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História Shinigami - Opala


Escrita por: Ryuu_bywhim

Notas do Autor


Me inspirei bastante no filme "Cidade dos Anjos" e na música "Íris" da banda GooGoo Dolls e alguns animes que vi e mangas que li ~ Espero que gostem.

Capítulo 1 - Opala


Ela me fez voltar a enxergar as cores, me deu esse presente quando a vi pela primeira vez, quando lhe tirei sua mãe.

Naquela época, ela era apenas uma garotinha, uma boneca em seus vestidos de renda e eu era uma porção de coisas, coisas que ela jamais entenderia, coisas que ninguém jamais gostaria de ser; um anjo, um conselheiro, um ceifeiro, um shinigami.

Eu caminhava invisível na multidão, levando as almas daqueles que carregavam a marca da morte. Eu os tirava de seus queridos, de seus familiares, de seus lares e os levava ao desconhecido a despeito do medo e do pesar que deixavam para trás. Eu conhecia a dor e a solidão melhor do que ninguém, eu era a coisa que causava este mal.

Eu era a ultima coisa que os mortos viam, o ultimo descanso dos guerreiros em campos de batalha, era o conselheiro do luto, um amigo imaginário para incontáveis crianças e um monstro para muitas outras.  Fui cumplice do sofrimento, de milhares de segredos, de desaparecimentos repentinos. Eu carregava um fardo que nenhuma outra criatura conseguiria carregar.  Eu estava sozinho e o mundo não podia me enxergar e eu não queria que eles me vissem porque eu sabia que jamais entenderiam, os seres humanos foram feitos para errar, para se quebrarem e eu tinha aceitado isso e, por séculos, perdi o interesse pelo mundo deles, as cores desapareceram, substituídas por tons amenos de cinza e preto, mas quando a encontrei, quando olhei para seus olhos de pérola, a primeira coisa que vi foi o tom azulado de seus cabelos negros e o rubor do choro em seu rosto pequeno, toda revestida em uma áurea opala multicolorida, transbordando pureza e inocência como eu jamais vira em qualquer outra criatura.  Se chamava Hinata e era uma criatura única.

Inesperadamente, quando me debrucei sobre a cama de hospital para levar a alma de sua mãe, ela olhou para mim, olhou diretamente nos meus olhos e o canto de seus lábios se torceram para baixo enquanto seu queixo tremia.

Eu estendi minha mão na direção dela e ela recuou, então baixei meus olhos, afastei minha mão e voltei o rosto para o corpo da mulher deitada. Ela tinha os mesmos cabelos azulados, notei, os mesmos traços da garotinha. Eu toquei sua testa, afastando uma mecha de sua franja e ela respirou fundo pela ultima vez, relaxando, cedendo. Quando afastei a mão, ela já tinha partido e a garotinha deixou escapar um muxoxo, um gemido de choro. Eu olhei para ela, mas ela estava concentrada no rosto tranquilo de sua mãe, então eu me permiti um sorriso triste e toquei levemente o topo de sua cabeça.

- Não chore, criança, pois ela está em paz. – sussurrei.

Ela olhou na minha direção com os olhos cheios de lagrimas e ressentimento.

- Você a levou? – quis saber.

Eu afastei minha mão e não respondi, baixando os olhos num lamento mudo.

- Traga ela de volta. – ela pediu.

Eu me afastei.

- Traga ela de volta! – ela gritou.

Eu olhei para ela, bem dentro dos seus olhos e ela se calou, baixando os olhos. Eu suspirei.

- Não há poder no mundo que dê vida àqueles cujo tempo se esgotou. – eu disse para ela – Acalme-se, porque ela está em paz. – indiquei o rastro de um sorriso tranquilo que ficara nos lábios de sua mãe – Faça com que ela se orgulhe e viva uma vida longa.  – por favor, eu queria acrescentar, por favor, viva uma vida longa, mas parti sem dizê-lo.

Por um breve momento naquela saleta, enxerguei as cores ao redor dela, os tons misturados em sua áurea opala, as cores amenas nas paredes, o brilho amarelado do sol que entrava pela janela. Mas assim que deixei sua presença, os tons de cinza voltaram a preencher minha visão como se para me lembrar de meu dever, me lembrar do que eu era, de que não havia espaço para sentimentos em minha tarefa.

 

Levei muitas outras almas antes de encontrá-la novamente.

Ela estava mais velha, os cabelos curtos na altura do queixo, os olhos mais sábios, mais tímidos, mas sua áurea estava mais brilhante do que nunca, emitindo suas varias cores, tornando possível para mim enxerga-las.

Levei seu tio naquele dia.

Ela me notou como o fez da ultima vez, me viu atravessar a porta do quarto para tocá-lo e me seguiu, prostrando-se no batente da porta enquanto observava eu me inclinar sobre a cama do homem de cabelos castanhos longos, os únicos ruído vinham da chuva lá fora, da respiração forçada do moribundo e dos murmúrios de seu filho que segurava sua mão em prantos. Eu olhei para o jovem enquanto estendia a mão para tocar a testa de seu pai e lhe livrar do sofrimento que lhe custava cada respiração. Quando ele parou de respirar, num suspiro de alívio, o jovem ergueu o rosto com os olhos perolados cheios de lagrimas e se jogou sobre o corpo do pai, deixando o choro chacoalha-lo.

Suspirei e toquei as costas dele por um breve instante até que o choro amenizasse, então me virei para ela para suportar seu olhar e me surpreendi com as lagrimas mudas escorrendo por seu rosto, com a compreensão que inundava seu olhar. Ela mordeu o lábio inferior e baixou os olhos em sinal de empatia e passou por mim para consolar o primo.

- Gostaria de ter falado com você. – sussurrei.

Ela ergueu o rosto para mim e seus lábios formaram as palavras “eu também” antes dela voltar a consolar o jovem rapaz.

Um suspiro ao meu lado me despertou, mas eu não precisava olhar para saber quem era. “É contra as regras” a voz dele soou clara em minha mente e eu senti sua mão em meu ombro. Tecnicamente, eu queria dizer, tecnicamente, não conversamos. Itachi, no entanto, ignorou meu sorriso torto e me obrigou a deixar o quarto colorido, de volta aos tons de cinza.

 

Hinata era uma mulher jovem quando levei seu pai. O fiz sem aviso, ele morreu num acidente de carro e já não havia mais dor quando o toquei e lhe dei o descanso da eternidade.  Fui até ela depois, apareci diante dela de madrugada na saleta onde ela estudava em seu apartamento. Ela ergueu os olhos de seu notebook depois de alguns segundos, seus lábios se entreabriram quando me viu e ela se levantou.

- Você. – disse.

Eu apertei os lábios.

- Hinata. – sussurrei seu nome.

Ela uniu as sobrancelhas por um instante enquanto eu baixava os olhos para o porta-retratos sobre a estante ao meu lado, passando os dedos pela madeira do móvel sem poder tocá-lo.

- O que é você? – ela perguntou.

Eu olhei para ela.

- Sasuke. – disse.

- Você tem um nome. – ela observou, se aproximando.

Eu sorri para ela por um segundo, apreciando o contato, então respirei fundo.

- Há sempre más notícias quando apareço. – lembrei.

Ela baixou os olhos por um momento, depois ergueu o rosto.

- Meu tempo se esgotou? – perguntou.

Eu a encarei.

- Não o seu. – eu lhe disse e seus lábios se entreabriram quando ela entendeu – Eu lamento.

Ela assentiu, piscando enquanto seus olhos se enchiam de água.

- Ele está em paz?

- Está.

Ela massageou o pescoço.

- Foi um acidente de carro? – perguntou.

- Sim. – respondi sem me surpreender que ela soubesse – Teve um sonho?

Ela assentiu.

- Por que eu sou assim? Esses sonhos, você... – olhou para mim.

- Eu não sei. – respondi com honestidade.

- Você já foi... – ela hesitou – Já esteve... quero dizer... vivo?

- Não. Nunca estive morto, porém.

- O que é você, Sasuke? – ela perguntou, intensa.

- Há vários nomes para isso. – dei de ombros – Por que é importante que saiba se você já entende? – retruquei.

- Eu sonho com você. – ela contou – Sonho com você todas as noites. – se aproximou – Eu vejo sua silhueta, eu vejo seu olhar triste, eu o vejo em tons de cinza e eu sinto a sua dor... – ela estendeu a mão na direção do meu rosto.

Eu ergui a mão e ela parou. Eu aproximei nossas mãos, mas meus dedos passaram direto pelos dela e eu sorri para mascarar a dor.

- Condenado a vagar pela eternidade, eu devo ter feito algo muito ruim. – sussurrei.

“Você fez” a voz de Itachi ressoou em minha mente.

- Contra as regras. – recitei para mim mesmo e olhei nos olhos dela uma ultima vez – Eu serei punido por isso, tenho certeza.

- Por quê? – ela perguntou com urgência.

Eu sorri.

- Por me apaixonar por você. – eu disse, sem perceber que desvanecia.

Ela arregalou os olhos e se precipitou na minha direção, pronta para dizer alguma coisa, mas eu não a ouvi. Fui sugado para longe dela, o cômodo em que estávamos escureceu em um negror profundo e eu suprimi a dor lancinante em meu peito.

 

Hyuuga Hinata se tornou uma médica respeitável. Uma ironia do destino que ela salvasse vidas enquanto eu as tirava.

Eu continuei acompanhando seus passos a despeito da proibição que me foi imposta. Vigiei-a de longe, sem que ela soubesse, deixando crescer a dor em meu peito, alimentando minha solidão, invejando o mundo que a cercava, corrompendo-me.

 

- Você sangra para saber que está vivo. – Itachi sussurrou certa vez.

Estávamos de pé sobre o parapeito de um viaduto, com as mãos nos bolsos enquanto observávamos os carros passando lá em baixo. Havia um homem ao nosso lado, ele tremia em prantos enquanto subia o parapeito. Nós estávamos esperando que ele fizesse seu salto para a morte.

- Morrer é uma parte da vida. – ele disse e olhou para mim.

Eu olhei para ele, para seus olhos negros, opacos.

- Eu os invejo, Itachi. – confessei e voltei a olhar para o horizonte – Eu gostaria de poder morrer para que a dor parasse. – murmurei.

Itachi respirou fundo como se tomasse coragem.

- Você quer morrer? – o tom em sua voz me chamou a atenção e eu olhei para ele, nossos cabelos esvoaçando no vento – Ou você quer viver? – ele perguntou.

Eu estreitei os olhos, mas não respondi, então ele suspirou.

- Faça seu voo. – ele desviou os olhos para o horizonte – Sangre para viver, se é o que deseja.

Senti meus lábios se entreabrirem.

- Você...

- Sasuke. – ele me interrompeu e sorriu, batendo os dedos na minha testa – Eu amo você, irmãozinho.

E dito isso, ele desceu para a rua do viaduto e tocou o braço do homem que caiu morto no chão antes que ele desaparecesse.

Eu me virei para o horizonte e abri os braços sem olhar para baixo, sorrindo, aproveitando o vento forte que bagunçava meus cabelos e jogava o sobretudo para trás.

- Obrigado. – sussurrei antes de me deixar cair para frente.


Notas Finais


Tentarei postar com mais frequência. Me deixem comentários.
Obrigada :3


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