o travesseiro e, com um sorriso no rosto e muita baba na fronha entrou em mais um sonho profundo com bolinhos.

Eu sorri para ele. Sentei-me mais uma vez em meu colchão e abracei minhas pernas. O sonho tinha sido tão real, tão diferente de todos os que eu já havia tido. Suspirei puxando o cobertor até o queixo, fechei meus olhos por alguns segundos. Assim que a agitação passou eu comecei a sentir o sono me pegar em seus braços. Tombei de lado sentindo a cabeça pesada e os sentidos se desligando e dessa vez, não tive sonhos ruins.

Continua...