História Simplesmente Aconteceu - Sufoco

  Capítulo 13: Sufoco

Elizabeth Ava Bonucci 

Itália, Piemonte - Turin - 22 de março de 2018, Quinta, 12h25 AM

A voz da Professora ecoava por toda a minha cabeça, mas eu não conseguia entender completamente nada. O dia anterior foi completamente horrível e a noite então, pior ainda. Descobrir da pior maneira que o Daniel tem mal dormir e o Cody ronca, eu tentei de todas as formas possíveis dormir em paz, mas esses dois não me permitiram. Minha sorte é que o primeiro semestre é apenas uma Introdução da história da Arquitetura, então eu poderia dormir tranquilamente. 

Eu tentei novamente de todas as maneiras cochilar por alguns minutos, mas sempre que meus olhos se fechavam e respirava fundo, a sua imagem inundava toda a minha cabeça. A sua expressão facial quando me encontrou no elevador, quando segurou meus braço, quando olhou intensamente nos meus olhos. E então, eu finalmente caí na real. O Paulo vem me buscar hoje. Levantei a cabeça bruscamente fazendo com que Daniel, Holland, Crystal e Arden me olhassem assustados, apoiei meu rosto nas mãos e suspirei lentamente. 

Meu celular vibrou e o peguei rapidamente, cogitei na possibilidade do Paulo mandar uma mensagem, mas não era o Dybala. Era a Holland no nosso grupo. 

Holl: O que está acontecendo? 

Crys: Você dormiu a aula toda. 

Arden: É o Paulo? 

Dan: Na verdade, a culpa dela dormir a aula toda é minha e do Cody. 

Liz: Eu esqueci que o Paulo vem me buscar hoje. 

E não deu tempo de olhar as respostas deles, pois a aula chegou ao fim e me levantei rapidamente, sentindo o braço do Daniel em frente ao meu corpo. Ele mantinha uma expressão divertida e percebi que ele segurava minha bolsa, bati na minha teste e sorri. 

— Você está tão eufórica. — Ele comentou rindo. 

— Você é irritante. — Revirei os olhos. — Obrigada pela bolsa, preciso ir. 

Depositei um beijo na sua bochecha e acenei para as meninas, andei pelo corredor apressada e quando cheguei em frente ao portão da Universidade, observei ele tirando fotos com algumas meninas. Continuei andando e parei ao sentir o seu olhar sobre mim, ele sorriu e se despediu delas vindo na minha direção. 

A expressão das meninas não foram das melhores e elas continuaram próximas do carro dele. Paulo parou na minha frente e me abraçou delicadamente, respirei fundo e inalei todo o seu perfume amadeirado. Nos separamos e ele depositou um selinho nos meus lábios. 

Paulo Bruno Exequiel Dybala 

Está nítido o nervosismo de Elizabeth, eu sei que no fundo ela está incomodada com o quê as pessoas estão falando dela. Ontem a Antonela me informou que alguns Universitários estavam falando mal da Liz, disseram que a ela é apenas um casinho e não vai passar disso, mas não é apenas isso. Elizabeth é muito mais do que um simples casinho, ela me conquista a cada segundo e isso me fascina. 

Os olhares em cima de nós dois queimavam. 

— Temos companhia para o almoço.  

— Seus irmãos? 

Afirmei. 

— Está tudo bem. — Ela sorriu. E que sorriso maravilhoso. 

Segurei sua mão e com a outra destravei o carro, caminhamos normalmente e quando nos aproximamos as meninas continuavam próximas do carro. Elizabeth revirou os olhos e suspirou sem paciência. 

— Com licença. — Pedi educadamente para as cinco meninas que olhavam Liz dos pés a cabeça. 

O caminho até o restaurante foi rápido, Elizabeth pouco se pronunciou no carro e com toda certeza, ela está chateada com a minha grosseria e falta de comunicação naquela manhã. Chegamos ao restaurante mais próximo à sua Universidade e rapidamente saímos do carro, meus irmãos já estavam com os cardápios em mãos e sorriram ao notar a nossa presença. 

Elizabeth sorriu timidamente. Espero que Gustavo e Mariano não me façam passar vergonha. 

Antonela Ava Rocuzzi

Itália, Piemonte - Turin - 22 de março de 2018, Quinta, 13h00 PM  

Assim que entrei no meu quarto, larguei minha bolsa em cima da cama e fui tomar um banho. Quando estava tirando minha roupa, observei um pingente em cima da pia de porcelanato no banheiro e peguei rapidamente. Uma dor consumiu todo o meu peito e abrir o pingente com uma foto minha, do Dylan e Britt juntos. 

Desde a briga que os dois protagonizaram na Universidade, eu não consigo olhar na cara dele, um nojo tão grande me consome. A minha maior raiva foi a sua mentira, a sua grande e fútil mentira. Se na noite em que ele terminou comigo, me contasse toda a verdade, teríamos dado um jeito nisso, mas ele preferiu mentir. E eu fui me consolar com a pessoa errada.

Itália, Piemonte - Turin - 14 de Julho de 2017, Sexta, 20h15 PM

Guardei o meu celular no bolso da calça skinny nervura preta e retoquei rapidamente o batom vermelho. Tranquei a porta da cobertura e seguir para o elevador nervosa. Hoje eu e o Dylan completamos um ano de namoro, ele marcou um jantar super especial no melhor restaurante de Turim e eu comprei dois ingressos para o show do Sam Smith para lhe presentar. 

Assim que o elevador parou no térreo, observei o seu carro estacionado em frente ao Condomínio luxuoso. Apressei meus passos e sorri ao abrir a porta. 

— Boa noite meu bem, feliz um ano de namoro. 

Selei seus lábios e Dylan nem se moveu. Estranhei e me endireitei no banco do carona. 

— Algum problema? — Perguntei. 

— Eu preciso que você apenas me ouça. 

Balancei a cabeça em afirmação, estranhando o seu silêncio. 

— Eu quero que você saiba que tudo o que vivemos foi real, eu amei cada célula que constitui o seu corpo. Eu amei cada momento que passamos juntos, todos os sorrisos, abraços, choros, gargalhadas, toques, tudo foi verdadeiro. Cada segundo ao seu lado foi perfeito e eu agradeço por toda paciência que você possuiu comigo durante um ano, todo o seu amor, todo o seu carinho, toda a sua dedicação. Obrigada por cada momento ao meu lado, Anto. 

Meus olhos ardiam e o meu sorriso parecia que ia rasgar o meu rosto. No momento eu estava achando tudo isso perfeito e eu considerei uma declaração fofa, mas o que eu ouvi depois disso, me destruiu. 

— Mas eu preciso ser sincero, eu quero terminar.  

Ele suspirou e seus olhos já não estavam penetrados nos meus. 

— Eu quero tomar um rumo diferente na minha vida e infelizmente você não se encaixa, eu quero uma liberdade que você não me oferece. E eu sinto muito por isso, mas eu tenho sentimentos agora por outra pessoa. Uma pessoa que entende o que almejo no futuro, uma pessoa que a minha mãe adora e torce muito para que dê certo. Eu quero muito que você seja feliz, sem mim. 

Dylan estava partindo o meu coração no nosso aniversário de namoro. 

— Eu não entendo. — Resmunguei. — O que eu fiz de errado? 

— Nada, você não fez nada. — Ele encostou a cabeça no volante. 

— Então está terminando pelo motivo de estar gostando de outra? 

— Eu te trair Antonela.

Meu mundo desabou. Eu não quis nem saber com qual mulher ele cometeu isso, apenas abrir a porta do carro e voltei correndo para o elevador, peguei meu celular e disquei o número da pessoa que poderia ficar ao meu lado. 

— Anto? 

— Britt, o Dylan me traiu. Por favor, vem aqui em casa. 

Os soluços saiam da minha garganta com muita facilidade. 

— Ele não te contou com quem te traiu?

— Eu não quis ouvir.  

— Eu chego em quinze minutos. 

Ela encerrou a chamada. Britt é minha amiga há cinco anos e ela nutria uma implicância com o Dylan, ela jurava que ele não era confiável e um cafajeste, mas eu sempre o defendia e dizia que ela implicou com a pessoa errada. Mas Britt está certa, o Dylan é um cafajeste e idiota, um imaturo que fez a coisa mais imperdoável, ele me traiu. 

Quando Britt chegou, imediatamente ela me fez bloquear o seu número e excluir ele das minhas redes sociais. 

— Ele não merece a mulher que você é, uma mulher justa e maravilhosa. 

A sua frase me fez sorrir e a abracei, eu necessitava de um ombro amigo naquele momento. Eu tinha o Colton, mas ele está viajando pela Grécia, desde a semana passada. Seria difícil encarar o Dylan na Universidade, eu teria que ser forte. 

Itália, Piemonte - Turin - 17 de Julho de 2017, Segunda, 09h10 AM

O Colton chegou de viagem e quando soube que eu não estava mais com o Dylan, fez questão de vim até a minha casa. Ele me ligou e disse que tinha uma coisa para me contar e que o meu queixo iria cair no chão. Quando ele chegou, foi logo pegando seu celular e me mostrou uma foto que fez meus olhos encherem de lágrimas. 

— Essa é a Britt? — Perguntei na esperança de ser um engano. 

— É ela Antonela, Dylan te traiu com a Britt.  

Naquela noite eu me consolei com a pessoa que me apunhalou pelas costas, a pessoa que eu confiei durante cinco anos, a pessoa que jurou ser minha amiga para o resto de nossas vidas e que jamais deixaria nossa amizade ser destruída. Ela destruiu nossa amizade e pegou o meu namorado. O cara que ela não gostava e tinha uma implicância.

A implicância era amor. E a sua amizade comigo tinha uma definição, inveja.

Joguei o pingente fora e fui tomar o meu banho. 

Elizabeth Ava Bonucci

Itália, Piemonte - Turin - 22 de março de 2018, Quinta, 13h30 PM  

O almoço já estava sendo servido, os irmãos Dybala's escolheram uma Lasanha a Bolonhesa. A comida estava realmente muito deliciosa e a companhia estava agradável. Gustavo e Mariano me contava como era as férias em família, como o Paulo reagiu ao contrato com a Juventus, como ele demorou para se adaptar na Itália e o quanto o seu Italiano é horrível. 

Não queria concordar, o Paulo fala Italiano perfeitamente bem. Mas as vezes a língua castelhana domina todo o seu corpo e graças ao curso que Mia Madre pagou, eu entendo perfeitamente o que ele diz. 

— Então Bonucci, quando decidiu cursar Arquitetura? 

O mais velho dos irmãos perguntou, Gustavo. 

— Eu fui praticamente treinada para isso, meu pai sempre quis que pelo menos um de seus filhos seguissem a mesma profissão que a sua, meu irmãos mais velho não gosta de desenhar e não desenvolveu uma paixão pela Arquitetura e o meu irmão mais novo já tem um curso em mente, que é Gastronomia. 

— E seu irmão mais velho já está na Universidade? 

Gustavo parecia interessado na minha vida pessoal, mas ele não estava sendo invasivo, muito pelo contrário ele perguntava apenas o essencial. Dos irmãos, ele é o mais curioso. 

— Ele nutre uma paixão e um amor incondicional pela Odontologia. 

— É um curso muito bom. — Mariano comentou. 

— Não pense que estou sendo invasivo, mas o que você viu no Paulo? Ele é estranho. 

Gustavo perguntou e gargalhamos, com exceção de Paulo que fechou a cara e cruzou os braços. 

— Engraçado Hermano, dizem que a gente se parece.  

Paulo resmungou. 

— Essas pessoas estão enganadas então. — Gustavo respondeu. 

— O almoço estava uma maravilha, mas temos que nos retirar. — Mariano comentou. 

— Adorei conhecer vocês. — Comentei e me levantei para dar um abraço em cada um. — Obrigada pelo almoço divertido. 

— Nós que adoramos te conhecer, você é uma mulher incrível. — Gustavo disse. 

Abracei os dois e eles foram embora, restando apenas eu e Paulo. 

— Preciso de me desculpar mais uma vez por ontem? 

— Não precisa Paulo. 

— Eu não queria ter sido grosseiro, mas estava tenso no que poderia acontecer dali em diante. 

Antes que eu pudesse responder, observamos uma aglomeração se formar fora do restaurante e algumas pessoas corriam em nossa direção. Me assustei, pois a maioria continha câmeras fotográficas em mãos. O que é isso? 

— Vocês estão namorando? 

— Você pediu para Antonella Cavalieri publicar aquela postagem no Instagram? 

— Desde quando vocês estão juntos? 

— Quem apresentou um para o outro? 

— O que vocês tem a dizer daquelas fotos no carro? 

— Como vocês reagiram aos xingamentos dos fãs? E ao apoio? 

Fomos bombardeados de perguntas. Paulo se levantou e me puxou para fora sairmos do restaurante, mas antes disso, ele puxou algumas notas de dentro da carteira e entregou ao garçom. Os paparazzis nos seguiam e aqueles flashes incomodavam a minha visão e soltei um grito quando sentir um empurrão. 

Eu acabei perdendo o equilíbrio e cai de joelhos no chão, sentir uma pequena dor e meus olhos arregalaram quando ouvi o Paulo gritar. 

— Vocês estão loucos? Não quero que nenhum de vocês encostem um dedo nela, se afastem de nós. Vocês são doentes.  

Paulo me ajudou a levantar, mas eles continuavam nos seguindo. Corremos em direção ao carro e rapidamente entramos, ele travou as portas e acelerou para sairmos dali o mais rápido possível. Meus joelhos ardiam e Paulo respirava fundo, completamente nervoso. 

— Era por isso que eu estava tenso. 

— Meus joelhos estão doendo.  

— Desculpa por isso. Eles conseguem fazer qualquer pessoa perder a cabeça. 

— Está tudo bem, só me leva para a cobertura de Antonela, por favor.  

Ele balançou a cabeça positivamente. 

Assim que chegamos, Antonela veio correndo ao meu encontro e me abraçou alisando minha testa. 

— Está nos jornais o sufoco que vocês passaram. 

— Você está bem?  — Colton perguntou. 

— Vem sentar, vou pegar gelo. — Daniel comentou. 

— Esses paparazzis são doentes.  — Cody se pronunciou. 

— Vamos lavar esses joelhos e colocar gelo. 

Antonela me puxou para o meu banheiro e me ajudou a retirar a saia e a lavar os joelhos. Vesti um short de moletom e descemos para pôr o gelo, me sentei no sofá e Daniel colocou uma bolsa de gelo para joelhos. 

— Sua mãe vai surtar quando ver esse vídeo. — Daniel comentou. 

— Com toda certeza. 

Me pronunciei. Paulo se mantinha quieto sentando no sofá a minha frente e eu sabia que ele estava se sentindo culpado. 

— Você não é culpado por isso. — Falei olhando para o seu rosto. 

— Desculpa. — Ele suspirou. 

— Chega de se desculpar. Eles estavam atrás de nós dois e isso foi apenas um acidente. Ponto final. 

— Eu preciso ir, tenho treino agora pela tarde.  

Balancei a cabeça e sorri. Paulo veio na minha direção e depositou um beijo na minha testa, um beijo que eu queria que fosse nos lábios. Ele se despediu do pessoal e sorriu fraco para mim, indo em direção a porta e sumindo do meu campo de visão.