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História Sentimentos não são á prova de balas - Profissão


Escrita por: MADP13

Notas do Autor


Esse é o primeiro capítulo que eu realmente dedico a vocês, pois sei que estão lendo e gostando, então espero que gostem <3 obrigada pelo apoio :)

Capítulo 4 - Profissão


A esquina de casa nada mais era que uma rua bem movimentada. Era a entrada para o Centro de Seoul, então carros e motos vinham e iam a todo momento. Algumas crianças brincavam na calçada com uma bola de borracha vermelha e fina. Parecia tão frágil, como se um toque fosse capaz de estoura-la, assim como bolhas de sabão transparentes que levitam pelo ar sem rumo ou preocupações. Eles chutavam e lançavam aquela bola sem ligar para o céu cinza que estava anunciando uma provável tempestade. Na verdade, não estavam ligando para nada no momento. Nem sequer pareciam perceber minha presença ali.  

 Uma delas chutou a bola com força e ela rolou para o fim da esquina, para a avenida. Sem perceber o perigo, todos correram atrás dela, e eu fui atrás. Naquela hora nossos rostos estavam indecifráveis. Eu não sabia dizer se estávamos sorrindo, tristes, zangados ou eufóricos. Mas corriamos. Corriamos como se não houvesse amanhã. A chuva começou a pingar, calma e gelada, uma gota de cada vez. Os intervalos de tempo em que as gotas caíam eram tão longos que aquilo não merecia ser chamado de mais nada além de garoa. Quando chegamos na avenida, eu parei na calçada, mas as crianças correram para o meio da pista. Tentei gritar mas não parecia sair som algum. Feixes de luz percorriam por todo lado. Um deles, o mais brilhante ia em direção a bola. Espera, era um caminhão. Ia bater na bola, na bola e em uma das crianças. O que eu devia fazer? Eu não soube. Congelei!?

 - Socorro! - gritei. 

   Minhas mãos estavam suadas, assim como minha cabeça. Minha barriga estava gelada e minha respiração agitada. Olhei em volta. Eu estava na cama, enrolada ao meu edredom. Foi apenas um pesadelo, e que pesadelo.. 

 - Minha filha! Está tudo bem? - Minha mãe perguntou assim que apareceu no quarto do nada. 

 - Sim, foi apenas um pesadelo. Que horas são? 

 - São 7h da manhã.

- Por que está de pé a essa hora da manhã? 

 - Insônia. - ela bocejou. - Os meninos ainda estão dormindo. Vou preparar café para a gente.  

 Ela sorriu e saiu.

Apenas o vidro da janela estava fechado, o que tornava possível ver o céu cheio de nuvens cinzas e carregadas entre o azul vivido. Parecia estar frio.   

Joguei uma água no rosto e me encarei no espelho por dois segundos. Primeiramente foquei no fundo dos meus olhos através do reflexo. As pupilas estava dilatadas. Eles estavam tão atentos e ao mesmo tempo tão desligados, como se estivessem preparados para a guerra que vinha mas não soubesse como usar as armas que tinham a disposição.   

Meu coração ainda estava tão acelerado por causa daquele pesadelo.   

Desviei o foco dos meus olhos e lavei o rosto de novo. Quando a toalha passou pela minha testa, o meio doeu como se recebesse uma martelada. Não estava inchado, roxo ou anormal, mas o meio especificamente estava doendo muito. Eu conhecia essa sensação, era o que acontecia alguns dias antes de uma espinha brotar do nada como um vulcão canhão no meu rosto.   

Coloquei uma legue, uma blusa de moletom preta e desci para a cozinha. Minha mãe estava coando o café com toda a calma do mundo.

 - Terra chamando Mariana. - Falei. 

 - Estou morta de sono, mas não consigo dormir. 

 - Eu se fosse você aproveitava, depois volta a trabalhar e a cama vai ser raridade para você. - Minha mãe estava de férias por um tempo do trabalho dela como contadora e voltaria a trabalhar na próxima semana. 

 - E por falar nisso, amanhã o Suk vai trabalhar, então, que tal sairmos hoje para aproveitar? 

 - Por mim, tranquilo.   

Me joguei na frente da televisão e coloquei no primeiro canal que vi. 

Os meninos não demoraram muito para acordar e assim que tomamos o café da manhã, discutimos e decidimos sair para fazer algo diferente, não sabíamos bem o que, mas sabíamos que não queríamos passar o dia em casa. Terminamos de ver o programa que estava passando e depois cada um foi se arrumar. 

Era tão bom tomar um banho quente. Parecia que a água levava toda a tensão e os problemas para o ralo junto com a sujeira. 

Estava definitivamente frio lá fora e havia piorado de manhã para cá. Não iria chover, pois apesar de tudo, o céu ainda estava azul, o que não combinava com o clima gelado e o pouco de neblina que havia no ar. 

Vesti uma calça jeans preta, uma blusa de manga branca, meu converse high Preto e fui arrumar meu cabelo. Mesmo depois do banho e de uma noite de sono, eu ainda parecia um zumbi atropelado. 

Recebi um mensagem no celular. Era a Sun Hee.  


Sun Hee : Vou ver algumas faculdades nesse final de semana, mas vou sozinha. A última coisa que preciso é dos meus pais se preocupando mais do que eu com isso. 

Eu : Boa sorte, eu nem sei o que vou fazer esse final de semana.. alguma ideia? 

Sun Hee : Na dúvida, coma. Comida sempre. Comida é vida. 

Eu : Vou tentar me lembrar disso kkkkk


Pentiei meus cabelos de lado e os deixei soltos. Eu raramente me maquiava, mas passei um batom rosa para dar uma cor a minha pele. Eu era tão branca, quase transparente que se eu passasse algo como o blush, parecia que eu havia levado duas chineladas na cara. Minha mãe dizia que se eu crescesse no Rio de Janeiro eu seria bem torrada, pois o sol lá era muito quente. 

Coloquei minha touca preta, minha blusa de frio cinza, minha carteira e meu celular e desci. Todos estavam me esperando no carro. Saímos de casa as 9h30. 

- Onde vamos? - Kwan perguntou. 

- Aonde o carro nos levar. - Minha mãe respondeu. 


Andamos por cerca de 30 minutos pelas ruas de Seul e paramos em uma lojinha. Haviam vária coisas bonitas e interessantes e cada um comprou uma coisa. Mamãe comprou uns brincos com o desenho de flores de cerejeiras e um despertador azul para colocar ao lado de sua cama. Suk comprou uma agenda nova para organizar-se e uma xicara azul com palavras em inglês. Ninguém sabia o que estava escrito, mas ela era linda, e Suk amava chá, então ela não seria apenas um enfeite. Kwan comprou alguns bonequinhos em miniatura coloridos, mas eu não fazia ideia de quem eram, talvez algum personagem de algum mangá que ele gostava, não sei. Eu, por fim, comprei duas bandanas, uma vermelha com detalhes em branco e outra,violeta. Eu adorava acessórios para cabelo, como tiaras, bandanas e presilhas. Tinha uma coleção delas em casa. 

Passeamos por praças, lojas e quadras sem rumo, até decidirmos ir ao Seoul Grand Park, um zoológico perto de onde estávamos. Os animais eram lindos, mas doia ve-los longe de seu habitat natural. Ao mesmo tempo que estava feliz por ter a chance de chegar perto deles, me odiava por gostar de algo que consistia em animais presos vivendo uma vida que não era deles. Não era. 

Kwan delirava com as cabras e as onças. Nossa Omma tirava fotos de tudo e sorria feito uma criança. 

Passava um pouco das 15h quando decidimos voltar para casa. O céu havia escurecido um pouco. 

Quando estávamos perto de casa, o trânsito parou. Motoristas nervosos buzinavam, o sinal abria e fechava, mas ninguém se movia. 

- Pelo amor de Deus, por que esse povo não se meche?! - reclamei. 

- Deve ser um engarrafamento. - Minha mãe deduziu. 

Abaixei o vidro da janela e olhei para frente. Depois de esticar um pouco o pescoço, vi algumas ambulâncias mais à frente. 

- Será que aconteceu alguma coisa? - Kwan perguntava. 

- Possivelmente. - Respondi. 


Sai do carro e passei para o outro lado da calçada. Minha mãe gritava para que eu voltasse ao carro mas a cada passo que eu dava o som da cirenes aumentava, e mais nada me importava. 

Não consegui chegar muito perto. Haviam duas ambulâncias, em uma delas, uma mulher grávida estava repousando enquanto usava uma máscara de oxigênio. Ela estava com os braços roxos e arranhados. Na outra ambulância, pelo que pude ver, haviam alguns médicos cuidando de um paciente gravemente ferido. Aquilo não era tudo. O que causou tudo foi um acidente causado por dois carros, um deles estava com a mulher e o marido e o outro com uma mulher. Ambos colidiram um com o outro e no impacto, a mulher que estava sozinha ficou presa no carro. Ela parecia tão desesperada e o tom da sua voz, o pouco de voz que saía quando ela tentava falar, parecia aflita. 

- Vou ter que pedir que se afaste. - disse um homem vestido de branco que apareceu do nada. 

- Vão ficar bem? - Perguntei. 

- Sim, sim, eles vão. 

- Tem certeza? 

- É o nosso trabalho, nada vai acontecer se depender de nós mas precisamos de espaço, por favor. 


Me afastei dali para não atrapalhar. 

Era essa a vida que os médicos tinham? Salvavam pessoas e experimentavam uma corrente de adrenalina no sangue? Era um trabalho tão lindo, tão humano. Era o único trabalho onde sujar as mãos de sangue salvava as pessoas. Quantos deles estão por aí? Quantas vidas já não salvaram? 

Eu ja havia cogitado a ideia de estudar Medicina, mas nada me dava certeza de que era aquilo o que eu queria fazer. E seu eu falhasse? E se aquilo não fosse algo que eu realmente desejasse? Dúvidas martelavam minha cabeça, mas depois de ver aquilo, ver como os esforços, mesmo que mínimos, faziam a diferença na humanidade, eu soube na hora... Era aquilo o que eu queria fazer. 



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