Pov Laura (ainda)
Dirigir estava ficando meio cansativo pra mim. Estava amanhecendo. O céu é lindo no fim da madrugada. Mas graças a Deus eu aproveito esse céu lindo muito pouco porque estou sempre dormindo. Imagina acordar num horário desses todos os dias.
Foi uma longa sexta-feira. Chateei-me com a Ashley por causa do encontro com o Alexandre, joguei mal, perdemos, fui convidada pra sair com a Mari pra balada, saímos, e agora cá estou eu, dirigindo pra casa da Júlia. Mari tentava permanecer acordada, mas pra ela tava difícil. Eu não me importava se ela dormisse, conhecia o caminho pra casa da Ju e chegaria lá sem problemas.
- Laura? – fiz um barulho nasal pra que ela continuasse – Eu tô com sono. – mais do que uma voz de bêbada, uma manha sem fim vinha dela. Bem que a Yasmin me disse uma vez, que quando a Marina queria, ela era um bebê. O bebê dela. Ri quando me lembrei dela dizendo isso. Obviamente Mari não estava presente naquele dia, ela nem sonha que tivemos esse diálogo.
- Dorme, não tem problema, quando chegarmos lá eu te acordo. – não faltava tanto, mas eu não a privaria de uns bons minutos de sono.
- Você tem que me acordar bem quando a gente tiver na porta da Ju.
- Ok. – não precisei nem olhar novamente, já sabia que ela dormia.
Não demorou nem cinco minutos pra que eu chegasse à casa da Júlia. Encostei o carro um pouco depois da frente e desci, a cerca tava aberta, só fiz entrar. Toquei a campainha e voltei pra acordar a Mari. Não obtendo sucesso em nenhuma das ações, porque ninguém abriu a porta e a Marina não acordou.
Toquei de novo. Resolvi ligar pra ela, mas quando peguei o celular no bolso, o barulho da porta sendo destrancada me assustou. Derrubei o celular.
- Porra. – me abaixei pra pegar, xingando baixinho. A porta se abriu, atraindo meu olhar. O que vi não foi nada ruim.
Era a Yasmin. De pijama. Pijama esse que tinha um short-calcinha, ou seja, curtíssimo. Uau hein.
Balancei a cabeça negativamente. Não seja tão safada, Laura!
- Laura? – olhei em seus olhos, que estavam inchados. Ela andou chorando. Andou perdendo noite também, tinham princípios de olheiras em seu rosto.
- Er... Oi. – não sabia se dizia bom dia ou boa noite, apenas disse oi.
- O que faz aqui quase cinco da manhã?
- Nossa, tá tão tarde, er, quer dizer, tão cedo assim? – ela riu de leve. – Por mais estranho que isso pareça, eu tô procurando a Ju, porque... – fui interrompida pela própria, que apareceu no topo da escada.
- Epa, o que é isso aqui na minha porta uma hora dessas? – ela apareceu na porta usando apenas uma camisa grande que nem cobria metade das suas coxas. E tentou até falar alto, mas sua voz denunciava que estava dormindo. A cara amassada também. Senti-me bastante envergonhada por bater na casa dos outros assim.
- Eu trouxe a Marina, ela disse que poderia vir. – Júlia arregalou os olhos, Yasmin também.
- Então era com você que a Marina estava? – ela falou meio alto demais.
- Ai Yasmin, não grita, eu nem acordei direito. E, acabo de lembrar, eu disse a ela pra vir. Mas achei que ela viesse de manhã.
- Tecnicamente já é de manhã, e eu estou funcionando apenas como uma espécie de motorista dela. Foi mal bater aqui essa hora.
- Não foi mal, foi péssimo, meu sono pós-jogo é sagrado. Principalmente pós-derrota, que dá aquele desânimo. Você bem sabe. – ela falou com a expressão fechada. Obrigada Mari, por me fazer passar essa vergonha.
- Desculpa mesmo. – falei, como uma criança que fez besteira.
- Relaxa Laura, eu só estava brincando. Você me acordou sim, mas eu meio que já esperava. Você deve ter incomodado mesmo a Yasmin.
- Não, eu tô acordada desde as duas da manhã, tive um sonho ruim. – ela falou, olhando pra baixo.
- Enfim, cadê a sem noção bêbada?
- Como...?
- Eu sei que ela tá bêbada, é óbvio.
- Dormiu, lá no carro. – apontei-a. Yasmin estava abatida, mas em seus olhos eu vi a preocupação que ela sentia ao ver a Mari. – Já tentei acordar, mas não consegui.
- Fala de comida enquanto a cutuca. – Yasmin deu a dica.
Fui lá e tentei algumas vezes, mas nada. Júlia propôs que eu a levasse no colo direto pro chuveiro que a água gelada iria acordá-la. Achei um pouco agressivo demais, mas ela apenas disse:
- Essa lerda tá merecendo isso e até mais. – olhei pra Yasmin, ela apenas deu de ombros e entrou novamente sem dizer mais nada.
- Por que você não pega Ju? Você é mais forte que eu.
- Ah sei lá, eu não quero, pega você. – sincera e direta, essa é a Júlia.
Respirei fundo e peguei a Mari, com um pouco de dificuldade, mas a ajeitei nos meus braços e caminhei até a porta. Ela abriu os olhos.
- O que é isso aqui? Por que eu não estou andando? Eu ainda sinto minhas pernas e consigo mexê-las. – eu a coloquei no chão depois dessa, é claro. – Obrigada. – ela se agarrou ao pescoço da Júlia quando, obviamente, perdeu o equilíbrio.
- Af, me solta, você tá com cheiro de puta. – eu ri, Mari também.
- Tô nada, você que tá. – ela falou, com a voz mais embriagada do que antes, talvez pelo sono. Neguei com a cabeça.
- Tchau Ju, até segunda.
- Dorme aí Laurinha, sua carinha tá puro sono. – devia mesmo, eu me sentia como se não dormisse há uma semana.
- Verdade, eu tô acabada, mas não precisa.
- Qual é, eu insisto. Tem dois quartos livres, fica aí. – comecei a pensar um trilhão de tragédias que poderiam acontecer se eu cochilasse no caminho até minha casa. Comigo e com o meu carro.
- Tudo bem, eu fico, obrigada.
- Te empresto um pijama, de boa. – ela sorriu, e entrou com a Mari ainda sem desgrudar dela. Entrei atrás e bati a porta. Mari se jogou no sofá, puxando Ju que caiu por cima. Foi uma cena engraçada. – Ai minhas costas, seu projeto de vadia. – ela deu uns tapas na Mari, que ficou rindo. Depois Ju levantou e subiu metade do lance de escadas. – Seu quarto é o de sempre ok Marina? Ninguém aqui está disposto e nem vai cuidar de você, então trate de não morrer nem tomar quedas que possam ocasionar ferimentos graves. – Mari deu um joinha com a mão. Acho que isso daria merda. – Laura, siga-me.
Depois disso foi banho e cama, sem pensar duas vezes.
Pov Yasmin
Sonhei que a Mari ia embora pra sempre sem olhar pra trás e acordei chorando de madrugada. Não consegui mais dormir. Nem sei como vim parar na cama, me lembro de ter dormido com a cabeça no colo da Babi. Sem notícias dela.
Comecei a arquitetar um plano e um roteiro do que diria pra ela quando a visse. E precisava ver. O mais rápido possível. Na metade dele, a campainha da casa da Júlia tocou. Que coisa, quem viria aqui uma hora dessas, quase cinco da manhã? Tocou a segunda vez, e como o quarto que eu tomei como meu era no andar de baixo, eu fui atender à porta do jeito que eu estava.
Acabou que era a Laura com a Marina (bêbada). Bem mais rápido do que eu imaginava. Imediatamente cogitei que elas ficaram, mas não me deixei pensar nisso.
Assim que eu a vi, tratei de entrar de novo e deitar pra terminar o plano. Ok, falar com ela com calma, sem discutir, explicar tudo o que ela quiser (e não quiser) saber, e aí segura na mão de Deus e vai. E tinha a parte que ela tinha que explicar pra mim, é claro.
Cobri meus olhos com um dos braços e uma pontada de sono me atingiu. Começava a relaxar quando bateram a porta do quarto com força, sentei num sobressalto. A Marina passou parecendo que dormiria no primeiro lugar em que encostasse.
Por que ela tá aqui?
Ah, o outro quarto só cabe uma pessoa e a Laura provavelmente ficou aqui. Então Mari dormiria comigo. Não que ela se importasse, já que nem percebeu minha presença no quarto. Ela entrou no banheiro e desabou em frente ao vaso de joelhos com um baque surdo, vomitando no segundo seguinte.
Eca, meu Deus. Ah sujou o cabelo, ew. Ela ficou ali de cabeça baixa. Isso já aconteceu comigo, ali a cabeça deve estar girando e o mundo se duplicando e mexendo.
- Nunca mais vou beber. – a ouvi sussurrar e ri um pouco.
Eu só tô um pouquinho magoada com ela porque sumiu e me deixou extremamente preocupada, mas eu entendo perfeitamente como e porque estávamos naquela situação, e eu seria muito filha da puta se não a ajudasse. Tomei coragem e levantei. Entrei naquele banheiro, ok, cheiros são psicológicos, respira. Não, não respira. Mas aí você morre. Tsc, respira, vai. Peguei em seu braço.
- Vem Mari, levanta.
- Ai, peraí, tá tudo girando, tudo. – eu agachei e fiquei à sua frente, ela sentada ao lado do vaso, encostada na parede. Ela virou a cabeça e vomitou novamente, no vaso, é claro. Depois voltou à mesma posição. Fiz o favor de dar descarga no vaso, não sobreviveria muito tempo ali se não o fizesse. – Ei, eu tô na casa da Júlia não é? – tá pior do que eu imaginava.
- É sim.
- Ok, me ajuda a levantar pra eu escovar os dentes, tem um gosto horrível na minha boca, você me entende? – acho que ela não sabia que era eu. Melhor ainda, talvez não aceitasse minha ajuda, ou sei lá.
- Mas você tem que tomar um banho, sujou seu cabelo. – mostrei a ela onde o cabelo tinha sujado. Argh.
- Ih, é mesmo. – ela estendeu os braços, ajudei-a a se levantar. – Valeu, você é legal. – realmente, ela não sabia.
- De nada. – ela sorriu. Aquele sorriso me fez suspirar. – Vem.
Ajudei-a com escovar os dentes, ok. Próximo passo: banho. Senhor.
- Acho que não tem problema e você nem liga, mas eu vou ficar pelada aqui rapidão só pra tomar banho. – em outra situação eu ia rir, mas apenas suspirei. Ela abriu os botões da blusa. – Você não liga, né? – ela falou quando a blusa deixou seu corpo. Arfei. Desculpa, é a minha namorada (me recuso a dizer ex) tirando a roupa na minha frente. Quando tirou a calça, eu resolvi sair e a dar privacidade, só que ela tropeçou na calça e deu com a bunda no chão com força. Com certeza ficaria roxo.
Nota mental: Nunca deixe um bêbado sozinho tentar tirar uma calça em pé. Não dá certo.
- Nossa! Vem Mari. – a levantei, ela fez uma careta de dor.
- Minha bunda tá doendo mais do que quando eu a dei. – arregalei os olhos. Ela riu. – Mentira, eu nunca dei a bunda. Mas, nada contra. Relaxa, menina. Para de me olhar assim. – ela se desvencilhou dos meus braços que a seguravam e tirou o sutiã. Gente. Depois a calcinha. Ok, concentra em ajudar.
Ela entrou no box, liguei o chuveiro gelado e entrei também. Comecei a lavar seu cabelo com ela de costas, obviamente, me molhando toda. Passei o shampoo, mas quando eu ia tirá-lo ela virou pra mim. Observei a espuma descendo pelo seu corpo e mordi o lábio inferior.
- Tira essa roupa, não faz bem vestir roupa molhada. – franzi o rosto – Não é porque eu quero que você fique pelada, é pro seu conforto. – aham, sei. Eu resolvi obedecer a ela. Tirei o short do pijama, depois a blusa e atirei por cima do box, ficando apenas de calcinha pois não usava sutiã. Mari encarou meu corpo de cima a baixo umas duas vezes. – Uau. Você é gostosa. – que safada!
- A minha calcinha eu não tiro.
- Aaaah... – mas como ela está, meu Deus! Isso não sabe que sou eu, imagino o que ela não fez na balada. Jesus. Agora tô meio preocupada.
- Você tá me saindo bem safada, dona Marina. – ela riu gostosamente – Agora vira pra eu terminar com seu cabelo. – virei seu corpo, ela ficou quietinha até que eu terminasse ali e depois tomou um banho normalmente comigo ainda ali, ajudando-a a não cair quando perdia um pouco do equilíbrio. Ela logo terminou. Como eu tenho uma mente brilhante, eu tinha esquecido a toalha. – Fica aqui que eu vou pegar a toalha.
- Não demora, tá frio. – reparei que seu corpo começou a arrepiar em várias partes. O meu também, aquela água estava bem gelada, eu nem tinha notado. Peguei duas toalhas no armário e voltei, sem escorregar. Milagre.
- Toma. – ela enxugou o corpo superficialmente e saiu do box. Enxuguei-me e cobri-me com a toalha, depois me livrei daquela calcinha molhada. Essa frase pode ser mal interpretada. Mas não nessa situação. Não é?
Ok, tem algumas roupas nossas que eu nem lembro porque estão aqui, mas estão e vieram a calhar naquela hora. Uma camisa preta e uma box pra Marina, uma blusa vermelha mais longa e uma calcinha pra mim. Vesti as minhas e fui entregar as delas. Encontrei-a enxugando os cabelos. Ela se vestiu, pegou minha toalha e pendurou junto à dela. Sorriu pra mim, sorri de volta.
- Você tá melhor Mari?
- Aham, só muito sono e um pouco de tontura, nada demais. – ela prendeu o cabelo num coque meio frouxo e caminhou até o meu lado.
- Vai dormir, deita ali. – ela foi e se jogou de bruços. Preciso tecer um comentário sobre seu corpo? Eu acho que não.
- Valeu pela ajuda. – ela tava tão bebê. Safada, mais ainda um bebê. Meu bebê.
- De nada. – parei na porta do quarto e olhei o relógio. 6h12min. É, eu tô meio cansada, mas não quero mais dormir. Resolvi ir pra sala e ver TV, mas quando pus o pé fora do quarto...
- Yasmin – ela chamou. Travei. – Vem cá. Por favor. – engoli seco e me aproximei da cama. Ela me olhou.
- Oi. Eu não sabia que você sabia que era eu. – ela riu.
- Depois que eu vomitei, eu realmente não sabia. Tava tudo girando, mas quando parou as minhas retinas focalizaram você. Achei até que tivesse vendo coisas.
- E por que não disse nada antes? – sentei na cama.
- Pensei que você não me ajudaria se eu soubesse que era você. – ela fez um bico, deitada de lado. Depois eu sou a manhosa. – Por que você não falou antes?
- Por que pensei que não aceitaria minha ajuda?
- Isso é uma pergunta?
- Er, não.
- O quê? Você pensou que eu faria, tipo “sai daqui sua anã” e me foderia totalmente sozinha, mas não deixaria você me ajudar, só se eu estivesse sangrando na cabeça ou pior?
- É, bem isso. – minha frase não passou de um sussurro porque eu me sentia envergonhada por ter pensado aquilo dela.
- Você estava certa, pelo menos se eu estivesse sóbria seria assim. – tsc, dei um tapa em seu braço. Ah, ela mereceu. – Ai, você é mesmo um amor de garota hein? – ela disse rindo.
- Idiota. Dorme, Marina. – levantei e rumei novamente para a porta.
- Yasmin – ela chamou novamente, com os olhinhos quase se fechando. Awn.
- Oi Mari.
- Vem cá rapidinho. – fui, ela deu espaço na cama. – Deita aqui. – mais manhosa impossível. Não tinha nada a perder, deitei ao seu lado. No segundo seguinte ela se agarrou a mim e deitou a cabeça no meu peito, com uma mão na minha barriga, sobre a minha mão que já estava lá. Ah, o toque da sua mão na minha. Suspirei.
- Por quê? – usei minha outra mão pra acariciar seu cabelo úmido, que a esta hora já estava solto de novo.
- Quero você. Quero te abraçar. Quero... Você aqui, mais nada. Só um momento de paz, você deixa? – tive vontade de chorar, de beijá-la e de mordê-la também. Não fiz nenhum dos três, apenas continuei a carícia em seu cabelo. – Hmmm, você sabe que eu adoro quando você faz isso. – sorri automaticamente.
- Sim, eu sei. – ela entrelaçou nossos dedos e colou-se mais ainda a mim. Sorriu com os olhos fechados, meu coração se esquentou com aquele sorriso.
Tinha como eu não estar apaixonada? Impossível. Suportaria perdê-la pra sempre? Jamais.
Eu precisava dizer antes que ela dormisse. Não será nada fácil quando ela acordar.
- Eu te amo, Marina.
- Hm. – ela apenas apertou um pouco a minha mão. Não esperava que ela respondesse, também.
- Você sabe que ainda vamos conversar, não é?
- Se o mundo me deixasse esquecer isso... – e dormiu.
Também me deixei ser levada pelo sono que, sem perceber, sentia.
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