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História Serra Azul (Romance Gay) - Capítulo 27: A Flor Da Pele.


Escrita por: LolitoProud

Notas do Autor


gente mil perdões pela demora pra postar o cap, geralmente posto 4 no mês, mas me atrapalhei todo no planejamento desse mês, mas enfimmm boa leitura :)

Capítulo 27 - Capítulo 27: A Flor Da Pele.


Cena 164.

O tempo pareceu pesar em Serra Azul, o relógio batia meio dia, mas o céu estava fechado, cinzento.
Eliza ia em direção a um local.
Um lugar que ela tinha certeza que Lucas estava.
O casarão abandonado.
"Ele não pode ter ido pra outro canto" ela para em frente da casa, respira fundo e sobe os degraus.
Oque algum dia já foi uma porta, agora, era apenas uma madeira velha comida por cupins e sem tintura na superfície.
Eliza então empurra ela com os pés, e a porta vai abrindo e rangendo mais que uma velha na terceira idade fazendo exercício de agachamento.
"Quem tá aí?" Ela escuta a voz de Lucas, embargada e acompanhada de um som de nariz sendo limpado por causa de um possível choro.
Ela dá um respiro de alívio por ouvir a voz dele "Três opções, Michael Myers, Jason Voorhess ou Freddy Krugger"
"Os três podem me matar" ele responde.
Eliza fecha a porta e caminha até a sala.
Lucas estava enconstado perto do sofá velho do casarão, com os joelhos levantados e o braço envolto neles.
Ela tira a bolsa das costas e se senta ao lado dele.
"Oi"
Lucas a olha e desaba, a abraçando muito forte.
"Calma..." ela passa a mão no cabelo dele.
Lucas chorava em seu colo.
"Eu... não entendo, porque ela fez aquilo? Porque?" Ele falava em meio a soluços.
Eliza olhava pra cima.
"Eu não sei, eu só sei que se eu encontrar ela amanhã, eu juro pra ti que eu quebro a cara daquela filha da puta" ela fala enraivecida.
Lucas levanta de seu colo.
"Desculpa, eu..." ele limpa os olhos "Eu devia ter te falado, mas eu não sabia como e..."
"Para com isso, você não deve nada a ninguém, isso era um direito seu e do Bruno, ninguém deve ser forçado a assumir nada Lucas" Eliza segura a mão dele que estava tremendo "Sério, se acalma"
Lucas assente e começa a respirar mais devagar.
"Sabe, você tá do mesmo jeito quando eu te conheci aqui, lembra?" Eliza fala sorrindo pra ele, enquanto segurava sua mão.
Lucas dá um risada fraca lembrando do episódio.
Júlia havia levado Lucas para uma feira de roupas no centro da cidade no fatidíco dia, ele estava com 9 anos e como qualquer criança naquele idade, corria sem parar de um lado pro outro.
Quando Júlia estava comprando alguns acessórios em uma barraquinha no final da rua, Lucas que estava até então ao seu lado, evaporou feito fumaça.
Ela voltou a rua toda, de cabo a rabo, e não encontrou o filho, naquele momento Júlia começava a ficar desesperada e ia de banca em banca pergutando se alguém havia visto um menino de estatura média, magro e de cabelo comprido, mas, aparentemente ninguém havia o visto.
Enquanto Júlia ligava pra Franscisco desesperada, Lucas havia entrado em uma rua que ficava do outro lado da feirinha.
Uma bola havia caido de uma das barracas e ele correu atrás da mesma, era uma daquelas de basquete ele já havia visto na tv.
A bola rolou e parou justamente na frente do casarão abandonado.
Lucas já havia passado de carro uma vez com a mãe pelo lugar e sempre o achou meio sinistro.
Mesmo com um certo receio, Lucas queria muito saber como era o interior da casa, então, ele respirou fundo, colocou a bola por baixo do braço e começou a subir os degraus.
A cada passo dado, era um arrependimento, a cada gemido emitido pelas madeiras velhas, era uma tremedeira em suas pernas, ele não estava exatamente olhando pra cima, só quando pisou na última madeira que percebeu uma mancha de lama recente na frente da porta, foi ai que ele pensou em correr dali o mais rápido que conseguisse.
Mas, decidiu não fazer, mesmo com todos os avisos evidentes de haver alguém ali.
"Vamo lá" ele falava pra si mesmo.
Quando empurrou a porta, uma voz feminina soltou um grito alto e agudo.
"QUEM TÁ AÍ?" A voz de uma menina falava.
"Me fala quem é você primeiro!" Lucas replicava, com a bola em sua mão pronto pra jogar na primeira pessoa que aparecesse ali.
Quando Lucas vai se preparar pra jogar a bola, uma menina de cabelo castanho claro, usando um macacão azul e com uma lupa na mão aparece por de trás do sofá.
"Acha que vai jogar essa bola em quem?" Ela fala.
Lucas recua pra trás e esconde rapidamente a bola atrás da costa.
"Em ninguém"
"Não é o que parecia" Eliza fala andando até ele "Como entrou aqui dentro?"
Lucas estava mais aliviado por ser apenas uma garota da idade dela, mas não o bastante, a garota parecia olhar sua alma. "Pela porta" ele responde.
Ela cerra os olhos e o fita dos pés a cabeça.
"Gostei da tua bola" ela repentinamente dá um sorriso pra ele "Meu nome é Eliza"
Lucas a olha surpreso e tira a bola das costas "Meu é Lucas, e legal a tua lupa também" ele dá um sorriso de volta pra ela.
"Porque tua mão tá tremendo?" Ela fala e Lucas esconde a mão no bolso da calça, ele ainda estava nervoso com toda situação.
"Por nada... é... cadê teus pais?"
"Tão comprando roupa na outra rua" ela fala se sentando no sofá velho "Eu vim pra cá enquanto eles ficam comprando, é muito chato comprar roupa, eu gosto mesmo é de caçar tesouro"
Lucas fica intrigado e se aproxima dela.
"Tesouro?"
Eliza pega a lupa e examina as paredes do casarão.
"É! Eu já achei um bocado de coisas aqui, moedas, brinquedos, mapas,..."
"Puxa, que legal" ele fala deixando a bola no chão e sentando no sofá com Eliza "Posso... procurar contigo?"
Eliza o olha e dá um sorriso largo.
"Claro! Fica aqui" ela pula do sofá, assustando Lucas e vai em direção a uma maletinha que estava em cima de uma mesa na sala "Toma, pra você" ela entrega outra lupa pra ele.
"Valeu"
E desde dali, os dois nunca mais se desgrudaram.
"A mamãe quase morreu naquele dia" Lucas fala esfregando os olhos "Ela pensou que eu tivesse sido sequestrado"
"E eu não sei?" Ela dá uma risada e olha pra ele "Se acalmou mais?"
Lucas assente com a cabeça "Sim, eu... eu só tô com medo, todo mundo tava ali Eliza, todo mundo escutou oque ela falou, e eu não sei... como.." ele suspira "como encarar isso tudo, a gente mora numa cidade pequena, tudo se espalha rápido, daqui a pouco isso chega na família do Bruno e eu não sei como eles vão reagir quando descobrirem" ele fala quase sem ar.
"Lucas" ela fala ainda segurando a mão dele "Você precisa se acalmar, eu sei que a gente mora nesse buraco que só tem fofoqueiro, eu sei que muita gente tem a mente fechada, mas tu precisa antes de tudo manter a calma e ser racional, se não, isso só vai te sucumbir e fazer piorar a situação"
Lucas respira fundo e olha pra janela que abria pelo vento que vinha de fora.
"Como tu descobriu?" Ele finalmente pergunta.
Eliza olha pra janela também.
"Eu percebi que tava acontecendo alguma coisa entre vocês dois à muito tempo, primeiro eu achei que vocês tinham se aproximado pelo trabalho e fiquei muito puta e com vontade de enfiar tua cabeça numa privada porque tu tinha me trocado por ele" Lucas solta uma risada fraca "Mas depois... eu percebi que não era isso, era algo a mais, e... de verdade? eu acho que ele não tentou muito esconder, o jeito que ele sorri quando tá falando contigo, como ele te olha na sala, não é um olhar do tipo "eae amigo, vamo jogar uma pelada mais tarde" sabe?" Ela fala sarcasticamente.
"Caramba...eu nem percebi isso" ele fala surpreso.
"Claro que tu não percebeu né sonso" ela fala apertando o dedo indicador na testa dele.
"E... tu tá de boa com isso?" Ele olha pra ela.
Eliza revira os olhos.
"Tu acha mesmo que eu falei todo esse discurso motivacional e de apoio que ouvi das incansáveis sessões de terapia que a mamãe faz pra no final dizer que te odeio e quero que tu queime no mármore do inferno?" Ela ironiza.
Lucas dá uma risada.
"Sério, eu quero que tu seja feliz, não importa com quem, você é meu melhor amigo"
"E único" Lucas acrescenta rindo.
"Cala a boca zé mané" ela deixa escapar uma risada "Mas... falando sério agora, ele gosta mesmo de ti Lucas?"
Lucas finalmente esboça um sorriso sincero lembrando de Bruno.
"Gosta"
"É....pelo menos ele não foi um cuzão e não desmentiu tudo lá na hora" ela fala "E espero mesmo que ele goste de você e que não esteja fazendo só uma brincadeirinha idiota, porque eu conheço ele de outros tempos, eu sei e você também sabe que ele já foi muito filho da puta"
"Eu sei, mas.... o Bruno não é mais aquele crianção, acho que tudo que aconteceu com ele ano passado fez ele... mudar de alguma maneira" Lucas reflete e encosta a cabeça no ombro dela "Eu só não sei agora como ele vai lidar com isso, caramba... eu nem consegui olhar na cara dele na hora"
"É... isso eu não sei também, mas... caralho Lucas, tanto menino na escola e cê vai ficar justamente com o Bruno mano?" Os dois soltam uma gargalhada descontraída "Sério, tipo, a gente zoa ele sei lá, desde sempre? Não tinha outra pessoa?"
"Ele beija bem" Lucas solta.
"Urgh! Não! Eu acho que eu não preciso saber desses detalhes"
Lucas solta uma risada e os dois ficam ali enquanto uma garoa começava.

Cena 165.

A cabeça de Bruno estava a mil.
Toda a fala de Karina e a forma como ela despejou tudo aquilo com tanta amargura e violência, voltava pra mente dele, assim como o rosto de Lucas, ansioso, tremûlo e apavorado com tudo aquilo que estavam-lhe acusando.
Ele tentou ir contra a vontade de Eliza e segui-la, mas, o decidiu não fazer.
Ao invés disso, decidiu buscar os irmãos na escola e depois tentaria procurar por Lucas.
Quando chegaram em casa, Bruno notou que Theo estava com uma cara abatida.
"Eu vou brincar com os porquinhos" Nico fala jogando a bolsa num canto do quarto e descendo as escadas.
"Que foi Theo? Porque tá com essa cara?" Bruno fala tirando a jaqueta e a pendurando no cabide do quarto.
Theo senta na cama e começa a balançar os pés.
"Bruno, o papai foi pro inferno?"
Bruno é pego de surpresa com a pergunta.
"O que?" Ele tira o tênis e se senta com Theo "Porque você tá me perguntando isso?"
"Porque a professora de religião falou na aula que as pessoas que se matavam iam pro inferno" os olhos dele começam a se encher de lágrimas.
Bruno puxa o irmão pra um abraço.
"Ô cara..."
Carmen ouviu os três chegando e decidiu ir no quarto deles, quando parou no meio do corredor, escutando o choro de Theo.
"Eu sei que você via ele sorrir, brincar com você dois, se divertir com a gente, mas..." a voz dele mesmo começa a embargar "ele tava sofrendo por dentro Theo, e... a gente não viu"
Carmen começa a ficar emocionada por trás da porta.
"Mas olha" ele levanta a cabeça do irmão "Ele não foi pro inferno, ele não era uma pessoa ruim, só uma pessoa com problemas, como todo mundo Theo"
Theo limpa os olhos com as mãos pequenas "Sério?"
"Sério" Bruno sorri pra ele "Sabia que eu sonhei com ele um dia desses? Ele me falou que tava bem, que amava você, o Nico, a mamãe, que tava em um lugar de paz e que não queria ver você assim, então" ele limpa os olhos do irmão "Não fica assim, eu sei que é difícil pra você, porque é muito pra mim também, mas eu tô aqui, a mamãe também, o Nico, pessoas que te amam e nunca vão te deixar, tabom?"
Theo assente e abraça mais forte o irmão.
Carmen aparece na porta e Bruno a olha com um sorriso melancólico.

Cena 166.

"Só um momento" Ricardo falava para um cliente enquanto saia do balcão "Júlia! Oque aconteceu?"
Júlia estacionava o carro em frente da fornecedora.
Ela suspira "Hoje não tá sendo meu dia"
Ricardo acena pra um funcionário. "Matheus, assuma aí"
O rapaz acente.
"Vamo lá pro escritório" ele fala pra Júlia.
Os dois entram na sala e Júlia desaba no sofá.
"Eu acho que tô perdendo a cabeça Ricardo"
Ricardo pega uma cadeira e se senta na frente dela.
"Calma, me fala oque aconteceu primeiro"
"Eu bati num caminhão de manhã levando o Lucas pra escola" ela fala passando a mão nos cabelos "Eu tava falando com ele sobre oque você tinha me dito e nem vi que aquela porcaria tava parada no meio da rua"
Ricardo levanta da cadeira e enche um copo descartavel de água.
"Toma"
Júlia pega o copo e bebe o liquido.
"Júlia, você precisa descansar, você anda com muito estresse na sua cabeça, essas viagens toda hora pra capital, esse caso que você tá defendendo" ele pega na mão dela "Tá tudo acumulando e te sugando por inteiro Júlia"
Ela olha nos olhos deles e segura sua mão.
"Eu sei, eu sei que... eu também não tô te dando toda a atenção que você merece, que a gente não tá vivendo tudo que a gente merecia viver, mas... é difícil Ricardo, toda essa situação com o Lucas, tá me esgotando" lágrimas começam a se formar nos olhos de Júlia "Eu tento, eu faço de tudo pra conversar com ele, pra tentar um dialógo, mas parece que eu não tô mais ali, parece que eu não existo mais pra ele"
Ricardo abraça ela.
"Ô meu amor.... o Lucas devia reconhecer a sorte que ele tem de ter você como mãe, uma mulher maravilhosa, paciente, carinhosa, olha aqui" ele segura o queixo dela "Eu sei que ele te ama Júlia, ele só é uma criança, uma criança confusa, perdida, e eu tenho certeza que o tempo de vocês dois não foi perdido, um dia ele vai perceber isso"
"Eu te amo" Júlia fala com os olhos marejados.
"Eu também te amo" e beija ela.

Cena 167.

Bernardo abria a porta do quarto enquanto Carmen dobrava uns lençois.
"Eita que tô com uma sorte da peste hoje!" Ele fala tirando as botas e as jogando em um canto do quarto.
"Do que tu tá falando Bernardo" Carmen fala colocando os lençois dentro do guarda-roupa e o fechando.
"Tô falando de dinheiro! Dinheiro mulher!" Ele fala alto.
Carmen continua com uma expressão de não está entendendo nada.
"Uma dondoca bateu no meu caminhão hoje mais cedo"
Carmen se espanta.
"Meu deus... você tá bem?"
Ele aponta pro próprio rosto.
"Tu tá vendo algum arranhão na minha cara?" Ele fala cinicamente "Então!"
"E o caminhão? Oque tu vai falar na empresa?"
"Dá em porra nenhuma, não bateu forte, agora o carro dela..." ele solta uma gargalhada maldosa "Se arrebentou inteiro... por isso que eu falo, lugar de mulher, é na cozinha, não no trânsito, olha aí a merda que dá!"
Carmen sente um desgoto imenso por dentro, mas, evita transparecer no rosto.
"Mas... eu ainda não entendi essa coisa de dinheiro"
Bernardo se vira pra ela.
"Eu não terminei de falar Carmen" ele fala sério e com uma expressão assustadora.
Carmen se retrai.
"Eu vou falar com o cara do fiscal lá da empresa pra ele emitir um orçamento pra mim do caminhão, só que, aí vem a graça" ele sorri pra ela "Vou falar pra ele que é um orçamento pessoal, e não pra empresa, e a besta lá falou que vai pagar o valor real do conserto, então, ô" ele abre os braços como se tivesse ganhado na lotéria "Se eu colocar qualquer valor alto, ela vai pagar, a lateral que bateu do caminhão eu mesmo aqui em casa conserto, então, só é ganho pra mim!"
Carmen fica incredúla.
"Isso é errado Bernardo"
Ele fecha o rosto.
"Errado? Errado Carmen? Esse terreno não tá valendo mais nada, a fazenda tá falindo, nada mais tá reproduzindo aqui, me fala, qual foi a última vez que a gente conseguiu vender bem? Hein?" ele fecha os punhos e se aproxima dela, Carmen conseguia sentir a respiração quente dele em seu rosto "Então, cê vai manter isso aqui como? Recebendo aquele salariozinho do hospital? Fazendo uns bico de diarista? Acorda Carmen, se tu não me tivesse na tua vida, ô" ele faz um sinal de pó esfarelando com os dedos "Tu e teus filhos não seriam mais nada"
Carmen encara ele com um olhar de medo e raiva ao mesmo tempo.
"Sai da minha frente" ela sussurra e se esquiva dele, saindo pela porta.

Cena 168.

Karina abria a porta da casa com toda força do mundo.
"Oi filh-" Rita falava enquanto ela subia correndo as escadas "Karina? Karina?!"
Ela tranca a porta do quarto e se joga na cama.
"Oque aconteceu meu amor?" Rita falava tentando abrir a porta.
"VAI EMBORA!" ela gritou pra mãe.
Rita se espanta, e logo um choro veio do quarto.
"Karina, abre a porta filha, oque aconteceu?"
Rita escuta várias batidas na porta de entrada.
Ela desce as escadas e abre, dando de cara com Victória e Janaína ofegantes, as duas pareciam ter corrido uma são silvestre.
"Oi tia Rita" Victória falava dando um sorriso torto pra Rita.
"Meninas... oque aconteceu? Porque a Karina entrou desse jeito?"
Janaína lança um olhar tenso pra irmã.
"É uma longa história Tia Rita, a gente pode tentar falar com ela?" Victória fala.
Rita estava mais confusa que tudo, mas deixou as meninas entrarem.
Victória bate na porta.
"Karina, abre a porta meu amor"
"EU JÁ FALEI PRA VOCÊS IREM EMBORA!" ela fala com uma voz abafada, como se estivesse falando por debaixo de um travesseiro.
"A gente só quer falar contigo, ninguém tá aqui pra te julgar Karina" Janaína falava dessa vez "Por favor, abre a porta, a gente só quer conversar"
O choro para repentinamente e as duas se entreolham.
A maçaneta gira e a porta se abre.
"Eu... eu" ela tenta falar e começa a chorar. Janaína a abraça e Victória fecha a porta antes de Rita conseguir entrar.
"Calma, respira" Janaína passa a mão pelo cabelo dela.
"Eu não sei porque eu fiz aquilo, eu não sei.." ela falava em meio ao choro.
"A gente sabe que você não queria, calma" Victória fala se sentando na cama ao lado das duas "Você tava com a cabeça quente, e simplesmente não aguentou, foi tudo se acumulando e deu no que deu, e eu sei que não foi tua intenção fazer aquilo, eu juro que te entendo" ela pega na mão dela "Quando eu terminei com o Alex, eu achei que minha vida tinha acabado, eu tinha vontade de gritar, esperniar, tu sabe como foi difícil pra mim naquele tempo, porque eu via ele como o grande amor da minha vida, e que ninguém jamais seria como ele, mas quantos anos a gente tinha naquele tempo? 15? 16?"
Janaína dá um sorrisinho de canto.
"Sabe? Não que eu tenha 30 anos ou algo tipo, mas caramba, 15 anos era pra gente tá andando, se divertindo por aí, comprando roupa, não chorando compusivalmente por garoto"
Karina se levanta do colo de Janaína limpando o nariz.
"Não tô querendo desmerecer tua dor, nem nada meu amor, mas... isso acontece" Victória fala olhando pra ela.
Karina suspira olhando pra baixo.
"Eu quero pedir desculpa pra eles"
"Ahn... olha..." Janaína dá um olhar hesitante pra Victória "Eu sei que você tá arrependida, que você não queria ter exposto eles daquela maneira, mas... é melhor deixar as coisas se acalmarem, eu tenho certeza que todo mundo da escola deve tá comentando isso e amanhã vai ser um inferno, então... espera a poeira abaixar pra tentar falar com eles, de verdade"
Karina assente se deitando no colo dela de novo.
"Eu só queria sumir"

Cena 169.

"Tem certeza que não quer ficar lá em casa hoje?" Eliza pergunta parando na frente da casa de Lucas.
A chuva havia se transformado em apenas um leve chuvisco.
"Tenho, eu preciso..." ele suspira "Ficar sozinho pra digerir isso tudo"
Eliza balança a cabeça.
"Tá bem então, mas olha, qualquer coisa me liga"
Lucas assente e Eliza o abraça.
"Te amo chato"
"Também te amo" ele fala e entra na casa.
O carro de Júlia não estava na frente da casa, então ele logo deduziu que ela não estava.
Ele tirou a mochila das costas e sentou-se no sofá.
As palavras de Karina vinham toda hora em sua cabeça, os olhares das pessoas, os cochichos, o rosto de Bruno... Ele falou que não que se importava com oque as pessoas falassem, mas, a maneira como tudo aconteceu, a maneira como ele foi exposto, em frente a toda escola, seria mesmo suficiente pra ele não se importar?
Lucas escorregou no sofá com esses pensamentos e adormeceu ali mesmo.

Cena 170.

Bruno ligou pra Renato avisando que não conseguiria ir pra oficina, ele deu alguma desculpa que o irmão estaria doente e por isso teria que ficar em casa.
Oque na verdade, além de toda confusão que estava sua cabeça, ele não queria encontrar a mãe de Lucas, com certeza ela levaria o carro pra consertar e ele não queria ter que encarar ela, mesmo Júlia não sabendo de nada e de não o ter reconhecido.
Ele esperaria anoitecer mais pra ir tentar ir na casa de Lucas, com certeza Eliza estaria com ele agora e a melhor coisa a fazer era deixar as coisas se acalmarem.
Ele estava absorto nesses pensamentos que nem percebeu Carmen o chamando.
"Você tá bem?" Ela pergunta tirando uma cadeira pra se sentar perto dele "A gente não tem conversado direito"
"Tô...tentando ficar"
Carmen balança a cabeça concordando. "E... como estão as coisas com a Karina? Ela nunca mais veio aqui, aconteceu alguma coisa entre vocês?"
Bruno se ajeita na cadeira, virando o rosto pro chão.
"A gente terminou"
"Terminaram?" Ela dá um sorriso sem graça "Mas por que?"
Bruno se recontorce mais na cadeira.
"Não tava dando mais certo, e... eu não acho justo ela aguentar tudo oque aconteceu ano passado e carregar uma coisa que é só minha, eu não quero que ninguém sinta pena de mim ou que fique apenas do meu lado pra me consolar e bater nas minhas costas" ele fala com a voz ficando mais intensa.
A boca de Carmen transformou-se numa linha dura.
"Oque tu tá querendo dizer com isso Bruno?"
"Eu acho que a senhora tem dois neurônios suficientes pra entender oque eu quero dizer" e se levanta da cadeira.
"Eu não sou culpada pela morte do teu pai" Bruno para no lugar "Se tu quer ouvir algum tipo de explicação, desculpa Bruno, mas eu não tenho, assim como você, eu não sabia oque se passava com ele" a voz dela começa a tremer "Eu vivi a minha vida toda com teu pai Bruno, ele me deu vocês, que são as coisas mais preciosas da minha vida" Bruno contraiu a sua mandíbula, ele estava lutando contra as lágrimas "Criou essa casa, criou a fazenda... eu queria muito Bruno, muito, saber oque se passava na cabeça dele, mas eu não sabia, eu não sabia" Ela começa a chorar "Talvez tenha sido culpa minha mesmo"
Bruno puxa a mãe pra um abraço.
"Não, a senhora não tem culpa mãe, ninguém tem" seus olhos ardiam "Ninguém tem mãe..." ele se desfaz do abraço quando Bernardo entra na cozinha.
"Qual é o momento familiar aí?" Ele fala com um sorriso ciníco, abrindo a geladeira e abrindo uma lata de cerveja.
Uma veia saltou para fora do seu pescoço do Bruno.
"Eu vou sair, mais tarde volto" ele fala pra mãe e sai pela porta cozinha.
"Ah, qual é Bruno, vamo conversar cara" ele fala com uma cara de pau.
Carmen se volta pra ele, lançando-lhe um olhar de irritação e sai da cozinha, subindo novamente as escadas.
"Eita dia bom!" Ele dá uma risada dissimulada e amassa a latinha, a jogando no lixo.

Cena 171.

"Lucas" Júlia o toca no ombro.
Lucas desperta assustado percebendo que havia dormido no sofá.
"Que horas são?" Ele fala abrindo os olhos com dificuldade.
"Sete horas... você tá bem? A cabeça ainda tá doendo?"
Ele se indireita no sofá, passando a mão no rosto.
"Não"
"Eu deixei bife feito no forno, vou jantar na casa do Ricardo" ela fala verificando a bolsa.
"Tabom" ele fala.
Júlia ficou surpresa com o tom de voz ameno de Lucas, geralmente ele começava uma discussão e terminava subindo as escadas a deixando falando sozinha.
Mas não, dessa vez ele parecia não querer brigar, parecia... abatido?
Um carro buzina no lado de fora, Júlia dá uma olhada pela cortina da janela.
"Tem certeza que tá bem?"
"Tô, vai logo"
Júlia pega a bolsa e se encaminha para a porta.
"Daqui a pouco eu volto, não esquece de comer" e sai.
Lucas se levanta e vai até a geladeira, ele bebe um pouco de água e reflete sobre tudo oque aconteceu no dia, Bruno não o procurou, ele devia estar com a cabeça cheia com tudo aquilo, ter mais uma coisa pra aguentar, isso se não bastasse oque passava com o padrasto, o luto ainda pelo pai... Lucas pensava só o pior.
Ele decidi tomar um banho pra tirar toda essa energia, todo esse pesar que estava presente em seu corpo.

Cena 172.

Bruno diminuiu mais a moto quando chegou na rua de Lucas, ele estava receoso de Júlia estar por lá.
Quando chegou perto da casa, não avistou o carro de Júlia, mas, ela ainda poderia estar na casa, o carro poderia estar na oficina já que estava batido.
Ele só foi perceber uma coisa quando levantou seu olhar para a janela do quarto de Lucas.
Lá estava ele.
Sentado com as pernas cruzadas, de fones de ouvido e de olhos fechados.
Ele parecia estar em outro mundo, seu rosto transbordava uma espécie de tristeza delicada, uma beleza única que só Bruno conseguia enxergar quando olhava profundamente nos olhos dele.
Naquele momento, ele tinha a certeza que o amava.
Lucas abre os olhos e Bruno buzina a moto.
Ele mostra um sorriso no rosto.



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