História Shes not afraid - Tia Linda

Sabe aquela pura sensação de vergonha, misturada com culpa, arrependimento e desespero, tudo junto?
Bom, se você não sabe o que é, vá por mim, você não irá querer tê-la.
Essa sensação me inunda quando o táxi do aeroporto me deixa em frente à casa da minha tia.
A primeira coisa que me ocorre, é sair dali o mais rápido possível, me enfiar num quarto de hotel e nunca mais passar naquela rua.
Porém, apesar da Linda ser um tanto...peculiar, eu realmente a amo.
Quando eu era criança, e passava alguns verões em londres, amava ficar com minha tia, que me contava histórias e me divertia com brincadeiras.
Respiro fundo e me obrigo a encarar a casa à minha frente.
Parece algo de contos de fadas, e poderia ser até considerada muito mais bonita se não parecesse tão deslocada em meio às casa e prédios modernos ao lado.
A casa de teto baixo e pontudo é grande e a sua pintura deixava claro que havia não havia sido feita por um profissional, apesar da cor, azul claro, ser bem bonita.
As poucas janelas existentes estão fechadas, e me pergunto se minha tia está em casa.
O jardim que cerca a casa, está tão desbotado e mal cuidado que mal se vê verde.
A cena acaba por me deixar desanimada, e me apresso em focar na desgastada porta da frente, e pego as malas, andando até a mesma.
Hesitante, aperto a campainha algumas vezes.
Sem resposta.
Aperto o botão novamente, mas não consigo escutar nada de dentro da casa.
Quando estou para desistir, ouço passos vindos do interior da casa.
-Quem é? - Escuto a voz estridente de minha tia, e respondo.
-É a Emma, sua sobrinha.
Mal termino de falar e ela abre a porta, sorrindo.
Uma coisa tenho que admitir, minha tia é linda.
Os olhos escuros, a pele branca com algumas poucas rugas e os cabelos pretos valorizam seu rosto magro, divertido e sorridente.
-Emma! - ela abre os braços e me abraça, e retribuo com prazer.
Eu tinha esquecido que apenas com um sorriso, Linda era capaz de alegrar qualquer um, e ficar perto dela simplesmente me faz bem.
Por um momento, sinto raiva do meu pai por chama-la de maluca.
Linda só era diferente.
-Bom querida, entre, não quer passar o dia todo aí fora não é? - ela sorri abrindo mais a porta para que eu passe com as malas.
Quando ela as nota, uma expressão séria passa pelo seu rosto.
-Hm...pelo visto temos muito o que conversar.

Enquanto eu vou contando a história toda para Linda, desde as brigas frequentes com meus pais até o término com James, aproveito para examinar o sofá e a sala que estou.
É aparentemente a sala de estar.
Tudo era bagunçado, livros espalhados pelos cantos, vários porta-retratos nas estantes que cobriam quase todas as paredes verde limão.
Na frente do sofá que eu estou sentada com Linda há uma lareira rústica apagada.
E apesar de toda a bagunça, consigo entender perfeitamente o que faz Linda gostar da casa.
É aconchegante.
Quando acabo de contar a história toda, minha tia apenas fica em silêncio me analisando por um tempo que pareceram horas.
-Acho que finalmente está fazendo algo realmente certo Emma. - Ela fala finalmente e me surpreendo com as suas palavras.
-O-o quê? - Pergunto confusa.
-Pode parecer patético, mas você finalmente está seguindo o seu coração. - Ela diz, fazendo uma careta ao falar o clichê, mas continua. - Desde pequena, toda vez que tentava se rebelar a fazer qualquer coisa que queria, mas que ao ponto de vista dos seus pais era errado, eles de certa forma a oprimiam. Mas não os culpo, eles só são muito rígidos. - Linda faz uma pausa antes de continuar, e segura minhas mãos. - O que eu quero dizer Emma, é que eu sei que você é forte e determinada. Ao que notei, você chegou à um ponto de simplesmente não aguentar mais e sair daquele lugar. - ela dá uma gargalhada contagiante. - Ao invés de ficar trancada no seu quarto chorando por um garoto que não valorizou a garota incrível que você é, ou ficar escutando seus pais porem regras e mais regras, limites demais para uma mulher de 22 anos. Você simplesmente largou isso. E no meu ver, está certa, por que não teve medo de arriscar tudo. Por que eu não convivo com você Emma, e não te vejo à mais de um ano. Mas eu não me lembro de ver você com medo de nada.
Linda fala tudo isso sorrindo e se levanta me deixando sem palavras sentada no sofá.
-Pra onde você vai? - pergunto recuperando a voz ao ver ela sair da sala.
-Bom, vou arrumar o quarto de hóspedes. Você não vai ficar?
Ainda surpresa, sinto um sorriso crescer nos meus lábios e a respondo agradecida e aliviada.
-Sim, tia. Eu vou ficar. Obrigada.