- Não faça nada estranho com a Elizabeth! – gritou pequeno Hawk da cabeça de Merlin.
- Tá, tá. – o capitão acenou sem se virar, ignorando mais uma vez os comentários do porco maldito.
Entrou no quarto da princesa, fechando a porta suavemente, e logo se viu envolto no silêncio quase absoluto, a única intervenção sendo a respiração calma da mulher em sua frente.
Esse silêncio o incomodava.
Meliodas se aproximou cautelosamente da cama, evitando quebrar o amaldiçoado sossego que reinava. Amaldiçoado porque talvez permanecesse por mais tempo, para sempre; amaldiçoado porque era o oposto do que queria, queria a voz dela chamando seu nome, dizendo que ficaria tudo bem.
Deixando esses pensamentos de lado, ajoelhou-se ao lado da cama em que dormia Elizabeth e, mesmo nessa situação, o olhar pacífico em sua face fez o capitão sorrir. O sorriso logo se foi; Meliodas analisava o corpo da princesa com cuidado, percebendo cada ferida, cada resquício da batalha e, de repente, o som quase inexistente de sua respiração não era prova suficiente de que estava viva. Cobriu a mão da princesa com a sua, acariciando-a gentilmente; ainda estava quente.
Apoiou os cotovelos na beirada da cama, buscando aproximar-se mais da mulher.
- Elizabeth... – sua voz saiu fraca, uma súplica. – Elizabeth... Se você sumir da minha vida, eu não tenho mais motivos para viver... – falava com um pouco mais de determinação. – Então, por favor... – umedeceu os lábios secos pelo nervosismo antes de continuar. – Viva por mim.
Olhos verde-esmeralda percorreram a princesa, procurando uma resposta, algo que mostrasse que sua prece fora ouvida.
Nada; o silêncio permanecia o mesmo, o calor de sua mão permanecia o mesmo e Elizabeth Liones permanecia adormecida.
Meliodas pressionou a mão da mulher contra seu peito, tentando absorver um pouco dela por meio do calor, do contato, e passar uma parte de si próprio a ela.
Dirigiu o olhar às janelas. ‘Como o sol pode brilhar tão intensamente em um momento como esse?’, pensou.
E o sol lhe respondeu enviando um raio de sua luz em direção os dois. A luz se intensificou ao aproximar-se de Elizabeth, envolvendo o corpo da princesa num brilho claro. O homem observava surpreso; teria seu pedido realmente chegado a algum lugar? Concluiu que sim quando viu a luz tocar seu próprio corpo, preenchendo-o com o silêncio e a calma que habitavam o quarto.
Mas dessa vez eles não o incomodavam.
Aos poucos, a princesa absorvia a luz do sol e seus machucados sumiam, sempre sob o olhar atento do capitão. Depois de um tempo, o que restou da luz começou a se dissipar, deixando para trás uma Elizabeth sem ferimentos e um Meliodas sorridente. A mulher se mexeu, despertando de seu sono profundo; olhos azuis se abriram para o quarto, levando poucos segundos para se acostumarem com a claridade. Sentiu um peso em seu lado direito e corou levemente.
- Lorde Meliodas?
- É um milagre... – murmurou ele, sorrindo. Inclinou-se, então, em direção a ela, encostando sua testa na da princesa gentilmente. – Nunca mais me dê um susto desses.
Ela concordou com um aceno de cabeça, apreciando a contato. A alegria do homem era tanta que logo se viu sorrindo também.
- Você ouviu, não foi? – sussurrou ele. Elizabeth novamente concordou, aumentando o vermelho em sua face. O capitão riu baixo por um instante, mas logo voltou sua atenção à princesa, acariciando sua face corada carinhosamente. – Consegue ficar de pé?
Meliodas recuou um pouco, porém ficou perto o suficiente para segurá-la caso vacilasse.
Com a ajuda dele, a mulher se levantou da cama e andou, ainda que cambaleante, até a janela. Ali ficaram os dois, cada um observando a vista que mais lhe chamava a atenção.
- Conseguimos, Lorde Meliodas.
Ele sorriu mais uma vez, entrelaçando seus dedos e os dela.
- Conseguimos, Elizabeth. Conseguimos...
Puxou-a para perto de si uma última vez antes de guia-la para fora do quarto, sempre acompanhados de um silêncio acolhedor. Não se proferiam palavras, pois a troca de olhares e gestos às dispensava.
Desse silêncio ele gostava.
Mostrando seu sorriso de sempre, Meliodas abriu a porta lentamente.
- Nishishi... – riu. – Desculpem a demora.
‘Definitivamente, ’ pensou Elizabeth ‘por esse sorriso vale a pena viver. ’
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