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História Six Feet Under - Blue


Escrita por: kayalapapaya

Notas do Autor


Olá! Esta é somente minha segunda história de TWD aqui no site, espero que gostem, comentem e acompanhem. O título foi retirado da música Six Feet Under de Billie Eilish; ela é uma cantora nova, mas muito boa, vale à pena ouvir suas músicas. Espero que gostem e boa leitura!

Capítulo 1 - Blue


As nuvens cinzentas, após dias apenas pairando ameaçadoramente sobre sua cabeça, agora derramavam uma chuva fina enquanto a garota avançava silenciosa pelas ruas de Emanuel County, atenta a qualquer som suspeito. Naqueles dias, tudo exalava perigo, principalmente para uma menina magrela, faminta e sozinha. Ela ergueu o rosto enquanto andava, abrindo a boca para que pudesse beber da chuva, e passou a língua pelos lábios, sedenta.

Enquanto se movia praticamente na ponta dos pés, Daisy Moore observou a pequena cidade à medida que avançava. As árvores e plantas sem poda, carros empoeirados e manchas de sangue não a assustavam tanto agora; depois de alguns anos vivendo o fim do mundo, ela se acostumara a tal visão. Todas as casas pareciam desabitadas, com suas pinturas descascadas e gramados muito altos. Aqui e ali, a garota via uma farmácia ou um mercadinho, mas não iria se arriscar e tentar entrar em nenhum; naquele momento, sua prioridade era achar um lugar para passar a noite.

O vento sacudiu os cabelos vermelhos de Daisy, quase sem fazê-la tremer e trazendo mais chuva ao seu encontro; o inverno da Geórgia, embora não muito desafiador, seria um problema para ela. Esperava, além de abrigo, encontrar ali roupas mais quentes do que as que tinha.

Finalmente, a menina decidiu-se por uma casa com paredes azuis um pouco mais à frente. Não havia nenhum motivo estratégico para sua escolha, apenas uma vontade infantil de ficar na residência por acaso pintada de sua cor favorita. Ela deu algumas passadas longas para chegar à porta, sentindo a grama alta roçar em suas canelas, e espiou o interior da casa pela janela de vidro, observando o ambiente em busca de vivos ou mortos.

Ao constatar que a sala estava vazia, Daisy deu alguns passos para trás, pensando em como entraria. Ela não sabia como arrombar a fechadura, e certamente não teria forças para escalar até uma das janelas no segundo andar. Após mais alguns instantes, a garota decidiu examinar a porta, procurando por sinais de que poderia quebrá-la, e, no entanto, só o que achou foi uma portinhola para cachorros. Daisy suspirou, franzindo os lábios; oh, bem, aquela não seria a pior coisa que já fizera.

Ela tirou a mochila dos ombros, passando-a pela abertura primeiro, então ficou de quatro e começou a entrar. Por sorte - ou azar -, a menina não comia direito há três dias, mantendo-se de pé apenas com os restos de um coelho que acidentalmente achara agonizando em uma armadilha na semana anterior e folhas de menta. Por isso, não foi tão difícil passar seus braços pelo espaço quadrado, colocando depois a cabeça, e então se debatendo como um peixe para dentro da casa.

Assim, Daisy ficou de pé, contente consigo mesma. A garota se encontrava numa sala espaçosa, com janelas de vidro mal cobertas por cortinas de renda. Havia três sofás de couro dispostos ao redor de uma pequena mesa de vidro e, na parede da frente, uma TV de plasma desligada. Moore tocou com a ponta dos dedos um porta-retrato na parede à sua direita, cuja foto mostrava um homem moreno, uma mulher dentuça e uma garota loira sorrindo para a câmera. Ela desviou os olhos e arrastou a bolsa para um canto da sala, tirando sua arma do coldre. Depois de checar o cartucho, partiu para uma pequena expedição em busca de qualquer companhia indesejada.

À sua direita, havia um cômodo separado do outro por uma porta com metade da sua altura. A garota aproximou-se em posição defensiva, constatando que tratava-se de uma cozinha cheia de armários amarelos. Lá, havia um cadáver sentado com as costas na parede oposta e uma espingarda no colo; devia ser o homem na foto. Bem, pelo menos ela supunha que era, pois seu rosto estava totalmente destruído, com pedaços de cérebro ainda na parede e as mãos ainda segurando a arma. A menina já havia se acostumado com o cheiro e a aparência de cadáveres, portanto não se impressionava com tanta facilidade, mas sentiu-se triste ao ver que ele não havia sobrevivido.

Daisy avançou pelo primeiro andar da casa, explorando um escritório e um banheiro e não achando mais nenhum morto. Decidiu então ir ao segundo piso, subindo as escadas num silêncio que deixaria qualquer ninja com inveja, e deparou-se com três portas ao chegar.

O primeiro cômodo, um quarto de casal, estava totalmente vazio, com um característico cheiro de mofo. Mesmo assim, a menina adentrou nele, caminhando até o banheiro no canto da suíte. Lá dentro havia um mordedor de cabelos escuros e ralos: a mulher. Ela estava lenta, abrindo e fechando a boca debilmente no chão, aparentemente sem conseguir se levantar. A garota entrou no banheiro, ignorando o cheiro forte de decomposição, e matou-a com um golpe rápido de faca em sua têmpora. Após uma pequena análise, Daisy percebeu que a mulher também havia se suicidado; os cortes fundos em seu pulso esquerdo deixavam aquilo bem óbvio. Ela franziu o rosto, com pena do casal, e saiu do quarto, andando até a próxima porta.

Aquele era claramente o quarto da menina, com paredes rosadas, móveis brancos e uma TV de tamanho considerável na parede. Além disso, o ambiente estava estranhamente organizado; tinha um cheiro desagradável de ácaro, assim como o resto da casa, mas sem traço algum do odor de decomposição característico dos mordedores. Daisy esquadrinhou todos os cantos do cômodo à procura de um deles, mas não achou.

Logo, ela avançou até a última porta, abrindo-a devagar para encontrar outro banheiro, dessa vez um vazio. Evitando olhar no espelho, a menina fechou a janelinha de vidro por onde uma corrente de ar entrava, trazendo chuva para dentro. Ela também baixou a pequena cortina, e logo deixou o lugar.

Assim, sabendo que a casa estava segura por dentro, Daisy novamente desceu as escadas, preocupando-se agora com o que havia do lado de fora. Voltando à sala de visitas, Moore fechou todas as cortinas, procurando evitar atrair alguma atenção, e empurrou um sofá grande para a porta com dificuldade. Ao terminar, a menina sentou-se nas almofadas, ligeiramente ofegante, e pegou sua mochila no chão, começando a fazer seu inventário.

Há dias, ela estava na floresta. Ali, os mordedores não eram tantos quanto nas cidades, mas isso não significava falta de obstáculos; desidratação mataria tão rápido quanto a mordida de um infectado. A garota estava sem água há um dia inteiro, o que lhe causara belas dores de cabeça, mas a boa notícia era que talvez conseguisse alguma agora. No meio das árvores era muito mais difícil de se saber onde estava e para onde estava indo, além de não existirem muitos lugares para procurar suprimentos e passar a noite. Havia também os animais selvagens, que inevitavelmente lhe faziam desserviços, e as dificuldades em se movimentar na mata fechada; resumindo, a coisa toda era um pesadelo.

Daisy tirou a garrafa térmica de dentro da bolsa, abrindo-a em busca de qualquer gota restante, apenas para descobrir que não havia nenhuma. O próximo a sair da mochila foi o mapa, dobrado e desdobrado várias vezes, e então sua bússola. Ambos a haviam guiado até aquela cidade, muito embora ela houvesse se perdido várias vezes.

Assim, item por item, Daisy esvaziou sua mochila. O resto da carne de coelho, apenas dois pedaços envoltos em plástico; um bolo de folhas de menta; uma caixa extra de munição, agora com somente três balas; um isqueiro prateado; uma lanterna; algumas poucas bandagens; e um abridor de latas. Ela colocou tudo no sofá, e então voltou a passear pela casa, procurando algo que lhe fosse ser útil.

Primeiramente, retornou à cozinha, ávida por água. A garota fez seu melhor para ignorar o cadáver no canto e pôs-se a examinar a porta de baixo do armário. Levou um pequeno susto quando uma barata rastejou pra fora e sentiu seu estômago afundar ao perceber que não havia comida alguma ali. Ao invés disso, armas grandes tomavam o espaço, com direito a diversas caixas de bala e um único pacote de velas.

Aquilo teria sido bom caso ela soubesse como usar armas daquele tipo; o pai de Daisy nunca chegara a ensiná-la como manejar mais que revólveres e facas, de modo que espingardas continuavam um mistério para ela. A garota franziu o rosto, descontente por não achar nenhuma munição para pistolas, e passou a reclamar mentalmente com os antigos moradores. Afinal de contas, que tipo de idiota escolheria aquelas armas grandes, e não as pequenas? E que porra elas estavam fazendo onde devia estar a comida?

A garota não se deu por vencida, encarando as velas como um bom sinal, e abriu as portas superiores do armário, contente quando a sorte finalmente lhe sorriu. Daisy tirou de lá uma barrinha de cereal, duas garrafas de água, uma lata de abacaxi e duas de feijão. Claro, não seria suficiente para mantê-la de pé por tanto tempo, mas a ajudaria a recuperar suas forças o suficiente para que pudesse sair dali na manhã seguinte.

Logo, Daisy colocou na mochila seus pertences e os novos achados, tornando a subir as escadas rapidamente. Ela se trancou no quarto da garota, colocando duas velas no cômodo, uma de cada lado, e fechando as cortinas pesadas afim de não revelar sua posição a qualquer sujeito desagradável do lado de fora.

A menina sentou-se no carpete felpudo, voltando-se para a comida, e logo estava devorando os dois pedaços do coelho junto com o conteúdo da lata de feijão ao som da chuva, que agora caía em grande quantidade. Depois de beber alguns goles de água, Daisy finalmente estava satisfeita como não estivera durante dias.

Com ajuda da lanterna, ela logo começou a fuçar o guarda-roupa branco em busca de algo que lhe coubesse. A moradora anterior era claramente mais velha e maior que ela, então todas as peças ali eram pelo menos duas vezes maiores que a menina. Após mais alguns minutos de procura insistente, finalmente achou um suéter azul escuro, uma camiseta verde de tecido fino e jeans pretos que deviam ter seu tamanho. Além disso, havia uma calça de moletom cinza, e Daisy decidiu que a vestiria naquela noite; pelo menos uma vez antes de morrer, ela queria dormir usando pijamas novamente.

A menina tirou os coturnos, deixando-os ao lado da cama, e abriu a porta do quarto, hesitante. A casa agora estava ainda mais escura, e ela viu-se segurando a arma em posição defensiva enquanto caminhava para o banheiro com o auxílio da lanterna. Após tanto tempo sozinha, era natural desenvolver algumas paranoias, e a sua maior era o medo de não estar sozinha.

Ao entrar no pequeno cômodo ainda iluminado pelos últimos raios de sol que entravam cinzentos pelas brechas das cortinas, Daisy não pode evitar olhar-se no espelho, e o que ela viu foi preocupante.

Cabelo laranja e muito longo, pele sardenta e suja, olheiras profundas e ossos à mostra – era essa a aparência de Daisy Moore agora. Ela era pequena como uma criança mal-nutrida que não pudera crescer direito, com cerca de um metro e cinquenta, e estava muito magra; ao puxar a blusa amarela de alças finas por cima da cabeça, percebeu que, se fizesse algum esforço, poderia contar suas costelas com precisão.

A garota balançou a cabeça, tentando não focar-se em sua aparência. Ela abriu a torneira, sendo agraciada com alguns filetes de água, e logo estava se lavando da melhor maneira que podia. Secou-se com uma toalha de rosto, observando a mudança que aquele ato causara em si mesma, constatando que estava pior do que esperava; a camada de sujeira pelo menos escondia o quão pálida e doentia estava sua pele, sem falar nos hematomas coloridos espalhados por seu corpo.

A menina fechou a torneira, voltando para o quarto com as roupas, a arma e a lanterna em mãos. Embora aquele fosse apenas um banho de gato, era o máximo de limpeza que ela conseguira em semanas. Ao chegar no cômodo rosa, Daisy vestiu um moletom largo que encontrara embaixo do travesseiro e a calça cinza, disposta agora a ter uma noite de sono decente.

Sem pensar muito, a garota soprou as velas, apagando-as, e enroscou-se debaixo do edredom quente. Adormeceu ao som da chuva, poucos momentos após sua cabeça ter tocado o travesseiro.

O dia seguinte amanheceu cinzento com uma claridade pálida entrando pela janela. Daisy demorou a sair da cama, mas quando finalmente ficou de pé, trocou seu recém adquirido pijama pelas roupas com as quais deixaria a casa: blusa verde, suéter azul e calça preta. Além disso, após calçar os coturnos, ela fuçou no armário até achar uma jaqueta grande também de cor preta que definitivamente a manteria aquecida e a amarrou na cintura.

Depois de comer a barrinha de cereal, a menina arrumou sua bolsa, deixando apenas o mapa e a bússola fora. No revólver, a garota tinha só mais um cartucho quase cheio, portanto precisaria racionar as balas e tentar achar mais. Ela então colocou a mochila nos ombros, saindo do quarto tão silenciosamente quanto entrara e descendo até o primeiro andar.

Na sala, Daisy tirou o sofá de seu caminho, tentando fazer o máximo de silêncio possível, e começou a procurar pela chave da porta. Entrar pela portinhola uma vez fora suficiente, e ela não procurava repetir a dose de humilhação, obrigada; a garota buscou na sala com os olhos, achando um molho de chaves na mesa de centro. Após algumas tentativas, Daisy conseguiu abrir a porta, espiando o ambiente para ter certeza de que estava segura. Ela então jogou as chaves para dentro da casa novamente, saindo para a rua.

Como ainda estava de manhã e havia chovido no dia anterior, o clima estava mais ameno enquanto Daisy seguia para o lugar que o mapa dizia ser a entrada da cidade, onde as estradas de Norristown e Covena se ligavam. Ela adotou novamente a postura defensiva, andando rápida e silenciosamente, evitando mordedores pelo caminho e se escondendo sempre que ouvia um barulho suspeito perto demais. A garota andava analisando o terreno à frente, procurando problemas para evitar e mantendo a velocidade, sempre alarmada.

Depois de mais uma hora caminhando e se orientando com ajuda do mapa e da bússola, Daisy conseguiu chegar à estrada. Ali, havia alguns carros abandonados por seus donos, sendo o mais notável um caminhão do exército que parecia carregar armamento pesado. A menina se aproximou cautelosamente, animada com a expectativa de arrumar alguma munição e se agachou atrás de um Gol azul, sacando a arma.

No entanto, ao esticar o pescoço e checar o veículo novamente, Daisy viu algo que não havia notado antes: um homem ruivo segurando uma arma resignadamente na dianteira do caminhão, olhando para a frente. A seu lado, havia outro homem também olhando para a frente e parecendo falar rápido. Esse era um pouco mais gordo que o ruivo e tinha cabelos castanhos.

Daisy se abaixou novamente, sentindo seu coração martelar contra as costelas. Sua reação normal seria dar meia-volta ao encontrar dois sujeitos como aqueles, pois nenhum parecia particularmente amigável. Ela preferiria evitar o trabalho de tentar se esgueirar até o caminhão, procurar as balas certas, roubar e não ser pega.

No entanto, com pouca munição como estava, a garota sentiu que dessa vez precisaria desafiar a sorte e quebrar suas regras. Ela estaria sem balas em pouco tempo, e não queria acabar desarmada em uma situação de vida e morte; além disso, aquela era uma oportunidade única de tentar achar também mais comida.

Assim, munida com seu revólver e a pouca coragem que tinha, Daisy deixou sua mochila no chão atrás de si, caminhando agachada até a traseira do Gol. Observou para ter certeza de que os homens estavam distraídos e correu em direção ao caminhão fazendo o mínimo de barulho possível. Com o passar do tempo, ela havia aprendido a se mover furtivamente sem emitir sons que denunciariam sua posição a outras pessoas, e aquilo lhe foi muito útil naquele momento.

A garota só parou ao chegar na caçamba do veículo, que, observou com pesar, estava fechada. Sentindo o coração na garganta e uma vontade imensa de desistir, Daisy devolveu a arma ao coldre e apoiou o pé direito numa roda, pulando dentro do caminhão para procurar rapidamente o que queria.

Ela logo achou as caixas laranjas com munição dentro de uma bolsa no canto e sorriu para si mesma, contente. No entanto, a sensação durou apenas alguns segundos antes de ser interrompida por um grito:

— Ei!


Notas Finais


Link da música que deu o nome à história: https://www.youtube.com/watch?v=a66Zm7sy6Mg
Como vocês viram, não houveram muitas falas. Infelizmente, foi necessário para a construção da história, mas não se preocupem: no próximo capítulo teremos vários diálogos! Espero que não tenha sido irritante pra ninguém. Comentem suas opiniões e quem vocês acham que encontrou a Daisy, estou ansiosa para ouvir alguns palpites! Beijinhos e até o próximo capítulo!


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