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História Seus Olhos de Vidro - Separação


Escrita por: Tinkerbaek

Notas do Autor


Olá, pessoinhas!
Primeiro de tudo queria dizer que sinto muito pela demora. Queria ter postado antes mas fui viajar de última hora e cheguei hoje, estou exausta mas corri pra tentar betar esse capítulo pra vocês. Sendo assim, me perdoem algum erro, se encontrarem, podem me avisar hahaha.
"Segundamente", perdão por postar tarde esse capítulo, mas não sei que horas vou chegar em casa amanhã e mesmo que chegue de tarde aqui, já vai ser tarde aí para vocês. Devo responder os comentários do capítulo anterior daqui umas horas ou amanhã mesmo, não se preocupem. É que realmente to bem cansada, beleza?

Ah, me desculpem por esse capítulo ser pequeno e meio parado, mas ele é parte da introdução desse "universo", assim vão entender melhor o que acontece na história. Adiantando aqui também que eu foco nos pontos chaves da história, as situações que acho mais relevante, okay?

Enfim, vamos ao novo capítulo!

Capítulo 2 - Separação


Fanfic / Fanfiction Seus Olhos de Vidro - Separação

"But if you only got love for your own race Mas se você tiver amor apenas por sua própria raça
Then you're gonna leave space Então você vai deixar espaço
for others to discriminate Para outros discriminarem
And to discriminate only generates hate E discriminar apenas gera ódio"

Where is The Love - Black Eyed Peas

 

***

O som de passarinhos o despertou novamente naquela manhã. Kyungsoo abriu os olhos vagarosamente, levando tempo para processar o que houve no dia anterior devido ao sono pesado que tivera. Olhou para o lado, sua esposa não estava lá, mas certamente havia dormido ali, também já estava se acostumando em não vê-la chegar em casa. Balbuciou, sonolento, o comando para que o despertador parasse, e o som de passarinhos fora diminuindo até não se ouvir mais. Naquele exato momento lembrou-se do homúnculo, e assim apressou o passo para sair logo da cama.

Enrolado em seu robe verde, desceu correndo as escadas para o andar de baixo, onde deu de cara com a cena de sua esposa rindo enquanto mordiscava bolachas de água e sal, e o estava homúnculo de costas para ela, fritando alguma coisa no fogão.

“Ah, bom dia, senhor.” Cumprimentou Kai, sorrindo em sua direção com um avental florido preso em sua cintura e uma espátula em mãos.

“Querido, 94 está preparando seu café da manhã, não é ótimo?! Você sempre disse que comida feita a mão é sempre a melhor, então ele perguntou qual era seu desjejum preferido e tcharan! Ele preparou panquecas, ovos mexidos e bacon! Não é incrível?!”

Kyungsoo olhou para a esposa, sem saber direito o que dizer. Não de felicidade, e sim por não conseguir entender como ela podia estar tão animada. Olhou para o prato ao lado do fogão, bacons e panquecas já devidamente postos, os ovos ainda na frigideira. Voltou seu olhar para o homúnculo, que parecia de bom humor, apesar de tudo. Kyungsoo, porém, não conseguia engolir aquela estranha alegria.

“Querida...” Chamou ele, com um tom um pouco irônico pela irritação. “Quem é 94?!” Fora tudo o que conseguira pensar em resposta. Naquele momento, sua esposa apenas soltou uma curta risada esganiçada, como se algo fosse muito óbvio.

“Ora, ele!” Apontou para Kai, que parecia muito ocupado em fazer ovos mexidos perfeitos. “O número dele é grande demais pra ficar falando.”

“Por que simplesmente não o chama de Kai?” Questionou, e nada do homúnculo parecer sequer se importar com a situação.

“Porque assim fica parecendo um nome de verdade, eu hein!”

Kyungsoo suspirou fundo e esfregou a palma da mão no rosto, tentando evitar uma briga. Sabia que não adiantaria falar nada mais sobre tudo aquilo, já era tarde demais, então apenas caminhou até o banheiro dos hóspedes para lavar o rosto, lembrando também que havia deixado uma bagunça lá. Porém, ao chegar, tudo estava limpo, nenhum sinal de flocos de isopor ou qualquer gosma dentro da banheira. Lavou o rosto correndo, sabendo que provavelmente Kai tivera de limpar o local onde passou a “ter uma vida”, e aquilo não parecia nada certo. Saiu do banheiro o mais rápido possível e deu de cara com o homúnculo, que o olhava fixamente, demonstrando certa preocupação através daquele olhar perolado.

“O senhor está bem?” Perguntou ele, a voz grave parecendo doce e sincera.

“Sabia que homúnculos entendem um pouco de primeiros socorros? Se não for nada grave ele pode sair pra comprar os remédios certos. Mas claro, só se for algo que não precise de médico.” Ela ainda sorria e falava como uma criança exibindo seu brinquedo novo.

Kyungsoo viu o prato com ovos, bacon e panquecas nas mãos de Kai, que ainda parecia preocupado. Tomou-o de suas mãos e sentou-se afastado da esposa, comendo sem paciência alguma, podendo ouvir o arranhar forte de talheres na porcelana. Ela pareceu finalmente notar, pois soltara um suspiro forte e simplesmente saíra porta afora enquanto colocava a bolsa apoiada em um dos ombros, sem sequer se despedir.

Kai agora limpava o fogão que não estava realmente sujo o suficiente para tal coisa, ele o olhava por cima dos ombros com os olhos leitosos vez ou outra, tentando fingir estar realmente concentrado na limpeza.

“Kai...” Chamou o homúnculo, que logo o respondeu chamando-o de senhor. Não gostava de ser chamado de senhor, mas preferiu ignorar no momento. “Desculpe ter tirado o prato da sua mão com tanta força...”

“O senhor tem o direito de pegar o prato como quiser.” Respondeu ele, calmo.

“Não, não tenho.” Retrucou, tentando não olhar nos olhos de Kai. “Foi rude e você não merecia depois de todo o trabalho que teve. Me desculpe.”

“Não há porque pedir desculpas. Eu que deveria me desculpar, ter feito o café sem o senhor ordenar foi errado, sinto muito.”

Kyungsoo finalmente teve coragem de fixar seu olhar em Kai. Como ele podia ser tão submisso? E por quê? Tais questões vagavam por sua mente, e talvez ele tivesse sido criado daquela forma, nunca entendeu como a personalidade dos homúnculos era moldada. Lembrou-se vagamente de algo em sua memória, mas tentou ignorar.

“Não peça desculpas por algo que você não fez.” Disse a ele, cortando a pilha de panquecas em duas, e dividiu a quantidade de ovos mexidos em duas porções iguais, fazendo o mesmo com os bacons. “Vem, come comigo.”

“Senhor?!” Perguntou Kai, confuso, os olhos parecendo enormes pela surpresa ao ouvir tais palavras.

“Me ajuda a terminar meu café?” Perguntou como uma desculpa para dividir aquilo tudo. O homúnculo sorriu e concordou, ficando de pé a sua frente para comer. “Me sentiria melhor se você sentasse.”

“Ahn... Sim, senhor.” Disse ele, sentando-se a sua frente. Kyungsoo colocara o prato no meio para que ambos alcançassem.

“E poderia não me chamar de senhor? Acho que Kyungsoo que seria melhor.” Pediu, tentando parecer sério com a boca cheia de panqueca.

“Tem certeza, senhor? Não seria muito íntimo?”

“Tenho certeza. Eu te chamo de Kai, não é mesmo? Então me chame pelo nome também. Se continuar me chamado de senhor, vou te chamar de senhor também, e acredite, vai ser bem estranho.” Kyungsoo deu uma risada boba de sua frase, surpreendendo-se ao ouvir que Kai também havia rido. Era a primeira vez que escutava sua risada, que era aparentemente mais fina que sua voz. Tentou não sorrir por isso.

“Mas insisto... Seria estranho pra mim chamá-lo apenas pelo nome…”

Kyungsoo suspiro profundamente, talvez estivesse exigindo demais com aquele pedido, afinal de contas, realmente não se conheciam o suficiente. Até que se acostumassem um com o outro, seria melhor achar uma outra opção.

“Me chame de hyung então, pode ser?” Percebeu que aquela proposta havia deixado o homúnculo mais confortável, pois aceitou de bom grado chamá-lo assim. “Então daqui pra frente, nada de senhor, apenas hyung, okay?”

“Okay!”

***

Ter um homúnculo em casa ainda era estranho para Kyungsoo. Vê-lo andar silenciosamente pelos cômodos, limpando e arrumando pequenas coisas nos devidos lugares, cozinhando, até mesmo vê-lo retirando a neve da calçada causava certa sensação ruim, lembranças lhe perturbavam. O único momento que esquecia de sua presença era durante a noite, quando o homúnculo ia para os fundos da casa dormir no depósito, em uma pequena cama antiga.

Hanna havia saído no horário normal naquele dia, o que era um milagre, considerando os últimos meses, mas isto significava ficar mais uma vez sozinho em casa com Kai, que estava calmamente arrumando algo na cozinha. Aquele silêncio, entretanto, era também incômodo. Kyungsoo apreciava seu tempo onde apenas ouvia o barulho da televisão, mas estar com mais alguém na casa deixava a situação um tanto anormal para si.

Porém, o que parecia ainda mais anormal era como, especificamente naquele dia, o homúnculo andava de forma meio lenta, seus olhos pareciam fundos. Kyungsoo sabia reconhecer um pouco sinais de cansaço, mas não era estranho que logo ele estivesse daquela forma? Um homúnculo cansado não era exatamente algo que havia pensado que poderia acontecer. Até agora.

“Kyungsoo hyung?” Ouviu a voz grave lhe chamar, fazendo-o levar um susto, pois não era tão comum conversarem, apesar de ele estar morando em sua casa há mais de duas semanas.

“Sim?” Respondeu, tentando não parecer desconfortável com o susto que levara.  

“As comidas enlatadas acabaram e acho que preciso comer algo...” Ele parecia acanhado, como se não quisesse incomodar. Olhou bem para o rosto de Kai, os olhos perolados não olhavam em sua direção, e sim, para baixo. Ele parecia evitar contato visual a qualquer custo, e isso também lhe parecia estranho.

“Você não precisa comer enlatados.” Disse, caminhando até a cozinha, passando por Kai. Ficara de costas para ele enquanto vasculhava algo dentro da geladeira. “Por que você tava comendo enlatados, falando nisso?”

Silêncio. Não houve resposta. Kyungsoo estranhou, talvez tivesse falado baixo demais.

“Kai, por que você estava comendo comida enlatada?” Questionou novamente, tentando se fazer ainda mais compreensível, mas foi quando ouviu um forte barulho de panelas e pratos caindo ao chão, que praticamente abafou o som de um corpo atingindo o chão.

“Kai?!” Gritou Kyungsoo ao virar-se e ver o homúnculo estirado ao chão. Largou a comida que tinha em mãos e apressou-se para socorrê-lo. Olhara o rosto do homúnculo, percebendo que havia um fino fio de sangue escorrendo de sua testa. “Meu Deus...”

Tentou, inutilmente, levantá-lo em seu colo. Mas quem queria enganar? Ele era mais alto e provavelmente mais pesado, se conseguisse segurá-lo nos braços, nada garantiria que não o deixaria cair no chão.  Tentou, então, arrastá-lo enquanto o segurava por baixo dos braços, o que foi efetivo. Levou Kai daquela maneira até o sofá, onde conseguiu deitá-lo.

Após colocar uma almofada sob sua cabeça, correu para procurar alguma instrução no manual de instruções, todavia não sabia mais onde havia guardado aquilo, e se realmente o havia guardado. Correu então até seu smartphone, tentando desesperadamente achar alguma resposta sobre o que fazer quando um homúnculo desmaiasse, e se isso era comum.

Ouviu um gemido, porém, logo após agarrar o celular em mãos, voltou correndo para perto do sofá e viu os olhos perolados abrindo e fechando aos poucos, parecendo tentar compreender onde estava e o que havia acontecido.

“Kai?!” Chamou Kyungsoo, e ajoelhou-se ao lado do homúnculo, retirando os fios de cabelo de sua franja da testa. “Tudo bem? Consegue me entender?!”

“Consigo...” Sua voz era fraca, os olhos brancos finalmente buscaram os de Kyungsoo. Ele realmente parecia cansado e frágil. Reparou como Kai levou fracamente uma das mãos para o estômago, apertando-o de leve.

“Você disse que precisava comer... Há quanto tempo, exatamente, você não come?” Kyungsoo reparou como sua expressão mudara ao perguntar aquilo, parecendo preocupado em responder tal questão. “Pode me dizer, Kai.”

“Uns cinco dias...” A resposta soava como culpa, como se tivesse feito algo incrivelmente errado.

“Kai, por que está há cinco dias sem comer?!” Perguntou mostrando alteração na voz, não queria parecer grosseiro, mas estava preocupado e não conseguia manter-se muito calmo em situações como aquela.

“A senhora Hanna me viu comendo pão com queijo um dia e...” Ele parecia com medo de continuar, mas Kyungsoo segurou uma de suas mãos, tentando ignorar o fato de que ambos nunca realmente se tocaram.

“E...?” Suspirou fundo, vendo que ele ainda estava hesitante. “Você pode falar pra mim.”

“E...” Ele continuou, porém, desviando o olhar novamente. “Senhora Hanna me disse que eu não podia comer aquilo, que se eu quisesse comer, que comesse apenas os enlatados do rótulo amarelo por serem os mais barato... Mas há uns cinco dias eles acabaram. Senhora Hanna disse que compraria mais, então estou esperando...”  

Kyungsoo estava incrédulo e enfurecido. Como assim sua esposa pôde esquecer-se de comprar comida para Kai e ainda por cima proibi-lo de comer outras coisas? Não conseguia conceber tal ideia. Olhou o corpo magro de Kai, sentiu como sua pele estava gelada, como ele parecia cansado de tanto trabalhar e de não se alimentar há dias. E quem ele queria enganar? Comida enlatada não fazia bem a ninguém, imagine para alguém que trabalha o tempo inteiro e não tem nenhum descanso. Naquele instante, porém, algo despertou dentro de si. O que diabos ele e a esposa estavam fazendo? Aquilo era realmente certo? Kai era, de fato, um homúnculo, criado por alquimistas, nascido de um processo não natural, não fora gerado na barriga de uma mulher, mas ele nunca pareceu tão humano como agora. Muitas coisas começaram a parecer erradas.

“Consegue levantar...?” Perguntou a ele, tentando manter a voz mansa daquela vez. Kai acenou positivamente com a cabeça. Kyungsoo ajudou-o para que ficasse de pé e então segurou seu braço. “Vem comigo.” O homúnculo não questionou, apenas andou consigo para fora da casa. Kyungsoo abriu a porta da frente de seu carro e Kai pareceu confuso com aquilo. “Entre. E, por favor, não questione, apenas entre, tudo bem?”

Graças aos céus ele não tentara argumentar contra entrar no carro, logo estava sentado e Kyungsoo afivelou ambos os cintos. Antes de ligar o veículo, contudo, esticou-se para trás para pegar uma sacola de papel em cima do banco, entregando-a para Kai.

“Aí dentro tem uma maçã e um pacotinho de biscoito de água e sal. Coma isso enquanto eu dirijo. E não quero ouvir protestos, tudo bem? Só quero ouvir o som de você mastigando.” Não teve de insistir muito, pois o homúnculo já havia dado uma mordida na maçã com tanta vontade que seu suco escorreu pelo queixo do mesmo.

Dirigiu então para um de seus lugares favoritos, que por sorte não ficava tão longe dali.

***

“Por que estamos de frente para um restaurante?” Perguntou Kai, segurando o pacotinho já vazio de biscoito. Ele parecia surpreso e um tanto assustado, mas o seguiu quando saiu do carro.

“Achei que seria uma boa ideia comer fora hoje.” Disse, adentrando o local e fazendo um gesto para que fosse seguido. Kai apressou-se para perto de si e segurou a manga de seu casaco, como uma criança acanhada tentando se proteger atrás dos pais. Kyungsoo deu uma breve e baixa risada daquilo.

“Olá, senhor, mesa pra um?” Perguntou um dos atendentes, um sorriso enorme no rosto e bem arrumado. Aquele não era um restaurante muito barato, comia ali geralmente em ocasiões especiais, e considerou aquela uma ocasião especial.

“Não, mesa pra dois.” Respondeu, um tanto sem paciência.

“Tudo bem, poderia me acompanhar, por favor?” Disse ele, e pôs-se a andar para uma das mesas vazias do local. Não estava tão cheio, ainda era horário de almoço, e geralmente aquele restaurante enchia finais de semana durante a janta. Reparou que agora todos os garçons eram homúnculos, a última vez que fizera uma refeição ali ainda havia alguns garçons humanos. “Ah, desculpe, senhor, mas seu homúnculo vai ter que esperar lá fora.”

“Ele vai comer comigo.” Respondeu como se aquilo fosse realmente óbvio, mas a expressão do atendente pareceu mudar.

“Ahn... Achei que o senhor estava esperando alguém chegar...”

“Bem, como pode ver, eu e ele somamos dois, e eu pedi por dois lugares. Agora que estamos aqui, podemos nos sentar?”

Kyungsoo sentiu que agora Kai apertava a manga de sua camisa com ainda mais força, olhou por cima de seu ombro e percebeu que ele encarava o chão e sua postura claramente indicava um grande desconforto, como se tentasse ficar invisível.

“Senhor, peço já desculpas, mas temos certas regras aqui na casa que não permitem que... Bem...” O atendente agora olhava com certo desprezo para Kai, Kyungsoo podia bem perceber o olhar focado no homúnculo que segurava sua camisa com tanto medo.

“Escute aqui.” Interrompeu aquele homem, agora se aborrecendo mais ainda. “Eu não vim aqui pedir nenhum favor, se eu pedi mesa para dois, o senhor tem que apenas nos trazer até aqui e não dar opiniões! Eu vou, sim, comer com ele e se tiver algum problema com isso acho que deveria chamar seu gerente!”

O atendente ficou em silêncio, segurando os cardápios em mão. As poucas pessoas que estavam ali agora olhavam aquela pequena cena. Kyungsoo tentou não prestar atenção nas expressões dos outros clientes após ouvir, bem baixinho, uma senhora falar que era absurdo que um homúnculo comesse junto às pessoas de verdade. Seria melhor mesmo ignorar.

Kyungsoo, porém, não esperou a resposta, apenas tomou com força os cardápios das mãos do atendente e pediu para que Kai sentasse, e ele o fez, timidamente. O homem de terno pareceu hesitar por um momento, mas voltou ao seu posto, onde começou a cochichar alguma coisa no ouvido de outro homem que parecia trabalhar ali.

“Por que...” Ouviu finalmente a voz de Kai, parecendo trêmula. “Por que está fazendo isso...?” Ele olhava para o próprio colo, parecendo a ponto de chorar. Aquilo pegou Kyungsoo de surpresa.

“Eu...” Por uns segundos perguntou-se o mesmo. Por que estava fazendo aquilo? Por que criou uma cena para jantar naquele lugar luxuoso sendo que sequer perguntara a Kai se era isso que queria? E acima de tudo, por que ficou tão irritado com os comentários e com a forma que foram tratados? Por que se importava? “Eu... Não sei.” Respondeu, sendo sincero.

“Eu não devia estar aqui...” Continuou ele, ainda evitando contato visual. “Não é meu lugar... Meu lugar é comendo nos fundos da casa, e não aqui...” Viu uma gota cair do rosto de Kai, seria aquela a primeira vez que estava vendo um homúnculo chorar? Por impulso, esticou a mão para segurar a do outro, apertando com força os dedos do mesmo.

“Kai, escute...” Tentou acalmar a voz mais uma vez, tentando amenizar situação. “Me perdoe por ter trazer até aqui sem perguntar sua opinião, mas queria fazer algo bom, entende...?” O homúnculo acenou positivamente com a cabeça, enxugando as lágrimas com a mão livre. Kyungsoo sentiu que ele apertava seus dedos com mais força agora. “Se tiver desconfortável, podemos ir, mas não quer nem olhar o cardápio?”

Kai parou de se mexer por uns segundos até que, timidamente, ainda sem soltar sua mão, puxou um dos cardápios em sua direção. Abriu-o, um tanto atrapalhado por usar apenas uma mão, e olhou atentamente as opções, até que finalmente ouviu sua vozinha acanhada dizer baixinho:

“Uma vez vi comerem lagosta na televisão...”

Kyungsoo sorriu, acariciando brevemente a mão de Jongin com seu dedão.

“Quer comer uma então?” Perguntou e o homúnculo respondeu balançando a cabeça novamente. Chamou um dos garçons, um homúnculo de estatura mediana e cabelos bem pretos, que caminhou rapidamente em sua direção vestido com um uniforme completamente branco.

“Vamos querer uma lagosta, duas sopas de ostras, duas saladas da casa e essas batatas gratinadas com espinafre e queijo camembert.” Kyungsoo sabia que aquilo sairia caro, mas no momento no qual viu os olhos perolados de Kai olhando para si, surpreso pelo tanto que havia pedido, não ligou tanto assim para o dinheiro.

“Alguma coisa para beber, senhor?” Perguntou o homúnculo garçom.

“Traga o melhor vinho que tiverem.” Respondeu, fechando os menus e entregando-os. O homúnculo fez uma reverência e se retirou. Não demorou muito até que voltasse com uma garrafa de vinho e duas taças. Kai olhou atentamente o vinho ser derramado no recipiente de vidro.

Kyungsoo, por outro lado, começou a notar olhares em direção a sua mesa, sabia que muitos ali estavam incomodados pelo fato e um homúnculo estar naquele restaurante para almoçar, como um igual. Ouvia os cochichos em volta e incrivelmente não estava realmente se importando. Em outra situação provavelmente ficaria profundamente desconfortável e talvez até mudasse de restaurante para evitar conflitos, mas ver Kai cheirar a taça de vinho, bebericar de forma desconfiada o líquido e fazer cara feia, sendo completamente adorável, fez com que não quisesse mais sair dali.

Deu uma risada e ensinou-o a brindar. Kai continuou tomando o vinho enquanto fazia fofas caretas. Porém, o mais adorável foi ver aqueles olhos tão brancos brilharem ao ter toda a comida pedida finalmente sobre a mesa. Reparou como ele tentava comer de maneira contida, sem expressar tanto suas emoções, mas era evidente o sorriso em seus lábios cada vez que levava comida a sua boca. Deixou então que Kai comesse a vontade, o quanto quisesse. Kyungsoo comeu apenas sua sopa e a salada.

Fez questão de fazer Kai escolher uma das sobremesas, e mais uma vez ele disse ter visto alguém comer petit gateau na televisão. Parece que programas de TV eram basicamente o parâmetro do homúnculo, e percebeu que ele prestava mais atenção do que imaginava, pois apesar de nunca realmente sentou para assistir as programações, ele parecia ver enquanto cuidava dos afazeres de casa. Mais uma vez Kai deliciou-se com a sobremesa, encantado em parti-la com a colher e ver o chocolate derretido escorrer para fora. Ele devorou o doce, até ficar com o canto da boca sujo. Kyungsoo mais uma vez riu e gesticulou para que limpasse o local, o outro pareceu ficar incrivelmente acanhado e limpou ferozmente sua boca.

Ao pedir a conta, sentiu um pouco de dor ao ver o preço, mas pela primeira vez havia se divertido naquele restaurante sofisticado, onde o que tudo importava era manter a classe. Pela primeira vez sentiu que seu dinheiro fora bem gasto ali. Chamou Kai para que levantasse e o acompanhasse para o carro, e mais uma vez ele o agarrara pela jaqueta, seguindo-o logo atrás. Kyungsoo fingiu não ver o atendente ao passar por ele, ignorando-o por completo.

Finalmente ambos estavam acomodados novamente dentro do veículo. Kai havia ficado quieto, apertando uma mão na outra. Decidiu deixá-lo em silêncio, se era isso que o deixava confortável no momento, e concentrou-se em dirigir. Passaram alguns sinais e já estavam a meio caminho de casa, Kyungsoo reparava em como a neve havia deixado toda a cidade com aquele branco tão limpo…

“Obrigado...” Kai disse, e mesmo ele olhando para as próprias pernas, um pequeno sorriso estava desenhado nos lábios carnudos. Kyungsoo não podia encará-lo, mas segurou por alguns segundos a mão de Kai e também sorriu, encarando a neve durante o caminho e imaginando os olhos perolados brilhando de felicidade em sua direção.

“De nada.”


Notas Finais


Mais uma vez desculpem pelo ritmo meio paradinho, mas prometo que as coisas já vão engatar no próximo capítulo (que tentarei postar mais rápido dessa vez). Gostaria muito de saber o que estão achando, então, se quiserem, caso se sentirem confortáveis, conversem comigo! Não precisam ter vergonha ou medo, prometo que não mordo (Na verdade, eu que fico sempre com muito medinho de saber o que estão pensando da história, sempre acho que estão odiando tudo kkk) Críticas positivas também são muito bem aceitas!

Caso queiram meu twitter: @tiinkerbaek com dois "i"s

Até o próximo capítulo!


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