Jeon nos expulsou da casa dele e consequentemente eu fiquei sem minha resposta, sem a confirmação do começo de uma imensa odisséia. Por que digo isso? Eu conheço meus sentimentos pelo mais novo, conheço, porém não os entendo, tenho isso em mente e consigo administrar meus pensamentos da mesma forma, no entanto, a partir do momento que ele diz que também sente algo por mim, meu incosciente grita para que eu lhe dê uma resposta, minha mente cobra uma posição, afinal de contas, é muito confortável para mim tê-lo ao meu lado sempre que quiser, mas não assumir meus sentimentos não é jogar limpo tampouco.
É engraçado, quando penso em "Assumir sentimentos" tenho vertigem, vertigem porque dizer que sente algo à alguém é entregar-lhe uma parte de você e rezar para que ela se importe e não parta seu coração, sabendo que Jungkook gosta de mim, seria um sinal verde para admitir para ele de uma vez. Então por que sinto-me tão hesitante?
A verdade é algo pesado, carregado de significado, ser verdadeiro implica aceitar seus sentimentos, sendo eles bons ou ruins, se eu disser para o garoto que o amo e ele reagir mal? Será consequência de ter sido verdadeiro.
O pior é que eu nem sei se ele gosta ou não.
Enquanto voltava para casa, Taehyung vinha ao meu lado comentando sobre Hoseok, sobre o término prematuro deles e eu me lembrava das fotos no Facebook, minha mente estava dividida em chegar numa conclusão e ceder a vertigem de aceitar estar apaixonado por meu dongsaeng.
Era estranho o Hoseok hyung ter terminado com o Kim, pois ambos se amavam perdidamente, pelo menos da parte do mais novo. A verdade é que Taehyung é um poço de sentimentos bons, ele vive a beira de transbordar, pois quando é preenchido, precisa que o mundo admire essa explosão, é o garoto mais sensível e verdadeiro que conheço, e jamais teria feito nada ao Jung, não seria capaz, com certeza se eles tinham terminado, não era por nada que ele tenha feito.
Enquanto ele falava sem parar sobre a hipótese de ser traído e como ele não queria acreditar nisso, porque Hobi era incapaz de fazer isso, eu pensava muito além, Jungkook e eu somos acostumados a trocar muitas mensagens, mesmo que ele esteja jogando a maior parte do tempo, quando não está sendo uma Sniper, está me respondendo algo realmente interessante no KakaoTalk, mas até agora não tinha chegado uma mísera mensagem dele, me sentia de parte com a ideia de ser substituído, ou por outra pessoa ou por uma tristeza que o impeça de dizer-me qualquer coisa, era egoísta ao ponto de desejá-lo só para mim, e pensamentos como esses só dificultavam minha necessidade de fazer uma escolha.
Min Yoongi nunca teve uma boa reputação na escola, estava sempre cercado por outras pessoas que o admiravam e eu nunca achei aquilo realmente atraente, a necessidade que as pessoas, incluindo ele, tinham de querer mostrar suas conquistas para que o mundo soubesse que as tinham, era patético para mim, temo que ele seja de outra forma, em algum momento tende a ser adorável, mas quando ele tenta ser outra pessoa, parece apenas um idiota para mim.
Foi com esse pensamento que voltei a pensar em Kookie, tudo girava ao redor dele, meus pensamentos tão altos, sempre me levando a direção onde ele está, comecei a tentar responder perguntas que surgiam sobre ele, eu precisava agir como um hyung, sou dois anos mais velho que o garoto e ajo como se somente suas preferências me fariam mudar de idéia, como se estivéssemos num jogo de xadrez. Eu não posso esperar ele me dizer se gosta de mim ou mão, afinal de contas é como se eu quisesse que ele confirmasse nosso amor, para só assim eu afirmar para mim que é real, sendo que eu também poderia, eu poderia validar a existência de um "nós", apenas dizendo que de minha parte existia um "Sim".
Acho que minha preocupação maior é justamente o momento em que você olha para alguém e diz "É você, é você quem eu quero.", por um minuto não existe o momento depois e nem o antes, existe apenas o presente e o looping dos olhos dele passando em sua mente, a forma como vira o pescoço quando está nervoso, um tique leve, como vez ou outra arregala os olhos e os foca em lugar nenhum, quando você assume seus sentimentos, tudo o que existe é o momento entre vocês dois, marcado pelo silêncio de uma verdade. Então você observa aquele sinal que ele tem abaixo dos lábios e você nunca tinha se dado conta, os lábios rosados estão trêmulos e você imagina o que ele deve estar pensando, de quantas maneiras diferentes somos capazes de receber um "Não", e como você processará se essa for a resposta. O momento da confissão é quando você realmente sente a vertigem e é por medo dela que eu ainda não disse nada, quer dizer, nada desde que me dei conta dos meus sentimentos. A vertigem é uma queda, queda nos braços dele, de dizer que o amo, verdadeiramente, ao mesmo tempo é a ação da gravidade, você pode cair leve como uma pena ou pesado como uma pedra, as situações estão passíveis de possibilidades, não é você quem escolhe, é como um jogo de sorte e azar. Se apaixonar pelo seu melhor amigo é um abismo de sentimentos, e toda vez que olho para Jeon, sinto um insustentável desejo de cair.
Cheguei em casa, depois de receber um beijo na testa de Taehyung e um pedido de "Cuide-se". Rapidamente fui tomar banho, as coisas sempre funcionam quando estamos debaixo d'água, tirei minhas roupas e caí de cabeça e tudo, deixando a água quente me aquecer; todas as vezes em que pensei na possibilidade de contar-lhe minhas mãos tremiam, pois não o mereço, não o mereço pois ele é inacreditável, eu o amo não por sua perfeição, o conjunto da obra é perfeito, mas não é por isso, é justamente pelo que nos une a alguém, as memórias.
Eu me lembro do primeiro beijo que ele me deu debaixo de uma casa num parquinho, assim como da vez em que ele beijou-me quando dancei O lago dos Cisnes, lembro de todas as vezes que, observando o pôr-do-sol, segurei sua mão como se existisse apenas nós dois no universo, o que nos une são todas as memórias que traçam nossa história, por mais que eu tente dizer que esse sentimento surgiu da nossa noite de amor, veio de muito antes, vem se construindo há muito tempo, vem sendo moldado por nossas mãos que, cuidadosamente seguram um pote de barro, moldamos um ao outro com o tempo, tem muito dele em mim, há muito de mim nele; por isso que quando fecho meus olhos, o mapa do destino me leva à ele.
Não tinha porquê permanecer dizendo não, não para mim e não para ele, não era o que eu queria, por mais que dizer sim seja estar aberto a receber um "Não", é melhor ser sincero do que desistir de uma aventura pelo medo da tentativa. Na vida haverá dor, precisamos validar sua existência, precisamos saber que ela é real e que é necessária para o crescimento. A dor faz parte do processo de crescimento e de se tornar alguém. A dor é necessária.
Fechei o chuveiro e saí enrolado na toalha em direção a cama, antes mesmo de trocar de roupa, com os cabelos pingando um pouco, segurei o celular e abri o aplicativo de mensagens, quando ia digitar para ele recebi uma mensagem no Messenger.
Min Yoongi disse:
Park, podemos ter um segundo encontro?
Enviada às 22:20
Aquele foi o momento em que me lembrei que eu tinha um compromisso com outra pessoa, tinha tido experiências com alguém, e mesmo duvidando de sua integridade devido a sua fama na escola, do mesmo jeito me questionei se deveria dizer não, se eu sei que amo Jungkook, por que o medo inerente de lhe dizer a verdade, mas nenhum medo de dizer sim a outro?
É que é muito mais fácil aceitar o "Não" de alguém por quem não sentimos nada, do que de alguém que amamos, preferimos não dizer nada à segunda pessoa, justamente pela possibilidade do não.
Park Jimin:
Claro
ㅎㅎㅎㅎ
Enviada às 22:25
Eu amo Jungkook, o amo tanto a ponto de temer que ele diga não. Afinal, eu sou apenas seu hyung e ele nem confirmou sentir nada por mim.
Conversei com Yoongi hyung durante um longo tempo antes de cair no sono, me perguntava constantemente ao longo da noite por que não conseguia mandar sequer uma mensagem para Jeon, perguntando ao menos se ele estava bem, ou se tinha comido, se estava tudo bem entre nós dois, nada, eu apenas olhava para seu chat aberto e desejava ser mais corajoso, desejava silenciosamente que, talvez, na segunda chance que estava dando ao mais velho, me fizesse parar no meio e perceber que não era ele quem eu queria, como da outra vez.
Percebi que estava dando a Yoongi um tipo de chance incosciente somente quando acordei na manhã seguinte e pus-me a vestir uma roupa qualquer, não havia assim tanto esmero em me arrumar como da primeira vez, eu não estava ensaiando falas, meu peito não apertava e, até mesmo a euforia que sentia enquanto olhávamos sua rede social na casa de Jungkook no dia anterior, não sentia mais, é como se eu tivesse acordado do transe em que estava, ou simplesmente tivesse percebido o que realmente valia a pena, tinha deixado passar a euforia de poder vê-lo, porque no momento que Taehyung levantou uma possibilidade de Jungkook gostar de mim, minha vontade de ver o Min redirecionou seu alvo.
Eu vestia as roupas e secava o cabelo maquinalmente, quase como se estivesse sendo obrigado a isso, sentia como se estivesse indo para um dos eventos dispensáveis com meus pais, quando eles me obrigavam a sorrir e acenar, apenas por ser o Park Jr. Sentia-me falso e plástico, descartável, e flexível, puxado de um lado para o outro, como um elástico. Dizem que quando estamos apaixonados, sentimos um turbilhão de coisas ao mesmo tempo, só não esperava que fossem tantas assim. A sensação de elástico derivava das minhas próprias escolhas, do próprio misto de indecisão entre dizer "Sim" para Jeon e "Não" para o hyung. Aliás, o que o mais velho sentiria se eu lhe negasse? Talvez se magoasse, se decepcionasse?
A pior coisa é se importar tanto com tudo, os sentimentos alheios começam a transbordar você.
Meus pais não estavam em casa, como sempre, estava apenas a cozinheira, a quem encontrei quando desci as escadas para o andar de baixo.
— Brigou com o Jungkook, senhor Park? — pergunto, enquanto eu mexia na fruteira, procurando uma maçã.
Pensei em fazer uma negativa com a cabeça, mas depois pensei que na verdade nem sabia se tinha ou não acontecido algo entre nós, apenas dei de ombros, achando a maçã vermelha.
— Por que a pergunta, Noona? — A mais velha fechou a geladeira e virou-se para mim.
— É que geralmente você não parece muito animado quando briga com o Jungkook.
Dei uma risada alta. Não pela frase, mas por pensar que até mesmo ela percebia o óbvio, quer dizer, até ela percebia que eu gostava dele ou algo assim. Acho que quando chega o momento em que todos percebem seus sentimentos, ou eles são reais e você não percebe, ou os está escondendo.
Encostei os cotovelos na bancada americana e apoiei o queixo nas mãos.
— Noona, eu e o Kookie fazemos um casal bonito? — perguntei, dando uma mordida na maçã enquanto ela ria abertamente.
A Hani noona trabalha em minha casa desde que me entendo por gente, ela não é a minha mãe, mas é o que sinto quando a vejo. Não desmerecendo minha mãe em seu papel, mas foi Hani que admirou minhas conquistas, foi ela que me parabenizou com um cupcake quando tirei as rodinhas da bicicleta, ela quem me fez um bolo quando fiz a minha primeira apresentação de dança contemporânea. Era ela quem me ouvia cantar e a única que achava que eu tinha voz para isso. Ela esteve comigo em todas as minhas pequenas conquistas, me viu crescer e voar, e nesse momento estava vendo-me engatinhar em direção ao amor, ela é a coisa mais sólida que conheço enquanto família, foi ela que cresceu ao meu lado, por isso a amo tanto, pegou um garoto que não era sangue do seu sangue e criou-lhe como um filho, ensinando que, independente do quão longe o céu se parece, há sempre um jeito de chegar até ele. Por isso eu a amo, ela sempre esteve comigo, quando eu não tive ninguém mais a quem me segurar além dela. Dela e de Jungkook.
— Esta brincando?! Vocês foram feitos um para o outro! É assustador como vocês se encaixam. Você se lembra das histórias que te contava quando era menor? — perguntou enquanto se sentava na cadeira, de frente para mim na bancada americana. Fiz que sim com a cabeça.
— Há um mito chamado Mito das almas gêmeas, descrito no livro O banquete, do antigo filósofo grego Platão, o qual disse certa vez que os humanos eram um só, até que afastaram seus corpos e os tornaram duas pessoas diferentes, mas que nós passamos a vida inteira procurando essa nossa segunda parte perdida, a parte que nos falta e só nós sabemos o quanto dói essa ausência. E é claro que nunca acharemos algo ideal, e talvez essa coisa de "Metade da laranja" nem exista, mas sempre saberemos quando encontramos a pessoa certa. A pessoa certa, senhor Park, não é a que concorda conosco em tudo, não é a com quem não brigamos, não é a pessoa perfeita, certa é aquela que nos faz sentir a vertigem. Um insuportável desejo de cair de amores por ela.
Então ela disse exatamente o que eu estava pensando no dia anterior. Hani é a pessoa mais inteligente que conheço, há uma biblioteca em minha casa, a qual meus pais nunca tocaram ou bem pouco, mas Hani já leu mais de cem livros que estão ali, ela sempre me deu bons conselhos e a todo momento parece ter algo perfeito para me dizer, e naquele momento não foi diferente. Nunca tinha ouvido aquela frase antes de pensar nela, talvez tenha lido em algum lugar e não me lembre, mas era tudo o que eu precisava. A confirmação do amor é sempre um bom negócio.
Me levantei do banco correndo e dei um beijo em cada bochecha de Hani, agitado e andando aos pulinhos.
— Obrigado, noona! Obrigado! Muito obrigado!
Ela riu, perguntando obrigado pelo que, mas acho que aquilo nem era eu agradecendo pelo conselho, eu a estava agradecendo pela existência.
Saí saltitando até o ponto de táxi mais próximo e pensava em tudo aquilo, pensava em suas palavras e na vertigem, na metade da laranja e nela dizendo que fazíamos um belo casal, me sentia um adolescente recebendo a confirmação de que faziam um belo casal, eu e a primeira pessoa a quem beijei. E incrivelmente, era exatamente esse o cenário.
No carro pensava como diria "não" a Yoongi, como diria a ele que repensei e via em nossa relação algumas "Situações problemáticas", pensando na melhor forma de lhe dar um fora, coisa que eu nunca tinha feito antes e se precisa de muita prática para dizer um frio e direto "Não" para alguém. Esperava que ele não chorasse ou ficasse muito triste em minha frente, para falar a verdade aquilo não parecia nem um pouco o estilo dele, mesmo assim tive medo, quis me poupar da possibilidade de me sentir atordoado e perdido por não fazer ideia do que fazer com o problema.
Ouvi músicas até de quem não sabia quem era e não me lembrava de quando as tinha adicionado no celular, apenas para acalmar o nervosismo que estava sentindo pela possibilidade de, frente a frente com Yoongi, ter de dizer não para ele. Contava com a possibilidade de chegar primeiro como da outra vez, o que me daria mais tempo para pensar.
Mas parece que ele estava mesmo tentando corrigir seus "erros" da vez passada. Cheguei e ele estava de pé na frente do cinema, parecia bastante impaciente até, ou estava mexendo suas mãos porque fazia parte de seu estilo desleixado. De qualquer forma, ele destruiu minha possibilidade de poder pensar um pouco antes de tudo.
— Hoje não quis te fazer esperar e saí cedo. E olha que sempre me atraso. — Min disse e colocou o braço ao redor de minha cintura, puxando-me para mais perto, perto o suficiente para que eu prendesse a respiração.
— Não quero estragar nada hoje.
Segredou e quase discordei dizendo "Pena que não é recíproco".
No começo eu pareci até mais interessado do que ele estava, sabia disso, mas depois dessa bagunça toda ter acontecido, tinha esfriado meu peito, parecia como se eu estivesse me arrastando em sua direção, não para dizer sim, e sim para que ele ouvisse um "Não."
Olhei para Yoongi engolindo a culpa que carregava, como um remédio amargo o qual estava há muito para ser tomado, amargando meu paladar. Quando ele apareceu. As roupas escuras e a touca enterrada nos cabelos de mesma cor, escondendo o óbvio que era sua preferência por amarelo, os olhos grandes, estavam arregalados, o que fazia sentido pela forma como parecia decidido, e os lábios... Ah, aqueles lábios. Eu deveria te segurado as borboletas, assim como deveria ter segurado a constatação inata de que sim, eu continuava o mesmo e a verdade é óbvia como um tapa na cara, eu sou apaixonado por Jeon Jungkook.
— O quê? — perguntei quando ele alegou que o mais velho estava namorando o Hoseok hyung.
Yoongi começou a acusá-lo e Kookie revidava, era um show gratuito de hostilidade não ofensiva e quando o mais velho deu a cartada final algo se moveu dentro de mim, o questionamento que tinha ficado sem resposta da última vez.
— Jeon, você está mesmo apaixonado por mim?
Demorou um tempo até que ele retirasse a expressão assustada dos olhos arregalados, ambas as orelhas ficaram vermelhas e ele engoliu em seco, falando em seguida.
— Hyung, é verdade e eu tenho como provar! — falou, como se eu não estivesse acreditando nele, apesar de não ter dito nada até então. Ignorando minha pergunta novamente.
Puxou de seu bolso o celular e esticou-o para mim, parado na galeria de fundo branco.
— Tome! Veja! Veja!
— Park, não caia nessa, ele está apenas inventando intrigas para nos afastar.
Meu peito começou a fervilhar lentamente pela primeira frase na foto, e quando ele disse aquilo, quis me virar em sua direção e dizer que não, não era assim como ele estava falando, primeiro porque não tínhamos nada, segundo porque ele não conhecia o Meu Jungkook.
Fui passando as fotos e lendo as conversas com cuidado, tinha tirado foto da tela do computador para mostrar que não tinha forjado as falas nas imagens e que tinha, sim, entrado no perfil do Facebook de Yoongi. A pergunta era, como?
— Jeon, como você...
— Ah, eu fiz um procedimento básico de hacker, consegui me infiltrar na conta do Yoongi. Não durou dois minutos e ainda consegui acompanhar ao vivo a conversa acontecendo. Parecia um show. — disse as coisas tranquilamente e arregalou os olhos para dizer a última coisa, me fazendo olhá-lo por um tempo e não acreditar no que estava ouvindo.
Ele estava falando na frente da pessoa a quem tinha hackeado sua conta, que ele a tinha hackeado, como se não fosse nada. Comecei a rir desesperadamente dele.
— Kookie... Você não existe! — falei enquanto ria e observei um sorriso tímido aparecendo no canto de seus lábios.
— Escuta aqui, moleque! — Yoongi vociferou e puxou o mais novo dali pela gola da camisa, mesmo sendo menor e mais fraco, parecia não lhe faltar coragem.
— Você quer tomar um soco por invadir minha privacidade? Quem é você para ler minhas conversas e ainda fazer outro rir de mim por isso? Não foi comportamento de putinha o suficiente a mensagem que me mandou aquele dia pedindo para cuidar de Park, como se eu precisasse de dicas de um garoto cheirando a leite como vo... — interrompi seu discurso dando-lhe um soco lateral no nariz, fazendo com que o de cabelos azuis soltasse Jeon e se afastasse, com a mão no onde o tinha socado.
— Escuta aqui você! Você parece muito corajoso para quem tem pelo menos metade da força de Jungkook, e é bem mais velho ainda por cima. Da próxima vez, procure alguém do seu tamanho. Ah, e que não seja eu, pois você é patético. — falei e pus o braço entrelaçado ao braço de Jungkook, dando as costas para o outro.
— É assim, Jimin? — O menor perguntou, com a voz um tanto anasalada e eu não me dei ao trabalho de virar para responder.
— Você não queria o Hoseok hyung? Pode ficar. É todo seu!
Eu e o maior nos afastamos do Min num silêncio sepulcral até que, quando estávamos próximos da fila de venda de ingressos, ele desatou a rir.
— Belo soco, hyung! — disse e eu fui abrindo um sorriso lentamente. Parecia bem comigo aliás.
— Belo? Foi incrível! Eu deveria entrar para a equipe de boxe, certamente não ia ter para ninguém! — soltei seu braço e comecei a simular socos no ar e pulinho, fazendo-o rir.
— Eu só não entendo por que estamos aqui, andando até a fila.
Dei de ombros quando percebi que já estávamos no final dela.
— Vamos assistir filme. O que mais seria?
— Mas você não tinha visto esse mesmo filme com ele da outra vez? — fiz uma negativa, acompanhando o caminhar da fila.
— Não consegui assistir, só consigo assistir com você. É especial para nós.
Aquele mesmo sorriso tímido surgiu no canto de seus lábios e por um momento eu pensei que poderia viver para fazê-lo sorrir daquela forma.
Compramos os ingressos e a pipoca e entramos rapidamente na sala, o filme estava para começar e só deu tempo suficiente para nos acomodarmos nas cadeiras e pôr os óculos 3D. Não fazia assim tanto tempo que tinha vindo ao cinema com ele, nós vínhamos mais de uma vez no mês, só ocasionou de naquele mês não ter tantos filmes assim. Além da pipoca compramos hambúrguer e batatas fritas, pois ele comia feito um cachorro, era incrível, um saco sem fundo, olhei para o lado enquanto a luz da sala baixava, anunciando que o filme começaria e ele sorriu.
— O que foi? — perguntou baixinho e eu dei uma risada, acenando negativamente com a cabeça.
— Nada, estou apenas olhando para você.
Enquanto o filme rolava, sua risada infantil e gostosa chegou aos meus ouvidos incontáveis vezes e eu adorava aquilo, adorava estar com ele daquela forma, nunca parecia desconfortável, eu nunca parecia dever seguir uma programação para estar em sua presença, éramos apenas eu e minha vontade de fazê-lo feliz. Tão precioso. Os mínimos detalhes do meu dongsaeng me faziam flutuar. Ele me fazia flutuar. Às vezes comentava algo sobre o filme para mim e eu ria por ambos os motivos.
Em algum momento, minha mão direita buscou a sua e eu entrelacei calmamente nossos dedos, encostando minha cabeça em seu ombro quando levantei o apoio de copo que dividia nossas poltronas.
— Hyung, isso é... Tipo um encontro? — perguntou baixinho e com a voz vacilante, eu podia quase enxergar seus olhos se estreitando, os lábios tremendo pelo nervosismo. Sorri.
— Sim Kookie, é tipo um encontro.
Não disse mais nada, não precisava dizer, apesar de que com aquela simples frase veio uma leveza inacreditável, era quase como se pudesse tocá-la com as mãos, me senti infinito, senti que poderia gritar para toda gente naquela sala que eu era perdidamente apaixonado por ele. Me restringi a apenas pensar numa coisa óbvia, em cinemas as pessoas se beijam, não se beijam?
Levantei meu rosto que estava apoiado em seu ombro e o olhei calmamente, a permanência de meu olhar e a provável intensidade a qual não me deixava desviar, fizeram com que ele também me olhasse, com a mão livre retirei meus óculos para vê-lo perfeitamente e lá estava, um anjo disfarçado de humano, os lábios inchados e os cabelos com alguns fios bagunçados na frente, a timidez estampada quando retirou seus óculos e era aquele ar inocente que me levava à ele sempre. Era magnético.
Soltei sua mão e levei a minha direita até seu rosto, tocando-o no momento que, sem me dar conta já tinha aproximado nossos rostos e apenas trocava uma respiração calma com ele, sentia a sua e ele sentia a minha, era como um ritual, estávamos nos conhecendo pelo cheiro, porém eu queria mais. Toquei seus lábios e deixei que os dele umedecessem os meus, deslizando um sobre o outro, senti nossas línguas entrando em contato e se entrelaçando calmamente. Quando estou com Jungkook me sinto num tipo de realidade paralela a qual eu não tenho nenhum controle e nem tenho uma percepção do tempo muito aguçada, aqueles toques tímidos tinham sido lentos e pareciam ainda mais lentos em minha cabeça.
Aprofundamos nosso beijo quando ele mordeu meu inferior e minha mão esquerda, por impulso acariciou sua coxa, subindo calmamente por ela. Quando percebi o que estava fazendo, não quis voltar atrás, quando percebi que o seu beijo era doce, como da outra vez e assim como Hani falou nós nos encaixavamos, quis apenas me afogar o máximo que pudesse nele.
Quando sua mão foi em direção ao meu quadril, automaticamente puxando meu corpo para mais perto do seu, dei impulso e saí de minha cadeira, me sentando sobre seu colo e colocando os braços ao redor de seu pescoço, paramos o beijo e eu o olhei por alguns segundos, tudo que via era o brilho de seus olhos e os cabelos entrando neles, sorriu para mim e pude ver os dentes levemente tortos e salientes da frente, senti uma onda de calor e não era tesão ou algo promíscuo, era profundo e quente, me sentia em casa e ao mesmo tempo, feliz, era como estar no lar depois de andar quilômetros no meio do nada. Beijei-o porque sentia como se tivesse encontrado o que estava procurando há muito tempo. Ou talvez não estivesse procurando, eu apenas me apaixonei por ele acidentalmente, e estava naquele momento sentindo na pele a vertigem de que tanto comentei antes, o insustentável desejo de cair. De amores por ele.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.