História ShikaTema: Encontre-me. - Dias ensolarados.

(Shikamaru)

Meus dias de sossego estavam contados. 

Após o incidente com a missão de Gengo no País do Silêncio, nem tudo havia ocorrido como calculado. 

O estrondoso esporro da Quinta Hokage enquanto Hatake Kakashi-sama apenas assentia timidamente, de fato havia sido mais agressivo do que o tapa de Temari em meio a minhas crises existenciais durante a missão.

Yare-yare, que vergonhoso. Que saco.

A caminho do escritório para entregar meu último relatório, lembrar dela me fez sorrir, seguido de uma sensação avassaladora de vergonha, do último momento em que nos encontramos...

“Não” ela disse.

E eu não a respondi.

Temari e eu sempre nos demos... “Bem” seria errado.

Trabalhamos... Bem. Juntos. Depois que ela decidiu não destruir minha vila junto aos irmãos com uns 14 anos e eles 12. Ainda assim, acredito que a genialidade dela e ter salvo minha vida compensam isso. Além de ter ajudado Konoha, claro. 

Uma pequena bola acerta meu pé quase me fazendo tropeçar, distraído. Eu sei que deveria estar alerta, Guerra ou não. Pego-a devolvendo para os Genins de folga da Academia que brincam rindo pelas ruas de Konoha, a brisa suave da primavera fresca incentivando os moradores a passar mais tempo fora de casa. 

Finalmente, os portões abriram-se e poucos passos depois, logo à minha frente pôs-se o escritório do Sexto Hokage, convidando-me adentro.

- - Nara Shikamaru. Venha. - acenou. - O que tem para mim hoje?

Kakashi-sama não tirou os olhos do papel que analisava ao dirigir-se a mim.

Muito menos do livro que escondia por trás das montanhas de pedidos e sanções da vila. 

- - Kakashi-sama. Os relatórios de missão. - afirmei com uma reverência. O Sexto revirou os olhos ao ser chamado de “-sama”, porém não discutiu e apenas estendeu a mão direita. Viro-me para sair ao vê-lo calado, mas no último instante sua voz chama minha atenção. 

- - Uma águia de Suna a trouxe, mas não é para mim então seria... errado, ler. - disse ao entregar o envelope. - Porém como Hokage, devo saber de toda e qualquer informação relevante. 

Vi o nome dela na frente, adereçado em cursiva a Nara Shikamaru. 

- - As sórdidas inclusas. - disse com a sobrancelha erguida ao me encarar de cima abaixo. 

Queria não conhecer o lado esquisito do Sexto, mas a vida tem seus percalços. Suspirei e mais uma vez, rumo a saída, encarei a carta em minhas mãos. Meu coração pulou uma batida ao ver o nome.  

Temari.

O olhar penetrante do Sexto era um leve incômodo em comparação às pontadas em meu peito, enquanto minhas mãos abriam o envelope que possivelmente mudaria toda a minha vida.

“Eu sei. Eu tambem”. 

Ela… Ela tambem? 

Flashback 

Dois meses atras.

O sol parecia haver esquecido de Konoha, aquele inverno rigoroso, ao invés de esvair-se dava sinais de querer ficar por mais tempo. A neve incessante havia criado uma nova divisão: a força-tarefa de limpeza das ruas.  

Cerca de cem genins trabalhavam arduamente para retirar os excessos das ruas, algumas vezes inutilmente, pois a natureza parecia saber exatamente a hora da limpeza, cobrindo-os de neve durante o processo. 

A maioria dos chuunins e jounins estavam em missões comuns, roubos, sequestros e auxílio geral às vilas afetadas pela destruição da Quarta Guerra Ninja. Outros, como Nara Shikamaru, estavam encarregados de missões secretas, levando cartas, pergaminhos e outros pertences valiosos como demonstração de esforço para a manutenção da paz. Além de estar no topo da Aliança Shinobi, também estava encarregado das missões Konoha-Suna, em um acordo de Gaara da Areia e Hatake Kakashi. 

Sua parceira, claro, Temari, a princesa da vila da Areia. A mesma que passava pelos portões da vila para uma troca de favores: ele ajudava a administração dos exames na Academia da Areia, e ela, bem… Ela veio usar seus dons com o fuuton para livrar Konoha de um pouco do trabalho contra a neve.

- Yo, Shikamaru. - cumprimentou-o. Temari trajava um casaco lilás simples, mas justo acentuando seus traços, além de um cachecol preto com o símbolo de sua vila traçado na borda. Shikamaru sentiu uma pontada no peito que ele não sabia explicar, e vendo a expressão dela por não ter respondido, ele logo balançou a cabeça, acenando de volta.  

- Temari. Obrigada por vir ajudar-nos.

- Nao ha de que. E não precisa dessa formalidade toda, já salvei sua vida umas duas vezes. - retrucou, gesticulando com as mãos. “E voltamos para o roteiro de sempre” Pensou ele. - Quer jantar?

Shikamaru ficou boquiaberto, incrédulo. Conseguiu murmurar um sim de volta para ela. 

Temari nunca se esforçava para expressar seus sentimentos e o que queria. Normalmente, ela esperava que Shikamaru entendesse só de olhá-la, o gênio da vila que ele era. 

Mas quando se tratava de Temari, nenhum traço de sua genialidade parecia fazer parte das sinapses em seu cérebro.

- O que prefere comer? - Ela encarou o céu, pensativa.  

- Nesse frio, gostaria de um ramen! - respondeu, sorrindo. Ele instintivamente sorriu de volta. 

Lado a lado, eles caminharam até o Ichiraku Ramen. 

[...]

O restaurante estava lotado. Havia uma fila enorme do lado de fora, mas não para comer.

A fila, repleta de mulheres e jovens rapazes, clamava por Uzumaki Naruto, que comia feliz o seu prato favorito, ao lado de Hyuuga Hinata e seu colega de time, Sai. 

O herói da vila parecia estar sempre rodeado, fosse de amigos, ou fãs. Mas isso não mudou seu sorriso, percebia Temari. Ao longe, Naruto virou-se como se tivesse sentido a presença do amigo, gesticulando animadamente para que os dois se juntassem à mesa.

- Shikamaru! - percebeu, então, a presença da princesa ao seu lado.  - Oh, Temari! Como vai Gaara?

Shikamaru riu baixinho. Ele lembrou o nome dela, pensou. 

- Bem. Bem cansado, acredito. - respondeu, sorrindo educadamente. Após os cumprimentos, Temari observou os colegas de Konoha conversarem sobre assuntos diversos, até que o brilho de algo chamou sua atenção. 

Um anel com uma pedra enorme repousava no dedo de Hinata. Ela arregalou os olhos, desviando o olhar ao cutucar Shikamaru por baixo da mesa. 

O mesmo franziu o cenho, sem entender, mas passou a observar melhor os amigos. Pouco depois, viu o mesmo que Temari. 

- N-Naruto… Algo novo aconteceu? 

- Han? Novo? - Devagar, sempre.

- Acho que ele se refere ao anel de noivado da senhorita Hyuuga. - disse Sai, sem rodeios. 

- Ahh! - exclamou alto, chamando a atenção das mesas ao redor. Naruto, então, puxou a mão de Hinata para cima, fazendo-a corar. - Minha noiva, Hyuuga Hinata! - disse rindo.

Shikamaru estava em choque, enquanto Temari sorria e os parabenizou.

- Estamos celebrando hoje. Sakura-chan está em uma missão, e os demais ainda não sabem. 

- P-parabens. - disse ele sem jeito. Temari o olhava com curiosidade. 

- Ainda tem medo de compromisso, bebe chorão? 

Naruto os fitava com curiosidade, sorrindo maliciosamente. Hinata, educada, comia seu ramen sem opinar apesar de sentir o mesmo. Ja Sai…

- Vocês estão juntos? 

- Não. Sim. Não sei. - responderam em uníssono. 

- Aha! Eu sempre soube! - disse Naruto puxando Hinata para perto. - Sabe Hinata, desde pequeno eu sabia que o Shikamaru tinha uma queda por ela…

Hinata ouvia atenciosamente ao noivo, enquanto Temari e Shikamaru sentiam o gosto da estranheza amargurar o ramen dos dois.

"Não sei” era a resposta errada. 

[...]

Em frente ao hotel em que ficaria, Temari andava calada ao lado do Gênio da Vila. Algumas pessoas os encaravam descaradamente, mas ela pouco se importava. 

- Eu… Te vejo amanhã, então. - murmurou ele, pronto para esconder-se em seu quarto. 

- Shikamaru. - chamou-o, em sua voz seria. 

- Sim? - respondeu formalmente, tenso.

- Você se sente assim? - ele franziu o cenho, assim como? - Por mim. - completou ela.

Ele engoliu em seco, processando as informações o mais rápido que o seu cérebro permitisse. 

De certo modo, não havia mais o que processar. 

- Não. - ela pareceu murchar, percebeu ele. - Eu sinto mais. Só não consigo… Externar. 

Temari suspirou, e sorriu. 

- Bem, tem uma semana para pensar em como fazer isso. - e entrou, deixando-o sozinho na rua. 

[...]

No final da semana, Temari já era reconhecida pelos moradores. 

Sua força e jutsus haviam ajudado tremendamente os genins, e ela preparava-se para partir quando ouviu um toque leve em sua porta. 

- Entre. - ordenou. 

- Sim, senhora. - ironizou o parceiro sorrindo. - Esta pronta? 

Eles haviam saído em pequenos encontros durante a semana, lojas de dango, restaurantes, parques. A tensão apenas aumentava, e Shikamaru parecia finalmente ter entendido os apertos, pontadas e falhas de respiração que sentia. 

- Temari… - começou, apenas para ser interrompido pela mesma. 

- Espere, vamos aos portões primeiro. 

Ele assentiu, e assim foram.

Na saída, ele retornou a fita-la. Seus cabelos loiros recaiam sobre seus olhos de esmeralda, um pouco mais longos do que quando havia chegado. Seus trajes eram iguais aos de chegada. Ele percebeu, então, o quanto ela era bela.

- Temari… Obrigado pela ajuda. - disse, fazendo uma reverência.

- Não há de que. - respondeu, suspirando, e virando-se para partir.  

- Espere, Temari. - disse, segurando sua mão. Ela encarou a mão, e logo depois, o rosto dele. Os traços finos de sua expressão enrijeceram em tensão, mas ele continuava atraente, como ela sempre achou. - Eu… Eu amo você. 

Temari arregalou os olhos, dando dois passos para trás. 

- Ficou doente?! - gritou, sacando o leque. - Quem e voce? O Shikamaru que eu conheço não teria culhão! 

Foi a vez dele rir alto.

- Sua mulher louca! Eu te amo! - correu em sua direção, por sorte, eram cinco da manhã, e não havia ninguém perto. Ele obviamente não conseguiria fazê-lo com plateia. Não era o Naruto. - Fique aqui, comigo.

- Não! - e saiu batendo os pés. Mas virou-se apenas para acrescentar. - Na verdade, espere um pouco, preciso pensar. Assim que chegar em Suna, terá sua resposta.

Aquela resposta só viria dois meses depois. 

Fim do Flashback

Eu estava sorrindo como um imbecil, e o Sexto Hokage tomou a carta de minhas mãos, a curiosidade tomando conta de si. 

- Shikamaru… O que é isso? Sabe que não pode guardar segredos da vila, e… 

- Não se preocupe, Sexto. Logo mais a vila inteira saberá! - eu sorria.  - Eu acho. - acrescentei. Engoli em seco lembrando-me do Kazekage e do Mestre das Marionetes. 

- Quando é a próxima missão para Suna?