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História Seven love letters - Celebrar o Natal


Escrita por: myavengedromanc

Capítulo 22 - Celebrar o Natal


 

Estávamos de volta à casa de Isabelle e Richard, sentados na cama, depois de termos nos empanturrado de mais pato chez Gilles e Nathalie. Se eu comesse mais confit de canard, poderia ter começado a grasnar. Apoiado nos cotovelos e chutando minhas botas, observei Gerard tirar uma caixa circular e branca de sua bolsa. Um nome, Mauboussin, marcava a tampa. Ele abriu. Dentro, havia um anel de ouro branco com lindos detalhes quase imperceptíveis brilhante, reluzindo magicamente em frente aos meus olhos. Engoli em seco. O Fou de Toi!

— Não estava pensando em fazer isso esta noite, mas as coisas mudaram e, já que a véspera de Natal é amanhã… o que é um dia? — Gerard delicadamente colocou a joia em meu dedo anelar esquerdo — Já que você aceitou.

As palavras não me vinham. Maravilhado, eu olhava para o anel, prestes a explodir em lágrimas.

— Não estava brincando quando disse que o anel podia ser de plástico…

— Querido, o que foi? Não gostou? Preferiu o outro?

Gostar? Ele estava brincando? Ergui os olhos para Gerard, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

— Está louco? Eu amei. — joguei meus braços em volta do pescoço dele e nos beijamos, suas mãos acariciando minhas costas — Com anel, sem anel, eu te amo muito. — ri, olhando para minha mão — Mas este anel, na verdade, é fora de série.

— É. Não é?

Olhei para o objeto decorando meu dedo e sorri. Já que agora estávamos fazendo as coisas nos conformes, tive uma ideia.

— Por favor, você tem que pedir minha mão ao meu pai. Vai ser muito significativo para ele.

— Vamos ligar para os seus pais agora.

— Tenho uma ideia melhor. — eu disse — Vamos fazer isso ao vivo.

Peguei meu computador, liguei, esperei impaciente pela tela inicial e abri o Skype. O computador dos meus pais estava listado como on-line, e minha mãe atendeu no primeiro toque.

— Oi, Frankie!

— Mãe, coloque no vídeo e chame meu pai e a Jess.

Ela gritou:

— Ernest, Jess, venham aqui! Ligação do Frank, da França!

A voz da minha avó vibrou no fundo.

— Oi, Frankie! Estou com saudades.

A tela de vídeo apareceu e o sorriso da minha mãe encheu a tela. Minha avó espiava por cima do ombro.

— Oi, vovó. Também estou com saudades da senhora! — inclinei a cabeça para o lado — Vovó, este é Gerard.

— Olá, Dottie. — disse Gerard — Ouvi coisas maravilhosas sobre a senhora.

— É um prazer conhecê-lo também, Gerard. — disse vovó, um olhar de confusão escrito em seu rosto — Pelo Skype, quero dizer. Mal posso esperar para conhecê-lo pessoalmente.

A família toda agora estava na tela do computador, conversando entre si. Bodhi ofegava no canto. Só conseguia ver seu nariz preto molhado. Estendi minha mão esquerda até a câmera.

Minha mãe, vovó e Jess gritaram.

— Ai, meu Deus.

— Parabéns!

— Ahhhhhhhh!

Assim que a empolgação das mulheres diminuiu, cutuquei Gerard nas costelas. Ele se endireitou e, ao fazê-lo, sua cabeça ficou fora da tela. Ajustei a câmera de modo que ele conseguisse olhar meu pai nos olhos, de homem para homem.

— Olá, Ernest, gostaria de pedir sua permissão para me casar com Frank.

Pelo brilho nos olhos do meu pai, eu percebia que ele apreciava o gesto de Gerard, ainda que, obviamente, tivesse sido incitado por mim.

— É claro. — começou meu pai, mas ele foi interrompido.

As mulheres da minha família gritaram.

— Pode levar!

Antes que eu desconectasse, minha mãe pediu para ver como era um Natal provençal. Então marchei com o computador até o térreo, mostrei a árvore e os santons, e ao longo do caminho, apresentei minha irmã, minha mãe e minha avó, que tinham vindo junto no passeio, a Isabelle, Richard, Maxime, Steeve e sua noiva, Laura, que ainda estavam assistindo à TV. Eles acenaram e riram e eu só conseguia pensar em como aquilo era muito estranho, ser capaz de apresentar minha família para minha nova família francesa usando um computador.

A segunda tela apagou, liguei para o celular de Bert, usando meus créditos do Skype para chamadas.

— Bem, Feliz Natal. — disse ele.

— Para você também. Ah, e é oficial.

— O quê?

— Gerard e eu estamos noivos!

— Parabéns! Estou muito feliz por você! — Ele fez uma pausa. — Vocês, por acaso, vão se casar na França?

Suspirei e expliquei a decisão da Califórnia.

 

**

 

Por mais que eu amasse meu moletom cinza do Mickey, percebi que ele estava curto demais. Por isso, dei-o à Elvire. Ela sorriu e me agradeceu, depois saiu e, dois segundos depois, voltou ao banheiro, vestindo o moletom, e ficou observando enquanto eu passava lápis de olho. Ela inclinou a cabeça de lado. Sorri. Eu tinha entendido a dica. Ela precisava de coisas do gênero em sua vida, Elvire cresceu rodeada por uma figura paterna que mal lembrava de pentear o cabelo, o irmão mais novo e uma mulher que não se importava com a garota. Eu podia sentir que ela precisava de alguém em quesitos mais delicados, e apesar de eu não ser uma mulher ou não ter o melhor senso de moda do mundo, cresci com duas mulheres me importunando em casa para ajuda-las com suas roupas e maquiagens. E por tudo o que fosse mais sagrado, se existia um momento para estabelecer um vínculo, era aquele.

— Est-ce que tu veux un peu de maquillage? (Você quer um pouco de maquiagem?) — perguntei e Elvire afirmou com cabeça, entusiasmada, correndo porta a fora de novo e trazendo consigo um estojo com maquiagem, que me explicou serem coisas de sua falecida mãe e alguns presentes de suas tias.

Escolhi só cores naturais: um pouco de delineador marrom, um toque de sombra creme, uma pitada de blush e um pouco de rímel. Ofereci a ela um brilho labial, que ela passou. Pela forma como seu queixo tinha empinado só um pouquinho, eu percebia que ela estava se sentindo bonita. Juntos, descemos até o térreo, onde Maxime e Steeve imediatamente deram-lhe um assobio, o que a fez corar. Ela bateu em Maxime.

— Arrête! (Pare!)

— Sua menininha está crescendo. — disse eu, ao me sentar com Gerard no sofá.

Ele gemeu.

— Vamos esperar que, quando ela crescer, não fique como eu.

— O que você quer dizer? — perguntou Gerard.

— Bem, minha família continua tentando se livrar de mim, mas como um bumerangue, não paro de voltar.

Pelo menos uma vez, meu humor pôde ser traduzido. Gerard me pegou pelos braços e me levou à sala de jantar.

— Eu te peguei e não vou te deixar ir embora.

— Isso é bom — falei —, porque venho com uma política que não permite devolução.

— Tout le monde, venez à table. (Todo mundo, venha para a mesa.) — veio a chamada.

Todos para a mesa. Era véspera de Natal e hora do jantar.

Alain, o marido de Muriel, tinha trazido o prato principal: javali. Alguém deu as graças.

Meus pensamentos estavam em outro lugar; principalmente em Como diabos faço para não comer esta carne de caça com molho espesso cinzento sem ofender ninguém? Meus futuros familiares franceses, quatorze dos quais reunidos para aquele banquete, estavam falando a toda velocidade entre si, e eu não conseguia fazer parte da conversa animada porque, mais uma vez, não conseguia entender palavra nenhuma. Por mim, eles poderiam estar falando em suaíli. Gerard colocou um pedaço de javali no meu prato. Minha cabeça girou. Meu estômago revirou. Apertei um pedaço cartilaginoso com meu garfo, lutando contra o mal-estar que se agitava no meu estômago. Gerard serviu uma colherada de molho espesso sobre a carne. Engoli em seco.

— Querido, acho que não consigo comer isso.

— É bom. Você vai gostar. Foi Alain mesmo quem caçou.

Como se tornasse melhor.

— Eu sei. Mas o molho? É cinza…

— Sim, é delicioso, incrível, feito de sangue!

Sangue? Eu queria chorar. Como o pobre porco no meu prato, senti como se estivesse sendo assado. Todo mundo estava rindo e conversando, enquanto eu me impedia de gritar de frustração. Quanto mais eles riam, mais irritado eu ficava. Inseguranças beliscavam meu cérebro. Aquela vida e aquele mundo eram diferentes demais dos meus. Assisti a todos comerem e decidi que eu devia ter péssimas maneiras à mesa; eu nem sequer comia direito.

Diferente de mim, quando os franceses cortavam a comida, não destrocavam o garfo para a mão direita antes de trazê-lo à boca. Olhei para meu anel. Dei-me conta de tudo de uma só vez. Uma nova vida? Uma nova língua? Um novo país? E duas crianças que provavelmente me trocariam por um pacote de chicletes? Ok, talvez não um pacote de chicletes, mas um gato?

— Querido, o que foi? — perguntou Gerard.

— Não sei se estou pronto para isso. — sussurrei.

— Você não precisa comer o javali.

Forcei um sorriso, mas não disse uma palavra.

Gerard pegou o pedaço de javali do meu prato e colocou no dele. Como beijar a ferida de uma criança assustada, aquela ação simples tornou tudo melhor. Em vez de manter segredo sobre os medos que eu tinha sobre mudar toda a minha vida, em sussurros, falei sobre eles.

Gerard entendia meus receios, e eu percebi que, mesmo em circunstâncias extremas, poderia conquistar qualquer coisa com ele ao meu lado. Suas cartas de amor, afinal, tinham me inspirado a mudar minha vida. Então, do que eu tinha tanto medo? Tentar algo novo? Tudo aquilo era novo para mim. Reunindo toda a minha coragem, comi um pedaço do javali no molho de sangue. E não foi tão ruim. Naquela noite, fui para a cama tão animado como qualquer criança em véspera de Natal, mas meu verdadeiro presente de Natal não era o anel de noivado bonito, não a nossa forma selvagem e apaixonada de fazer amor, não a gata absurdamente cara, que em breve buscaríamos, e definitivamente não era a secadora de roupas; era Gerard e seus filhos.

— Sei que tudo isso é muito diferente para você. — Gerard beijou minha nuca — Estou muito feliz por ter você em minha vida. Juntos, nós vamos conseguir.

 

**

 

Minha mãe comprou meias verdes e vermelhas de veludo com monograma da Pottery Barn para Gerard, eu e as crianças. As meias delas eu havia recheado de coisas divertidas: doces, camisetas, jogos, batons para Elvire e tatuagens temporárias para Max. Os olhos dos dois brilharam quando vasculharam dentro das meias, surpresos para encontrar mais presentes. O presente de Natal para Gerard era mais sofisticado do que uma camiseta ou um bastão de plástico cheio de chocolate. Imediatamente, ele arrancou o velho relógio de pulso para colocar o novo.

— Como você pagou por isso? — perguntou.

— Segredo milenar chinês. — respondi.

— Frank…

— Gerard, sério, comprei meses atrás, quando tinha dinheiro.

— É demais.

Mas não era. Comparado com o que ele tinha feito por mim, não era nada.

— Bom, sei que você ama mergulho. E sei que você precisava de um relógio novo.

Eu tinha comprado um relógio de mergulho Swiss Army de aço inoxidável, visor azul, 500 metros, logo que voltei de nossa viagem à Europa, meses antes que o lobo mau da falência viesse soprar minha casa até derrubar. Quando vi o relógio na internet, soube que tinha de comprá-lo para Gerard. E foi uma pechincha, já que era um modelo que estava saindo de linha. Havia sido necessária uma grande dose de autocontrole para não contar, especialmente porque tinha ficado escondido na minha escrivaninha quando ele me visitou em outubro.

— De qualquer forma, estava em promoção e, como eu, vinha com a política que proibia devolução.

— Frank, é demais. — disse Gerard.

— Tarde demais. — respondi.

Depois que a família abriu os presentes, arrumamos as coisas das crianças e fizemos uma viagem de trinta minutos para deixá-los na casa da avó materna, onde eles iriam ficar por uma semana. Estacionamos num pequeno chalé cercado de tijolinhos. Do outro lado da rua, galinhas e galos corriam de um lado para o outro num terreno aberto. Um gato preto e branco veio até o portão. As crianças nos beijaram rapidamente no rosto, pegaram suas malas e pularam para fora do carro. Jogaram as malas no chão do lado de fora da porta da frente e saíram correndo atrás do gato.

— Vou conhecer a avó deles? — perguntei.

— Não. Ela me odeia, me culpa pela morte da filha.

— Não é culpa sua Frédérique ter tido câncer.

— Ela acha que sim e não tem como eu convencê-la de que não.

Uma mulher de cabelos grisalhos, vestindo calças cor de carvão e uma camisa branca saiu da casa. Acenei, mas ela sequer se incomodou em olhar na nossa direção. Levou as crianças para dentro de casa, sem nunca olhar por cima do ombro ou oferecer qualquer tipo de sinal de reconhecimento da nossa existência.

Engoli em seco. Aquele seria um problema difícil de transpor. Fiz uma nota mental para tentar descobrir como atravessar o abismo.

 

**

 

Já que estávamos no coração da Provence, Gerard e eu passamos o resto da semana na casa de Isabelle e, mais uma vez, ele se tornou meu guia de turismo particular (e muito sexy).

Visitamos ruínas, catedrais antigas e cidades amuralhadas: Marselha, Aix-en-Provence, Saint-Rémy-de-Provence e Les-Baux-de-Provence. Porém, simbolizando minha nova vida, eu estava ansioso pela véspera de Ano-Novo. Gilles tinha convidado Gerard e eu para ficarmos em sua cabana nos Alpes.

Estávamos avançados na viagem de duas horas quando Gerard perguntou:

— Querido, você esquia?

A primeira vez que esquiei foi com Bert e foi um pesadelo. Nunca tinha posto os pés numa montanha antes, não que as encostas do sul de Wisconsin pudessem ser chamadas de montanhas. Mais como colinas de gelo sólido feito pelo homem. Bert tinha me dado cerca de dois segundos de instrução e seguimos caminho para o teleférico, o que imediatamente me deixou atordoado. Também fiquei com vontade de sair dali. Bert me levou ao topo da colina e me disse para “ir com tudo”. E fui com tudo. Gritando: “Saia do meu caminho! Não sei esquiar!”. Desci de uma vez e passei por um pequeno salto, pernas abertas e diretamente em cima de um pobre coitado que estava parado na encosta. Do alto da colina, Bert disse que tudo o que ele viu foi um sopro gigante de branco. Droga! Felizmente, não me machuquei, só fiquei sem fôlego. Também entortei o bastão de esqui do sujeito.

— Adoro esqui, mas acho que você tem de ir devagar comigo, tipo um morrinho. Faz muito tempo.

— Ah. — disse Gerard — É como andar de bicicleta. A gente nunca esquece.

— Assim como meu francês, certo?

Gerard ignorou a piada.

Em outra vez que fui esquiar, novamente com Bert, machuquei feio meu joelho e tive de descer a montanha carregado em uma maca. Eu estava começando a me perguntar se era uma boa ideia. Talvez eu só devesse relaxar no chalé e beber cidra quente.

— Não tenho nenhuma roupa de esqui. — disse eu, pensando que eu poderia evitar uma visita provável à sala de emergência.

— C’est pas grave. — não era grave, nada grave. — Gilles, ou Nathalie e as filhas têm coisas para você. Não se preocupe.

— Ótimo.

A paisagem diante de nós se tornou montanhosa e linda, de tirar o fôlego, picos irregulares alongando-se para o céu. A cabana de Gilles estava situada nos Alpes-de-Haute-Provence, num povoado de esqui chamado Sainte-Anne-la-Condamine. Era verdade, parecia muito fabuloso poder dizer: “Ah, passei o Natal na Provence e depois fomos esquiar nos Alpes durante o Ano-Novo”.

A neve começou a cair com mais força. Não era bem uma nevasca, mas a visibilidade estava, sem dúvida, comprometida. Focado na estrada, Gerard mantinha seu comportamento sempre tranquilo. Algumas agulhas de pinheiro grudaram na janela.

Enfim, a placa para Sainte-Anne! Os nós dos dedos de Gerard ficaram brancos, enquanto ele tentava manter o controle do carro. Um ônibus estava na lateral da estrada. Não havia proteção na beira da pista. Um movimento em falso e seríamos catapultados pela encosta da montanha. Fechei os olhos até que estivéssemos fora do caminho do mal. E rezei.

Vinte ou mais pequenos chalés de madeira pontilhavam a encosta à nossa direita. Viramos em uma rua estreita e estacionamos o carro. Antes de sairmos, calcei um par de botas de inverno de Gerard.

— Qual é o do Gilles?

Gerard fez beicinho com o lábio inferior e encolheu os ombros. Pegou o celular do bolso de sua jaqueta, discou, falou rapidamente em francês e depois pegou uma pequena trilha por uma encosta.

— Suis-moi. — siga-me — É lá atrás. Temos de ser rápidos. Acabei de falar com Gilles e vamos encontrá-lo para o almoço em dez minutos. Nathalie vai nos mostrar a cabana.

Colocando um pé firmemente na frente do outro, andei pela estrada, que estava coberta por uma fina camada de gelo. O cheiro de fumaça enchia o ar, algumas lareiras expeliam fumaças brancas ondulantes que pareciam marshmallow. Com um grande sorriso e um copo de café fumegante, Nathalie acenou da varanda.

— Coucou! Faites attention! — “ei, vocês, cuidado”, disse Nathalie. Ela me agarrou pelo braço antes que eu escorregasse pelos degraus.

Entramos no chalé onde uma pequena sala de estar e uma cozinha nos aguardavam. O banheiro ficava atrás de uma cortina. As filhas adolescentes de Gilles dormiam no primeiro nível, que era um espaço aberto com duas camas e um banheiro. Nathalie apontou para os dois quartos no mezanino com uma pequena varanda.

— Ta chambre est à droite. — nosso quarto era o da direita — On y va dans cinq minutes. — eu tinha cinco minutos para ficar pronto. Nathalie me entregou calças de neve pretas, uma jaqueta de esqui branca, um par de luvas, um gorro, meias grossas de lã e um par de óculos de esqui.

Parecia que eu ficaria bem e quentinho naquele mundo de globo de neve de açúcar.

Mesmo se eu quebrasse uma perna.

No momento em que abri a porta da lanchonete, o lugar inteiro gritou:

— Ahhhh, c’est Frank et Gerard. — e todo mundo começou a cantar. Um copo cheio com cinco centímetros de pastis foi empurrado na minha mão. Beijaram-me e me abraçaram. E me beijaram de novo.

— Félicitations!

Não sabia quem eram aquelas pessoas, mas eu já as amava.

Gerard sussurrou em meu ouvido:

— Gilles me disse que a maioria dessas pessoas aqui são vinicultores de uma área chamada Nimes. Todos vêm aqui há anos.

— Vinicultores? — dei um sorriso tão grande, que doeram minhas bochechas — Meu tipo de gente.

Tomei um gole de pastis, que esquentou minha garganta quase tanto quanto meu coração tinha sido aquecido por aquela recepção calorosa e frenética. E então era hora de esquiar.

Infelizmente, Gerard tinha confundido “Eu amo esquiar”, com “Eu sei esquiar” e acabei caindo, batendo a cabeça e torcendo o joelho sobre o que, com toda certeza, não era um morrinho. Aquilo não nos impediu, no entanto, de depois dançarmos noite afora a música “Memories” de David Guetta com Kid Cudi, entre outros sucessos franceses e americanos, junto com Gilles, Nathalie, e uma multidão selvagem de vinicultores de Nimes — incluindo um homem com o nome de Henri, que eu peguei escapando com uma garrafa gigantesca de pastis.

Quando o relógio bateu meia-noite, Gerard me beijou na boca, enquanto teve chance.

Aparentemente, na França, a pessoa tinha de beijar todo mundo do lugar, e o pessoal de Nimes deu mais um beijo para garantir — no estilo do sul da França, as pessoas trocavam três beijinhos nas faces. Direita. Esquerda. Direita. Ou talvez esquerda, direita, esquerda. Com as notícias do nosso noivado recente, todos queriam tirar uma casquinha de nós. Gerard e eu conseguimos sair de fininho da festa mais cedo, às três da manhã, para que pudéssemos brindar o Ano-Novo sozinhos antes de desmaiarmos.

Na manhã seguinte, agradecemos, nos despedimos e saímos cedo para pegar as crianças na casa da avó deles e seguirmos para casa. Fiquei surpreso quando quatro pessoas saíram para nos cumprimentar: Thierry, o tio das crianças, sua esposa, Cristina, e seus dois filhos, Thomas, da mesma idade de Elvire, e Mathilde, que tinha a idade de Max. Gerard e eu saímos do carro e completamos os exigidos beijos duplos nas bochechas.

Foi por meio de Thierry, que já tinha sido um amigo próximo de Gerard, que Gerard tinha conhecido Frédérique. Naturalmente, depois que ele havia deixado a irmã de Thierry, a amizade se tornou tensa. No mínimo, Thierry fazia um esforço para deixar seus sentimentos por Gerard de lado por causa de Max e Elvire, e isso me deixou feliz. Os homens brincaram um com o outro sobre cabelos, ou melhor, a falta dele em um e o início do grisalho no outro. Um Bonne Année final foi trocado, mas mesmo com o riso e com a camaradagem, o ar ficou mais pesado quando as crianças entraram no carro.

Max disse algo rapidamente em francês. Os olhos de Gerard perderam o brilho.

— O que ele disse? — perguntei.

— Ele disse que a avó e o tio brincaram com eles sobre nós, dizendo que minha casa devia ter uma porta giratória. Quem está chegando? Quem está indo? Será um homem ou uma mulher essa noite?

— Bom, espero que um dia, eles vejam a luz. Você ama as crianças. E você sabe de uma coisa? Eu também. — apertei sua mão — Não vou a lugar nenhum. E vou tirar a porta giratória. Agora estamos a caminho de nos tornarmos uma família de verdade.



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