História Serei seu novo começo - Arco II - O significado de uma monossílaba

- Oee temeeee!

- Não grite dobe – Sasuke suspirou, caminhando distraidamente pelos corredores da casa, com o telefone na orelha.

- Onde você tá?

- Estou com Sakura, vendo a casa pronta.

- ESTÁ PRONTA? COMO NÃO ME DISSE?

- Talvez por que não vai ser você a morar nela.

- Você é cruel cara – Naruto falou numa voz chorosa.

- Tch, temos um grande quarto de hóspedes.

- Chuif.

- Laranja.

- Temeeeee, você é demais, pensando em mim! Amo você!

- Eca, Naruto!

- Eu e a Hina-chan estamos indo no Ichiraku, vamos pegar comida e ir aí para jantarmos juntos!

 

Ele desligou, evitando a possibilidade de uma negação, mas eu não negaria.

 

- Naruto vem aí com Hinata – Ele falou ao sentir os braços quentes da noiva envolvendo seu abdômen por trás – Vamos jantar aqui juntos.

- Bom, temos uma mesa de chá e só – Ela falou sorrindo – Vou colocar na área dos fundos, aproveitar o calorzinho da noite!

 

*

**

 

- Uaaaaau, que grande – Hinata exclamou.

- É por que está sem mobília – Sakura justificou levemente constrangida.

- Você quer mesmo repovoar os Uchihas – Naruto falou para Sasuke, olhando a quantidade de quartos.

- Hn – Sasuke resmungou, não iria admitir algo assim. Mas, sim, queria mesmo. Involuntariamente seu peito aquecia só de pensar em uma Sakura com a barriguinha protuberante.

 

Eles se encaminharam para os fundos, e iam se acomodando.

 

- Chato você, teme. Fica monossilábico de uma hora para a outra! – Naruto reclamou enquanto Hinata lhe alcançava um par de hashis – Como vai se sente prestes a casar com alguém que nunca vai manter um diálogo com riqueza em palavras? – Dirigiu-se a Sakura, que abria as embalagens.

- Melhor que a Hinata que vive ouvindo besteira de alguém extremamente silábico.

- Vocês dois tiraram o dia para me atingir – Naruto fungou.

- Ah, Naruto-kun eu adoro ouvir você! – Hinata falou sacudindo os braços – Não se preocupe.

- Vou passar a ser como o teme, vejam só – Naruto franziu as sobrancelhas, fechou a cara e apertou a boca numa expressão séria realmente ridícula – “Hn”

 

Sakura colocou a mão na boca tentando segurar, mas estourou numa risada sonora e contagiante. Hinata ria baixinho, parecendo um coelho. Já Sasuke avaliava se realmente parecia assim.

 

- Não é bem assim – Sasuke resmungou vermelho, comendo a primeira bocada.

- Com o tempo eu comecei a decifrar o “hn” – Sakura falou – Dependendo do assunto, ocasião, tom e os graus no ângulo do lábios. Se for meio sonolento, é “bom dia”, se for com sorrisinho mínimo, “eu amo você”, se for tipo “hhhhhn”, é “fica quieta”, se for despedida, é “até logo”.

 

Sasuke sorriu de canto, fechando os olhos. Mulher esperta aquela.

 

- E esse quer dizer o que? – Hinata perguntou, mais solta.

- “I’m sexy and I know it” – Sakura falou rindo.

- Aim o que? – Naruto falou levantando uma sobrancelha.

- Aim de você não calar a boca e começar a comer logo.

 

Então a noite continuou agradável, Sasuke sentia-se bem com os amigos e a noiva num lugar calmo, familiar e acolhedor. Perguntou-se por que fora embora tantas vezes.

E decidiu que definitivamente odiaria algum dia não poder estar ali sempre que quisesse na companhia doce de Sakura e esporadicamente com aquele casal que ele não percebia, mas já afeiçoava-se.

 

*

**

 

- SAKURAAAAAA!

- Ai mãe, o que foi agora? Tô ajudando na casa, não tá vendo?

 

A rosada respondeu do segundo andar. Estava com o cabelo preso num rabo de cavalo, e vestia um short jeans meio surrado, um top esportivo de treinar e uma blusa solta branca de mangas curtas que caía num ombro. Nela lia-se “Alguém que me ama visitou Sunagakure e me trouxe essa camiseta”.

 

- DESCE AQUI! PRECISO QUE CARREGUE UMAS COISAS!

- Não precisa gritar – Bufei, descendo as escadas – O que é?

- Levanta o sofá pra mim varrer embaixo!

 

Sakura suspirou e levantou o sofá de três lugares e o de dois, um em cada mão, enquanto a mãe varria.

 

- Isso é exploração – A rosada resmungou.

- Exploração é eu limpar a casa sempre sozinha enquanto minha filha kunoichi está pelo mundo fechando buracos numas pessoas e abrindo em outras – Ela rosnou – Pra alguma coisa esse negócio de filha ninja tinha que me servir.

- Que bom que você tem orgulho de mim, mãe.

- Minhas garotas, eu cheguei! – Kizashi falou, entrando.

- Oi papai, que bom que chegou, mamãe estava falando das poucas utilidades da filha de vocês.

- Levantar sofás e regular minhas diabetes já está ótima, chuchuca rosa do pai – Ele falou entrando na sala – Não é Sasuke-chan? – E olhou para a entrada da casa.

 

Sakura quase deixou os sofás caírem.

 

- H-hn... – Sasuke respondeu fora do campo de visão da noiva.

- Pelos deuses, Sasuke-chan! Você ficar melhor quando não está no modo monossilábico.

 

Kizashi e Mebuki riram, enquanto Sakura queria dar um jeito de largar os móveis sem esmagar o crânio da mãe, fugir pro quarto, tomar banho e trocar de roupa antes que Sasuke desse os cinco passos até a sala.

 

- Olá Mebuki-san e... – Ele olhou para mim -... Sakura...

 

A rosada só queria abrir um buraco no chão e ficar lá até morrer.

Mas estava com as mãos ocupadas com os sofás.

 

- Não sabia que estavam ocupadas – O moreno desculpou-se.

- Eu também não – Kizashi suspirou.

- É né, já que você não move um dedo pra limpar essa casa – Mebuki grasnou para o marido.

- Ah, mulher... Pelo menos coloco minhas cuecas na roupa suja, é muito mais que outros homens fazem.

- PAPAI! PARA COM ISSO! – Sakura gritou desesperada.

- Eu e Sasuke-chan vamos ir beber, como dois homens, enquanto vocês terminam, depois voltamos para jantarmos juntos – Saiu empurrando Sasuke para fora de novo e sussurrou para ele, mas todos podiam ouvir – Não vou discutir com a Sakura brava com dois sofás nas mãos. Ela não ficou uma graça com aquela camiseta que comprei pra ela em Suna? Pena que ela não usa pra sair na rua e...

 

A voz sumiu ao longe, Sakura só queria sumir.

 

- Que diabos o papai tem na cabeça pra chama-lo de Sasuke-chan?

- O mesmo que tem pra chama-la de chuchuca rosa do pai na frente do seu noivo.

- Mamãe, eu quero morrer.

- Pelo menos espera até terminar sua parte da faxina.

 

*

**

 

Sasuke também queria morrer. Seu sogro era quase um Naruto piorado. E péssimo para apelidos de filhas.

Já tinha cogitado a possibilidade de dizer que tinha que ir urgente no escritório do Hokage dezessete vezes, depois de ser apresentados aos berros pelo futuro sogro a dezessete pessoas estranhas. Mas ele era pai da mulher que amava, devia isso a ela.

 

- Vamos beber aqui! – Kizashi falou arrastando-o para dentro de um bar – Sakê, por favor! – Ele falou a um funcionário.

 

Sentaram-se numa mesa reservada enquanto eram servidos. O moreno não parecia interessado em beber, mas Kizashi estava mais do que isso. Mal havia se passado cinco minutos e Sasuke pensou naquilo pela décima oitava vez.

 

- Sasuke-chaaaaan – Ele falou choroso, e o moreno viu que ele parecia estar chorando. E bêbado.

- H-hm? O que foi?

- Sakura-chan vai ir embora – Ele resmungou triste.

- Ela vai casar, não ir embora – Expliquei. Não reconheceu-se mantendo diálogo com alguém embriagado.

- Mas não vou ter minha menina em casa sempre que chegar – Ele desabafou arrasado – Ela sempre fazia chá para mim, sabe? Nunca tinha muito tempo para ficar em casa por causa do hospital, mas ela sempre parava em algum momento para ouvir minhas histórias. E também para me mandar mudar o penteado ou parar de fazer piadas sobre o traseiro da tsuma...

 

Sasuke já havia entendido que ouvia um desabafo que ele provavelmente guardava a muito tempo, e só o fizera por causa do álcool.

 

- Antes era só uma menininha que chorava por qualquer coisa, tinha complexo com aquela testa enorme dela e precisava da minha proteção – Ele fungou – Olha pra ela hoje, está tão... Grande! E forte... E a testa ficou proporcional. Agora ela cuida de mim e dos meus problemas de saúde.

 

Sasuke assentiu.

 

- E vivia chorando por um menininho da academia e falando dele. Era você. Se sentia derrotada o tempo todo, durante anos, por nunca ter sua atenção. Fez de tudo o que podia e o que não podia pra trazer você de volta – Ele suspirou – E olhe AGORA! Ela conquistou tanto, que semana que vem vai se casar com você.

 

No fundo, o moreno sentia a dor de um pai vendo a filha voar para longe do ninho. Mas gostava de ouvir sobre Sakura, e sobre o crescimento dela.

 

- Ela já tem você, já tem força e já tem beleza. Ela não precisa mais de um velho diabético com um cabelo ridículo. O que eu vou fazer sem a luz da minha vida? Sem o presente que meu amor me deu? Mas eu sei que ela precisa ser feliz.

 

Ele chorou por algum tempo.

 

- Eu irei cuidar dela – Sasuke falou baixo – Não se preocupe.

- Eu sei – Ele sussurrou – E sei que você precisa mais da luz dela do que eu.

 

*

**

 

Já começava a anoitecer quando Sasuke chegou na porta da casa de Sakura, com o pai dela nas costas. Bateu na porta com os pés. E a rosada atendeu, arregalando os olhos pro pai.

 

- Por kami – Ela resmungou, pegando o pai facilmente e o colocando no sofá – Está bêbado... Ah, pai...

 

O moreno observava atentamente Sakura examinando o pai. Estava com seu vestido amarelo preferido, pés descalços e o cabelo úmido do banho. Gostou dela assim.

 

- Ora bolas, esse otto me envergonha cada dia mais! Aff! – Mebuki falou olhando a cena da cozinha.

- Não se preocupe mamãe, ele vai ficar bem – A rosada falou, já conhecia o significado das palavras e ações da mãe, ela estava preocupada com certeza.

 

Mebuki voltou a sumir na cozinha.

 

- Ele sabe que não pode exagerar e exagera mesmo assim – A rosada suspirou olhando de Sasuke para o pai apagado.

- Seu pai está abalado por você sair de casa.

 

Ela suspirou pesarosa.

 

- Ele sabia que algum dia ia acontecer – Ela falou e Sasuke assentiu – Mas mamãe estará com ele sempre – Ela olhou para o noivo – Como estarei sempre com você – Sorriu sem mostrar os dentes.

 

Sasuke afetava-se cada vez mais com as palavras dela. A sinceridade era munição pesada contra quem vive omitindo a vida.

 

- Gosto de te ver sorrindo – Ela falou observando o sorriso de canto involuntário.

 

 A rosada enlaçou o pescoço de Sasuke e encostou seu rosto na curva do pescoço dele. Sasuke sentiu-se arrepiar com a respiração dela.

 

- Meninos, é feio encostar-se muito antes do casamento, venham jantar com a Okaasan! – Mebuki apareceu na porta da cozinha e logo voltou.

- Vamos lá – A rosada pegou na mão dele.

 

E foi surpreendida ao sentir uma mão em seu rosto, conduzindo-a ao rosto de Sasuke. Seu noivo beijou-a profundamente por longos segundos até soltá-la.

 

- Hn.

 

Para utilidade pública, “deu vontade, não me olhe assim e vamos”.