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História Shifters: Draco Malfoy - Capítulo 4


Escrita por: Hadrian_L

Notas do Autor


"He kept all of her pain locked away"
Olá pessoas.
Eu tive várias ideias para esse capitulo mas, parando pra pensar, vocês sabem que o passado de Draco foi ruim mas, vocês sabem o quanto ele foi ruim?
Aqui teremos uma pequena amostra, espero que gostem e que não queiram me matar por causa disso. Adiantando que, a cenas serão um pouco intensas e tristes, ok?

No mais, obrigada pelos favoritos e por todos os comentários ♥

Boa leitura.
L.L.

Capítulo 4 - Capítulo 4


Os dias que se sucederam foram muito ruins.

Harry estava sempre de mau humor e tentava, mesmo que em vão, falar com Draco sempre que possível. Draco por sua vez, ignorava-o piamente e seu humor também não era dos melhores, tudo graças as noites mal dormidas e os pesadelos que não davam trégua. Hermione, Ron e Neville já estavam surtando com tudo aquilo. O bruxo, por várias vezes pensou em jogar algum tipo de feitiço calmante em si mesmo mas, quem cuidaria de Draco se ele apagasse?  

Já Hermione e Ronand, mal falavam com Harry e quando falavam, eram respondidos com hostilidade. A morena era um tanto quanto enxerida e suas indagações deixavam Harry irritado, já Ron, volta e meia falava sobre Gina e aconselhava o amigo a desistir de toda aquela besteira, até porque o companheiro não o queria.

Sim, ele tinha um prazer estranho quando falava isso abertamente para o amigo, coisa que o rendia pequenas brigas, mais tarde, com a esposa.

Nesse ritmo, dez dias haviam se passado e com eles toda a calma que o inicio de setembro transmitia.

 

 

– Pelo menos alguém está de vigia por aqui - sussurrou Draco, observando um certo carro conhecido.

Nos primeiros dias ele havia ficado assustado com aquilo e até comentou com Hermione sobre o tal ocupante do carro. Ela havia prometido que iria falar com o amigo alfa porém, até agora, não havia feito. Teve que, indiretamente, pedir ajuda a Neville e agora, ambos, moravam juntos. Às vezes, Neville sentia orgulho de si mesmo, morar junto com Draco sem querer mata-lo a cada meia hora era um feito e tanto, claro que a sua lentidão em notar certas ironias vindas do loiro, vinham bem a calhar, evitava brigas e discussões desnecessárias. 

Draco continuava absorto, parecia que aquilo havia dito para si mesma e não diretamente para Neville mas, o moreno não deu importância, queria distrai-lo de Potter e porque não, começar uma conversa.

– Do que está falando? – perguntou Neville, se levantando do sofá e indo em direção ao ômega.

Já havia percebido a troca intensa de olhares que existiam entre os dois. Francamente, era só questão de tempo e de persuasão por parte de Harry, e que Merlin o ajudasse a não fazer nenhuma besteira.

Draco notou a diferença no olhar de Harry, antes parecia um tanto esperançoso e triste, só foi Neville chegar perto de si que mudou para um jeito raivoso e, poderia jurar, que havia visto um brilho avermelhado neles.

Ele tremeu.

O bruxo, observando a mudança corporal de Draco, pegou-o pela mão e o tirou da visibilidade do alfa. 

– Sirius... Sirius havia me pedido para ficar de olho em Harry... De certo modo, isso está acontecendo. De uma maneira bem medonha, mas está. 

Claro, tinha que ter o dedo de Sirius nisso tudo. Neville perguntava mentalmente se o padrinho de Harry sabia sobre os dois, se ele tivesse prestado atenção, já teria constatado isso há muito tempo. Às vezes em que Harry o perguntava que tipo de perfume havia passado, já que cheirava de um jeito estranhamente bom, segundo o alfa. Teve vezes em que Draco ficava mais próximo de si, talvez inconscientemente, logo depois de um encontro do bruxo com os amigos.

Malditos odores.

– E porque ele te pediu isso? 

– Se eu soubesse não teria mencionado isso pra você – ele suspirou e se jogou no sofá – Faz dias que não nos falamos, estou começando a ficar...

Ele não terminou de falar, não precisava, Neville não queria assumir, mas também estava preocupado com Sirius, embora ambos não se dessem muito bem. 
Decidiu omitir o fato de ter tentado ligar para Sirius mais do que gostaria. Tanto Draco como Harry estavam precisando de si e, naquele momento, ele também precisava.

– Quer algo pra comer?

A mudança de assunto não foi nada sutil, o loiro o olhou estranhamente e balançou a cabeça em negação. O amigo já estava indo para a cozinha mas retesou, olhou para Draco, que já estava absorto em pensamentos.

Ele estava mais magro, as olheiras estavam começando a aparecer mesmo encobertas por uma grossa maquiagem. Quem o olhasse, não veria diferença alguma mas, o olhar dele estava mais abatido e, com toda a certeza, Draco havia perdido ao menos, uns seis quilos.

Como aquele descontrole havia começado?

Ele parou de observar Draco e foi fazer algo que o loiro gostava e que jamais recusaria. Ambos precisavam de algo para se distrair, nem que sejam por breves minutos.

Neville foi cozinhar, tudo no manual, poderia não ser um bom cozinheiro, mas havia aprendido uma ou duas receitas trouxas, era bem útil quando precisava pensar. Sem falar que ele adorava mexer nas ervas e temperos trouxas, era incrível como a população não bruxa conseguia se virar e ter benefícios com plantas raízes e ervas não magicas.

 

Longos minutos haviam se passado e Neville sabia que logo Draco estaria em seu encalço. O cheiro já se fazia presente no ambiente e era apenas quentão de...

– Querida, cheguei – Draco ditou, dando um beijo engraçado na bochecha de Neville, rindo logo em seguida.

Ambos tinham certos altos e baixos nessa amizade. Existiam dias em que Draco era um idiota por completo e dias em que ele se parecia mais “normal”. Neville já havia se acostumado com aquilo.

– Argh... – o moreno limpou o rosto divertidamente, apenas pra ver Draco revirar o olhos – Ser engraçado não está no seu sangue, nem tente.

– Tô com fome - disse, ignorando prontamente o resmungo do amigo.

– Achei que não estivesse – disse se abaixando e retirando do forno uma travessa grande.

– Shepherd’s pie – o loiro sorriu novamente – fazia tempo que você não fazia isso – disse olhando maravilhado para a torta de carne moída com batata.

– Não tinha nada pra fazer e lembrei que esse foi o primeiro prato culinário que eu fiz pra você – disse não se importando muito como aquilo havia soado.

Draco olhou para o amigo e riu.

– Estamos sentimentais hoje, Longbottom?

– Oras, seja grato uma vez na vida... Pelo menos eu te dou comida.

Ambos riram com o duplo sentido na frase.

– Tá, eu sei que você quer me pegar a muito tempo mas, vamos comer primeiro, sim?

Ele sorriu com a brincadeira do amigo, fazia tempo que eles não conversavam tão bem. Os pesadelos de Draco haviam se agravado e ele estava, cada vez mais, fechado. Conversava, vez ou outra, com Hermione por meio de mensagem mas, com o bruxo, ele se retesou. Estava com vergonha de toda aquela situação e jamais admitiria isso.

– Você não tem jeito mesmo, né? – Neville cortou um pedaço da torta, fazendo com que um vapor quente subisse – Ainda está quente, Draco. Deixe-a ai, logo você pode comer.

Neville poderia fazer um simples feitiço e o objeto já se resfriaria mas, pra que? Só pra poupar tempo? E o que eles fariam depois? Draco vivia enfurnado dentro de casa depois que a perseguição de Harry passou dos limites, aquilo era um absurdo e Neville se sentia cada vez mais tentado a dar uma surra no então amigo.

– Ai, sai da frente – o loiro empurrou o amigo não tão delicadamente e pegou a forma, absorvendo o pouco de calor que vinha dela.

Neville suspirou.

– Você sabe que não deveria fazer isso, certo?

– Porque não? É a única coisa que eu posso fazer sendo um ômega trancado – respondeu raivosamente.

– Trancado entre aspas e você só está assim porque quer... Draco, você tem que se decidir logo, ou faz a droga do feitiço ou tira esse negocio do pescoço e aceita Harry.

O clima de harmonia havia acabado assim que Neville falou de Harry. Draco, por sua vez, não sentiu quando a torta escapou de suas mãos e foi direto para o chão.

O baque foi alto.

– Merda, olha só o que você fez? – disse o loiro, exasperado.

– Eu fiz? Foi você quem soltou isso... – ele já estava perdendo a calma, o estresse de todos aqueles dias o deixavam mais propenso a rebater Draco. Isso não era nada bom, não naquelas condições. Resolveu respirar fundo e ficar na dele.

Os pesadelos constantes de Draco estavam prejudicando tanto sua saúde física como mental. O loiro acordava e tinha pequenos acessos de choro e ira. Depois do quinto dia, Neville passou a dormir ao lado dele, desse jeito, conseguia controla-lo um pouco. Estava cada vez mais magro e cada vez mais dormindo menos.

– Accio* varinha

Escutou Draco rindo fracamente, ele sabia que o loiro achava engraçado a sua capacidade estranha de “mudar de assunto” rapidamente.

Ele sorriu e se concentrando fez com que a torta e a travessa voltassem ao que eram minutos antes, com mais uma pequena dose de concentração, fez com que a travessa flutuasse e pousasse na mesa.

– De nada.

– Eu nem havia dito nada – o loiro falou, pegando um prato na estante e passando para o moreno.

– Não é necessário, Draco – ele pegou o prato entregue e começou a cortar a cortar melhor a torta.

– Hunf, a culpa foi sua mesmo, não fez mais que a obrigação – ele olhou para as unhas, sabia que se olhasse para o rosto de Neville, iria começar a rir.

Neville, por outro lado, estava longe de estar bravo. Havia se acostumado com o jeito estranho de Draco e, contanto que o loiro não usasse aquele tom estranho e apaziguador que todo ômega possui mas que dificilmente usa, estaria tudo bem.

– Existem maneiras melhores de se agradecer... – Neville usou um tom de flerte, aprendido com Draco. Obviamente ele ainda falhava nesse tipo de questão.

O ômega olhou para o bruxo e gargalhou tentando, em vão, se conter.

– Quando você tiver coragem o suficiente pra dizer exatamente como quer que eu te agradeça ai sim poderei considerar isso como um flerte, Neville.

– Você não consegue ficar sem rebater, não é mesmo? – o bruxo perguntou envergonhado, passando o prato para Draco.

O shifter pegou o prato, piscou e sorriu.

– É claro que não.

 

 

Os primeiros dias pós-rejeição foram difíceis e Harry teve que se controlar muito para nos se deixar levar. Draco era seu, ele não tinha o direito de recusá-lo. Foi apenas depois de longas conversas tanto com Molly quando com Arthur, que ele resolveu esperar.

Ainda não havia contado para os pais sobre Draco, esperava a ajuda do padrinho para fazê-lo. Ele se sentia acuado, sempre se imaginou com uma família parecida com a sua e agora... Agora, ele estava sozinho, sem a pessoa que já é, mesmo sem querer, a mais importante desse mundo para si.

Ele não percebeu quando começou a ir atrás de Draco, não percebeu quando começou a segui-lo e nem quando começou a sair mais cedo de casa apenas para parar do outro lado da rua do apartamento de Draco e observá-lo insistentemente.

Talvez tenha sido por causa da presente convivência nas salas de aula ou por causa da insistente perseguição ao ômega, mas Harry começou a reviver, nos seus sonhos, coisas que Draco havia passado.

 

Andava por uma grande e acolhedora mansão. Era interessante perceber que, mesmo aquilo sendo um sonho, Harry poderia se sentir acolhido em um lugar tão diferente.

O lugar era cheio de espelhos mas, por incrível que pareça, ele não sentia vontade de olhá-los, ele só queria ir até onde seus pais estavam. Os empregados, que eles sabiam que deveriam estar por ali, aparentemente haviam sido dispensados e um pequeno burburinho aumentava de acordo com os passos que ele dava. Havia palavras desconexas, ele não entendia, todavia reconheceu a voz daquelas pessoas.

Seus pais.

Eram mesmo seus pais?   

– Quando você entrou pra esse bando, você sabia que isso poderia acontecer...

Harry sentiu-se tentado a entrar porta adentro mas, esperou. Era uma regra de etiqueta e ele estava curioso, queria saber com quem o pai estava falando, porque ele jamais falaria daquele jeito com sua mais.

– Ele é nosso filho... Tanto seu como meu, você não – disse a outra voz melodiosa e um tanto quanto fria. Harry reconhecia as vezes que a mãe estava abalada, mesmo se mantivesse a entonação do mesmo jeito, ele sabia que ela estava a ponto de chorar.

– E quem você pensa que é pra dar palpite em alguma coisa? – Harry estava estranhando cada vez mais, que tom era aquele e porque ele estava sendo tão duro assim?

A mulher começou a chorar baixinho, coisa que apenas os ouvidos de um shifter poderia escutar.

– Narcisa... Ele é meu filho mas, é algo necessário. Ainda quero entender como não senti um ômega dentro do meu bando, da minha casa mas, isso é o de menos. Agora, podemos ter um alfa puro shifter, sei que você entende o peso disso.

Narcisa? Mãe?

– Mas ele...

Harry se aproximou ainda mais da porta, tinha medo de perder alguma palavra, alguma frase que fizesse sentido.

– Ou é isso ou o vendemos. Ele ainda é um ômega afinal de contas e por ser uma doninha branca, vale uma alta quantia... De alguma maneira, a informação dele ser um ômega chegou a alguns de meus aliados e, é claro que já tive ofertas... Ele seria usado em alguma guerra territorial mas, isso não é da minha conta. O importante é o beneficio que aquilo irá nos trazer quando me aliar com o lado vencedor.

– Lucius, ele é seu único filho – ela falou com um tom exasperação e ódio.

Lucius? Pai.

– O único filho seu, você quer dizer... Ora Narcisa, não faça essa cara, você sabia no que estava se metendo quando se juntou comigo.

O barulho de passos foi escutado, Harry se retraiu um pouco, não queria ser notado.

– É pela família, querida... – o tom estava bem mais sutil naquele momento, ele parecia feliz em dizer aquelas palavras.

Famosas palavras que os ouvidos do garoto reconheciam tão bem.

Um suspiro foi audível, um momento de silencio se fez presente no recinto, Harry olhou para os lados, sabia que não deveria ter escutado a conversa e tinha medo do pai. Ele voltou pelo mesmo corredor que viera, dessa vez, tendo o cuidado necessário para não ser pego.

Olhou para os lados e viu um grande espelho.

Claro, já deveria ter percebido. Ele não era ele, ele era um garoto bem mais novo e bonito. Ele era Draco. Ao longe, o sussurro de Narcisa, que ele queria ter evitado escutar, chegou até seus ouvidos:

“Pela família”.

 

Aquele foi uma das coisas mais marcantes que Harry havia sonhado. Ainda considerava, mesmo que vagamente, que o tal sonho não fosse o que parecia ser... Não poderia ser.

Uma memória não poderia chegar tão longe, não daquele jeito, não sem eles estarem juntos.

Não era raro shifters que conviviam com seus companheiros de alma poderiam compartilhar pensamentos, sentimentos mas nunca ouviu falar sobre sonhos. Sem falar que ele e Draco só passavam o tempo no mesmo local quando estavam em sala de aula.

Mesmo com perguntas rondando-lhe a mente, preferiu esperar. Não falaria com Hermione, afinal de contas, só aconteceu uma vez e não queria preocupar ninguém.

Ele só imaginava se Draco estava também, passando por tudo aquilo. De novo.

– Pela família – ele sussurrou – que merda isso significava?

Ele passou o restante da madrugada e boa parte da manhã pensando nisso. Viu que estava atrasado para a sua primeira tarefa: verificar Draco antes de ambos irem para a universidade.
Se aquele sonho-lembrança era uma sinal divino para ele parar de observar Draco então, para si, o sinal havia sido fraco demais.  

 

 

Os próximos cinco dias foram infernais. Harry percebeu a mudança brusca que todos aqueles sonhos causavam em si e em Draco. Sim, ele tinha certeza que Draco estava sendo afetado com tudo aquilo. O loiro estava mais pálido do que o normal e, na aula, parecia que estava prestes a desmaiar de tanto sono.

As olheiras de ambos eram tão visíveis que até mesmo os professores estavam ficando preocupados, nos últimos dois dias ele havia escutado algumas “ordens médicas” que tratou de ignorar. Ele só precisava de um bom descanso ou de mais café, o que fosse mais cabível.

Os sonhos-memórias, desde que iniciaram, não haviam parado e como Harry se arrependeu por ter falado sobre o maldito sinal divino.

Sempre no mesmo horário, alternando memórias, ele via o quanto Draco tinha sofrido naquela gloriosa mansão. Nas duas ultimas noites, ele se viu em uma escuridão densa, sabia que estava em outro sonho mas, como das outras vezes que tentara, não conseguiu sair dali.

Havia vozes diferentes que zombavam e caçoavam de si, ou melhor, de Draco.

As mãos estavam amarradas para trás, ele sentia que estava completamente nu e tudo o que via era o nada. Assim que sentiu o primeiro golpe olorido, Harry acordou. Talvez por isso, o sonho havia se repetido no outro dia e dessa vez ele havia ido até o fim dele.

Não soube quanto tempo ficou lá, talvez horas ou dias. A perda momentânea de um dos sentidos só intensificava os outros. Ele sentia a dor que ter os braços amarrados lhe causava, escutava mais claramente todas as zombariam que falavam para si, mal conseguia respirar por conta daquilo que cobria sua visão, provavelmente um saco de papel, sua boca estava seca.

O pior ainda eram os toques. A cada um ele sentia asco, nojo... Tanto de si como de quem fazia aquilo com ele, com ele não, com Draco.
Droga, como aquilo era confuso.

E então, ele sentiu a dor. A mesma dor que antes o havia forçado a acordar, agora o mantinha ali. Ele escutava um zumbido e logo depois um forte e direcionada dor. Uma, duas, três... Na quarta, ele sentiu a boca se abrindo e o seu próprio grito saindo. Desse jeito, ele acordou. Era demais para suportar.

 

 

Como sempre, ele preferiu passar o restante da madrugada em claro. Cinco dias foi tempo mais do que suficiente pra ele perceber que estava sendo um completo idiota.

O que deu na cabeça dele?

Porque ele estava sendo tão imaturo a respeito de Draco?

– Droga – ele jogou o celular no chão, irritando-se logo em seguida por não ter medido o nível de força.

Ele tinha que se desculpar, tinha que ficar perto de Draco. Por tudo que ele viu, por tudo que ele passou, ele precisava.

Fez como nos outros dias, era sábado de manhã e o loiro estaria em casa.

 

 

Parado praticamente na porta da casa de Draco, olhando obsessivamente para dentro da casa do loiro mas, o que poderia fazer?

Era preciso. Nem que para isso tivesse que conviver com os olhares idiotamente tenebrosos que o amigo bruxo o lançava cada vez que o via.

– Neville está sendo um imbecil, até parece que eu invadiria o apartamento e pegaria Draco a força – disse com um sobreposto tom de duvida.

Balançou a cabeça para esquecer aquilo, já estava sendo bem complicado ter que conviver com os pesadelos que o levavam a Draco, com a recusa do companheiro e com a sua raiva ainda exacerbada, não precisava de pensamentos estranhos rondando sua cabeça. Se assustou quando escutou pequenas batidas no vidro.

Oh, droga.

– O que faz aqui, Harry? – perguntou Hermione, inquieta.

– Estava passando pelo bairro e resolvi fazer uma visita ou algo do tipo – explicou enquanto tentava observar algo além da cara zangada da mulher ao seu lado.

Ali está ele.

Draco observava ao longe a interação de ambos os amigos, ele poderia se considerar um completo idiota pois, todos os dias no mesmo horário, ele ia para o parapeito da janela e observava, por longo minutos, o seu companheiro. Existia sim um tipo de troca de olhares, que nunca se repetiam nas aulas, apenas ali, quando um estava muito longe do outro. 

– Harry... Harry... – Hermione beliscou o braço do moreno, tentando assim, que ele prestasse atenção em si.
Ele se virou para a mulher com os olhos um pouco avermelhados, não gostava de ser interrompido enquanto admirava o seu companheiro. 
– O que foi agora?
– Você está indo longe demais, – ela suspirou – tem que parar com isso. 
– Parar com o quê? – o alfa a olhou como se estivesse falado algo estupidamente idiota.
– Não me tome por burra, Harry. Você não percebe que se transformou em um perseguidor e, pelos deuses, você está assustador desse jeito.

E realmente ele estava. Um carro preto de vidros fumê, uma fresta aberta ao ponto de enxergar apenas uma parte do rosto, os óculos escuros.

Ele suspirou, não queria se abrir daquele jeito mas, era Hermione, ele poderia confiar nela. Não contaria sobre os sonhos ainda, não queria preocupá-la, porém...

– Eu... Só preciso vê-lo, entende? Sentir que ele está perto... Não preciso tocar nele e nem nada disso – falou cabisbaixo, fazendo com que a mulher se entristecesse pelo amigo.

Harry aparentava estar pouco mais magro, nos intervalos, ela não o via comendo e, das vezes em que ela esteve com ele naquela semana, ele não comia perto de si. 
– Oh, Harry... Sei que você o quer só que, agindo desse jeito apenas o afasta cada dia mais... Ele... – ela mordeu a bochecha por dentro, seria uma visão engraçada se ela não aparentasse estar nervosa – Draco está com medo de você. 
– Ele está? – Harry começou a caminhar de um lado para o outro, alternando o olhar entre a mulher e o apartamento de Draco – Como você...?
– Nós estamos conversando por mensagem e hoje ele me chamou para a casa dele... Acho que ele mais queria que eu falasse com você do que com ele mesmo – ela sorriu sem humor.
– Entendo – ele voltou a encarar uma das janelas que davam uma visão boa do apartamento de Draco. O loiro continuava lá retribuindo o olhar visivelmente mais abalado. 
Tentar conversar com ele, durante as aulas, não ajudava. Por vezes, freou seus próprios pés e mãos, principalmente quando Draco passava perto de si. 
E agora estava ali, olhando novamente para a pessoa que o rejeita mais e mais todos os dias.

– Vou pra casa.

– É bom que faça isso mesmo – ela disse, condescendente – Não se preocupe, conversarei com ele sobre vocês e Harry... Por favor, se cuide – ela lançou lhe um olhar maternal, coisa que sempre fazia com Rose, e atravessou a rua.

Harry gostaria de ter respondido algo mas, seus olhos continuavam perdidos na imensidão cinza que era os olhos de Draco. O moreno lembrou-se dos sonhos, lembrou do sofrimento do seu companheiro e foi atingido pela raiva e vergonha.

Estava com raiva de Lucius, de Narcisa e de si mesmo. Estava envergonhado demais para sustentar qualquer olhar que fosse. Deveria ir para casa, deveria fazer o que Hermione havia dito, afinal de contas, ela sempre tinha razão.

Sorriu contido em direção ao loiro e foi embora.

Draco só foi notar que alguém o chamava quando o carro de Harry saiu de sua vista.

 

 

O cansaço era extremo, ele não entendia o porquê de estar tão esgotado. Ok, ele entedia, estava há dois dias sem dormir, tudo porque tinha medo. Ele tinha receio do que poderia sonhar, tinha medo que fosse algo pior do que havia sido aquela semana.

Caminhou por todo o apartamento, tomou café e se olhou no espelho diversas vezes. Se Hermione o visse, iria ficar irritantemente zangada e o forçaria a dormir, talvez até pedisse ajuda a Neville por isso.

Neville.

Ele estava se controlando para não pensar demais nele. O ciúme o corroía.

Ser rejeitado já era ruim, ver Draco colado em Neville foi pior, não queria nem pensar o que poderia acontecer se o loiro dissesse com todas as letras que escolheria o bruxo ao seu companheiro.

Era pra ser algo impossível. Era.

Draco era um ômega, era pra ele ser diferente. Era.

Harry não estava reclamando mas, de todas as histórias que ele havia escutado sobre ômegas, jamais havia imaginado que eles poderiam rejeitar ou ignorar a pessoa escolhida para eles. Afinal de contas, eles eram o lado mais fraco de um bando, certo?

A resposta daquela pergunta veio por meio de outro sonho, sonho esse que Harry queria ter evitado a qualquer custo mas que o cansaço e o estresse acumulado não deixaram.

 

De inicio, tudo era imensamente branco e iluminado. O quarto era branco, a cama era branca, o chão, o teto, o piso, as cortinas e sua própria roupa.

– Estranho – sussurrou, percebendo que a voz estava um tanto errática.

Olhando para si mesmo, ele notou que sua pele estava mais branca, que as veias azuis apareciam mais nos pulsos e que suas unhas estavam bem feitas. Definitivamente, aquele não era o seu corpo.

– Ande logo Draco, eu não tenho o dia todo – disse uma voz afiada, do outro lado do ambiente.

Oh... Claro, aquilo fazia um certo sentido, se sentiu um tolo por não ter percebido antes.

Ele havia visto o loiro algumas vezes, tanto nos outros sonhos como na realidade, sabia dos detalhes de seu corpo coberto mas, ali... Olhando para baixo, viu que vestia apenas um blusão de mangas dobradas, não estava usando calças e nem roupas de baixo.

A analise não demorou muito já que ele estava curioso para saber quem o estava chamando. Ali, sentado na cama, havia um ser de vestes brancas, cabelos alvos, olhos claros e um tipo de fita azul brilhante e fina que fez com que o corpo de Draco titubeasse.

Desde o inicio do sonho estranho não havia visto uma cor diferente. Era lindo.

Ele sentiu-se indo para perto do homem sem nem ao menos perceber o porquê de fazer aquilo. Ajoelhou-se e em pose de submissão esperou.

– Não entendo como eu não o havia notado, – o homem pegou-o pelo queixo, fazendo com que ambos os olhares se encontrassem – meu menino.

Harry sentiu o corpo inteiro se arrepiar e percebeu, bem ao fundo, que não era apenas ele que sentia repulsa por estar ali e sim o próprio corpo.

O pior de tudo não era nem a submissão e sim o reconhecimento daquela voz.

– Deite-se.

E, sem ele sentir vontade, viu o seu corpo sendo guiado para a cama.

Ele se perguntava o porque de Draco não reagir.
Seu pulso foi pego de um jeito delicado pelo homem e nele foi amarrado a fita azul que Harry havia achado tão bonita. Era Harry que achou bonita ou era Draco? Ele não sabia.

– Veja... – o homem mostrou o pulso bem na frente do rosto do ômega e sorriu friamente – Não ficou bonito em você?

Harry não queria olhar para aquilo, não queria entender o que estava acontecendo, não queria presenciar o que iria acontecer a seguir. Queria, de todas as formas, sair dali. Sair da mente de Draco, sair do corpo de Draco, acordar.

Foi um esforço em vão.

Os dedos gelados e compridos deitaram o braço de Draco na cama novamente, e tocaram as vestes do adolescente, tirando-as de uma vez só, Harry percebeu que aquele não era um alfa comum e, temendo o pior, fechou os olhos.

O pior de tudo em se fechar os olhos naquela situação era que, mesmo assim, a cena acabava por entrar em sua mente.

Ele sentia o homem se mexer acima dele, escutava os barulhos de fecho que, inconscientemente, conhecia bem.

O corpo de Draco o forçou a abrir os olhos, os cabelos longos do homem tocavam o corpo abaixo de si. Ele estava se preparando e, por mais que Harry sentisse e soubesse que poderia empurrar o homem que estava em cima de si, ele não reagia, ficava apenas ali, imóvel. No primeiro resquício de dor, ele se “desligou”.

Harry, que enxergava tudo pela visão de Draco, sentia o nevoeiro se formar em seus olhos. Ele não estava chorando, tão pouco estava desmaiando. Ele estava apenas sentindo sem sentir, pensando sem querer pensar.

Eu deveria aceitar logo isso...

É pela família...

Deveria intender a minha posição de ômega em um bando e ao lado de um alfa...

Deveria mas, a única coisa que sinto é nojo.

Quando isso irá acabar?

Ao longe, ele escutava alguém falando consigo mas, preferia não responder, preferia continuar no limbo, no vácuo, onde tudo não passava de um nada absoluto.

Escutou a porta se fechando e só nesse momento que ele se permitiu “voltar”.

Começou a sentir seu corpo, começou a se sentir imundo novamente. Havia esperado o homem sair de seu quarto para tomar um banho, esfregando seu corpo tão forte a ponto de deixar marcas vermelhas e doidas por todo ele. Não se permitiu chorar, mesmo que quisesse, mesmo que já tivesse feito isso várias e várias vezes, aquela era a sua realidade e teria de se acostumar.

Se acostumar...

 

Harry acordou em um solavanco, o corpo tremia e a cabeça parecia que iria explodir a qualquer momento. Aquilo não podia ter acontecido, não era possível. Harry não conhecia o homem de branco mas, a semelhança entre ele e Draco não se faziam negar, ele era um parente. E, a voz... Era obvio que se tratava de Lucius.

Não. Negou-se a imaginar que aquilo fosse real, talvez ele estivesse misturando as coisas, talvez ele estivesse apenas confuso com tantos sonhos estranhos. Talvez.

Ele sentiu raiva, sentiu ódio, deixou-se levar pelo seu animal interior e apenas quando se acalmou é que percebeu que seu quarto estava todo destruído.

A dor nas mãos e pés, nada se comparava com a dor mental que ele estava sentindo. Ele se sentiu nojento e imundo. Claro que Draco sentia medo de alfas e de Harry, ele sentiria se tivesse passado por tudo aquilo. O moreno tinha medo de saber quanto tempo tudo aquilo durou, teve medo de enlouquecer com a resposta.

Draco. Seu Draco.

Era muito mais forte do que ele mesmo.

Constatar isso, daquela maneira, foi tão doloroso que ele se permitiu chorar. 


Notas Finais


Eu fiquei com muito medo de colocar esse capitulo. Preferi não dar tantos detalhes.
Na verdade, esse capitulo foi reescrito umas quatro vezes. Em suma, ele estava pronto na segunda feira e ai fui mudando, mudando e mudando...
Bom, sei lá o que dizer sobre ele. Só se que estou meio puta comigo mesma.
Mas, quero saber de vocês, o que acharam?
Podem me dizer, sou toda ouvidos ♥

Vocabulário:
• Shepherd’s pie: Como dito, é uma torta de carne moída com batata. Levam mais condimentos como algumas ervas(colorau, páprica, orégano, manjericão...), pimentas e cenoura.
• Accio: Usado para atrair coisas até a mão do bruxo.


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