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História Seven love letters - Castelos demais, tempo de menos


Escrita por: myavengedromanc

Capítulo 16 - Castelos demais, tempo de menos


 

Eu estava me apaixonando, profundo e irremediavelmente, por aquele homem. O que me deixava aterrorizado. Claro, eu sabia, quando parti nessa viagem, que tinha sentimentos muito, muito fortes por Gerard, mas não pareciam ainda muito bem delineados. Antes, ele havia sido apenas um homem por trás das palavras, mas agora era muito, muito real, inteligente, sexy e divertido, melhor do que eu tinha imaginado. Antes de adormecer, depois do nosso dia de descobertas, Gerard sussurrou no meu ouvido:

— Je t’aime, mon coeur. Avec tout mon coeur et mon âme. Eu te amo, meu marido.

Suas palavras me sacudiram e eu levantei.

— Você acabou de me chamar de seu marido?

Ele deu de ombros e estalou os lábios.

— É o que eu sinto. Je t’aime.

— Por quê? — perguntei, não apenas em busca de confirmação, mas porque eu estava realmente muito curioso. Gerard me olhou com uma expressão confusa. Perguntei outra vez.

— Por que você me ama?

— Não tenho escolha. Apenas amo.

— Je t’aime aussi. — aconcheguei-me em seu abraço. Como duas peças de um quebra cabeça, nós nos encaixamos. Ainda assim, a dúvida penetrou em minha mente. As coisas pareciam perfeitas demais entre nós, e eu me perguntava quando aconteceria o inevitável. Tentei pensar positivo, mas era difícil quando meu coração estava na linha de tiro. Agarrei-me à esperança como a um colete salva-vidas. Dessa vez, eu não estava fugindo do amor; eu estava mergulhando de cabeça.

De manhã, depois de um breve café da manhã de croissants amanteigados e confiture d’abricot, visitamos o Château d’Ussé, famoso por ser a inspiração por trás tanto de A bela adormecida — La belle au bois dormant — de Charles Perrault, como do icônico castelo da Disney. Um verdadeiro cenário de conto de fadas, que fica na borda da Floresta Chinon, nas margens do rio Indre, sobre jardins escalonados.

Se eu pudesse ter escolhido um castelo em toda a França para morar, teria sido aquele.

Tudo a respeito do château era uma promessa de encantamento, em especial a arquitetura, com seus telhados azul-acinzentados de ardósia e lucarnas, sem mencionar as torres e os torreões. Era quase impossível imaginar que num momento no tempo, o castelo havia sido usado como fortaleza, com pontes levadiças e ameias.

Gerard me guiou pelos jardins.

— Você realmente me fez rir em uma de suas cartas.

— Qual? — devíamos ter trocado pelo menos duzentas.

— Sua carta louca, aquela em que você me disse que a paixão era como um velho par de meias…

— Eu sei, eu sei. Furos inclusos. — bati as mãos sobre os olhos — Por favor não repita o que eu falei.

— A vida sem paixão é como o céu sem o Sol, a Lua sem as estrelas. — ele parou, me pegou pelos braços e me pressionou contra uma parede de pedra — Não consigo viver minha vida sem paixão. Você consegue?

— Não foi que eu tivesse a intenção de viver uma vida sem paixão.

Seus olhos se fixaram nos meus.

— Frank, quero te dar tudo. Tudo o que eu tenho. Não tenho muito, mas o que tenho é seu. Quero que você conheça a alegria. Você é tão especial e tão único. Quero te dar algo que você nunca teve. Quero te dar a dádiva de um filho.

Nunca antes eu tinha ouvido tais palavras saírem de uma boca humana real. Fiquei sem fôlego. Uma lágrima se esgueirou pelo canto do meu olho, percorrendo um caminho lentamente pelo meu rosto.

Um casal passou por nós, segurando as duas mãos de sua filha, que devia ter cerca de 3 anos. Eles a ergueram no ar, e ela apontou os dedos do pé para o céu azul. Deu uma risadinha.

E então olhou por cima do ombro, na minha direção, através de marias-chiquinhas presas com fitas azuis. Seu sorriso ficou maior, como se estivesse compartilhando um segredo comigo, como se ela soubesse o que Gerard e eu tínhamos falado, e ela estivesse me pedindo para pensar a respeito. O casal e sua filhinha seguiram em frente. Estremeci e percorri a logística na minha cabeça. Ele não podia estar falando sério.

— Agora? Você quer ter um filho agora?

— Não, não agora. Mas em breve. Por volta dessa época, no ano que vem, estaremos casados. Então começaremos o processo.

Não era uma proposta formal, mas uma promessa que eu acreditava que se tornaria realidade. Não havia outro caminho para nós. Estávamos destinados a ficar juntos. Eu ri, tentando manter meus sentimentos sob controle.

— O que é você? Algum tipo de profeta?

— Não, sou um realista. E, como eu disse antes, de acordo tanto com a minha, quanto com a sua situação, nós dois temos de ser extremamente pacientes.

— Mas acabamos de nos reencontrar.

— E agora que nos reencontramos, eu nunca mais quero te perder. — ele parou no meio do caminho — Frank, você é o homem mais inigualável e maravilhoso que já conheci. — seu rosto ficou sério. — Você quer continuar no caminho em que estamos?

Mesmo antes que eu pudesse fazer as minhas próprias perguntas, ele me deu respostas. Eu não podia imaginar minha vida sem Gerard. Eu estava atraído demais por sua inteligência, sua paixão, tudo a seu respeito. Não importava a forma como as coisas tinham acontecido, apenas que agora estávamos juntos. Esperar mais vinte anos estava fora de questão. Olhei para o Château d’Ussé.

— Podemos nos casar num castelo?

Gerard tirou uma mecha de cabelo da minha testa.

— Se existe uma coisa que a França tem de monte, são castelos, príncipe.

Ah, ameixeiras e desejos de conto de fadas, parecia que todos os meus sonhos estavam prestes a se tornar realidade. Eu estava flutuando numa nuvem mágica, tentando absorver tudo.

Depois de uma excursão de fim de manhã a ainda outro castelo, o Château d’Azay le Rideau, chegamos a Dinan, uma cidade medieval única na Bretanha, completamente cercada por fortificações, ou em termos leigos, um vilarejo amuralhado. História fascinava Gerard.

Seus olhos se iluminaram. Os meus estavam ficando um pouco nebulosos.

— Querido — eu disse, interrompendo-o enquanto ele me contava que as muralhas, praticamente intactas, tinham três quilômetros de extensão —, não quero dar trabalho demais…

— “Dar trabalho?” O que é isso? Você não está de férias?

— O quê? Sim, estou de férias. Costumo ser o tipo de homem que não dá trabalho, o que significa que eu não exijo muito…

— Essa expressão, “dar trabalho”, é engraçada. — fiz uma careta. — Príncipe, o que foi? Você está bem?

Meu estômago roncou alto, e eu sufoquei um pouco do constrangimento.

— Querido, eu te amo, com barulhos e tudo mais. Vamos parar para comer alguma coisa no próximo vilarejo. Eu não sabia que era tão tarde. — Gerard começou a rir — Foi uma noite bem barulhenta com você.

Minha mente girou com todas as formas constrangedoras com as quais eu pudesse ter sido barulhento. Afundei no meu assento e cerrei os dentes, escondendo-me de seu olhar amoroso com a minha mão. Eu tinha esperanças de que ele estivesse se referindo ao meu ranger de dentes, não outra coisa como — Deus não permita — gases. A despeito do amor sendo construído entre nós, eu ainda queria impressionar Gerard. Ele apenas sorriu e lançou o carro ruas sinuosas adentro, numa missão de encontrar comida para seu príncipe antes que ele sofresse um ataque hipoglicêmico.

Meu homem conseguiu e encontrou uma confeitaria local, na qual comprou duas saborosas tortas de morango com massa folhada. Crise superada.

Chegamos a Dinan uma hora mais tarde e nos registramos no hotel. Pela forma como a mulher na recepção flertou e riu com Gerard, eu percebi que ela estava caidinha por ele e que provavelmente pensou que éramos apenas amigos.

Quando seu rosto corou, eu tive certeza. Bastava dizer que tínhamos passado tanto tempo nos braços um do outro, que eu nunca tinha percebido o efeito que Gerard provocava nas outras pessoas.

— Ela gostou de você. — sussurrei, enquanto a mulher se virava para pegar as nossas chaves.

— Não seja bobo.

— Ela está falando com você. Está me ignorando completamente.

Gerard me olhou como se eu estivesse louco. Mas eu não estava. Fomos para o nosso quarto e eu montei sobre Gerard na cama, provocando-o.

— Tem certeza de que não quer me trocar por sua nova amiguinha?

Ele me virou de costas e me imobilizou.

— Jalousie?

— Não, não estou com ciúmes.

Claro, talvez o monstro de olhos verdes tivesse feito uma visita, mas não porque a mulher fosse atraente ou jovem. Era porque ela poderia se comunicar com Gerard em sua língua materna. Eu? Parecia que eu tinha síndrome do enfiar os pés pelas mãos não em uma, mas em duas línguas. Mas, independentemente da língua ou de diferenças culturais, eu ainda tinha algumas questões que precisava responder. Qualquer novo relacionamento estava sujeito a pequenas inseguranças. Ao longo dos últimos meses, tínhamos tido conversas telefônicas com duração de duas a três horas diariamente, sem que nenhum assunto fosse deixado de lado. Ambas as nossas histórias eram livros abertos. E já que o assunto de outras mulheres tinha sido mencionado, eu precisava tirar algo de dentro de mim ou me calar para sempre.

— Por que você não se casou com a mãe dos seus filhos?

— Ela não quis. Conversamos sobre isso, mas ela era contra o casamento. Depois de um tempo, as coisas desandaram entre nós, principalmente por minha causa.

Os franceses chamavam essa forma de apenas morar junto de concubinage. Eu sabia que muitos casais na França viviam juntos sem serem casados, e era provavelmente uma das razões pelas quais as taxas de divórcio fossem tão baixas no país. Como um estrangeiro, eu precisaria de um visto ou permissão de residência para viver ali, e para obter esse documento, eu precisava me tornar marido de Gerard. Apenas morar juntos e não nos casarmos não era uma opção para nós. Se ficaríamos juntos, teríamos de estar cem por cento comprometidos.

— Então você trocou Frédérique pela garota vietnamita…

— Durante um ano. Quando reatamos, pensei que as coisas mudariam. Pensei que poderíamos resolver as coisas. E, então, as crianças nasceram. As coisas estavam muito bem no início e nós tentamos, nós realmente tentamos. Só que…

— Você a trocou por Dimitri, o russo número um.

Gerard olhou para o teto, lembrando-se.

— Dimitri era mais jovem, muito, muito mais jovem. Muito bonito…

Eu queria respostas, não detalhes.

— Gostaria de lembrar que eu também sou muito mais jovem do que você. Sete anos mais jovem.

— Querido, não quero dizer nada com isso.

— Ah, vamos lá, Gerard, sou um homem confiante, mas não preciso saber o quanto seus ex eram bonitos ou jovens. Além disso, encontrei o perfil do Facebook deles.

As sobrancelhas dele dispararam para o céu.

— O quê?

— Você nunca se perguntou por que eu quis saber o sobrenome? Também pesquisei no Google.

— Meu pequeno espião, você andou ocupado.

— Eu estava curioso a respeito. Você se incomoda que eu pesquise o seu passado?

— Não. Não tenho nada a esconder de você. E eu estava apenas comentando. — ele suspirou profundamente — Tive uma crise na minha cabeça. Pensei que estar com alguém mais jovem fosse me dar o que eu queria da vida. Mas não foi o caso e, como você sabe, minha vida se transformou num inferno.

Velhas inseguranças demoram muito para desaparecer, e eu não pude deixar de fazer a pergunta que me impedia de confiar nele totalmente, aquela que tinha dado início a toda essa sequência de questionamento.

— Então, o que o impede de me deixar, de me trocar por alguém muito, muito mais novo?

Um calor escaldante reluziu em seus olhos. Ele saiu de cima de mim e rolou de costas.

Nenhum de nós disse nada por um minuto ou dois. Eu não queria estragar as coisas com Gerard, mas sabia que não deveria deixar que as coisas fervilhassem sob a superfície. Eu havia aprendido essa lição da maneira mais difícil, com Chris.

Gerard sentou-se.

— Frank, eu já lhe disse antes, com você as coisas são diferentes. Quero ser o melhor homem para você, a melhor pessoa. Eu sei o que é ser infiel. Todas as mentiras, toda a dor que a infidelidade causa. Quero poder me olhar de frente no espelho e ser feliz com quem eu sou. Cometi muitos, muitos erros na minha vida, e acredite, eu paguei. Eu paguei. — ele fez uma pausa, e sua respiração ficou ofegante — Nunca quis chamar mais ninguém de meu. Só você. E eu sinto que você já é meu marido e eu quero gritar isso do topo das montanhas. Tudo o que compartilhei com você, tudo que você compartilhou comigo, foi feito com confiança para que possamos construir algo sólido juntos, algo que resista ao teste do tempo. Frank, eu te amo com todo meu coração e minha alma. — ele me agarrou pelos ombros. — Você tem de prometer que vai confiar em mim. Todos os relacionamentos precisam de empenho, tanto em níveis físicos, como mentais, e acho que, juntos, podemos conseguir.

Mordi meu lábio inferior e sacudi a cabeça.

— Gerard, eu só precisava apagar todas as dúvidas ou reservas que tenho. Foi porque você me falou tanto sobre seu passado, que isso ficou na minha cabeça. Não o tempo todo, mas um pensamento persistente martelando no meu subconsciente. Agora já colocamos em pratos limpos e eu posso seguir em frente sem olhar para trás. Prometemos um ao outro falarmos sobre tudo e qualquer coisa. Sem segredos, não é? — Nunca. Nunca vai existir segredos entre nós. — ele me puxou para perto de seu peito e me abraçou com tanta força que eu mal conseguia respirar. 

— Querido, preciso te dizer uma coisa.

Prendi a respiração.

— Sim. Qualquer coisa.

— O dia mais difícil que já enfrentei foi dizer aos meus filhos que a mãe deles tinha morrido. Eles a viram sofrer por anos, mas em seus últimos dias, ela não queria vê-los. Ela estava muito doente e quase não parecia ela mesma. Às vezes, acho que as crianças ainda têm dificuldade de entender por quê. Por que ela não quis vê-los e por que ela morreu. — sua voz vacilou — Você deveria ter visto a cara deles quando eu contei… — apertei sua mão e o deixei seguir em frente — Frank, duas crianças pequenas nunca devem precisar ver a mãe morrer. — ele engoliu as palavras — Eu tentei ser o melhor pai que eu poderia ser. Agora que a mãe deles se foi, tudo no mundo deles, assim como no meu, mudou. Pensei que as coisas com a Natasha fossem ficar melhores, pensei mesmo, mas o tempo só acabaria me mostrando que eu estava esperando demais. Então você entrou na minha vida, e eu vi que eu poderia ter algo diferente. Eu vi uma vida melhor.

— Gerard, é o mesmo para mim. Eu tinha desistido e pensei que não merecia coisa melhor. Me contentei. E então eu encontrei as suas cartas, e agora tudo mudou.

— Tudo. — Gerard apertou minha mão com força — Em você eu vejo um homem amável, um homem maravilhoso com o coração de uma criança, um homem que vai ser bom para os meus filhos. Os que eu tenho agora e os que, tomara, vamos ter juntos. Por isso, Frank, acho que eu seria o homem mais estúpido do planeta se alguma vez eu estragasse tudo com você. Só me prometa uma coisa. — disse ele.

— Sim, qualquer coisa.

— Você nunca vai me fazer sentir um homem incompleto. É a razão pela qual eu deixei a mãe das crianças. Quero me sentir inteiro com você.

Igualmente. Caímos de novo nos braços um do outro e fizemos amor louco, insensato e apaixonadamente.
 



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