História So Numb - Luz

Eu senti a luz. Senti a intensidade da mesma bater contra meu rosto. Mas logo senti meu coração pulsar dentro de mim. Parecia que eu estava acordando depois de muito tempo apagada.

- Meu Deus, ela tá se mexendo!

- Para de falar isso, ela morreu cara. Ela morreu!

- Não. Não, olha, olha! Ela mexeu os olhos. Ela tá viva!

- Caralho, vou chamar algum médico...

- Graças a Deus, Elle. Graças a Deus.

- Eu não faço nada direito. Por Deus. – Suspirei, abrindo de fato meus olhos. Não olhei para nenhum lado, apenas fiquei ali, sentindo a luz, que era apenas a lâmpada do teto. – Eu não sei nem me matar...

- Por Deus Elle! Está falando. Céus, obrigado! – A voz de Shawn ao meu lado, sua boca tocava minha mão. Usei o pouco de força que tinha para tirar a minha mão de perto dele.

- Não me toque.

- Elle, você está viva... Elle. Meu Deus! – Continuava, pegando novamente minha mão.

- Já disse para não me tocar. – Puxei minha mão.

- Oh... Elle! – Ouvi a voz da minha mãe, vindo da porta, assim como ouvi a voz do meu pai, ouvi a voz de Dakota, ouvi a voz de Chandler. Havia muita gente ali. E eu não queria desviar do teto. Eu não queria ver ninguém, eu só queria morrer.

- Ainda bem que você é vesga! – Riu Isabelle, que aparentemente também estava ali.

- Vão embora. – Murmurei. Minha voz foi abafada pela voz de todo mundo, que falava insanamente ao redor de mim. – Vão embora.

- Calma gente, ela está tentando dizer algo. – Citou Shawn.

- Me deixem em paz. – Murmurei de novo.

- O que você disse, meu amor?

- Vão. EMBORA! – Exclamei, me levantando com um impulso e arrancando a droga das agulhas que estavam em minha veia, arrancando meu respirador, arrancando tudo. – Me deixem em paz, porra. Eu só quero paz, eu só quero isso. Eu só quero ir embora, eu só quero MORRER!

- Calma Elle. – Dizia Shawn.

- Sai de perto de mim. Sai. Fica longe VÃO EMBORA! – Gritava, freneticamente, até chegar um médico, mandando todos saírem da sala.

Gritei com toda a força que tinha, junto de lágrimas, que escorriam pelo meu rosto. Eu só queria paz, eu queria ir, eu queria ultrapassar a linha da vida. Eu apenas queria morrer. Eu não sei fazer nada direito. Nada.

Não sirvo nem para morrer.

Ao passo que o médico se aproximava de mim, eu me afastava, eu ia para trás, gritando e chorando. Eu só queria morrer. Só isso.

- Precisa se acalmar. – Disse o médico, com uma seringa na mão.

Eu tinha esperanças imbecis de que ali, naquela pequena seringa com uma fina agulha, houvesse algum tipo de substância letal. Eu ainda tinha a esperança de morrer. Eu queria isso mais que tudo. Eu precisava disso. Eu precisava. Precisava.

- Me mata, por favor... Me mata. – Dizia, entre soluços.

O médico se aproximou e injetou aquela coisa gelada, do qual eu senti descer pelas minhas veias. Gritei quando a agulha me tocou. Podia ser uma espada, podia ter crack ali. Eu podia ter uma overdose. Eu podia me enforcar... Quem sabe um tiro na cabeça? Me jogar de um prédio... Eu podia enfiar uma faca em meu peito, eu podia cortar meus dois pulsos...

- Eu posso ter uma overdose. Crack. Heroína, LSD.

- Você precisa repousar. – Citou o médico, pedindo ajuda de uma enfermeira para me colocar sobre a maca.

- LSD. Crack, ectsay. Maconha. Nicotina.

- Por favor, ela está instável, precisamos ficar aqui até ela se estabilizar.

- Nicotina... Eu quero muito um cigarro.

- Acho que precisamos de ajuda... Você sabe de quem, Dr.

- Não... Ela tem só 17 anos...

- Meus cigarros. Marlboro. Eu quero. Eu preciso. Eu só quero paz, eu quero morrer, eu preciso morrer, está escrito do meu destino. Eu preciso morrer.

Minha visão foi se embargando, até eu apagar totalmente. Tendo a última visão, de minha família do lado exterior da sala, me observando pela janela. Me vendo desmoronar e meu olhar, que clamava por socorro.