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História Six Years - 08. DIWKdeAM


Escrita por: intensive

Notas do Autor


******Sugiro que mais ou menos na metade – ou no começo mesmo, como vocês quiserem – do capítulo, vocês coloquem Do I Wanna Know - Arctic Monkeys pra tocar.*******

Espero que gostem (e eu sei que vão).

Capítulo 9 - 08. DIWKdeAM


Fanfic / Fanfiction Six Years - 08. DIWKdeAM

Agora posso entender quando alguém tem a impressão de estar sendo seguido.

Pressentimento talvez. Meu cérebro captava. Podia sentir isso de modo quase concreto. Além de que, a mesma van – uma Ford Transit branca com placa da Flórida – vinha atrás de mim desde que eu saíra de Gainesville.

Não tinha certeza, mas achava que na cabeça do motorista tivesse um boné de beisebol vermelho.

Não sabia o que deveria fazer sobre aquilo. Procurei ver o número da placa, mas estava escuro demais. Se eu reduzia a velocidade, ele também reduzia. Se acelerava, ele também acelerava. Ficamos assim até que eu estacionei numa parada para motoristas para ver como o tal cara reagiria. Observei a van diminuir a velocidade e em seguida passar por mim. Depois disso, perdi-a de vista.

Talvez tivesse sido tudo impressão minha.

Estava quase em Massachusetts quando recebi uma ligação. Eu instalara Bluetooth no carro – depois de passar um baita tempo tentando entender como funcionava –, então conseguia ver no visor do rádio quem me ligava. Era Keana Issartel. Ela estava para me retornar sobre o endereço de Lauren. Atendi apertando um botão no rádio.

– Aqui é Keana – disse ela.

– Eu tenho identificador de chamadas.

– Droga, e eu achando que meus anos no FBI me faziam especial – contestou ela. – Onde você está?

– Voltando para Massachusetts.

– Voltando de onde?

– Longa história. Encontrou o endereço?

– Foi por isso que eu liguei – comunicou Keana. Um homem falava ao fundo. – Não encontrei ainda.

– Ah... – falei, tentando parecer compreensiva. – Algum problema?

– Espere até amanhã de manhã, ok?

– Sim, sim. – E então insisti: – Algum problema?

Silêncio.

– Apenas me dê até amanhã de manhã.

E desligou.

O que havia acontecido?

Estranhei seu tom. Estranhei o fato de uma mulher tão conhecida no FBI precisar até o outro dia para encontrar um simples endereço. O celular fez um bip, avisando que eu havia recebido um novo e-mail. Não sou certinha nem nada, mas não escrevo mensagens enquanto dirijo. Três anos atrás, um aluno de Golden West se ferira gravemente escrevia uma mensagem dirigindo. Ele sobreviveu, mas a garota no banco de trás, caloura da minha aula de Estado de Direito, morreu no acidente. Mesmo antes de saber sobre a grande burrice de se digitar ao volante, já não gostava ideia. Gosto de dirigir. Gosto da solidão. Gosto da música. Todo mundo precisa se desconectar às vezes.

Naquela hora minha cabeça girava, consequência da intensidade dos pensamentos.

Onde diabos está Lauren?

Estava ficando louca.

Parei diante do meu alojamento – que não gostava de chamar de minha casa ou meu apartamento porque era e parecia um alojamento universitário. Apesar de que já era noite, o campus era muito iluminado artificialmente. Abri o e-mail novo e vi que era da Sra. Parker. No assunto estava:

Aí está a ficha estudantil que você pediu

Hm, bom trabalho, espertinha, pensei. Li toda a mensagem:

O que mais tenho que escrever depois de “Aí está a ficha estudantil que você pediu”?

É óbvio que nada.

A tela do celular era muito pequena para ler o anexo, então precisava ir até meu notebook. Abri a porta e liguei as luzes. Corri para acessar a caixa de e-mails. Cliquei para baixar o arquivo na mensagem da Sra. Parker. Como já comentei, li minha ficha de estudante alguns anos atrás. Mas acho que, a certo ponto, a faculdade resolveu que eram arquivos demais para guardar e os escaneou, de modo digitalizado.

O primeiro ano de Luis na universidade. Não havia nada extraordinário ali, senão que, ele era, bem, extraordinário. Uma continuidade de A+. Nenhum calouro tirava A+. A professora Nina Phillips comentou que Luis era “um aluno brilhante”. A outra professora, Elisabeth Baker observou: “Um garoto adorável”. Até o professor Calvin --, que nunca foi muito chegado a elogios, adicionou: “Luis Felipe é de um porte surpreendente”. Wow. Eu não esperava por isso. Fui uma aluna excepcional e a única anotação que vi na minha ficha era negativa. Nas raras vezes que eu mesma anotei sobre meus alunos eram observações negativas. Quando o aluno era bom, o professor não escrevia nada, sabia que as notas falariam por si. A regra para anotações parecia ser: “Se não há nada de negativo para escrever, não escreva nada.”

Mas não com o bom e velho Luis.

O primeiro semestre do segundo ano era a mesma coisa – notas espetaculares –, mas tudo mudou de modo inesperado. No outro semestre, já se podia ler em letras maiúsculas “LICENÇA”.

Hm... Fui atrás dos motivos, mas dizia apenas “Motivos pessoais”. Estranho. Muito estranho.

A ficha estudantil é secreta e confidencial. Ou então deveria ser. Nós, professores, nunca deixamos assim – “Pessoal” – em uma. Escrevemos abertamente nela.

Por que tanto sigilo sobre a licença de Luis?

Geralmente, o “pessoal” quer dizer alguma crise financeira ou alguma doença física/mental, seja do aluno ou de um parente próximo. Mas esses motivos vêm sempre esclarecidas no arquivo. Não havia nada ali.

Curioso.

Talvez eles devessem ser mais reservados sobre questões pessoais naquela época. E também, o que a licença de Luis poderia ter relação com seu casamento com Lauren e depois de sua morte, deixando outra viúva?

Quando ele voltou aos estudos, mais anotações de professores surgiram – não do jeito que um aluno gostaria. Um o caracterizou como “desligado”. Outro comentou que Luis estava “visivelmente amargurado” e “estava muito diferente”. Outro ainda propôs que ele deveria se afastar por mais tempo para lidar com “a situação”.

Fui para a página seguinte. Luis fora para o comitê disciplinar. Algumas universidades fazem os alunos serem responsáveis pelas questões disciplinares, mas nós temos um comitê rotativo com três professores. Fiz parte dele por dois meses no último ano. A maioria das ocorrências que chegava a nós eram menores ingerindo bebidas alcoólicas e alunos colando nas provas. O resto eram acusações de furto, ameaças de violência, ou algum modo de assédio ou agressão sexual, que não chegava a ser casos policiais.

A ocorrência que chegou ao comitê disciplinar consistia em uma briga entre Luis e outro aluno, Aron Hussain, que acabou internado com lesões e nariz quebrado. A universidade pedia uma suspensão longa ou ainda a expulsão de Luis, mas o comitê de professores absolveu-o por unanimidade. Isso me pegou de surpresa. Não havia detalhes sobre o interrogatório ou as medidas posteriores. O que também me deixou surpresa.

A sentença manuscrita havia sido escaneada e anexada ao arquivo:

Luis Felipe dos Santos, aluno eminente da Golden West College, sofreu uma dura contusão em sua vida pessoal, mas já está se recuperando. Com um membro do colegiado, Luis vem trabalhando para criar uma obra de caridade, para se isentar dos seus últimos atos. Ele compreende as consequências do que fez e, em virtude das circunstâncias atenuantes um tanto incomuns desse caso, decidimos que Luis Felipe dos Santos não seja expulso.

Rolei o mouse até o final da página para ver quem tinha assinado a sentença. Professor Christian Murphy. Previsível. Conhecia-o muito bem. Não éramos mais ou menos o que se chamaria de amigos.

Se eu quisesse mesmo saber mais sobre essa “dura contusão” ou sobre essa sentença, teria que falar com ele. E essa ideia não era muito agradável.

Era tarde, mas Dinah só tinha o celular e o colocava no silencioso para dormir. Atendeu no quarto toque.

– O que está aprontando?

– Christian Murphy.

– O que tem ele?

– Ainda me odeia?

– Eu acho que sim. Por quê?

– Preciso falar com ele sobre meu companheiro Luis Felipe. Você acha que pode convencê-lo?

– Convencê-lo? Claro! Por que você acha que me chamam de Sra. Fala Mansa?

– Por que você faz seus alunos dormirem?

– Você sabe mesmo conseguir um favor. Falo com ele pela manhã.

Desliguei. Me acomodei, sem saber o que fazer depois. Até apareceu no meu monitor uma notificação de que eu havia recebido um e-mail. Iria ignorar. Como boa parte das pessoas que eu conheço, recebo muitos e-mails insignificantes durante o dia. Esse deveria ser só mais um.

Então eu vi o endereço do remetente:

              [email protected]

Olhei para ele até meus olhos se cansarem. Havia um zumbido no meu ouvido. Tudo à minha volta se paralisou, silenciosamente. Eu ficava com os olhos fixos, mas as letras permaneceram do mesmo jeito.

              DIWKdeAM

Não levei muito tempo para perceber o que significavam aquelas letras: Do I Wanna Know, de Arctic Monkeys – a música que eu e Lauren mais gostávamos de ouvir no café.

Não tinha assunto. Levei lentamente a mão até o mouse. Esforcei-me para colocar o cursor em cima da mensagem para abri-la, mas antes tinha que conter o tremor. Respirei fundo e fixei a mão. A sala estava em um silêncio total, quase expectante. Cliquei no e-mail.

Meu coração parou.

Na tela, havia apenas quatro palavras. Mas atravessaram meu peito como uma faca, tornando impossível respirar. Reclinei-me na cadeira, perdida, enquanto as quatro palavras na tela pareciam me encarar:

       

              Você fez uma promessa.


Notas Finais


Parece que alguém está de olho nos passos da Camila...


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