História Separadas Pelo Casamento - Um jantar de opiniões

Camila's POV

Na manhã do dia seguinte, antes de fazer qualquer coisa que realmente importava, liguei para Cara.

-Como assim Lauren não quer mais casar no Brasil? -Cara gritou do outro lado da linha.

-Foi o que ela me disse. -Respondi, tentando manter a porra da calma.

Por mais que Cara estivesse me pagando pra trabalhar pra ela, eu não vou abaixar as orelhinhas pra tudo que ela diz ou chorar num quartinho escuro porque gritou comigo. Sou extremamente profissional e educada, mas tudo tem o seu limite. Não me interessa se ela é rica, famosa, se vai se casar com Lauren Jauregui e o caralho a quatro. Ela tem que me respeitar como pessoa, assim como eu a respeito.

-Camila, eu já falei pra todo mundo que o casamento vai ser no Brasil! Meu vestido já está sendo feito e é pro calor. Agora Lauren me inventa de casar nesse frio do cacete em Nova York? Por que? -Ela perguntou, visivelmente alterada. Revirei os olhos e dei ombros. Se ela não entende a própria noiva, sou eu quem vou entender?

-Olha só, eu não faço a mínima ideia, então você faz o favor de ligar pra ela e difinir isso logo porque eu preciso ver floricultura, igreja, convite, lista de presente, casa de festa e mais uma porrada de coisa. -Esfreguei as têmporas e bufei, mordendo a tampa da caneta.- Vocês já sabem onde vão passar a lua de mel?

-Sim, vai ser cinco dias em Paris, quatro em Londres, quatro em Veneza, cinco em Tóquio, quatro em Buenos Aires e mais cinco em Bahamas. -Peguei meu bloquinho e comecei a anotar tudo, numa letra quase ilegível para acompanhar sua fala.- E é exatamente nessa ordem, tá? Prepare as passagens, de preferência todas com a mesma companhia aérea e eu quero translado também. Acho que eu não preciso te lembrar para comprar na primeira classe e eu quero sair no dia vinte e três bem cedo, já que o casamento é no dia vinte e dois.

-Já anotei tudo. -Disse, suspirando alto.- Dia vinte e dois de dezembro? Essa vai ser a data definitiva do casamento?

-Isso, dia vinte e dois.

-Tá, vou começar a providenciar tudo.

-Então está tudo ótimo. Vou ligar pra Lauren e já te retorno com o lugar definitivo do casamento.

Ela desligou na minha cara e eu nem tive chance de dizer absolutamente nada. Ela é bem chatinha. Bufei e revirei os olhos, rolando-os pelo meu bloquinho. Elas vão ficar quase um mês em lua de mel, eu vou ter que ligar pra assessoria da Lauren e mandar esvaziarem a agenda dela do final de dezembro até meados de janeiro.

O Iphone tocou e eu atendi.

-Vai ser em Nova York mesmo. -Cara disse e eu assenti com um barulho nasal.

-Perfeito, assim tudo fica bem mais fácil para ambos os lados, afinal Nova York é uma cidade que tem tudo. Não precisa se preocupar, Cara, seu casamento vai ser do jeito que sempre sonhou.

-Acho bom que seja mesmo, afinal, estou te pagando pra isso. -Eu realmente poderia ter começado meu dia sem essa.

-Não se preocupe. -Repeti, agora com deboche.

-O que tem pra fazer com Lauren hoje?

-Vamos na Vera Wang e já que Lauren optou pela praticidade vamos escolher um pronto e ela compra hoje mesmo. Também vou ajudá-la a fazer a lista de convidados e depois vamos escolher os convites.

-Pelo amor de Deus, antes de deixá-la comprar qualquer coisa, me mande fotos de todas as opções possíveis, ok? Porque se eu deixar Lauren escolher escolher, ela vai se casar com um vestido que não cobre nem metade da coxa. -Ela bufou e eu cerrei os olhos. Como assim Lauren não pode escolher o próprio vestido? E aquela parada de não ver o vestido da noiva antes do casamento?

-Não vou deixar que isso aconteça. -Respondi.

-Isso, então me mande foto de todos os vestidos que ela experimentar e eu vou escolher um. Também me mande fotos dos convites. Não suporto tons pastéis, então escolha algo mais puxado pro vinho.

-Pode deixar comigo, Cara. -Desliguei na cara dela só pra ela ver como é gostoso.

Suspirei alto antes de levantar do sofá e ir pro chuveiro. Terminei meu banho e me troquei, saindo de casa sem muita pressa, passando num Starbucks pra comprar dois cappuccinos, ligando pra Lauren logo em seguida.

-Alô? -Ela disse com a voz rouca de sono.

-Bom dia, estrelinha. A Terra diz olá! -Dei risada, entrando num táxi e dando as coordenadas para chegar no Four Seasons.

-Vem cá, você não acha que está muito cedo pra me ligar, não? -Ela perguntou num bocejo.

-Você não devia reclamar, sabe, eu estou de pé há mais de três horas.

-Cruzes! Eu tenho pena da sua vida. -Não pude deixar de rir.

Lauren parecia de ressaca. Quem mandou beber de madrugada, né? Ela tem que aprender a se portar daqui pra frente, ainda mais nas vésperas do casamento. Ela precisa aprender a se portar como uma verdadeira princesa: justa, direita, de boa índole, responsável e madura. Nada de espalhafatosa, muito menos bêbada.

-Estou chegando no hotel e estou levando café pra você. -Ela riu.

-Obrigada, eu acho que estou precisando mesmo.

-Foi o que eu pensei. O que acha sobre parar de beber?

-O que acha sobre não se meter na minha vida? -Ela rebateu e eu comecei a rir descontroladamente.

Lauren Jauregui havia colocado as garrinhas pra fora pela primeira vez. Ela nunca foi grossa ou rude comigo antes, mas acho que ela não gosta quando lhe dizem o que fazer. O que é bem irônico, porque Cara só sabe mandar nela.

-Vejo que continua afiadinha, senhorita Jauregui. -Ela percebeu que eu havia levado na brincadeira e acabou soltando um risinho.

-Acho que esqueci de te dizer que não sou uma pessoa muito matinal.

-Estou percebendo, mas realmente não me importo com isso.

-Enfim, o que temos pra fazer hoje?

-Comprar seu vestido. -Ela suspirou alto.

-Tá, já vou descendo pro saguão.

-Tchauzinho.

-Até mais. -Ela riu e desligou.

O táxi parou na entrada do Four Seasons poucos minutos depois. Paguei o motorista e saí do carro, entrando no saguão. Lauren fitava uma escultura de mármore no canto do lugar. Parei ao seu lado e lhe estendi o café, que ela pegou sem ao menos olhar pra mim, fazendo uma careta ao dar o primeiro gole.

-Vamos? -Perguntei, olhando rapidamente para a escultura.

-Vamos.

Segui na sua frente. Ela apoiou a mão na minha cintura - o que eu achei muito, muito estranho mas resolvi não falar nada. - e fomos de elevador até a garagem do hotel, entrando no banco de trás de um carro grande e preto. Um dos brutamontes de Lauren já estava como motorista e não demorou muito para chegarmos na Quinta Avenida. O brutamontes parou em frente à loja da Vera Wang e nós descemos.

Apesar de Vera não estar lá, fomos atendidas da melhor maneira possível por suas assistentes que nos ofereceram champanhe e caviar. Eu aceitei o champanhe mas não deixei Lauren beber. Ela se emputeceu por algus segundos mas não discutiu comigo porque é inteligente o suficiente pra saber que eu estou certa.

Lauren ia experimentando todos os vestidos que as assistentes de Vera traziam. Ela estava provando os vestidos exclusivos da coleção nova e eu tive que admitir para mim mesma que ela ficava tão sexy com aqueles vestidos que modelavam suas curvas e definiam o traçado de seu corpo. Ela parecia uma rainha de gelo naqueles vestidos de noiva, maravilhosos. Ela seria uma noiva maravilhosa com qualquer um daqueles vestidos.

Tirei foto dos seis vestidos que Lauren experimentou e mandei pra Cara.

-Qual foi o vestido que você mais gostou? -Perguntei, dando voltas em torno dela e observando aquele longo vestido.

-Qual a Cara prefere?

-Eu quero saber qual você gostou, porque o casamento também é seu e é você quem vai usar. -Ela suspirou. Ainda estava usando o sexto vestido, tentando ajeitar a longa cauda que se prendia na saia de seda. Ela me encarou pelo espelho e eu a encarei de volta.

-Eu gostei do segundo.

-Eu também, ficou maravilhoso em você. -Disse sorrindo. O segundo vestido era a cara dela. Não era tão longo e era mais apertado, tomara que caia, dava um ar mais sexy e ao mesmo tempo, angelical.

-Mas qual que a Cara gostou? -Como se fosse algum tipo de macumba, meu celular vibrou com uma nova mensagem da Cara, que eu li com as sobrancelhas unidas. Merda.

-Ela gostou desse que você está usando porque é mais clássico e te deixa parecendo uma princesa. -Disse, arrastando a voz e revirando os olhos.

-Tá, vou levar esse então. -Ela deu ombros.

-Tem certeza?

-Tenho.

Eu me levantei a puxei pelos ombros, fazendo com que ela virasse de frente pra mim e que parássemos de lado na frente do espelho. Arrumei as mangas fofas e ajeitei a cauda longa porque Lauren não estava fazendo aquilo direito e eu já tinha muita experiência em arrumar vestidos de noiva. Alisei o tecido macio na altura de sua cintura e a encarei. Apesar de estar linda, eu queria vê-la satisfeita.

-Não precisa fazer isso. -Murmurei para que só ela ouvisse.

Eu estava me referindo a comprar aquele vestido. Ela tinha gostado do outro, então por que diabos ia levar o que a Cara queria? Eu faço o que a Cara manda porque ela me paga pra isso, mas ela e Lauren vão se casar, elas precisam respeitar as vontades uma da outra. Se Lauren estivesse indecisa ou não se importasse com o vestido, tudo bem Cara opinar, mas Lauren tinha uma opinião ali.

-Vou levar esse. -Ela tirou minha mão de sua cintura e se afastou. 

Respirei fundo e voltei para o puff onde estava. Quando a assistente apareceu, Lauren disse que iria levar o vestido que estava usando, me fazendo revirar os olhos. Ela voltou para o provador e com a ajuda de umas das assistentes para tirar o vestido, ela se trocou e apareceu de jeans e moletom novamente. Esperei enquanto ela pagava pelo vestido, que por sorte havia ficado perfeito em seu corpo, não precisava de nenhum ajuste, como se tivesse sido feito pra ela. Mas o segundo vestido tinha ficado mais bonito nela.

Lauren me ofereceu o braço ao sairmos da loja e eu passei meu braço pelo dela, e assim fomos caminhando até o carro.

-Você já fez a sua lista de convidados?

-Aham. -Ela respondeu, desviando o olhar.

-E cadê?

-Está no seu e-mail. -Ela disse e eu cerrei os olhos.

-Como você mandou a lista de convidados pro meu e-mail se você não tem o meu e-mail?

-É porque foi minha assessora que fez a lista.

-Lauren! -Eu lhe repreendi.

No mesmo instante o seu celular começou a tocar e ela ergueu o dedo indicador pra mim, levando até os lábios, atendendo a ligação. A fitei completamente indignada. Ela tinha me mandado calar a boca com um gesto?

-Hum, sim. Sim, pode. Sim. Não. Não mesmo. Sim. Porra, como assim? Claro que não! Não. Pelo amor de Deus, não. Sim. É, pode. Tá. Aham. Sim, esse sim. Sim. Não. Ok, obrigada. -Ela desligou o celular e o guardou no bolso.

-O que foi isso?

-Acabei de confirmar a minha lista de convidados. -Ela sorriu.- Agora sim está no seu e-mail. -Revirei os olhos mas não consegui não rir.

-E são quantas pessoas?

-Arredondei pra cem.

-Um casamento pra trezentas pessoas, ótimo, vai ser uma pechincha. -Disse, num suspiro irônico e cansado enquanto revirava os olhos.

-Já te falei que dinheiro não é problema. -Ela disse e eu dei ombros.- Enfim, onde vamos agora? -Ela perguntou, bem animada.

-Vamos almoçar e depois ver os convites.

Paramos para almoçar em um restaurante que eu nunca havia ido, mas Lauren parecia adorar. Mal conversamos durante o almoço, ela me perguntou sobre minhas preferências culinárias e eu fui super sincera dizendo que comia de tudo, da comida italiana à tailandesa. Saímos do restaurante e fomos para uma das gráficas mais luxuosas de Nova York, onde todos os convites eram feitos à mão, com acabamentos e detalhes artesanais. Eu só tinha trabalhado com aquela gráfica uma vez e mesmo assim, foi um sacrifício para o meu cliente pagar.

Lauren escolheu um modelo bem meigo e delicado, que eu também adorei e achei perfeito mas tirei foto de todos os modelos e mandei pra Cara que escolheu outro, completamente diferente. Lauren apenas riu e deu ombros, optando pelo gosto da noiva novamente, que na minha opinião, era muito clichê (brega). Mesmo assim, reservei os trezentos convites daquele modelo e exigi que estivessem prontos até o dia cinco de dezembro, para que desse tempo de entregar todos.

-Pra onde a gente vai agora? -Lauren perguntou sorrindo, quando já estávamos no carro e eu comecei a rir. A rotina de planejar um casamento parecia a coisa mais excitante do mundo pra ela.

-Eu vou pro conforto do meu lar e você vai pra onde quiser. -Disse com indiferença e seu sorriso se desfez.

-Como assim?

-Agora é parte em que eu passo o dia inteiro ligando para todos os estabelecimentos necessários para o seu casamento nessa cidade, vendo os que estão disponíveis e mandando para a sua noiva, para que ela decida qual quer. Tenho que ligar pra salão de festas, buffet, confeitaria e todo o resto. Cara vai vir pra Nova York em alguns dias para escolher as flores da festa e dos buquês, você vai junto quando ela vier.

-Entendi, agora é só sua função, né?

-Isso. -Sorri fraco.

-Ah, ta... Onde você mora?

-Eu pego um táxi lá no Four Seasons, relaxa.

-Claro que não, eu quero te deixar em casa!

Suspirei alto mas não hesitei em dizer meu endereço pro brutamontes motorista. Não entendo como Lauren consegue ficar a vontade na presença deles. Paramos em frente ao meu prédio vinte minutos depois.

-Hm, é... Camila. -Ela me chamou segundos antes de eu abrir a porta.- O que acha de jantar comigo hoje? -Ela perguntou e eu franzi a testa.

-Por que eu jantaria com você?

-Você não tem companhia pra jantar hoje e eu também não.

-Tá mas e daí?

-E daí que seria legal. -Eu a encarei por alguns segundos, com as sobrancelhas arqueadas mas acabei assentindo.

-Tudo bem, passe aqui às oito e não se atrase. -Lauren assentiu e sorriu e eu logo tratei de sair do carro, que ficou lá até eu entrar no prédio.

Assim que coloquei os pés no meu apartamento, olhei pela janela e o carro não estava mais lá. Peguei uma latinha de refrigerante e me joguei no sofá, começando aquela maratona de ligações.

Apenas dois salões de festa estavam disponíveis para o dia vinte e dois de dezembro, e enquanto falava com os dois administradores pelo telefone, em duas linhas diferentes, peguei o celular para ligar pra Cara. Falei dos dois salões e ela escolheu o Grand Foyer, no Uper West Side, finalizando a ligação logo em seguida. Marquei a festa de casamento de Cara Delevingne e Lauren Jauregui no Grand Foyer, para o dia vinte e dois de dezembro e desliguei o telefone.

Depois, liguei para buffets famosos e especializados. A grande maioria tinha o dia vinte e dois livre, então eu mesma escolhi o melhor e mais caro, já que dinheiro não era problema, elas não iriam se importar em pagar trezentos e cinquenta dólares por pessoa e mais uma taxa de setenta e cinco dólares por centena. Tentei fazer as contas mas acabei me perdendo com tanto número e dei ombros, afinal, não sou eu que vou pagar.

Liguei para a melhor confeitaria de Nova York logo depois. Eles me deram a garantia de que o bolo estaria pronto até o dia vinte e dois, mas Cara precisava ir lá para decidir quantos andares queria, o sabor, a calda, o topo do bolo e blá blá blá. Dei meu nome e disse que iríamos lá assim que ela estivesse na cidade.

Desliguei o telefone pela última vez e olhei para o relógio, vendo que já se passavam das sete da noite. Quase pulei do sofá e fui correndo tomar meu banho. Coloquei um vestido vermelho com listras azul marinho, de meia manga, bem coladinho e confortável no meu corpo. Faltavam cinco pras oito quando comecei a me maquiar e assim que soltei meu cabelo bem ondulado, escutei uma buzina alta vinda lá de baixo. Acabei sorrindo e ajeitando minhas coisas numa bolsa de mão para finalmente sair do apartamento.

Acabei descendo de elevador por causa do salto alto e assim que cheguei no térreo e saí do prédio, Lauren havia acabado de sair do carro e estava de costas pra mim, fechando a porta.

-Eu fui pontual, você que está atras... -Ela ficou muda assim que virou para me encarar.

-E aí. -Disse sorrindo.

Acostumada a me ver sempre de jeans, moletom, all star e cara limpa, deve ter sido mesmo bem estranho me ver bem vestida e toda produzida. Mas em Nova York, a noite é de quem tem grana e eu não posso fazer feio estando ao lado de Lauren Jauregui.

-Você está... -Ela pigarreou e engoliu seco.- Linda.

-Obrigada. -Meu sorriso se alargou.

-Podemos ir?

-Claro. -Respondi e ela abriu a porta pra mim, entrando logo em seguida.

Assim que chegamos, Lauren saiu e segurou a porta aberta pra mim, me ajudando a descer do carro, para fechá-la logo em seguida. Nós entramos no restaurante e eu rolei os olhos pelo lugar, só tinha gente da elite de Manhattan ali. Nos encaminhamos para uma mesa mais afastada. Lauren sentou de costas para as paredes envidraçadas e eu fiquei de frente pra ela e para rua. Duas belas visões.

-O que vai querer? -Lauren perguntou assim que o maitré nos entregou o menu. Fechei o mesmo e dei de volta para o homem, vendo Lauren franzer a testa.

-Me surpreenda. -Disse, levantando os ombros e ela me deu um sorriso.

Lauren pediu um prato que eu nunca havia comido, o que era bem raro, ou seja, realmente me surpreendeu. O maitré sugeriu um vinho e Lauren aceitou de prontidão, já começando a beber antes da comida chegar.

-Já pensou em se casar? -Lauren perguntou, me encarando curiosamente.

-Que garota nunca pensou em casar? -Rebati, sorrindo.

-Mas você já deve ter chegado perto de se casar, né? Aposto que teve muitos namorados.

-Não muitos. -Dei ombros.- E você?

-Algumas.

-Algumas? -Dei risada.- Nunca namorou um homem?

-Dois, pra falar a verdade. -Ela fez uma careta e eu sorri.- Mas foi no início da minha adolescência e da minha carreira também, mas alguns anos depois mudei de time e não me arrependo nem um pouco. -Ela sorriu de canto, tomando mais um gole do vinho.

-Há quanto tempo está com Cara? -Perguntei e ela pareceu pensar pra responder.

-Cinco bons anos.

-Cinco anos? -Arregalei os olhos.- Você esperou cinco anos pra pedí-la em casamento? -Ela riu e assentiu, dando ombros.

-A gente terminava muito no começo, era um vai e vem horrível, casal ioiô, sabe? Faz dois anos que numa dessas indas e vindas, Cara me pediu em noivado e nosso namoro estabilizou de vez, então esse ano resolvi pedí-la em casamento. -Eu sorri e bebi um gole do vinho.

Se as minhas contas estavam certas, Lauren começou a namorar Cara com dezoito anos. Isso é impressionante. Era muito difícil namoro nesse final de adolescência ir pra frente desse jeito, e as duas vão se casar. Uau.

-Você não respondeu minha pergunta. -Ela disse.

-Que pergunta? -Me fiz de sonsa, tomando mais um gole do vinho.

-Você já chegou perto de se casar?

-Já.

-E o que aconteceu?

-Ele cometeu um erro e eu terminei tudo. -Dei ombros e ela uniu as sobrancelhas. Queria saber mais.

-Ele cometeu um erro?

-Sim.

-Não vai me falar mais que isso, né?

-Não mesmo. -Dei uma risada.

Mal terminei de rir e meu celular começou a vibrar sobre a mesa e eu quase engasguei ao checar o nome no visor. Sabe quando dizem que é só falar no diabo que ele aparece? Então, meu ex-noivo estava me ligando. Quase deixei a taça cair e Lauren arregalou os olhos, percebendo minha mudança repentina.

-O que houve? -Ela perguntou, preocupada.

-Austin está me ligando.

-Quem é Austin?

Não cheguei a responder, mas com certeza ela entendeu. Austin não me ligava há meses, o que aconteceu pra ele me ligar agora? Olhei ao redor, meio apreensiva e meu celular não parava de vibrar. Será que ele estava ali? Não, isso não era possível. Continuei olhando ao redor e quase caí da cadeira ao vê-lo parado na porta da frente. Ele não estava me olhando no momento, mas deve ter me visto.

-Ele está aqui. -Murmurei.

-Me dá o celular. -Lauren ordenou e eu o entreguei pra ela, vendo-a atender.- Alô, quem está falando? -Ela falava com a voz bem firme.- Aqui é a Lauren, pode falar. Não, você não pode falar com a Camila. E eu não sou amiga dela não, estamos juntas. Pois é, irmão... Você tem preconceito? Fazer o que, né? Pensasse duas vezes antes de dar mole com uma garota feito ela. Agora é sério playboyzinho, para de ligar pra minha garota. Ela já te esqueceu e está bem feliz comigo. Se você não parar de ligar pra ela, eu vou ser obrigada a te dar um murro bem no meio da cara, e vamos combinar que isso pegaria muito mal pra você, né? Tchauzinho... -Lauren desligou o celular e me entregou, sorrindo.

Eu a encarei de olhos arregalados e começamos a rir. Austin ainda estava do lado de fora e deu uma última olhada pra mim antes de ir embora. Soltei um suspiro aliviado. Será que ele não entende que eu não quero olhar pra cara dele nunca mais?

-Obrigada, Lauren. -Murmurei, com um sorriso fraco e ela negou com a cabeça.

-De nada, Camz. -Camz? Sério? Ok.

Nossa comida chegou logo depois. Conversamos bastante enquanto comíamos e depois que acabamos de comer, conversamos mais um pouco. Nada de muito interessante. Lauren era legal, divertida e engraçada. Pela primeira vez, eu não a via como uma pessoa bipolar ou como dois lados da mesma moeda. Agora ela parecia inteira.

Ela insistiu em pagar a conta e não deixou que eu visse o valor, mas eu nem discuti muito sobre isso, ela tem dinheiro pra gastar mesmo. Saímos do restaurante e fomos pro carro. Lauren me deixou na porta do meu prédio, assim como fez hoje mais cedo e saiu do carro pra se despedir de mim.

-Hoje foi legal. -Ela disse, sorrindo sem mostrar os dentes.

-Foi bem legal. -Respondi, ganhando um sorriso de verdade que logo tratei de retribuir.

Nós ficamos em silêncio, sem saber o que dizer.

-Boa noite, Camila. -Ela disse, finalmente.

-Boa noite, Lauren.

Ela foi beijar a minha bochecha e eu fui beijar a dela, o que fez com que nossos rostos se desencontrassem. Nos afastamos no mesmo instante, rindo de um jeito bem envergonhado. Acabei acenando com a cabeça e sorrindo, indo pra portaria. Ela sorriu de volta e continuou encostada no carro, até que eu entrasse no prédio.

Assim que cheguei no meu apartamento, corri até a janela. Lauren estava na calçada, olhando para cima. Dei risada e acenei meio sem jeito. Ela acenou de volta. Parecia estar sorrindo, mas não dava pra ver direito. Depois disso, ela entrou no carro e foi embora.