História Serendipity - 🌸First Day🌸

—Eu nunca esperei isso de você, Jungkook —Omma chorava enquanto dirigia até o grupo de apoio que eu sequer queria ir. 

—Omma,você vai bater o carro se continuar chorando —Suspiro,encostando a cabeça no vidro embaçado da janela.

—Ótimo, pelo menos a dor que estou sentindo vai passar. Eu estou muito decepcionada com você, Jeon —Ela enxuga as lágrimas, voltando a assumir a pose de mãe auto-controlada que sempre achou que teve. 

—Eu também estou. Vamos ficar decepcionado comigo juntos —Digo de modo irônico, abaixando e levantando o vidro para me distrair. 

—Isso é influência daqueles seus amigos,não é? Você nunca foi disso,Jungkook. —Omma para no sinal vermelho,batendo os dedos no volante.

—O Tae e o Hobi não têm nada haver com isso. Até porquê os motivos vinheram de casa,e não da escola. —Rebato,levemente indignado por ela ter metido meus amigos nisso. 

—O que você quis dizer? —Ela começa a ficar nervosa,e percebo isso de cara. 

—Acha que eu não sei o porquê do papai nunca estar em casa? Ou acha que os tapas que escuto do meu quarto vêm da casa da vizinha? —Rio sem humor e Omma suspira. 

—Achei que... 

—Omma,eu não tenho mais 8 anos. Eu sei diferenciar o certo do errado,e sei que ele te batia,sei que ele te traía e sei também que você perdeu um filho em uma das suas discussões. Eu sei de coisas que você sequer imagina,e essas coisas me levaram a tomar aquela decisão. —Respiro fundo por ter falado demais sem parar para respirar e ela me olha,chocada. —O sinal abriu. —Viro o rosto e ela volta a dirigir. Depois de alguns minutos de silêncio ensurdecedor, chegamos no tal grupo de apoio. E por sinal mais parecia um asilo pelas paredes desgastadas pintadas de um branco que já não era mais branco pela tintura não retocada,pelos grandes portões pretos na entrada e pela energia triste que aquilo tudo transmitia. Nem que me paguem um unicórnio falante eu vou entrar ali. Mas logo o carro já estava estacionado,e eu estava saindo do mesmo,com a cara mais emburrada do mundo,cruzando meu braços cobertos pelas mangas compridas do meu moletom para esconder os cortes. Omma me puxava pela mão e eu me senti uma criança saindo de sua loja favorita no shopping de mãos vazias,ou uma criança indo á uma consulta ao dentista. Enfim,eu não queria entrar ali,mas Omma estava me obrigando. E eu não podia fazer nada além de me deixar ser arrastado por ela.

—Anime-se, Jungkook. Você irá tratar dessa sua doença, irá fazer novas amizades, e talvez até arranjar a namorada —Ela estava exageradamente animada ao passarmos pelos portões e entrarmos no bendito grupo. Finalmente me solto de sua mão e a observo falar com a recepcionista. 

—Você vai gostar,Kookie. Estarei aqui esperando —Ela me dá um beijo estalado na bochecha e se senta numa das cadeiras azuis da recepção, quando uma moça brota do quinto dos infernos e me puxa até uma sala onde já haviam no máximo cinco pessoas em uma roda. Sinto o rosto esquentar quando elas me olham no fundo da alma. 

—Jungkook,certo? Sente-se —Um rapaz de voz estranhamente fina e cabelos loiros se pronúncia. Ele vestia uma camisa manga longa cinza e calça jeans. Não parecia ser um suicida, mas mesmo assim concordo com a cabeça e me sento ao lado de uma garota de cabelo alaranjado,que era extremamente magra e levemente pálida. —Como você era o único que faltava chegar,vamos começar as apresentações. Algum voluntário? —O rapaz loiro provavelmente não-suicida passa os olhos pela roda,sorrindo quando a garota ao meu lado levanta a mão. 

—Me chamo Lisa,tenho 16 anos e estou passando por uma fase muito difícil da minha vida,como todos vocês dessa roda,inclusive. —Ela dá um sorriso leve e o loiro gesticula para a mesma prosseguir. —Ao começo do ano para cá, acabei ficando depressiva pelo bullying excessivo ocorrido na escola. Recebi apelidos horríveis pela minha...magreza,comentários do tipo "Vai comer um MC Donald's" e "Olha só o palito ambulante. Quer um pedaço do meu lanche, Lisa?" além de pessoas achando que sou anoréxica, enfim,uma palhaçada. Minha mãe não tomava nenhuma providência então eu resolvi buscar ajuda por conta própria e aqui estou. — Presto atenção em sua tranquilidade em contar sua "história" e me sinto encorajado para contar a minha em seguida. 

—Isso é ótimo, tenha certeza de que vamos te ajudar. Quem quer ser o próximo? —Levanto minha mão rapidamente e o loiro me olha,com seu sorriso que,sinceramente, era lindo. 

—Me chamo Jungkook,tenho 18 anos e passei a escrever cartas de suicídio desde ano passado,quando meus pais brigavam e eu escutava minha mãe sendo agredida,e verdades cruéis sendo reveladas à cada grito. Esse ano comecei a me cortar quando as coisas foram piorando,e procurei diversas vezes na internet formas de me matar sem sentir dor. Então minha mãe encontrou minhas cartas,e depois de uma inspeção em meus pulsos cortados com freqüência, ela resolveu me obrigar a procurar ajuda. —Suspiro ao lembrar da expressão de desgosto da minha omma. O loiro me olha com a sombrancelhas arqueada. 

—Então não está aqui por quê quer,como a Lisa,certo?—Ele pergunta e eu solto uma gargalhada sem humor,sorrindo de canto.

—Não é óbvio, loirinho? —O encaro de volta.

—Meu nome é Jimin —Ele revira os olhos. —Quem é o próximo?

Uma garota de cabelos ruivos levanta a mão.—E-eu me chamo Rosé,tenho 17 anos e venho passando por problemas familiares horríveis, além das agressões que passo causadas pelo meu pai. Passei a me cortar toda noite,então eu me cansei de não ser ouvida por ninguém e...p-procurar ajuda —Ela gagueja um pouco no meio do depoimento. Parecia ser mais tímida que os outros. Aliás, só eu que não queria estar ali? 

Antes mesmo de Jimin clamar pelo próximo, um garoto de cabelos azuis levemente esverdeados e olhos exageradamente puxados e pele branca levanta a mão. —Meu nome é Yoongi,eu me corto e já tentei me matar três vezes sendo que sobrevivi às três. E eu também não queria estar aqui —Ele me olha,sorrindo de canto. 

—Todos já se apresentaram, então agora de minha vez. Me chamo Jimin,tenho 22 anos e sou o psicólogo de vocês —Ele sorri,me olhando. —Eu vou mostrar á vocês que se amar é o mais importante, vou lhes ensinar á superar seu problemas e acima de tudo,vou cuidar de vocês. Estão dispensados,podem ir.—Ele declara e todos se levantam,saindo dali. Quando estou passando pela porta posso notar que Jimin me olhava com um sorriso no rosto. Aquele sorriso maravilhoso que eu não tiraria da cabeça pelo resto do dia. 

—Como foi?—Omma se levanta ao me ver.

—Horrível —Sorrio,saindo junto á ela daquele lugar que eu voltaria o mais rápido possivel.