História Silver Lake - Why cant you touch me?

CANDY POV

Até o final do primeiro período, Nathaniel não tinha falado comigo. Ele está me ignorando, me convenci, rabiscando nos cantos do caderno. Ele está me ignorando, repeti com amargura, me levantando e saindo da sala com pressa.

Foi quando estava saindo da classe que bati de cara contra o peito de Castiel, facilmente reconhecido pela camiseta vermelha. Ele segurou-me pelos braços, tentando abafar a colisão.

Sorri, meio agradecida, meio incomodada.

- Achei. – ele abriu um sorriso amigável – O que você pretende fazer este final de semana?

- Bom – comecei a numerar nos dedos – Cochilar na frente da TV, ligar para Rosalya e ou Alexy, reclamar muito, ouvir Fall Out Boy até cair no sono chorando. E isso só no sábado.

Ele sorriu de lado e revirou os olhos.

- Mudanças de plano. Lysandre está chamando algumas pessoas para assistir nosso ensaio no sábado à noite. Vai ser algo como uma festa, só que menor. – disse ele. – É claro, se não fosse por isso, eu não estaria te chamando.

- Valeu pelo convite, mas eu acho que vou estudar esse final de semana... Com Nathaniel. – os sorrisos sumiram de nossos rostos – E suponho que ele não está convidado.

- Nem você deveria estar, então não reclame – bufou ele – Bom, caso queira deixar o Sr. Perfeito para fazer algo realmente divertido, aparece lá. Por alguma razão, o Lysandre gosta de conversar com você, garotinha.

Não demorou para ele sumir do meu raio de visão.

Dei de ombros e saí a procura de alguém mais bem-humorado para conversar.

Perto da escadaria, eu encontrei Kentin e os gêmeos conversando. Para variar, Alexy e Armin se divertiam com a irritação de Kentin.

- Você só não quer ir porque tem medo do Castiel! – Alexy disse, sorrindo.

Abri um sorriso.

- Então, vocês vão no ensaio dos meninos? – perguntei, tentando acalmar o estresse de Kentin.

- Eu vou tentar – disse Alexy – Esses bobões que não estão com vontade de ir.

- Por que alguém iria passar a tarde de sábado com pessoas que você vê durante toda a semana? – se queixou Armin, contrariado.

- A maioria das pessoas gosta de ficar com os amigos – argumentei.

- Exatamente! – Alexy sorriu, alegremente.

- Você vai, Candy? – Kentin cortou o assunto, o olhar fixo em mim.

- Hã... Acho que não – sorri tristemente – Eu vivo pedindo ajuda nas matérias pro Nath e ele nunca está livre, esse final de semana ele vai estar. Se eu cancelar, ele vai se chatear.

- Leva ele para o ensaio, ué! – disse Alexy.

- Hm... Nathaniel na casa de Castiel... – atuei uma cara pensativa, com uma das mãos no queixo. – O que poderia dar errado?

Os garotos riram do comentário e voltaram a conversar sobre qualquer coisa, agora com a minha companhia.

CASTIEL POV

A aula de química não podia estar menos interessante. Pra começar, as únicas pessoas na sala eram eu, Lysandre e a professora Delanay. Estávamos repondo algumas aulas de algumas matérias – a decisão não foi minha.

A professora continuou anotando fórmulas na lousa branca, na esperança que nós dois anotássemos. Lys estava rabiscando na mesa, nem tentando fingir que estava prestando atenção.

Ouvi duas batidas na porta, e a professora saiu andando em direção à mesma.

Lysandre levantou o olhar na minha direção e abriu um sorriso chateado.

- Então, ela não vai mesmo? – perguntou ele.

- Não – dei de ombros – Vai sair com aquele idiota.

A risada tão rara de Lysandre ecoou pela sala, mesmo que de forma breve. Levantei as sobrancelhas para ele, o desafiando.

Há mais de alguns meses que meu querido amigo começou a acreditar que de uma forma ou de outra eu estava interessado em Candy. Era bobagem, é claro.

Ele não entendia que ela era o inimigo.

- Você podia parar com essa bobagem, não acha? – bufei, revirando os olhos.

Lysandre, como de costume, não se incomodou com minha grosseria, e manteve a mesma pose ao dizer:

- Você não acha que o seu desgosto por ela é justificado pelo motivo de você se sentir mal porque ela, indiretamente, escolheu ele ao invés de você? – perguntou ele, com aquele maldito sorrisinho presunçoso e sobrancelhas arqueadas no rosto.

- Ok, ela não escolheu nada! – me aprecei a responder – Eu nunca fui uma opção para ela, porque eu não quis. Ela não é meu tipo.

- E qual é seu tipo, Cas?

- QUALQUER UM QUE NÃO SEJA O MESMO QUE O DO SANTO NATHANIEL! – gritei a plenos pulmões. Uma parte de mim queria que fosse Nathaniel falando com a professora, para que ele pudesse ouvir o que eu disse.

Lysandre apoiou o rosto em uma das mãos, pensativo.

- Eu acho que você tem ressentimento de a ter perdido. – concluiu Lysandre.

- AI MEU DEUS! – soltei um longo suspiro e esfreguei a testa com as pontas dos dedos. – Eu não a perdi... – fechei os olhos e a primeira coisa que veio na minha cabeça foi o beijo de Candy com Nathaniel na noite passada... Ele estava se mostrando para mim.

Será que ele, assim como Lysandre, acredita que eu perdi ela para ele... Que ele ganhou de mim num jogo perverso?

Afastei a imagem da minha cabeça e usei todos os meus nervos para lembrar das feições de Candy. O cabelo, a cor dos olhos dela, o jeito que o rosto dela se abria quando ela ficava feliz ao me deixar sem palavras em alguma das nossas ocasionais brigas.

O jeito que ela se inclinou ontem. Ela até que tinha alguma coisa embaixo da blusa, quem diria.

- Eu poderia tê-la, se eu quisesse – respondi por fim.

Voltei a minha atenção para meu amigo, que me encarava quieto. Ele parecia querer analisar minhas intenções quando disse aquilo. Eu espero que ele consiga me entender, porque nem eu consegui.

- Você quer, Cas – sua voz não passou mais de um murmúrio.

- Cala a boca – revirei os olhos, não evitando um sorriso – Não quero, idiota.

Ele deu de ombros, ainda com um meio sorriso no rosto.

- Sabe, vocês seriam grandes amigos – ele observou, tentando arrancar mais alguma resposta de mim, já que a última não deve tê-lo satisfeito. Bufei, e olhei para as fórmulas na lousa. – Ela atura seu mau-humor. Poucas pessoas conseguem isso. Dragon parece gostar dela, sem falar que ela é uma pessoa legal, em geral, é bonita, engraçada... Só é muito intrometida.

- Você parece conhecer ela bem, Lys-fofo – provoquei-o, mas sério do que gostaria de soar – Tem alguma coisa para me contar?

Senti os olhos heterocromáticos dedicarem toda sua atenção para meu perfil. Ele me encarou por alguns segundos, desfrutando da tensão rapidamente instalada no ambiente.

- Claro que não. – disse ele por fim.

CANDY POV

O problema de álgebra me encarou, e eu encarei o problema de álgebra. Repeti o mesmo em voz alta algumas vezes, mudando a entonação a cada vez.

Não tinha jeito. Eu não entendi. Tateei a mesa até encontrar o celular e desbloqueei o mesmo. Nada. Nenhuma mensagem.

Ótimo.

Eu só estava até agora na escola porque Nathaniel me prometeu ajudar nas matérias quando saísse do grêmio.

Ouvi algumas batidas na porta e logo menos o loiro estava parado na frente da minha carteira, se inclinando para me dar um beijo na bochecha.

- Conseguindo? – perguntou ele, sorridente.

Neguei com a cabeça, dando um sorriso torto. Ele caiu na gargalhada e puxou meu caderno para perto.

Eu ainda não sabia se já havia perdoado ele. Ele tinha me tratado com tanto carinho durante as últimas duas semanas que ficava difícil ficar brava com ele. Era como ficar brava com um cachorrinho.

- Nath... – puxei as mangas do suéter vermelho e mordi o lábio inferior.

- Hm... – ele resmungou, ainda concentrado no problema.

- O que você acha de mim? – perguntei, envergonhada demais para olhar para ele.

Pelo canto do olho, consegui ver ele levantar o olhar na minha direção. Depois, minhas bochechas começaram a pegar fogo.

- Como assim “o que eu acho de você”? – indagou ele – Você é minha namorada! Eu te acho engraçada, gentil, a garota mais bonita dessa escola...

O calor nas minhas bochechas aumentou.

- Não. – cortei a carga de elogios e fixei minha atenção no quadro-negro na nossa frente. – O que você acha de mim?

Desci os dedos para a perna dele apoiada na cadeira e acariciei a mesma com a ponta dos dedos. Com cuidado para não fazer qualquer movimento brusco, tirei a mão dele do colo dele e coloquei ela no meu.

Ele acompanhava meus movimentos com atenção. Direcionei a mão dele até a parte interna da minha coxa e deixei-a lá; ele engoliu em seco. Levei uma das mãos até a nuca dele brinquei com a pequena quantidade de cabelos que havia lá. Enrolei-os, puxei-os com cautela e aproximei nossos rostos.

- O que acha? – estávamos tão próximos que nossos lábios rocaram quando eu murmurei a pergunta.

- Candy... – ele sussurrou, num tom repreensor.

Encarei os olhos dele por alguns minutos que mais pareceram horas, até finalmente cortar o espaço entre nós, juntando nossos lábios com urgência.

As mãos de Nathaniel correram até minha cintura, me puxando para perto. Apesar da pressa, ele continuava sendo Nathaniel e não se permitiu fazer muito mais do que isso.

Logo menos, ele nos separou... De novo.

- Candy, por favor, estamos...

- Na escola, eu sei! – respondi, irritada e levantei da mesa.

Não me preocupei em recolher meus pertences e caminhei em direção ao pátio.

Eu sou muito idiota. Como eu achei que ele ia se deixar levar agora?

Puxei todo meu cabelo para trás e prendi ele num pequeno coque. Eu estava farta de todo aquele drama. Eu precisava pensar.

As aulas já tinham se encerrado há algumas horas, então os portões estavam abertos. Olhei por cima do ombro, na esperança de encontrar Rosa, ou qualquer um. Mas não encontrei ninguém. O pátio estava vazio.

Senti lágrimas aquecendo minhas bochechas, sem que eu pudesse controla-las. Eram lagrimas de tristeza, vergonha, raiva... todos esses sentimentos agoniantes estavam explodindo na minha cabeça e assumi que também eram o peso no meu peito.

- Ai, merda! – me amaldiçoei, escorregando nos portões da escola. Minhas pernas estavam bambas e exaustas. Eu me sentia uma corredora que acabara de terminar uma maratona.

- Ei, Candy? É você? – uma voz soou no outro lado da rua. – Está chorando?

Não me preocupei em saber quem era, apenas virei para o lado e enxuguei o rosto com a barra da blusa e soltei o ar pela boca, acalmando meu batimento cardíaco.

Umedeci os lábios com a ponta da língua e percorri com os olhos a área, até encontrar Peggy, parada do outro lado da rua, na ponta dos pés. Ela provavelmente estava se esticando o máximo para poder ver o que estava acontecendo comigo.

Que ótimo. Era exatamente disso que eu precisava no momento: Peggy se intrometendo na minha vida.

Ela atravessou a rua com certa rapidez e se aproximou de mim.

Me ajeitei antes de voltar a ficar de pé e encarei a garota. Apesar de claramente ter notado minha infelicidade, Peggy continuava com o imenso sorriso no rosto, segurando seu gravador e o microfone como de costume.

- Você e Nathaniel brigaram? – a garota perguntou. Eu entreabri a boca, pronta para manda-la para a puta que pariu, quando ela me interrompeu: - Ah, esqueça. Isso não é tão interessante – deixei um risinho debochado escapar e suspirei – Mas sei o que vai te animar!

- E o que seria? – perguntei, erguendo as sobrancelhas.

- A escola vai fazer uma viagem de férias para Silver Lake!

- Onde é Silver Lake? – encarei o rosto dela, sem saber direito como responder a notícia propriamente.

O sorriso imediatamente abandonou o rosto dela.

- Não vai me dizer que nunca foi a Silver Lake – ela arregalou os olhos e entreabriu a boca.

Revirei os olhos, cansada demais para lidar com Peggy.

- Seus pais nunca te levaram lá quando você era criança? – ela insistiu.

- Não, porque eu não morava aqui quando criança – a inconformação dela sumiu.

- Quase me esqueci. – ela comentou e saiu andando, me deixando parada lá.

Bom, podia ter ido pior que isso.

Mordi o lábio inferior, considerando se deveria ou não voltar para pegar minhas coisas, ou contar com Nath para juntar minhas coisas e guardar elas até amanhã. Optei pela segunda opção e caminhei lentamente na direção de casa.

Uma viagem para um lago... parece bom.