Senti seus lábios tocarem os meus por alguns breves segundos, até ele dar um pequeno sorriso e voltar a me dar pequenos selinhos tímidos.
Nos afastamos um do outro no mesmo instante que ouvimos um "bip" vindo do microondas, anunciando que a luz havia voltado.
Senti meu coração disparado e minhas bochechas quentes. Antes a luz não tivesse voltado... Jungkook também não pareceu saber bem o que fazer.
Olhei para o relógio e percebi que realmente estava ficando tarde.
- Eu tenho que ir. - falei rapidamente.
- Eu.. fiz algo errado? - ele perguntou baixou, e aparentemente triste.
- Não, não fez.. é que eu tenho hora.
Virei o rosto e levantei de súbito do sofá, torcendo para que ele fizesse o mesmo e me levasse embora, mas não. Senti ele pegar minha mão e aperta-la um pouco.
- Você não estava com pressa até agora.. fala a verdade, eu fiz algo errado?
- Não, eu já disse que não - respondi sem o olhar nos olhos.
- Então, por que você parece tão..
- Eu não estou "tão" nada..
- Olha pra mim... - ele puxou meu queixo, fazendo com que nos encarassemos - Tá arrependida? Se eu..
- Não estou, mas..
- Então gostou?
- Jungkook... - respirei fundo, sentindo-me encurralada e com medo - por favor, só me leva de volta...
Me afastei bem rápido e andei até a porta. Sem escolha, Kook pegou a chave e fez o mesmo. Andamos até o carro e do momento em que ele deu a partida até o momento em que chegamos à universidade não dissemos nada. Mas eu não iria embora com aquele clima pesado.
- Olha, eu sinto muito se fui grossa ou..
- Você não foi. Isso tudo é confuso, entendo que não esteja segura de muita coisa. - ele dizia isso como quem estava querendo ser compreensivo, mas em sua voz havia um tom de irritação e tristeza - Está tudo bem.
- Está mesmo?
- Tá..
Aquela conversa não iria ir muito longe. Abri a porta do carro e me despedi.
Cruzei o campus apertando o peito, me sentindo sufocar. Cheguei ao quarto, e vendo que as meninas ainda não estavam ali, minha reação foi fechar a porta e encostar nela...
Se eu estava arrependida daquele beijo? Nem um pouco. Foi como uma breve viagem até o paraíso, como eu estaria arrependida? Mas apesar de tudo, sentia estar brincando com os sentimentos dele, e de certo modo, com os meus. Fora isso, Jimin ainda estava no meu coração e na minha cabeça. Um momento com um não apagava o outro. Tudo aquilo estava mexendo comigo. O sorriso deles me fazia ir a loucura, quando eles estavam perto, meu coração disparava, e quando mostravam qualquer traço de sentimento por mim, era como se mil fogos de artifício feitos de alegria estourassem dentro de mim.
Coloquei uma roupa mole e me joguei na cama. Apaguei a luz, agarrei meu travesseiro e fechei os olhos, tentando dormir. Quando as meninas chegaram, fingi que já estava no meu décimo quarto sono. Não estava a fim de conversar.
....
Quinta-feira. Aquele parecia ainda ser o primeiro dia da semana de provas, quando não estamos nem um pouco animados, nem felizes. Não estava no clima de levantar, encarar pessoas ou qualquer coisa do tipo.
- Mi-Cha! - chamei.
- Que foi?
- Pode me fazer um favor?
- Fala aí.
- Passa na secretaria e diz que estou doente ou qualquer coisa do tipo, por favor! Eu não estou com clima para levantar..
- Vai cabular aula?
- A menos que os professores venham dar aula aqui, eu não vou levantar... Por favor..
- Mas o que você tem?
Eu só conseguia pensar " Porra! Para de falar e diz se vai me ajudar ou não! ".
- Apenas um mal estar - falei - então..
- Ok..
Me encolhi entre as cobertas e fechei os olhos. Não demorou para que todos os meus sentidos ficassem imperceptíveis.
Acordei novamente com alguém batendo a porta. Me sentei a cama e olhei meu celular. Eram 8h30.
Me coloquei de pé e arrumei meu cabelo.
- Quem é?
- Senhorita Milla? É a senhora Mi-Hi.
Putz.. a diretora.
- Espere um minuto, por favor... - falei.
Joguei um pouco de água no rosto e abri a porta, abrindo um sorriso pequeno e inchado.
- Posso entrar?
- Claro.
- Uma de suas colegas me informou que não está passando bem.
- Sim, desculpe não comparecer a aula, é que eu.. mal conseguia me levantar da cama.
- Imaginei. Mas na próxima vez tente se dirigir a enfermaria, certo? Só pode faltar a aula com uma justificativa e a diretoria está sempre lotada de trabalho para poder dar conta de cada aluno que se sente indisposto.
- Ah.. claro.. eu sinto muito..
- Desculpe-me a grosseria, não é minha intenção reprimi-la ou qualquer coisa do gênero. - ela tocou sua mão em minha testa - não parece febril.
- É apenas uma indisposição...
- Tente ir até a enfermaria e fale com a doutora. Se ela te liberar pode passar o restante do dia em repouso.
-Ah, claro.. vou apenas colocar uma roupa mais apresentável e já vou..
- Sim, faça isso... Então, vou me retirar, e espero que se sinta melhor.
- Muito obrigada..
Assim que ela saiu, fui ao banheiro e tomei um banho rápido para que pudesse dispertar completamente. Como estava frio, vesti uma calça jeans preta, uma blusa de manga azul e um moletom largo cinza. Prendi os meus cabelos, vesti um tênis e me dirigi até a enfermaria como um zumbi.
Bati a porta e vi uma mulher de óculos redondos caindo do rosto e cabelos negros jogados para trás, analisando alguns papéis.
- Está ocupada?
- Apenas revisando uns relatórios.. Pode entrar.
Ela se levantou, mostrando-se ser três vezes mais alta que eu.
- Pode se sentar.
Ela examinou minhas pupilas, ouvidos e até mesmo minha língua.
- O que sente?
- É um mal estar no corpo... Me sinto mole, sem disposição nenhuma para levantar.. é uma dor de cabeça.
Esse último item não era verdade, mas se eu dissesse que "me sentia mole", ela diria que era apenas uma preguiça e me mandaria para a aula. E na realidade, eu sabia bem o que era aquilo. Era como uma tristeza causada por um coração machucado.
- Mais alguma coisa?
- Não...
- Desde quando está se sentindo assim.
- Desde ontem, nas últimas aulas.
- E piorou muito?
- Sim, ontem eu até aguentava, mas hoje não me sinto nem um pouco disposta.
- Bem vinda a faculdade de medicina - ela sorriu - Está se alimentando direito?
- Acho que sim..
- Como com muita frequência.
Sim.
- Não - menti - eu tenho andado ocupada e..
- Tente ficar um pouco mais em sua saúde, confere? Como alguma coisa e passe o dia em repouso. Se amanhã ainda estiver se sentindo assim pode passar aqui de novo. Vou lhe dar uma dispensa.
Peguei os papéis e fui até a cantina. Como não era hora de café da manhã ainda, tive que me virar com um pouco de suco e uns pedaços de bolo que sobraram.
Voltei para o quarto e me joguei na cama, sem ânimo, sem nada.
Liguei para meus país e falei com eles e Kwan por quase uma hora, torcendo para que o final de semana viesse o mais rápido possível. Depois fiz o mesmo com Sun Hee e Hope, que estavam loucas para que nos encontrássemos o mais rápido possível. E eu? Estava animada e desanimada ao mesmo tempo com essa idéia.
O dia passou e eu fiquei inerte na cama.
....
Sexta feira foi um dia comum. Comum demais. Meu celular não tocou, não recebi mensagens e aquilo foi motivo de sobra para que eu quase tivesse várias crises de choro.
Sábado de manhã, praticamente todos no campus estavam indo visitar seus pais. A rua estava quase parada com tantos carros.
- Olha que está aí! - Sook dizia abrindo a porta do carro - Sua mãe está morrendo de saudades e eu também!
- Que bom que não sou a única! - lhe dei um abraço.
- Como foi essa semana?
- Tumultuada, mas que semana não é, certo?
Fomos para casa e assim que eu entrei, quase me joguei no meio da terra e do jardim.
- Que saudade que eu tava disso!
Meu irmão e minha mãe vieram correndo assim que me viram. Com o abraço que me deram eu jurava que iria sufocar.
Levei minha bolsa até meu quarto, que permanecia praticamente intacto e voei para a cozinha para experimentar um doce qualquer que eu tinha certeza que minha mãe tinha feito, como nós finas de semana interior.
Assistimos um filme e de tarde as meninas passaram em casa, e pela segunda vez no dia, eu quase fui esmagada.
Passamos a tarde conversando sobre tudo, mas ao que dizia respeito a garotos, eu fazia questão de mudar totalmente a rota do assunto, nem que tivéssemos que falar sobre batatas.
Quando a noite chegou eu estava tão cansada, e tão aliviada em poder deitar na minha cama de novo. Nunca havia parecido algo tão confortável.
Meu celular tocou.
- Alô?
- Eai, Milla!
- Yoongi? Oi, Eai?
- Tudo bem?
- Tudo sim, e com você?
- Tudo.
- É quase 00h, não deveria estar dormindo?
- Estou sem sono.
- Você? Sem sono? Te abduziram, foi?
- Eu também não estou entendendo, já me revirei e virei na cama mas não consigo dormir.
- Então você pensou, melhor coisa para dormir são coisas chatas, e quem mais chata que a Milla?
- Foi bem isso mesmo.
- Ah, não! Yoongi você não tinha nada que ter concordado.
- Então por que me disse isso?
- E eu vou lá saber? Acha mesmo que eu me entendo?
- Deveria.
- Mas não sei de nada - bufei - Você e os meninos vão fazer algo amanhã?
- Não, já ensaiamos de mais essa semana! Por quê?
- Eu preciso respirar um pouco. Na última vez que tentei esclarecer a mente não deu muito certo...
- Eu topo. Tô entediado.
- Eu, você e?..
- Nem me pergunte, eu sei que você vai chamar a Sun Hee e a Hope.
- Parabéns! Já me conhece um pouquinho.
- Vocês são unha, carne e cutícula. É assim que fala?
- Sim... E quem seria você?
- Eu vou lá saber?
- Deveria.
- Mas não sei de nada.
- Ousado! Está me imitando!
- Ousado! Está me imitando! - ele disse com vozinha de criança. - Estou mesmo, e na maior cara de pau.
- Que bom que reconhece.. - bufei - Yoongi, mudando de assunto..
- Lá vem! Que merda você fez?
- Nossa, você é tão doce, sabia? Mas então, como o Jungkook está?
- Bem, por quê?
- Nada, é que da última vez que eu o vi, ele estava um pouco estranho...
- No ensaio ele estava meio avoado, diz que não conseguia dormir.
- Sério? Isso já é de tempos...
- Acho que sim. Ele diz que tem alguns pesadelos...
- Espero que isso não o prejudique..
- Eu também.
- Então, amanhã as... 10h?
- Combinado. Tchau!
- Tchau!
Deslizei o celular por entre os dedos, pensando se deveria ligar para o Kook. Talvez ele já estivesse dormindo, ou talvez ele ainda estivesse magoado.
Mas eu só ia saber se ligasse..
Depois de alguns toques, ele finalmente atendeu.
- Alô? - sua respiração estava um pouco ofegante e sua voz baixa
- Jungkook? O que foi?
- Milla? Eu que pergunto, tudo bem? - ouvi elê suspirar.
- Aconteceu alguma coisa? Você não parece bem.
- Acabei de acordar.
- Teve um pesadelo?
- É..
- Você já está reclamando que não dorme a um tempo..
- Eu vou ficar bem, não se preocupe..
- Já pensou em falar com alguém sobre isso ou..
- Tá me sugerindo um psicólogo? Eu tô bem, não preciso que fiquem em cima de mim como se eu fosse um..
- Calma! Calma.. eu entendi. Desculpa
- Por que você ligou?
- Eu achei que...
- Para com isso de querer resolver tudo por telefone. Se você quer saber se eu estou bem, se quer fazer o que quer que seja, vem aqui e me diz olho no olho.
- Não é tão fácil...
- Eu percebi...
- Eu tentei falar com você no carro..
- E eu disse que estava tudo bem.
- Mas não parece.
- Eu só preciso dormir, e preciso que você fale comigo como duas pessoas normais fariam. Mesmo, eu não gosto dessa coisa de..
- Já entendi... Desculpe.. tá magoado comigo?
- Eu.. nem sei o que eu estou! Sei que você está dividida, mas eu também estou e.. eu queria a menos que a gente conseguisse ficar em um mesmo ambiente sem que algo de estranho acontecesse.
- A gente tava indo bem mas..
- Mas eu te beijei. E não me arrependo. Faria aquilo mil vezes se precisasse..
- Eu nunca disse que estava arrependida, eu só... Tô confusa, e assustada. Sinto muito...
- Acredite, eu sinto mais..
E desligou.
Deus, isso não estava sendo nada fácil.
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