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História Ship of You(Tube) - 2. Algumas coisas nunca mudam


Escrita por: wolfistar

Notas do Autor


Olaaar, peeps! Tudo bem, amores?

Fiquei muito feliz com toda a recepção que tive de vocês! Que bom saber que irão me acompanhar em mais uma história doida, com a doida da Lily e o doido do James ♥

Bem, vou deixá-los ler mais um pouco da história desse OTP que só sofre nas minhas mãos, rsrs


Capítulo 2 - 2. Algumas coisas nunca mudam


[DOMINGO – 24 DE JUNHO, 2018]

James suspirou aliviado quando desceu do táxi em frente à sua casa. A viagem de uma hora de avião de Londres até Hogsmeade havia terminado com os seus nervos e tudo em que conseguia pensar pelo caminho até ali era que, assim que chegasse em seu quarto, ficaria deitado sobre a sua cama sem fazer absolutamente nada pelas próximas vinte e quatro horas

Com pressa, ele abriu os portões, sentindo as gotas fortes da chuva molharem suas costas e cabelos – não que ele se importasse muito, é claro, porque a água fria parecia aliviar um pouco do cansaço que os dias abafados em Londres haviam causado.

— Prongs! — Sirius sorriu para ele assim que entrou em casa.

— Vocês já voltaram! — James comentou, surpreso. Tinha pensado que o amigo não estaria em casa até mais tarde.

— Remus e eu acabamos pegando carona até aqui, mas o Peter ficou. Você sabe como ele é com a McKinnon. — Sirius rolou os olhos, sorrindo de forma divertida. — Pelo menos nunca mais vai poder dizer que eu e o Remus enrolamos muito. — Riu.

— Mas eu vou poder dizer, porque vocês enrolaram muito mesmo. — James retrucou. — Se você e o Remus não tivessem se acertado, eu não sei se conseguiria conviver com vocês sem acabar cometendo assassinato.

Sirius deu de ombros, desfazendo de suas palavras e então, se erguendo do meio das almofadas onde estivera sentado, voltou os olhos para James, encarando-o de maneira estupidamente maliciosa.

— Por falar em casais que enrolam muito... — Ele começou a falar, fazendo com que James estreitasse os olhos.

— Sirius, não comece. — James o interrompeu, sabendo exatamente o que o amigo iria falar. — Não estou interessado. — Adicionou, tentando demonstrar uma certeza que não sentia.

— Tudo bem... — Sirius murmurou, contudo, sem tirar o sorrisinho dos lábios. — Já que você não está interessado em saber que eu e Remus pegamos carona com a Lily e que ela está ali na casa ao lado, eu não vou falar sobre isso. — E, sorrindo ainda mais, espreguiçou-se e caminhou em direção à cozinha, deixando James sozinho e totalmente atordoado.

Ela estava ali? Na casa ao lado?

Pensar sobre aquilo fez com que algo se remexesse em seu estômago, mas, decidido a não dar atenção para Sirius – ou pelo menos tentar não dar atenção – ele respirou fundo, sentindo uma irritação inexplicável se espalhar por sua corrente sanguínea antes de pegar a mala e a mochila que havia soltado ao entrar. Subindo as escadas a passos firmes, foi até o próprio quarto, largando tudo em um canto antes de se atirar sobre a cama e encarar o teto, exatamente como estivera fazendo no hotel.

E, também exatamente como estivera fazendo no hotel, os pensamentos dele voltaram para ela.

Gemendo em frustração, James voltou a se erguer, sabendo que não conseguiria fazer o que pretendera no caminho até em casa. Ele não conseguiria deitar e não fazer nada, porque sua mente era estúpida e insistia em pensar sobre coisas que não devia.

Se aproximando de sua mala, abriu-a e puxou o notebook e o carregador antes de sair do quarto, caminhando até seu “estúdio de gravação”, tencionando terminar de editar o vlog que gravara em Londres.

Não que ele precisasse ter pressa, afinal ele tinha bem uns dez vídeos adiantados prontos.

Nos últimos meses, em meio à projetos e trabalhos exaustivos na faculdade e mais workshops do que ele poderia contar, James – segundo Sirius – havia se tornado workaholic. Em cada brecha de tempo que arranjava, pegava a câmera e gravava algum vídeo porque não queria deixar o canal sem conteúdo.

Ele gostava de pensar que estava apenas sendo responsável, já que no primeiro ano de seu curso enfrentara algumas – várias – dificuldades para conciliar os vídeos no canal, suas novas responsabilidades, seus estudos e seu relacionamento. Ou, bem, ex relacionamento.

James não queria acabar cometendo os mesmos erros, portanto preferia pecar pelo excesso do que acabar tendo de fazer tudo em cima da hora. O que era bastante estranho de se pensar, afinal ele sempre havia sido o tipo de cara que deixava tudo para cima da hora.

— Não deu muito certo, não é? — Resmungou consigo mesmo enquanto ajeitava o notebook sobre a mesa, ao lado do computador, e ligava a cafeteira (que tinha feito questão de colocar ali por motivos de praticidade).

Suspirando enquanto esperava o café ficar pronto, caminhou até a janela – exatamente como sempre fazia – e abriu as persianas, deixando o vidro fechado por conta da chuva forte. Estava tão alheio ao que estava fazendo que demorou alguns bons instantes até perceber que, pela primeira vez em muito tempo, não era Darth Vader quem o encarava.

Seu corpo reagiu muito antes de seu cérebro – que estava totalmente paralisado em choque – ao vê-la: seu coração bateu forte contra suas costelas, deixando-o ofegante. Suas mãos começaram a suar e ele sentia as pernas estranhamente trêmulas.

Somente quando os olhos dela – que até então estivera falando qualquer coisa que ele não podia ouvir por conta da distância – ergueram e encontraram com os dele, é que a totalidade da situação pareceu fazer sentido para James:

Ela estava de volta. Na casa ao lado.

E, assim como haviam feito milhares de vezes antes, eles se observavam através dos poucos metros de distância entre uma janela e outra, mas, diferente de todas as outras vezes, daquela vez nenhum dos dois parecia saber como reagir.

Fazia tanto tempo desde que a vira pela última vez, tanto tempo desde aquela sexta-feira extremamente fria e angustiante... e, mesmo depois de tanto tempo, James podia lembrar perfeitamente de todas as palavras que eles haviam trocado, tantas tinham sido as vezes que repetira a cena em sua cabeça, pensando em formas de ter feito alguma coisa diferente, qualquer coisa, que pudesse ter tornado aquele momento – e todos os meses seguintes – menos doloroso. Não conseguira encontrar, pois, por mais que odiasse, sabia que haviam feito a coisa certa, mesmo que não tivesse sido a opção mais fácil.

Ele tinha certeza absoluta de que sua expressão deveria parecer tão surpresa quanto a dela, mas não conseguiu se controlar.

Ela estava... linda.

Perceber isso somente aumentou o desconforto e o aperto no peito de James.

Apesar de estar com a camiseta cheia de marcas de pata de cachorro – Padfoot? – e de seus cabelos – que estavam muito mais curtos do que James lembrava de ver na foto do Instagram de Alice – estarem molhados, ela estava total e completamente linda.

Uma vontade imensa de ir até onde ela estava se abateu sobre ele, fazendo-o dar um passo inconscientemente para mais perto da janela.

— Hey, James, você viu...? — Remus, que entrara em um rompante no quarto-estúdio, interrompeu o que estava falando ao perceber o comportamento totalmente estranho do amigo.

James, que estivera em um estado de estupor até o momento, finalmente desviou o olhar dela, voltando-se para o amigo enquanto se sentia totalmente zonzo. Percebeu o momento em que Remus compreendeu a situação ao voltar o olhar para a janela e logo em seguida para ele, levemente surpreso.

— Oh! — Remus murmurou finalmente, arqueando uma sobrancelha para James com uma expressão marota que ele com certeza deveria ter adquirido da convivência com o Sirius.

— Conseguiu? — Sirius, totalmente alheio a cena estranha que estava se desenvolvendo no quarto, perguntou, parando próximo da porta e encarando os amigos cheio de expectativa. Ao ver o estranho comportamento dos dois, contudo, franziu o cenho, confuso. — O quê? O que aconteceu? — Indagou, perplexo.

Remus respondeu com apenas um aceno de cabeça em direção à janela, ainda sem desviar o olhar divertido de James que estava totalmente sem reação.

Erguendo os olhos para a direção que havia sido indicada, Sirius compreendeu. E então sorriu.

— Então... não está interessado, hm? — Comentou, deleitando-se com a expressão irritada e a coloração avermelhada que tomou o rosto de James.

— Eu não... estava... huh... — James tentou falar qualquer coisa, mas, percebendo que nada fez sentido, parou e passou as mãos pelos cabelos.

— Bem, amigo, você não precisa mais se preocupar em parecer um babaca. Ela já fechou a janela. — Sirius sorriu ainda mais ao ver a expressão de incredulidade e, assim que constatou que as persianas brancas estavam fechadas, decepção que se espalhou pelo rosto de James. Esticando-se para o amigo, Sirius deu dois tapinhas em suas costas, fazendo com que ele bufasse.

— Pare com isso, Sirius. — James resmungou e então, desviando dos dois, caminhou até a cafeteira que havia terminado de preparar o café.

— É. Pare, Sirius. Não faça com que ele se sinta mais estúpido do que já está se sentindo. — Remus adicionou, também dando um tapinha nas costas de James. — De qualquer forma, James, eu queria te perguntar se você viu o carregador da minha câmera? Desde que você foi para Londres não o encontrei.

— Está no bolso externo da minha mala, no meu quarto. Eu peguei por engano. — James respondeu, entredentes, sentindo-se exatamente como Remus havia dito: estúpido.

— Ah, certo. Obrigado. — Remus disse e, sorrindo maliciosamente para ele, saiu do quarto. Sirius, entretanto, continuou a observá-lo.

— O que foi? — James perguntou ao perceber que o amigo continuava ali.

— Nada. Só estava observando... você não se importar. — E então, rindo descaradamente, saiu, deixando James sozinho com uma caneca de café na mão e a expressão de completa confusão estampada no rosto.

Frustrado, fechou os olhos enquanto suspirava.

— Então talvez você não tenha superado, James. — Murmurou consigo mesmo, sabendo que de nada adiantava mentir, embora não fizesse a menor ideia do que deveria fazer com todos aqueles sentimentos que o haviam tomado por completo no instante em que a vira.

Suspirando novamente, caminhou até a mesa onde havia deixado o notebook, sentando junto a ela e preparando-se para fazer o que fazia sempre que queria evitar que sua mente vagasse por lugares que não devia: trabalhar.

X—X

Covarde.

Lily Evans era maior e mais patética covarde que já existira.

Ao ver Remus e Sirius adentrarem no quarto-estúdio da casa do vizinho e retirarem a atenção dele de cima dela, Lily prontamente se aproximou da janela, fechando as persianas – que agora estavam sem a decoração habitual de Darth Vader – rapidamente, sabendo que estava agindo feito uma idiota.

Mas o que mais poderia fazer?

Fazia tanto tempo desde a última vez em que o vira tão perto que simplesmente não soubera como reagir.

Ele estava ainda mais bonito do que antes, o que, pela força, ela não fazia a menor ideia de como era possível. Não deveria ser normal uma pessoa ficar tão bonita com o passar do tempo. Ele – junto de Sirius, obviamente – deveria ter algum tipo de pacto com Crowley, porque não era natural. Simplesmente não era.

Vê-lo tão perto, tão real... ela simplesmente não soubera o que fazer. Tantas emoções explodiram em seu interior que Lily parecia pregada no chão. Seu coração acelerou tanto que teria colocado a Millenium Falcon no chinelo. Seu corpo inteiro começou a tremer e suor brotou de suas têmporas, mãos e costas.

Era simplesmente patético.

Lily sempre soube que não o havia superado totalmente, mas ainda assim era desconcertante perceber que, na verdade, não havia superado absolutamente nada.

Ele ainda tinha os mesmos efeitos sobre ela. Talvez mais! Eles só haviam se visto através da janela e ela quase sofrera um ataque cardíaco, por Vader!

— Ah, Vader, eu estou tão na merda. — Ela murmurou consigo mesma, sentindo-se ainda mais cansada do que antes.

Suspirando e sabendo que ainda tinha muita coisa para fazer – incluindo limpar toda a água da chuva que havia entrado pela janela aberta – começou a trabalhar, querendo mais do que nunca ocupar sua mente para longe de qualquer lugar que chegasse perto da casa do vizinho.

[SEGUNDA-FEIRA – 25 DE JUNHO, 2018]

— Você veio! — Sirius sorriu em cumprimento, assim que ela colocou os pés para dentro da loja. — Pensei que fosse vir mais tarde! Não deveria estar trabalhando?

— Eu estou trabalhando. — Lily disse e indicou a bolsa onde guardava o notebook. — Meu Vader, Sirius, ficou tudo incrível! — Acrescentou ao voltar-se para a loja na qual havia trabalhado por anos e vê-la totalmente diferente.

As paredes estavam coloridas, cheias de pôsteres de bandas, livros e filmes. As prateleiras estavam organizadas e divididas por cores e, o piso, era todo cheio de discos de vinil. Havia duas sessões inteiras e novinhas, onde vários livros estavam colocados em grandes estantes brancas. Algumas mesas estavam dispostas num dos cantos, próximos de uma máquina de café moderna e cheia de botões e alguns pufes e sofás pretos haviam sido colocados contra as paredes de modo que o lugar parecia extremamente confortável.

— Sou maravilhoso, não é? — Sirius disse, sem um pingo de modéstia enquanto observava a loja cheio de orgulho.

Desde as primeiras vezes que Sirius havia ido para a Movie-Maker com ela, Lily sempre soube que ele adorava o local. Quando ela conseguira um estágio numa empresa de softwares alguns meses depois de entrar na faculdade, Sirius ficara em seu lugar no atendimento e, um pouco antes de ela decidir ir para a Espanha, virara sócio de Aberforth e, assim, praticamente reconstruiu o lugar.

— Sim, você é! — Lily disse, voltando-se para ele e sorrindo antes de esticar-se e dar um beijo em sua bochecha. — Tem wifi?

Ele bufou.

— Foi a primeira coisa que providenciei depois da reforma. Nunca entendi porque o Abbie não instalava. — Sirius murmurou enquanto pegava um papel onde estava a senha da rede.

— Acho que ele gostava de me ver padecer. — Lily bufou. — Aliás, onde está o Abbie?

— Com a Pince. — Ele respondeu, um sorrisinho divertido pairando em seus lábios. — Fazendo coisas bem mais divertidas do que nós dois, com certeza.

— Ugh! — Lily estremeceu ao imaginar o antigo chefe fazendo coisas impróprias com a bibliotecária municipal. — Informação demais, Sirius.

— O homem precisa fazer o que tem de fazer, Lily. — O garoto adicionou, divertindo-se demais com a expressão totalmente horrorizada que surgiu no rosto da ruiva. — Ah, qual é, como se você não fizesse essas coisas.

— Okay, eu tenho certeza de que não quero falar sobre isso com você. — Lily resmungou e então fez a volta no balcão principal, puxando uma cadeira para se sentar antes de abrir a bolsa e pegar o notebook.

— Ah, sim, eu esqueci que você virou virgem depois de ir para a Espanha.

— Sirius! — Lily reclamou, estarrecida, e então ergueu os olhos para a loja, suspirando em alívio ao perceber que nenhuma das pessoas que observavam as prateleiras pareceu ouvir. — Cale essa maldita boca! — Sibilou, irritada.

Sem se abalar com o comportamento dela, Sirius também fez a volta no balcão, sentando logo ao seu lado enquanto a observava colocar a senha da rede em seu notebook.

— Então está querendo dizer que não ficou virgem depois de ir para a Espanha? — Ele perguntou, transmitindo despreocupação em sua voz, embora continuasse observando as expressões dela atentamente.

Suspirando, Lily ergueu os olhos para ele, desconfiada.

— Eu sei o que você está fazendo, Sirius Black: você está me sondando. — Ela bufou.

— Eu estou? — Sirius se fez de desentendido, fazendo-a querer bater em sua face para apagar aquela expressão estúpida de lá.

— Sim, você está! — Lily reclamou. — Só não entendo por quê! Acho que te contei tudo o que aconteceu comigo enquanto estive lá, afinal conversávamos praticamente em todos os dias. Você não deveria estar sugerindo essas... coisas.

— Então você não transou com ninguém enquanto esteve fora? Sério? — A delicadeza de Sirius era tão inexistente que Lily ofegou, incrédula, mas ele simplesmente deu de ombros, sem se importar. — Que patética, Lily Evans. Todos esses meses fora e nada? Patética.

— Desculpe te decepcionar, Sirius, mas eu estive mais interessada em estudar e aprender do que sair distribuindo beijos e... outras coisas por aí.

— Você não beijou ninguém? — Finalmente a expressão de desinteresse sumiu do rosto do garoto, dando lugar para a incredulidade.

Lily deu de ombros, constrangida demais para conseguir responder, portanto fingiu estar interessada na tela de seu notebook para não ter de encará-lo.

— Você tem de estar brincando. Isso é... patético! Até para os padrões Lily Evans... — Meneou a cabeça. — Céus e eu que pensava que o James era o único a agir como um pateta idiota por todo esse tempo. Vocês deveriam consultar um psicólogo, sério.

— O... quê? — Lily desviou os olhos da tela, sem conseguir controlar a curiosidade desesperada que tomava conta de seu corpo.

— Nada.

— O que você disse? — Ela insistiu, sentindo o rosto esquentar, embora não soubesse dizer se era de constrangimento ou de irritação por conta do comportamento totalmente indulgente de Sirius que parecia estar se divertindo demais em vê-la daquele jeito.

Sorrindo de forma maliciosa, ele falou:

— Eu não disse nada, ruiva. — E, piscando para ela, ergueu-se de onde estava, encaminhando-se para uma mulher de aparência perdida que havia acabado de entrar na loja.

Que timing perfeito.

Sentindo-se estranhamente zonza – bem, não tão estranhamente, afinal ela sabia das causas daquela zoeira toda, embora odiasse admitir – Lily respirou fundo e tentou fixar sua atenção no trabalho que deveria fazer.

Abrindo o programa Fanction Inc. PRO, esperou enquanto carregava, tentando esvaziar a mente de qualquer coisa que não fossem os códigos e informações que deveria estudar.

E é claro que não conseguiu.

As palavras de Sirius pareciam nadar em sua mente, provocando-a de milhares de maneiras diferentes. “E eu pensava que o James era o único a agir como um pateta idiota por todo esse tempo”. O que aquilo queria dizer? Sirius estava falando que ele também não ficara com ninguém nos últimos meses?

Por Vader! Parecia ridículo até para ela, francamente. Lily não gostava muito de quando aquele tipo de pensamento invadia sua mente, contudo ela sempre imaginou que ele não ficaria todos aqueles meses sem ninguém.

Nas primeiras semanas, quando estava recém organizando a vida em Granada, eles ainda conversavam. Como Lily se recusava veementemente a baixar o WhatsApp – ela tinha seus princípios incorruptíveis sobre aquilo – eles se contentavam em usar o aplicativo do site de fanfics em que ela postava e por onde, incrivelmente, ele havia começado a ler e acompanhar algumas histórias.

Era engraçado, na verdade, entrar no chat e fingir que eram outras pessoas. O Darth Prongs e a Fangirl-ily. Era simples e muito, muito divertido.

Só que, com o passar dos dias depois da ida dela, Lily percebera que se sentia pior a cada vez que se falavam. Que a cada conversa, parecia que um pedaço dela se perdia. Eles haviam terminado. Eles sabiam que não deveriam continuar conversando. Então porque doía tanto a perspectiva de não mais se falarem?

E por conta disso, ela continuava, embora, é claro, a comunicação tivesse diminuindo durante as semanas, passando de longas conversações para uma ou outra menção no Twitter, uma DM perguntando sobre o clima, um comentário em uma fanfic, uma curtida no Instagram.

E então o nada. O total e absoluto nada.

Para ambos havia sido repentino. A última conversa entre eles no chat havia sido um “até logo” do Darth Prongs, ao qual a Fangirl-ily tinha respondido com um “até” igualmente sem emoção. E, desde então, nada mais. Lily lembrava de ter aberto a conversa milhares de vezes, pensando em milhares de coisas que poderia falar para que não fizesse parecer tão estranho retomar o assunto com ele. Mas nunca teve coragem o suficiente.

De qualquer forma, enquanto estiveram conversando, Lily conseguira se impedir de pensar sobre ele com outras pessoas, só que, quando o assunto acabou e eles se distanciaram, ela não conseguia parar aquele tipo de pensamento de invadir seus pensamentos.

Será que ele estava conversando com outra pessoa? Será que ele estava beijando outra pessoa? Será que estava se apaixonando por outra pessoa?

Normalmente, depois de pensar aquilo, ela chorava. Era estúpido e totalmente idiota e ela se odiava por isso, mas simplesmente não conseguia controlar. Odiava imaginá-lo com qualquer outra pessoa que não fosse ela. Odiava saber que, se aquilo acontecesse, seria culpa dela por ter decidido ir embora. Odiava saber que, se ele realmente começasse a gostar de outra pessoa, ela deveria aceitar porque, por mais que lhe doesse, ele merecia ser feliz.

Mesmo que não com ela.

— Por Vader, Lily Evans, pare com isso! — Reclamou consigo mesma enquanto tentava afastar todos aqueles pensamentos de sua mente. Respirou fundo, sentindo os olhos coçarem e forçou-se a focar no que deveria fazer, inclinando-se em direção ao seu notebook e começando a trabalhar.

Demorou bem mais de vinte minutos até que as coisas começassem a fazer sentido e, neste meio tempo, Sirius retornou para ao lado dela.

— Hey, toma aqui o seu chá. — Ele disse, colocando uma xícara em frente a ela, fazendo-a sorrir.

— Obrigada, Sirius. — Ela agradeceu e então bebericou um pouco do líquido quente. — Hortelã?

— Era o único que tinha. — Deu de ombros e então se inclinou em direção ao notebook dela, encarando-o com interesse. — Como é trabalhar para a empresa onde você posta suas pornografias?

Lily quase se afogou ao ouvi-lo dizer aquilo, não sabia se por conta da surpresa ou da imensa vontade de rir que a tomou.

Rolando os olhos para ele, ela preferiu responder sua pergunta e ignorar sua indireta.

— É muito legal, na verdade. Quando mandei meu currículo para eles não pensei que realmente entrariam em contato, mas daí eles me chamaram para o estágio... e agora, estou contratada. — Ela sorriu, feliz com o sucesso inesperado. — Acho que estou orgulhosa.

— E deveria mesmo. — Sirius piscou para ela. — Nem parece a ruiva doida de antes: trabalhando sério, desistindo do café... daqui a pouco você vai parar de assistir Star Wars também? — Ela precisou se controlar para não acabar corando, a lembrança de que pulava as cenas de certo casal quando assistia a saga de sua vida ainda era muito vergonhosa. — Me diga uma coisa, Lily, você está feliz com todas essas mudanças?

— Aonde você quer chegar com isso, Sirius? — Ela percebeu que a pergunta dele era muito mais séria do que o tom de voz sarcástico dele deixava transparecer.

Ele deu de ombros.

— Só quero saber, porque, para mim, parece que você só está se impedindo de fazer o que você realmente quer fazer. E eu, como uma pessoa que fez isso por muito tempo, não recomendo. — Adicionou, muito mais delicado do que antes, encarando-a com preocupação verdadeira.

Lily sentiu as bochechas esquentarem.

— É... eu... está tudo bem, Sirius. — Disse e então recebeu um arquear de sobrancelhas dele, indicando que ele não lhe dava crédito pelo que havia dito. — Quero dizer, pode ser que eu esteja evitando... algumas coisas, mas no momento é tudo o que eu posso fazer para não acabar...

— Correndo atrás do James?

— Por Vader, Sirius, você está convivendo demais com o Peter! — Lily bufou, sentindo-se irritada por conta de todas as verdades que o garoto estava jogando em sua cara.

— Não posso negar. — Sirius deu de ombros. — E você também não, afinal, depois de sair correndo para fechar a janela do seu quarto, ficou meio óbvio.

Lily gemeu em frustração, lembrando-se da noite anterior. Pegando a xícara, ela tomou mais um pouco do chá, amaldiçoando Yoda por aquilo não ser tão delicioso quanto café.

— Certo, certo, vamos mudar de assunto. — O garoto disse, divertindo-se demais com o desconforto dela. Vê-lo daquele modo, fez com que ela lembrasse da primeira vez que Sirius havia invadido sua casa, fazendo-a querer amaldiçoa-lo até a morte. Bem, algumas coisas nunca mudavam.

Suspirando, Lily voltou a depositar a xícara sobre o balcão, sentindo o coração descompassar antes de começar a falar.

— Não, tudo bem. Eu... estou surtando, na verdade. Internamente. — Ela disse, por fim, voltando-se para ele. — Não pensei que fosse ser tão... intenso. Quero dizer, por Vader! Ele só apareceu naquela porcaria de janela e eu senti como se fosse morrer bem ali. Isso sim é patético. Sabe, Sirius, eu tentei. Juro que tentei. Enquanto estava na Espanha, eu convivia com algumas pessoas muito legais... saí algumas vezes com elas e tinha essa menina, Angel, que era incrível... — Lily lembrou da garota de pele negra e cabelos cacheados que, por muitas vezes, fizera com que ela suspirasse. — Conversávamos quase todos os dias, afinal ela fazia algumas aulas comigo e então começamos a sair sem nossos amigos e-

— Então você beijou alguém enquanto esteve na Espanha?

— Não. Eu... não consegui. — Ela estremeceu, lembrando daquele dia no cinema, todo o clima divertido depois de assistirem um filme de terror, a excitação que tomava conta de ambas e a proximidade que fazia parecer com que tudo estivesse cheio de estática em volta delas. — Foi bem ridículo, na verdade. Ela se aproximou e eu senti meu coração acelerar e minha respiração ficar ofegante e... então eu comecei a chorar. Quero dizer, quem chora antes de beijar outra pessoa?

— Você, aparentemente. — Mas o tom de voz brincalhão de Sirius não escondia por completo a sua surpresa.

— Ugh! Tudo em que eu conseguia pensar era que ela não era ele e que eu estava fazendo algo errado. — Lily deitou-se sobre o balcão, apoiando a testa sobre a madeira enquanto sentia o constrangimento tomar conta dela. — E então ela ficou me olhando sem acreditar. Francamente, nem mesmo eu acreditava. Depois, Angel foi embora e nunca mais olhou na minha cara. E eu quis estar morta.

— Nenhuma novidade na última parte. — Sirius comentou, mas então passou as mãos pelos cabelos de Lily, tentando confortá-la. — Você não se sentia pronta, Lily, tudo bem. O término de vocês foi inesperado e, bem, não foi fácil para o James também.

— Mas eu tenho certeza de que ele não foi tão patético. — Lily comentou, ainda com o rosto contra a madeira, sem querer erguer os olhos para o garoto.

— Na verdade, ele sequer tentou ser patético. — E lá estava novamente, a insinuação de que em todos aqueles meses James não havia saído com ninguém.

Ela finalmente se afastou do balcão, encarando Sirius sem saber como proferir as palavras que ela estava morrendo de vontade de perguntar.

— Então, ele...? — Ela forçou-se a começar, mas foi interrompida por uma voz conhecida que soou perto de onde eles estavam.

— Lily!

Ao erguer os olhos, surpresa, Lily deparou-se com Emmeline que a encarava em um misto de surpresa e felicidade.

— Emme! — Lily sorriu para ela.

— Você está de volta! O Sirius comentou que você tinha ido para a Espanha e... uau, como foi? Você chegou quando?

— Foi ótimo! Cheguei ontem! E você, como está? E a Guga? — Lily perguntou, observando a menina com atenção, percebendo que ela não parecia ter mudado muito desde a última vez em que a vira.

Como era possível que em sete meses algumas coisas parecessem mudar tanto e outras quase nada?

— Eu estou cansada. Esse último semestre acabou comigo. — A loira estremeceu levemente. — A Guga está bem, ela foi para Oxford, como você deve saber. Cheguei de lá hoje de manhã. — E, dizendo aquilo, voltou-se para Sirius. — Estava me perguntando se vocês continuam contratando? Eu trouxe meu currículo porque vi o anúncio...

— Sim! — Sirius assentiu quando a menina esticou o papel para ele. — Se você quiser me acompanhar, a gente pode conversar ali. — Ele adicionou, apontando para um dos sofás que estavam vazios.

— Tudo bem. — Emme concordou, parecendo levemente surpresa com a recepção do garoto, e então se encaminhou para onde ele havia indicado.

— Atende para mim, Lily? — Sirius voltou-se para ela, indicando um menino que havia acabado de entrar.

— Claro. — Lily concordou, sorridente, erguendo-se de onde estivera sentada e encaminhando-se até o garoto. — Boa tarde. Posso te ajudar? — Ela sorriu para ele, que retribuiu, tímido, antes de dizer para ela o que procurava.

Lily sentiu a nostalgia tomar conta dela enquanto andava pelas prateleiras – que ela percebeu terem quase a mesma disposição das que ela organizava antes de sair da Movie-Maker – indicando CD’s e bandas.

Quando o garoto foi embora, ela continuou atendendo uma menina e outras duas depois desta. Ela não sabia dizer por quanto tempo ficara ali, apenas conversando sobre música, até que a última menina foi embora levando três CD’s – todos por indicação de Lily – e ela voltou-se para o lugar onde Sirius e Emme ainda estavam conversando. Sirius gesticulava em direção às prateleiras onde ela se encontrava, explicando qualquer coisa que ela não era capaz de ouvir.

Satisfeita, ela fez menção de voltar para o balcão – onde havia deixado o aplicativo em que deveria estar trabalhando – quando ouviu mais uma vez a porta ser aberta. Sorrindo, ela voltou-se para a entrada, pensando que, já que estava ali, podia muito bem deixar para trabalhar naquilo no dia seguinte, afinal estava bastante adiantada... e então ela o viu.

E, mais uma vez, não soube como reagir.

Ele ergueu os olhos para ela, parecendo tão surpreso ao vê-la ali quanto no dia anterior. E, bem, era recíproco.

Lily tinha certeza de que continuaria ali parada pelo resto do dia, apenas o encarando, se Sirius não interrompesse a troca silenciosa de olhares.

— Prongs, você veio. — Ele disse, fazendo com que ambos despertassem de seu torpor, voltando-se para Sirius. — Se você puder esperar... só vou terminar com a Emme e já falo com você.

James assentiu, sem achar sua voz para conseguir dizer qualquer coisa.

Pela segunda vez em menos de vinte e quatro horas, ela estava na frente dele. E, também pela segunda vez, ele não soube o que fazer.

Lily, que sentia o rosto arder como se estivesse em chamas, deu as costas para ele, voltando para trás do balcão e sentando-se no banquinho onde havia estado anteriormente. Encarou a tela do notebook sem enxergá-la, sentindo como se seus olhos estivessem estragados e que, pelo resto de seus dias, tudo o que conseguiria ver era ele e aqueles malditos olhos castanhos esverdeados fitando-a de volta.

— Meu Vader... — Ela murmurou consigo mesma, sem saber exatamente ao que se referia.

Não podia continuar ali. Tinha certeza de que entraria em combustão a qualquer momento se continuasse tão perto dele e, bem, estava claro que ela também não conseguiria trabalhar tendo ele em seus pensamentos. Mas como ela poderia simplesmente ir embora? Como ela poderia guardar o notebook na bolsa, se levantar e sair sem parecer uma pateta covarde?

Não que ela não fosse, claro. Afinal estava bastante claro – principalmente pelo modo como estava evitando olhar na direção dele— que ela era, sim, a maior covarde existente.

Estava no meio de uma batalha interna bastante acirrada, quando sentiu sua aproximação. E então finalmente ergueu os olhos para ele, sentindo-se, se era possível, ainda mais quente.

— Hey. — Ele a cumprimentou, aproximando-se do balcão e se apoiando bem em frente a ela. Lily precisou se esforçar para não ofegar em surpresa ao ouvir sua voz. Fazia tanto tempo desde a última vez que tinham se falado...

— Hey. — Ela se obrigou a responder, xingando-se por conta de seu tom de voz absurdamente hesitante. Limpando a garganta, ela prosseguiu: — Tudo bem?

— Sim. E você? — Os olhos dele pareciam perscrutá-la, procurando qualquer coisa em sua expressão.

Lily desviou os olhos, sentindo-se estranhamente desnudada. Certo, ela não o havia superado, mas ele não precisava ver aquilo estampado em sua face.

— Também. — Ela respondeu, tentando parecer convincente antes de voltar a erguer os olhos para ele que continuava a observando.

— Que bom... — O garoto comentou, assentindo e, de modo totalmente inesperado, seus olhos se iluminaram e um daqueles sorrisos que sempre a faziam perder o fôlego apareceu em seus lábios.

Como é que se respira? Ela se perguntava, tentando não parecer muito desesperada enquanto tentava relembrar seu cérebro como funcionava o processo de absorção de oxigênio. Por Vader, que patética. Tinha certeza de que sua respiração estava tão barulhenta quanto a de Darth Vader – embora nenhum pouco sensual como a dele.

— Hey, James. — Sirius, graças a Força, chamou o amigo, fazendo com que ele desviasse o olhar de Lily, fazendo com que se tornasse mais fácil respirar.

Ignorando o que os dois estavam falando e sem se importar com o fato de estar sendo uma covarde patética – afinal decidira que, entre parecer covarde e morrer asfixiada diante do olhar dele, ela preferia agir como a covarde que era – Lily fechou o notebook com o programa quase intocado e o guardou em sua bolsa de forma apressada antes de fazer a volta no balcão.

— O que... onde está indo, Lily? — Sirius interrompeu sua conversa e a encarou com as sobrancelhas erguidas.

— Tenho que dar comida para o Padfoot. — Fez uma careta. — O outro Padfoot. — Sorriu para ele e, acenando um tchau muito apressado para o outro, ela praticamente correu porta a fora, sendo pega desprevenida por conta da chuva que havia começado. — Pela Força. — Ela bufou enquanto corria até o carro, que havia estacionado a várias vagas de distância, segurando a bolsa firmemente contra si para que as gotas não chegassem até o seu precioso computador.

Quando, por fim, estava dentro do carro, Lily permitiu-se surtar.

Ela soltou uma mistura de gemido alto com suspiro enquanto recostava-se contra o assento.

— Por VaderPela Força! Por Obi-Wan! Aparentemente minha vinda para Hogsmeade trouxe todo o meu azar de volta, porque não é possível. — Ela bufou, sentindo-se estremecer, embora não soubesse dizer se por conta do frio causado pela chuva ou por conta da lembrança do sorriso dele. — Em nome de Anakin, por que ele sorriu daquele jeito? O que estava tentando fazer, por Vader? Me fazer morrer asfixiada? — Ela bradou para o vazio, sentindo-se enervar ainda mais a cada minuto que passava. Lily precisava falar com alguém, conversar com qualquer pessoa... gritar.

Sem se dar conta, puxou seu celular e, discando o número conhecido, esperou enquanto chamava.

Alice atendeu no quarto toque e, para o estranhamento de Lily, estava ofegante.

— Alie-

— Lily, essa não é uma boa hora. — A garota a interrompeu em um tom de voz ríspido.

— O que-?

— Eu e Frank estamos... ocupados. Tchau, Lily. — E, sem esperar resposta, Alice desligou.

Lily ficou alguns instantes observando a tela do celular, descrente.

— Ótimo! Isso mesmo! Esfrega na minha cara que você tem uma vida sexual ativa e eu não. — Lily bufou e então atirou o celular sobre o banco do carona. Suspirando, colocou o cinto e se preparou para manobrar.

Afinal, ela realmente precisava dar comida para o Padfoot. O lado bom de tudo aquilo era que sabia que não teria surpresas quando chegasse na casa de seus pais, afinal ele estava na Movie-Maker.

Se é que aquilo podia ser considerado como o lado bom de qualquer coisa.

[QUARTA-FEIRA – 27 DE JUNHO, 2018]

— Você vai sair, Lily? — Marlene interrompeu a concentração de Lily ao parar ao lado do sofá onde a amiga estava sentada.

— Não, Marley, vou ficar em casa, por quê? — Lily ergueu os olhos para a amiga, percebendo sua expressão levemente irritada.

— Porque eu vou levar a chave. Vou deixar no chaveiro para fazer uma cópia antes de ir buscar o meu irmão. — Ela comentou e rolou os olhos para a última parte.

— Ah, Marley, o Jonas é um bom menino. — Lily comentou, divertindo-se com óbvia impaciência da amiga.

— É, sim, sim. Se por “bom menino” você quer dizer o Darth Sidious em pessoa. — Bufou. — Certo, vou nessa. Não acho que vou demorar muito, mas, se eu não voltar até as oito horas da noite, por favor, chame a polícia porque o meu irmão me matou. — E, dizendo aquilo, saiu do apartamento, deixando uma Lily risonha sobre o sofá.

Suspirando, Lily tomou mais um gole de seu chá – desta vez de erva-doce – antes de ajeitar os óculos sobre os olhos e voltar a trabalhar. Pelos próximos minutos, foi o que ela fez. Até que o som da porta do quarto de Marlene se abrindo chamou sua atenção.

Erguendo o olhar em direção ao corredor – tendo de se esticar para conseguir enxergar através de todas as caixas que ainda estavam espalhadas por ali – deparou-se com um Peter Pettigrew sem camisa e parecendo que havia acabado de acordar.

— Hey, Pete. — Lily o cumprimentou, sorrindo de forma maliciosa. O garoto, que pareceu se assustar ao ouvi-la, ergueu os olhos para ela, levemente surpreso.

— Eu sempre esqueço que você está aqui. — Ele comentou e então se aproximou de onde ela estava. Lily afastou as pernas de cima do sofá, de modo que ele pudesse sentar ao seu lado. Arqueou as sobrancelhas para ele.

— Vamos evitar este tópico, por favor, porque assim eu posso ignorar o fato de que vocês provavelmente transaram em cada metro quadrado deste apartamento. — E estremeceu para dar ênfase.

Peter não negou, apenas riu.

— Trabalhando muito, ruiva? — Indagou, observando o que ela estava fazendo. — Está usando óculos?

— Fui obrigada, já que passo muito tempo em frente ao computador..., mas eu já terminei o que tinha de fazer, na verdade, só estava dando uma olhada para ver se estava tudo ok antes de enviar. — Ela disse e clicou sobre o botão “enviar” para dar ênfase. — Vai esperar a Marlene voltar?

— Hm... — Peter meneou a cabeça. — Na verdade, eu tenho de encontrar os garotos às sete. Não sei se ela vai chegar até essa hora.

— Bem, ela disse que se não voltar até as oito que eu preciso chamar a polícia porque o irmão a matou.

— Ei! O Jonas é legal! — Peter bufou, lembrando-se do garoto com quem passara várias horas falando sobre esportes alguns dias antes.

— E você já está bastante íntimo dos McKinnon, ao que parece. — Lily piscou para ele, divertida.

Mais uma vez, Peter não parecia constrangido.

— Eu faço o que eu posso, já que a Marlene não facilita. — Deu de ombros. — Mas, e você e o James? Já conversaram? — Direto ao ponto, como sempre.

Lily fez uma careta antes de responder.

— Na verdade, não. — Disse, não querendo estender muito o assunto. Peter, por outro lado, parecia muito interessado.

— Pois deveriam. Nunca entendi por que vocês terminaram. James nunca falou sobre isso. — Meneou a cabeça, encarando-a como se esperasse que ela respondesse.

— Hm... — Lily começou a falar, sem saber exatamente o que deveria dizer. Por um lado, Peter era um dos melhores amigos dele, portanto não deveria falar coisas que não sabia se seriam repassadas para ele depois. Contudo, Peter sempre fora sincero com Lily e ela sabia que, se ela pedisse, ele não falaria nada. — Bem, não sei se você lembra, mas depois que entramos para a faculdade quase nem nos víamos.

— Como não? Vocês estavam sempre juntos!

— Estávamos juntos, porém não fazendo coisas juntos. Ele tinha os projetos da faculdade, as viagens para workshops e palestras, fora os vídeos que precisava gravar para não deixar o canal sem conteúdo. E eu tinha começado aquele estágio horroroso que comia cada maldita hora do meu dia. Quando eu chegava em casa, tudo o que eu queria era dormir, mas, como eu também tinha que estudar e fazer os meus projetos da faculdade, não sobrava muito tempo para qualquer outra coisa. — Lily suspirou, relembrando do ano anterior e de como tudo parecera ter saído de seu controle naquela época.

— E aí você recebeu a proposta da bolsa e decidiu aceitar? — Peter adicionou, percebendo que ela havia se perdido em pensamentos.

Lily meneou a cabeça.

— Não. Na verdade, eu não queria... eu... bem, não queria me afastar. — Suspirou. — Mas ele disse que seria uma grande oportunidade para mim e era, de fato. Eu sabia que deveria ir, que uma oportunidade dessas, conseguir uma vaga em Durmnstrang, não era para qualquer um, mas eu fiquei enrolando... até que chegou na última semana do prazo para resposta e nós dois não tínhamos nos encontrado pelos últimos quatro dias, afinal ele tinha ido para a Itália. Quando ele voltou, eu já tinha tomado a minha decisão. Ele aceitou, é claro, afinal havia sido ele a me incentivar a ir para começo de conversa.

— Mas por que terminar? Quero dizer, vocês poderiam ter um relacionamento à distância, não? — Peter encarou-a com uma sobrancelha arqueada. Diferente de Sirius, ele não tinha qualquer maldade em seu questionamento. Somente curiosidade.

— Porque nós percebemos que não daria certo. Se não conseguíamos nos ver e conversar, mesmo pelas redes sociais, nem quando estávamos juntos então como lidaríamos com tudo isso estando separados? — Lily deu de ombros, lembrando de quando falara a mesma coisa para ele. — É claro, combinamos de continuarmos amigos. E, pelas primeiras semanas, deu certo. A gente conversava e parecia que estava funcionando. Mas então, não estava.

— Esse... foi o término mais sem graça sobre o qual já ouvi. — Peter comentou, sem rodeios fazendo com que Lily bufasse.

— Não é para ter graça, Peter. É um término. Isso é para ser tudo, exceto engraçado. — Ela retrucou e então tirou o notebook de cima das pernas, colocando-o no chão ao lado do sofá (elas ainda não haviam tirado a mesinha de centro da caixa) antes de se esticar.

— Por que vocês não voltam? — Mais uma vez, Peter foi direto ao ponto. Tão certeiro que Lily estremeceu.

— Por que você e a Marlene não assumem que estão namorando? — Ela retrucou, sorrindo ao perceber que o havia acertado também.

— Você é uma mulher má.

— É o meu lado Sith. — Piscou para ele e então suspirou. — Você disse que tem de ir encontrar os garotos as sete, não é? São cinco horas agora e eu acabei de lembrar que preciso comprar umas coisas para fazer a janta. Será que você pode ficar aqui até eu voltar? — Lily perguntou. — Marlene levou a chave para fazer a cópia, então não posso sair até ela chegar, mas como você está aqui...

— Certo, certo, ruiva. Eu espero. — Ele disse. — Posso usar o seu notebook? Quero responder alguns e-mails.

— Claro. A senha é darkside. — Ela respondeu ao pegar novamente o notebook e alcançar para ele, fazendo-o rir.

— É claro que é.

 X—X

James nunca pensou que tomates pudessem parecer tão excitantes, mas, lá estava ele, sentindo-se extremamente quente ao observá-los. Certo, não era exatamente aos tomates que estava observando, mas sim a pessoa que os estava escolhendo.

Com os cabelos ruivos presos de qualquer jeito, alguns fios curtos demais escapando, ela estava em frente à grande ilha onde estavam os tomates e cheirava alguns antes de escolhê-los. Parecia totalmente alheia ao fato de que estava sendo observada – apesar de ele não estar sendo tão discreto quanto gostaria – tão concentrada que estava naquela pequena tarefa.

Ele aproveitou o momento – enquanto esperava que a moça terminasse de pesar algumas cebolas – para analisa-la. Ela estava mais... curvilínea, percebeu. Suas calças jeans justas e a regata branca deixavam bastante claro o contorno de seu corpo. Não estava usando maquiagem – ou se estava, era muito pouco – portanto suas sardas estavam totalmente à mostra, bordando a pele de seu rosto até seus braços e colo. Da mesma forma que se sentira no dia anterior – e no anterior ao anterior – James ficou sem fôlego, contudo, diferente de antes, quando seu cérebro parecia congelado ao vê-la, naquele momento imagens muito mais intensas preenchiam sua mente. Por alguns instantes, pegou-se imaginando passar os dedos por sobre seus ombros, registrando suas sardas, lembrando de como os olhos dela escureciam quando estavam...

— Pronto. — A moça da pesagem o arrancou de seus devaneios quando devolveu o pacote de cebolas para ele. — Falta mais alguma coisa? — Indagou.

— Não, era só isso. Obrigado. — James murmurou, sentindo o rosto esquentar.

Afastando-se, pegou o carrinho e atirou as cebolas para dentro, lançando um último olhar na direção onde ela ainda escolhia tomates, sabendo que nunca mais conseguiria pensar naquela fruta sem ficar extremamente corado.

Que patético.

Apressando-se, James encaminhou-se para um dos caixas mais vazios, querendo mais do que tudo sair daquele supermercado. Por algum motivo, não queria que ela o visse. Estava por demais constrangido com o rumo de seus pensamentos, totalmente inapropriados, para que conseguisse encará-la.

— Céus, por que está tão quente? — Resmungou consigo mesmo, perguntando-se se os ares-condicionados estariam ligados, porque não deveria ser normal sentir tanto calor. Principalmente naquela parte de sua anatomia.

Ah, pelo amor de Deus, ele não precisava ter aquele tipo de reação por causa de alguns malditos tomates!

— Próximo? — O caixa o chamou, fazendo-o soltar um suspiro de resignação antes de começar a passar as compras pela registradora. — Boa tarde. — O homem o cumprimentou, recebendo apenas um resmungo de resposta da parte de James que estava concentrado demais em não prosseguir com... bem, com aquilo.

Ficou razoavelmente satisfeito quando, ao pegar suas compras, sentiu-se um pouco menos tenso. Mas a satisfação não durou muito tempo. Claro que não.

Como se tivesse saído da parte mais estupidamente suja de sua mente, ela estava caminhando à sua frente – por Deus, como ela havia sido tão rápida? – com a sacola de tomates segura em uma de suas mãos enquanto se direcionava para o mesmo lado onde ele havia estacionado.

James estava pensando seriamente em dar meia volta e esperar até ela sair, quando ela o viu. Seus olhos verdes imediatamente arregalaram – exatamente como faziam em sua imaginação – enquanto um misto de emoções perpassava por eles.

Ele não conseguiu ler nenhuma delas.

Suspirando, James a cumprimentou com a cabeça – já que tinha as mãos ocupadas com as sacolas – e ela retribuiu o cumprimento antes de subir em seu carro e fechar a porta com finalização.

James agradeceu por aquilo. Não sabia se conseguiria conversar com ela sem acabar explodindo. Literalmente.

— Que patético, James Potter. — Bufou consigo mesmo, finalmente chegando ao próprio carro, abrindo o porta-malas e jogando as compras lá dentro antes de fazer a volta e sentar em frente ao volante, sentindo a tensão voltar com força total. Ele teria de dar um jeito naquilo quando chegasse em casa. — Malditos tomates! — Resmungou enquanto dava a partida no carro, dirigindo muito mais rápido do que deveria pelo caminho até lá.

X—X

Lily ainda estava corada quando entrou no elevador do prédio onde agora morava e apertou o botão do décimo terceiro andar.

Pelo que parecia ser a milésima vez nas últimas quarenta e oito horas, ela o vira.

E, como se não bastasse o fato de ele ser – e estar ainda mais – lindo, ainda estava usando aquela maldita camisa. A mesma que havia usado naquele dia, anos atrás, no Três Vassouras e, também, quando havia voltado de Nova Iorque e eles trocaram amassos por todo o caminho de táxi até em casa.

Por Vader, as roupas tinham um tempo de uso! Ninguém deveria usar algo por mais do que dois anos! Exceto quase noventa por cento das camisetas de Star Wars de Lily, mas, bem, isso ela podia ignorar, afinal eram de Star Wars, portanto, não podiam ser desprezadas.

De qualquer forma, era simplesmente ridículo que ele tivesse decidido usar aquela porcaria! Principalmente porque, assim que ela o vira na fila do caixa, pensamentos estupidamente impróprios povoaram sua mente, fazendo com que ela lembrasse da urgência que sentira ao desabotoar aqueles botões, o modo como o tecido fazia cócegas em sua pele enquanto ele se inclinava sobre ela no banco traseiro do táxi, a forma como ela vestia aquela camisa depois de...

— Ah, mas pelo amor de Vader! — Ela bradou, furiosa, encarando-se no fundo espelhado do elevador. — Pare com isso, Lily Evans! — Resmungou, irritada ao perceber a coloração avermelhada que tomava conta de seu rosto e colo. — Que patética. Que... — Estava pronta para continuar se xingando quando o elevador parou no terceiro andar e as portas abriram.

Sentindo o constrangimento tomar conta de si, Lily se moveu para o canto, deixando espaço para que outras pessoas entrassem.

Mas era apenas uma pessoa. Na verdade, era um garoto. Um garoto que ela conhecia muito bem.

— Lily! — Ele a cumprimentou, surpreso. — Quanto tempo!

— Oi, Amos! — Lily forçou um sorriso para ele, tão surpresa quanto ele com o encontro inesperado. Ele estava mais alto, percebeu. E indiscutivelmente mais bonito, embora aquilo não diminuísse o quanto continuava o achando babaca. Algumas coisas nunca mudavam. — Tudo bem?

— Melhor agora. — Amos piscou para ela, assim como ela lembrava que ele sempre fazia. — O que está fazendo aqui? Pensei que tivesse ido para a Espanha.

— Como você sabe disso?

— Ah, as fofocas voam por Hogsmeade. Você sabe como as pessoas são. — Amos deu de ombros antes de sorrir. — Então... você foi?

— Sim, fiz intercambio. — Lily assentiu, suspirando ao perceber que ainda faltavam mais de cinco andares até chegar no seu. Só esperava que o garoto descesse antes dela, assim a pouparia de ter de ouvir a conversinha fiada de seu ex-namorado.

Mas, como sempre, é claro que ela não teve tanta sorte.

— Está bonita, Lily. Fazia muito tempo que não te via pessoalmente. — Ele continuou e ela sentiu o rosto esquentar ao perceber que ele a observava de cima abaixo.

— Obrigada. — Lily murmurou em resposta, imaginando se sua expressão parecia tão entediada quanto ela estava se sentindo.

— O que tem feito?

— Trabalhado. Estudado. Você? — Não queria saber realmente, mas a educação a obrigava a perguntar.

— Estudando também. Entrei em Hogwarts. Estou fazendo Educação Física. — Ah, é claro que ele estava. Não havia nada em que Amos se destacasse mais do que em mostrar os músculos. Não que aquela fosse a ambição de todos os estudantes de educação física, claro que não, entretanto era apenas previsível demais que ele tivesse optado por aquele curso.

— Que bacana, Amos. Fico feliz por você. — Mas, na verdade, não se importava.

A única parte boa de toda aquela conversa, Lily percebeu, era que conseguira afastar os pensamentos impuros que haviam tomado conta de sua mente desde o momento em que saíra do supermercado pelo caminho todo até sua casa.

Amos conseguia mesmo ser broxante.

Ao pensar aquilo, Lily precisou conter uma risada. Ah, ela estava sendo maldosa demais e sabia que talvez o garoto não merecesse, mas, por Vader, estava estressada. Os últimos dois dias pareciam estar acabando com seus nervos, portanto não era como se ela pudesse mesmo controlar algo tão simples quanto sua maldade.

— Hm, então tchau, Amos. — Lily disse, muito mais simpática agora que o elevador havia finalmente aberto em seu andar.

Mas, diferente do que ela estava esperando, o garoto também saiu logo atrás dela. Franzindo o cenho, Lily o encarou, indagativa.

— Eu moro no 1312. — Ele respondeu, sorridente, totalmente alheio aos pensamentos nada amigáveis de Lily.

— Oh... — Foi tudo que ela conseguiu responder, voltando-se em direção à porta do seu apartamento e deparando-se com o número 1313. — Parece que somos vizinhos. — Ela baixinho, mais para si mesma do que para ele, mas, ainda assim, Amos a ouviu.

— Isso é o que eu chamo de sorte! — O garoto piscou para ela novamente, antes de puxar um chaveiro do bolso traseiro de suas calças e destrancar a porta de seu apartamento. — Ou destino. — E sorriu para Lily. — Nos vemos, Lily.

— É... — Ela murmurou, sem qualquer vontade, observando enquanto o garoto fechava a porta. — Sorte. — Bufou, finalmente direcionando-se para o número 713, abrindo a porta e adentrando a passos firmes.

Peter, como havia prometido, ainda estava lá. Ele sorriu para Lily quando ela chegou, mas parou assim que viu sua expressão.

— Aconteceu alguma coisa, ruiva? — Indagou enquanto se erguia do sofá, deixando o notebook fechado sobre as almofadas.

— Não, Peter. É só a sorte que eu tenho que me surpreende. — Ela riu, sem humor. — Sabe, eu acho que vou me oferecer como objeto de estudo para cientistas. Eu sou um prato cheio, com certeza. Não há probabilidade que se aplique a mim e ao meu azar, por Vader.

Peter franziu o cenho, sem conseguir compreender ao que ela estava se referindo.

— Hm... então você está assim porque... tem azar? — Ele insistiu, seguindo-a até a cozinha e observando enquanto ela guardava alguns legumes na fruteira.

Aquele era o único cômodo da casa que já estava pronto.

— Você pode dizer que sim. — Lily suspirou, voltando-se para o garoto. — Eu vi o seu amigo hoje. E ontem. E antes de ontem. E, como sempre, eu quis morrer. — Ela bufou. — Como se não bastasse, acabei de descobrir que meu ex... Quero dizer, meu outro ex, mora no apartamento em frente. Era de se esperar que, depois de todo esse tempo, o destino iria parar de zoar com a minha cara, não é? Mas, aparentemente, Lily Evans não é digna de ter sorte. Não. Lily Evans tem como única finalidade na terra passar vergonha atrás de vergonha e sofrer, é claro.

Parecendo confuso com o comportamento de Lily – ou apenas sem saber o que dizer – Peter caminhou até ela, dando um tapinha amigável em suas costas.

— Calma, ruiva. — Disse simplesmente e Lily percebeu que ele não havia adicionado nenhum “vai ficar tudo certo” depois. Não, Peter era sincero demais para aquele tipo de mentira boba. Ele não diria que iria ficar tudo bem quando o azar de Lily estava em jogo. — Bem, agora que você chegou, preciso ir. Não quero me atrasar e ser obrigado a ouvir as reclamações de Sirius.

— Certo. — Lily disse e então sorriu para ele. — Obrigada por ficar, Peter.

— Disponha. — Ele piscou para ela e então saiu da cozinha. O som da porta fechando alguns minutos depois indicava que Lily estava sozinha.

Como se tivesse esperado por aquilo o tempo inteiro, a tensão retornou totalmente para ela, trazendo consigo todas as imagens impróprias que estivera tentando evitar desde que saíra do supermercado.

— Por Vader! Maldita camisa!

[SEXTA-FEIRA – 29 DE JUNHO, 2018]

James caminhava de um lado para o outro no quarto-estúdio. Era quase meia-noite, mas ele não sentia nada de sono. Podia culpar as várias canecas de café que havia tomado, mas ele sabia que não era por conta daquilo que estava tão agitado— ainda se recusava a usar o termo “nervoso” para algo tão trivial.

Não.

Ele estava agitado por conta dos sons provindos da janela em frente à dele. Aquela janela que, por tanto tempo, estivera fechada para ele. Exatamente como naquele momento.

O que ela estava fazendo ali? Perguntava-se a cada passo que dava. Ele sabia que ela estava de mudança – ouvira Sirius comentar com Remus que no sábado o caminhão iria buscar os móveis – contudo era simplesmente estranho que ela tivesse decidido ir até ali, numa sexta à noite, para fazer o que quer que estivesse causando aquele barulho todo.

Passando as mãos pelos cabelos, James parou de caminhar. Respirou fundo. Uma, duas, três vezes.

Não adiantou.

E então voltou a caminhar.

James a avistara novamente naquela tarde. Tinha decidido sair para passear com Odette, imaginando que faria bem para ambos pegarem um pouco de sol e caminhar sem qualquer rumo. Só que, no meio da caminhada pelo parque, Odette ficara muito agitada e, quando James voltara-se para observar o que a estava deixando daquele jeito, deparou-se com um cachorro muito conhecido.

Padfoot.

E, junto dele, ela, segurando sua guia com firmeza enquanto tentava impedir o cachorro que, obviamente, estava querendo correr até onde James e Odette estavam.

Como em todas as outras vezes, ele não soube o que fazer, portanto somente acenou e recebeu outro aceno de volta antes de continuarem a se encarar pelo que pareceu ser uma eternidade.

James estava debatendo se deveria ir até onde ela estava, quando a garota tomou a decisão por ele: puxando ainda mais forte a guia, ela praticamente arrastou Padfoot para longe, forçando-o a caminhar na direção oposta à que eles estavam.

Ele não pôde controlar a decepção que o comportamento havia causado, mas, pensou, talvez tivesse sido melhor daquele jeito.

Talvez fosse bom que eles se ignorassem. Talvez aquela fosse a decisão acertada a tomar.

— Mas então o que você está fazendo, James? — Ele perguntou para si mesmo ao deparar-se em frente aos portões da casa dela.

Ou, melhor dizendo: da casa dos pais dela.

Como James havia parado ali era um grande mistério. E, também era um grande mistério o fato de que o dedo dele, sem qualquer comando visível, estava apertando o botão da campainha.

— James? — A voz dela soou alguns minutos mais tarde, surpresa ao abrir a porta e encarar os portões aonde ele estava parado.

— Oi, Lily. — Ele se ouviu falar, exatamente como havia feito na primeira vez em que a vira, anos atrás, ao ser convidado por Helena para almoçar em sua casa e deparar-se com a ruiva com a camiseta larga contendo os dizeres “Keep calm, I’m not your father” que descia as escadas e que tinha os olhos verdes mais bonitos que ele jamais havia visto.

Algumas coisas nunca mudavam, pensou ao observá-la se aproximar.

— O que... está fazendo aqui? — Ela perguntou quando finalmente abriu os portões, encarando-o em confusão.

— Será que podemos conversar?


Notas Finais


Migxs, não esqueçam de me contar o que acharam, sim? Vou tentar não demorar muito para postar o próximo, okay?

Espero que tenham gostado ♥


Beijinhos e até breve ♥


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