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História Sobre Amores e Recordações - Confiança Destrutiva


Escrita por: Sonumber

Notas do Autor


Mas, Nana, o que você está fazendo aqui?
Tô postando ué :v
Gente, sabe aquela promessa de político que fiz lá no começo do ano? A de que, se eu conseguisse terminar de escrever essa fic, eu iria começar a postar ela mais rápido? Consegui isso nos 45min do segundo tempo, porque só falta um capítulo para terminar definitivamente. Sim, esse é o penúltimo.
Bem, depois de ler e reler todos os comentários do capítulo anterior (e muito obrigada a todos que comentaram <3) eu reli esse cap e percebi que havia umas coisas a mudar porque havia uma coisa que vocês esperavam e eu também e antes eu não havia conseguido botar em palavras. Depois de todo o apoio e tudo o que disseram, eu consegui por e este é o resultado.
Dou mais detalhes nas notas finais. Vou deixar vocês lerem agora.
Boa leitura!

Capítulo 28 - Confiança Destrutiva


Jongin pensou que eu tinha dormido em seus braços, mas na verdade eu desmaiara em choque. Eu havia apagado por causa de Jongin. Ele chegara com uma bomba, eu não suportara, apagara minhas memórias e me dera a chance de fugir sem me machucar.

Por que eu não fugira? Porque eu não aproveitara minha chance e voltara para casa? Talvez eu nunca mais tivesse que sentir aquela dor horrível em meu peito. Talvez nunca mais tivesse que estar frente àquela situação de escolher abandonar minha família ou engolir a consequência do que acontecera dois anos atrás.

— Por que não me contou isso antes? — Eu perguntei. Minha voz estava tão trêmula que eu temia que ele não entendesse o que estava tentando dizer. Procurei um lugar para me sentar, pois sentia que cairia a qualquer momento, mas o pufe que geralmente ficava ali havia sumido. Myungsoo nos olhava com a mão na boca, meio assustado com aquela conversa pesada demais para ele. Mas onde eu o deixaria? Não havia como simplesmente tirá-lo dali.

— E-eu ia contar… — Ele gaguejou outra vez, sem conseguir olhar para meu rosto. —Você disse que não queria mais falar sobre isso. Eu tentei conversar com você de novo, mas quanto mais tempo passava, mais medo eu tinha de tocar no assunto e te deixar mal. Você me mandava parar toda vez! — Ele explicou e eu me senti um enorme babaca. Porque era a mais pura verdade.

Todas aquelas vezes que ele se preocupara com aquela merda de assunto proibido eu nunca quisera ouvir, dizia que queria esquecer o assunto. Eu tinha medo de dar a entender que havia esquecido tudo e... céus... eu devia ter insistido para saber. Se eu soubesse antes, poderia ter ido embora. Poderia ter antecipado aquela briga. Poderia ter sumido e nada disso estaria acontecendo.

Eu não amaria Jongin ou Myungsoo, então não seria doloroso ir embora.

— Por que deixou que eu me apegasse…? — Eu me peguei quase brigando com Jongin, para então notar que estava dizendo demais. Mas chegara a hora, não era? Ele teria que saber que eu esquecera de tudo.

— O que disse? — Ele pareceu confuso, mas depois fez um gesto irritado, desistindo de tentar me entender. Jongin não queria brigar por aquilo, porque não tinha outro jeito. O filho era dele, mesmo que, infelizmente, ainda não sentisse nada por ele além de angústia e arrependimento. — Não há nada a ser feito, tudo bem? Nós vamos ter que aceitar e é isso. — Ele me deu as costas, prestes a sair pela porta.

— Volte aqui! Nós não terminamos essa conversa! — Eu gritei, sentindo a garganta fechada. Meus olhos já enchiam de lágrimas, me fazendo me sentir estúpido. Eu nem mais sabia o que estava doendo, se era eu ter aberto o espaço para aquilo acontecer, se era aquele desastre que minha vida estava se tornando ou se era notar que eu estava prestes a sair daquela casa e abandonar Myungsoo e Jongin. Eu tinha uma esperança enorme de que ele arranjasse um jeito de consertar tudo aquilo, ou nós iríamos abaixo.

— O que você quer, então? — Ele se virou, irritado comigo. Seu rosto estava tomado por uma expressão entre a agonia e o arrependimento. Ele estava sendo injusto. O que esperava de mim? Que eu reagisse bem? Eu não era tão bonzinho, por mais que quisesse. A verdade era que eu estava tão magoado que preferiria não ter nem que ver aquela criança.

Queria que ele levasse embora. Em todo o meu egoísmo, queria que aquele assunto sumisse outra vez, tal como minha mente havia insistido em apagar. Eu me sentia melhor quando ele não estava ali.

— Eu quero saber o que está acontecendo aqui! O que diabos você vai fazer? — Eu esbravejei de volta, e ele fechou a cara, voltando para dentro do quarto. Eu não consegui nem ao menos recuar enquanto ele se aproximava, por causa das minhas pernas trêmulas, mas não era até mim que ele ia, mas até Myungsoo, que começara a chorar por causa da briga.

A culpa me tornou ainda mais trêmulo. Vê-lo chorar assustado me feriu muito, mas eu não conseguia me acalmar. Não sabia o que fazer. Jongin o pegou no colo, ninando-o para que se acalmasse. Quando voltou a falar comigo, seu tom era baixo.

— Está acontecendo que eu tive outro filho, e que agora ele terá que morar conosco. Ele não tem escolha, nem eu, nem Soojung... — Ele disse, num tom de ponto final. — ... e nem você.

— Conosco? Na casa que nós construímos para a nossa família? — Eu retruquei, odiando-o de forma intensa. Sabia que estava parecendo o cara mal da história, mas eu não conseguiria simplesmente aceitar que ele trouxesse um estranho para dentro da minha casa e me forçasse a suportar isso.

— É meu filho também, Kyungsoo! Você não está entendendo isso? Eu não posso ignorá-lo! — Ele se explicou, e estando certo ou não, eu continuei a retrucar, porque não queria que nada do que eu amava mudasse. Aquele garoto estava estragando tudo em minha vida, e eu já não sabia se o odiava mais do que odiava Jongin por ter deixado que aquilo acontecesse.

— Mande-o para um orfanato! Nossa vida estava ótima sem ele! — Eu gritei sem pensar, minha voz já esganiçada por causa do choro que me acometia. Jongin me olhava incrédulo e decepcionado, e eu não aguentei realmente sustentar aquele olhar. Nunca devia ter falado aquilo, mas estava feito, e eu não podia voltar atrás. — É claro que você tinha que estragar.

Aproveitei o fato de que ele não poderia me impedir e atravessei o corredor até o meu quarto. Bati a porta com força, ignorando suas chamadas. Arranquei a mala empoeirada de baixo da cama e abri o zíper com brutalidade, enfiando bolos aleatórios de roupas minhas ali. Jongin abrira a porta, marchando até onde eu estava e segurando meu pulso para que eu parasse e o olhasse um instante. Minhas lágrimas ainda rolavam incansáveis quando eu chacoalhei meu braço para que me soltasse.

— O que você está fazendo? Vai embora? — Ele perguntou, ainda incrédulo, e eu realmente não queria o responder. Ele estava magoado. O tempo inteiro, seu maior medo era aquilo acontecer. Eu o prometera que não iria, mas agora a situação era outra. — Por que é tão fácil para você desistir de nós?

— O que você quer que eu faça? — Eu perguntei, em tom baixo para que Myungsoo não ouvisse nada do outro quarto. Olhei em seus olhos pelo o que eu sentia ser a última vez. — Que eu aceite com um sorriso que você me traiu e que agora quer trazer esse filho para dentro da minha casa?

— Eu te traí? Então você me traiu com Yifan também? Porque se eu me lembro nós tínhamos nos separado. Você disse que queria um ano para você. — Ele silabou, nervoso por eu acusa-lo quando não tinha razão. E eu realmente não tinha, mas precisava odiá-lo por algo.

Ele ficou em silêncio, baixando o olhar e se afastando um passo. Eu não cedi. Fechei a mala, juntando com brutalidade suas alças antes de carregá-la até o andar debaixo. Não pensei muito antes de pegar as chaves do carro e destrancar a porta de saída.

— A culpa disso tudo estar acontecendo é sua. — Eu apontei, soando muito mais amargo do que em qualquer briga nossa em todos aqueles dez anos. Senti que fora um tempo perdido. Tudo o que eu passara, que eu vivera e que eu sentira, se resumia a perda de tempo. — Você me abandonou uma vez, e agora está me abandonando de novo.

— É você quem está saindo daqui! — Ele retrucou. Eu mal sabia como respirar. Havia uma dor crescente em meu peito que não me deixava nem ao menos entender exatamente o que eu sentia, ou o que eu pensava. Eu só queria sair dali e não ter que vivenciar aquilo. Estava fugindo outra vez.

— Eu e ele não cabemos no mesmo lugar. — Foi o que respondi, apertando a chave entre meus dedos. Eu via um ser diminuto no sofá. Era ele. Era a criança que eu estava rejeitando com todas as minhas forças. Não consegui enxergá-lo antes de ter os olhos banhados pelas lágrimas, então dei as costas.

— Kyungsoo, por favor... Pare com isso. — Ele pediu, num tom mais ameno, e eu já sentia a brisa noturna tocar meu rosto, vindo da porta de entrada. Apertei a maçaneta com força, repensando por um segundo. Não valia a pena estar ali mais. Minha cabeça doía tentando encontrar saídas para aquela tragédia toda, mas ficar ali não era bem uma opção. Eu não suportava mais ouvir a voz de Jongin, ou olhar para seu rosto. Ele havia destruído tudo o que havíamos tido em dez anos de relacionamento. — Você prometeu que ia ficar...

Bati a porta atrás de mim sem me despedir. Estava chorando de novo quando joguei de qualquer jeito a mala no carro e dei a partida. Ainda me lembrava de tudo o que precisava para dirigir, mas não estava realmente a fim de chegar vivo a qualquer lugar que fosse.

Na verdade, não sabia para onde estava indo. Dei voltas e voltas no centro, e me odiei quando tive que parar para abastecer. Me obriguei a pensar um pouco no que iria fazer a seguir. Não conseguia acreditar que havia fugido da minha própria casa. Estava sendo extremamente infantil e incompreensivo, mas não me sentia capaz de compreender nada. No fundo, sabia que tinha que olhar pelo lado de Jongin e todas essas coisas, mas como eu poderia olhar pelo lado dele se o meu ainda estava tão borrado?

Pensava em Myungsoo, e em como devia estar assustado, e quis tê-lo trazido comigo. Mas que direito eu tinha de fazer isso? Não era meu filho de verdade, não é? Ele era de Jongin, eu tinha certeza. E eu nem ao menos conseguira olhar para a criança que estava sentada, encolhida, no sofá da minha casa. O filho de Jongin…

Algo estranho parecia corroer meu sangue quando eu pensava nele, como um veneno me queimando por dentro. Eu o odiava. Por mais cruel que fosse, odiava que existisse, odiava que tivesse um dia nascido e odiava que estivesse estragando minha vida. Era a voz da mãe dele que eu ouvira pelo telefone, no shopping. Eu a havia visto uma vez, quando visitara a casa dos pais de Jongin. Ela e a mãe dele tinham um tipo de cumplicidade. É certo que a mãe de Jongin preferiria que ele ficasse com Soojung do que comigo, ela não gostava de mim. O garoto não podia ficar com a avó, então? Por que tinha que ser logo Jongin?

Suspirei quando decidi seguir pelo caminho que levava até a casa de Kris. Não conseguiria ir até minha casa, em outra cidade, pois nem ao menos conhecia o caminho. Parei para chorar outra vez quando batera a frente do carro em uma lixeira logo na frente da casa do meu chefe e amigo. Me sentia horrível. Sequer tinha forças para manobrar de volta e tentar desfazer aquela bagunça.

Assustei-me quando ouvi batidinhas na janela. Quando ergui a cabeça, Kris estava ali, com a cara amassada e vestindo pijamas. Ele me reconheceu ali dentro e então seu rosto se transformou para uma careta assustada e preocupada. Decidi sair do carro.

— O que aconteceu? — Ele questionou, completamente confuso, quando bati a porta em um estrondo, furioso demais para medir minha força. Seus olhos seguiam pela frente amassada do carro, examinando o estrago, e eu me deixei fungar algumas vezes também quando os segui. Sabia desde o começo que iria acontecer alguma tragédia caso entrasse naquele maldito carro. Eu dirigia pior que um bêbado.

— Posso passar alguns dias aqui? — Perguntei, mudando o assunto. Não me sentia muito disposto a contar tudo isso, na verdade, queria mais do que nunca esquecer que havia tido aquela briga. Ele assentiu de forma calma, pousando a mão em meu ombro em uma tentativa de me passar segurança. Quis ter um abraço, e pensei também em Baekhyun, mas, outra vez, não era boa ideia sair do centro. Contentei-me com o toque singelo e quente de sua mão.

Kris pediu as chaves e manobrou o carro por mim, o estacionando em sua garagem enquanto eu o esperava sentado nos degraus da escada da porta da frente. Eu pensava em como teria sido bom se eu tivesse me apaixonado por Kris. Na verdade, pensei em ter realmente traído Jongin por aqueles anos. Imaginei como seria me tornar frio com Jongin e deixa-lo sofrer enquanto o traía, e quis me dar um soco ao notar o que estava fazendo comigo mesmo. Eu não era assim, o que estava me tornando?

Observei-o enquanto trazia minha mala para dentro, recusando minha ajuda. Trancou a entrada e me levou silenciosamente até o escritório e quarto de hóspedes, ambos calados. Eu não queria realmente dar explicações e ele já havia entendido isso, então agradecia-o por ser compreensivo. O lugar era meio bagunçado e cheio de papéis e livros por todos os lados. Na verdade, a única coisa ali que o caracterizava como quarto era a cama no cantinho, que estava coberta por papéis assim como todos os outros móveis.

— Está meio bagunçado, mas está limpo. Eu durmo aqui de vez em quando. — Ele explicou, tirando as coisas que estavam sobre a cama. Por fim desistiu e enrolou-as todas no forro, jogando-as sobre a cadeira da escrivaninha. — Pode usar o banheiro se quiser, você sabe onde fica. — Eu assenti.

— Obrigado. Por tudo isso. — Eu agradeci, sem conseguir olhar em seu rosto também. A verdade era que eu estava envergonhado agora que percebia em que situação estava o metendo. Só não sabia o que faria se não confiasse em Kris tanto quanto confiava. Se ele não fosse um amigo, onde eu estaria agora?

— Não se preocupe com isso. Mas eu vou precisar que me explique algumas coisas de manhã… — Ele cobrou e sorrimos meio forçado, sem jeito. Assenti outra vez, sem saber onde estava minha voz. — Qualquer coisa estou no meu quarto.

Ele saiu bocejando e eu agradeci baixinho mais uma vez, realmente envergonhado por tê-lo acordado tão tarde. Peguei o relógio de pulso que estava sobre a escrivaninha, notando que era agora umas dez horas. Parecera bem mais enquanto eu dirigia pelas ruas quase vazias, e eu agradeci que não fosse madrugada ainda, ou me sentiria ainda pior.

Eu não havia trazido uma toalha e também não estava com ânimo para um banho, então me joguei na cama macia do quarto de hóspedes do jeito que estava aquele tempo todo. Não havia como ficar realmente confortável, de qualquer forma. Eu não conseguira dormir e a verdade era que tinha medo de acordar no dia seguinte e não me lembrar de mais nada outra vez.

Minha cabeça estava cheia e eu não conseguia pensar realmente em uma coisa só. As memórias e as mágoas passaram a se misturar, e os momentos bons passaram a ter um tom meio triste. Afinal, do que adiantava lembrar daqueles momentos bons se eles só me lembravam de como agora eu não seria mais feliz? Como eu seria feliz se, de uma forma ou de outra, estava perdendo minha família?

Pensei no que faria da minha vida. Pensei em voltar para casa no dia seguinte, me sentar e conversar com Jongin. Mas o que falaríamos um ao outro, então? Sobre o que discutiríamos? Não havia saída, realmente. A verdade era que eu nunca em minha vida conseguiria conviver com a realidade de que ele tinha um filho agora. Eu não queria trata-lo mal. Não queria trata-lo como Myungsoo também. Onde eu me encaixava nisso? Não encaixava, eu ficara sem lugar.

E no entanto, por mais que eu tentasse planejar minha vida sem Jongin, nada parecia certo. Nada parecia o suficiente. Eu não queria mudar.

Jongin nunca iria dar o próprio filho para a adoção, isso era certo. Nem ao menos eu concordava com isso, apesar de minha raiva ser tanta que realmente cogitara. Era errado, e era apenas uma criança. Eu tentava engolir o fato de que ele não tinha culpa de nada disso, mas então a culpa passava para Jongin e, céus! Eu não queria odiá-lo! Eu queria concordar totalmente com tudo o que ele estava fazendo, voltar para casa e terminar de viver minha vida de casado como sempre foi.

Pensei em Myungsoo. Ainda não havia chorado tão compulsivamente quanto chorei ao pensar nele. O que eu faria? Como pudera sair sem nem ao menos me despedir? Eu queria tanto ver meu bebê outra vez e segurá-lo em meu colo. Ele devia estar assustado com tudo aquilo. Devia estar se perguntando para onde eu fora. E como eu iria me reaproximar? Eu nem ao menos queria olhar no rosto de Jongin mais, como iria vê-lo dali para frente?

Era o fim, então? Eu pediria o divórcio, me separaria e ficaria longe daquilo que eu aprendera outra vez a amar? Ficaria sozinho para o resto da vida e nem ao menos veria meu filho direito? Ou ele não seria meu filho mais? Eu não era seu pai biológico...

Eu me sentia um peão naquele jogo todo. Quer dizer, quando eu me tornara a peça mais fácil de descartar? Eu estava simplesmente fora de cena, não havia como voltar, ou como mudar isso. Eu sentia um abismo entre mim e minha família. Eu era incapaz de ao menos tentar voltar para eles.

E se eles não quisessem? Talvez Jongin estivesse realmente melhor sem mim? Aqueles últimos anos fora difícil em nosso casamento… Nós havíamos brigado muito e mesmo tentando botar as coisas no lugar…

Eu não queria aceitar que tudo estava acabado. A dor que eu sentia no peito ao simplesmente imaginar me afastando era enorme, mas o que eu faria? O que eu podia fazer?

Não dormi naquela noite. Estava fatigado, mas minha mente não parara nem por um segundo. Eu vi o sol nascer através das cortinas transparentes, e parara de chorar de madrugada. Devia ter cochilado por uns minutos quando Kris entrara no quarto e me despertara.

Ele sentou-se em minha cama, olhando para mim. Eu devia estar horrível, então estava meio envergonhado, mas fingi que não, me sentando encostado à cabeceira. Ele já estava arrumado para sair e trabalhar e eu me perguntei se o faria também. Nem ao menos tinha forças para isso.

— Então, quer me contar o que houve? — Perguntou, parecendo envergonhado por estar se metendo em minha vida, mas a verdade é que eu me sentia sufocado com aquele assunto, e queria desabafar. Me sentiria bem pior se ele não tivesse vindo me ver.

— Jongin ficou com alguém uns anos atrás… Não, ele não me traiu, porque estávamos dando um tempo. Foi na mesma época que eu te beijei. — Eu reafirmei, antes que ele entendesse de um jeito errado. — Enfim, ele ficou com alguém e esse alguém engravidou. Ele não sabia de nada até agora, porque ela decidiu não contar e assumir tudo com um namorado, mas estava sendo julgada por se envolver com drogas e agora foi presa.

— E ele vai ficar com o garoto? — Deduziu, arregalando os olhos ao me ver assentir. —Isso é realmente complicado. O que vai fazer?

— Eu não sei. Não quero ir embora. — Admiti, limpando os olhos úmidos antes que qualquer lágrima caísse. Estava detestando parecer tão fraco.

— Ele sabe do esquecimento, então? — Perguntou Kris, retoricamente, e pareceu realmente surpreso quando neguei com um aceno de cabeça fraco. — Não? Mas, Kyungsoo… Você surta de um assunto que já tinham conversado e… Isso não…? Ele deve estar simplesmente muito confuso!

— Se ele tiver notado. — Eu disse, com rancor, mas de toda a situação no geral, não só de Jongin. Tinha uma certa raiva também por ele nunca ter realmente descoberto do meu esquecimento, apesar de ter sido eu a esconder. A verdade é que ele pensava que todas as vezes que eu agia tão estranho, era por causa daquele assunto.

— Você não pode deixar as coisas assim… Não faz sentido. — Ele aconselhou, parecendo tão confuso quanto eu naquela história toda. O que ele esperava, afinal? — Jongin não sabe o que estava acontecendo, isso fica injusto para o lado dele.

— Eu também não sabia esse tempo todo. Eu esqueci tudo por causa desse fato, Kris. Eu entrei em choque porque não acreditava que tudo que eu confiava ser sólido em minha vida simplesmente ruiu, de uma hora para outra. — Expliquei, mas ele negou.

— Você não soube porque não quis. — Ele acusou, me fazendo recuar. Me senti traído, mas não podia não admitir que era verdade, então fiquei em silêncio. — Você devia ter dito a ele desde o começo, e então ele te contaria sobre esse assunto.

Eu baixei a cabeça, sem saber o que dizer. Estava errado também, eu sabia disso. Sempre estivera completamente errado, desde o começo, e não havia uma forma de voltar atrás. Mas como eu poderia saber? E se não fosse isso? E se Jongin tivesse me feito algo ruim? Não havia como deduzir a menos que eu tivesse mexido em suas coisas e encontrado os documentos da criança e o processo de tomar a guarda. Mas eu nunca havia mexido ali.

Kris levantou-se, bagunçando meus cabelos antes de sair do quarto, murmurando alguma coisa sobre tomar uma providência, o que não dei muita atenção. Estava ainda perdido em pensamentos quando ouvi sua voz na sala. Eu me levantei sorrateiramente, me esgueirando até a porta e abrindo apenas uma fresta, para não fazer barulho.

— Seu carro está batido na minha garagem e seu marido está no meu quarto de hóspedes, se culpando e te odiando. Por favor, venha buscar ambos. — Ele disse, me fazendo arregalar os olhos, incrédulo. Não liguei mais em passar despercebido, chegando até a sala em um segundo e o encarando.

 Não acreditava que ele estava fazendo isso. Ele me viu, mas fingiu não me notar ali.

— Não seja tão babaca, por favor. Você sabia que ele perdeu a memória, um mês atrás? Ah... Você é realmente um exemplar magnífico de marido. — Ele caçoou, sério demais para o meu gosto, e eu me aproximei a passos duros, tentando arrancar o celular de suas mãos e enchendo-me de raiva quando ele simplesmente desviou, utilizando-se de sua altura avantajada. — É claro que faz sentido, é só você parar de olhar um pouco para o seu umbigo. Ele está fazendo acompanhamento com um médico sozinho, sabe? — Ele silenciou outra vez. Eu não conseguia imaginar como Jongin devia estar naquele momento. — Vocês conversam entre si sobre isso, eu já fiz meu trabalho. Sabe onde eu moro. Até mais!

Ele desligou, tirando o sorriso cínico do rosto, e então me ofereceu o celular, o qual eu já nem precisava mais. Cruzei os braços, indignado, olhando-o nos olhos. Não conseguia desfazer o vinco de irritação entre as minhas sobrancelhas. Como ele podia simplesmente achar que poderia se meter naquela situação daquele jeito?

— O que pensa que fez? Seu infantil! — Gritei, não acreditando que havia me traído daquela forma. Soquei seu braço, apesar de não ter muita força, e ele ergueu as sobrancelhas.

— Eu sou o infantil? — Retrucou, me desarmando a ponto de me fazer aquietar outra vez. — Fiz o que você não faria. Desculpe, Kyungsoo, mas vocês dois tem que se acertar, e isso não vai acontecer se ficar fugindo. Você tem vinte e oito anos, e ainda está agindo como um menino de dezoito. — Ele explicou-se, me deixando ali e pegando as chaves da casa num potinho sobre o aparador. — Além disso, você me recusou para ficar com Jongin. Você fere minha honra desistindo assim tão fácil.

Ele não disse mais nada, acenando uma despedida antes de sair, e eu realmente sentia vontade de estrangulá-lo. Nem ao menos sabia se Jongin realmente viria ou se estava com raiva demais para ligar para mim. Sentei-me no sofá, derrotado, e esperei qualquer coisa acontecer. Já nem sabia o que queria para mim ou para o futuro. Esperava que qualquer que fosse o plano de Kris, que desce certo.

 

***

 

Passaram-se três horas até que eu ouvisse a campainha tocar. Eu estava totalmente desarrumado, porque acabara dormindo no sofá pequeno depois da saída de Kris, depois de passar mais um bom tempo tentando pensar em qualquer saída. É claro, eu falhei. Minha mente não parecia querer absorver nada.

Tentei ajeitar meus fios e minhas roupas, me neguei a pensar em qualquer coisa antes abrir a porta de entrada e o portão da frente, ou acabaria me escondendo debaixo de uma das camas até que ele fosse embora. Estava com medo, meu estômago se revirava, e eu tivera que ignorar isso para poder encará-lo.

— Pegue suas coisas. — Eu ouvi a voz de Jongin antes mesmo de consegui discernir seu rosto por causa da claridade. Fiquei alguns segundos parado no lugar, tentando decidir o que fazer, apesar de parecer bem óbvio. E eu tinha escolha, por um acaso? Havia sido praticamente expulso por Kris, mesmo que não de forma rude. Ele também estava sem jeito, sem saber como lidar comigo.

— Eu não quero ir para casa agora, Jongin. Eu realmente não quero lidar com isso, eu preciso pensar um pouco. — Tive que abrir a boca e falar. Não conseguia me ver indo embora sem causar uma briga atrás da outra. Eu não queria isso para Myungsoo.

— Eu te levo para a casa da sua mãe, então. — Ele disse, me encorajando de novo a ir buscar a mala. Tive de engolir, porque não tinha mais cara para ficar ali na casa de Yifan.

Respirei fundo, entrando de volta como um cachorrinho e pegando minhas malas. Me recusei a olhar para Jongin enquanto trancava a porta e entregava-lhe a chave do carro. Ele choramingou alguma coisa ao ver seu carro batido, e eu entrei em silêncio no banco do carona. Juntava-se uma mistura de vergonha e raiva em meu interior, e o nervosismo por Jongin finalmente saber de toda a verdade. O que ele faria comigo agora?

Ele entrou no banco do motorista a manobrou para fora, fechando o portão antes de avançar para o centro outra vez. Havia deixado uma sacola em meu colo, e apontou para ela quando paramos no sinal vermelho. Estava quente, e continha alguns pães doces de padaria em um recipiente de isopor. Eu tornei a olhar para Jongin, me perguntando se ele queria que eu comesse aquilo.

                — Eu sei que não comeu nada até agora. Eu te conheço. Você não sabe se cuidar, Do Kyungsoo. — Ele disse, meio sério, e eu baixei os ombros antes de levar um dos pães à boca em silêncio. Odiei-o por cuidar de mim enquanto estávamos brigados. Ele sempre fazia isso, ainda mais quando eu não queria perdoá-lo. — Por que não me disse sobre aquilo? Você sabe o quão sério isso é? Eu me sinto... tão estúpido...

 — Sobre a amnésia... — Eu comecei, receoso, depois de algum tempo em silêncio. Minha voz estava horrível, então eu acabei não conseguindo falar direito. — E-eu não sabia como contar isso para você...

 — Eu perguntei, Kyungsoo! Eu sabia que estava acontecendo alguma coisa! Você disse que era estresse. — Ele brigou comigo, mas mais consigo mesmo por não ter insistido no assunto. Eu sabia que estava errado, então fiquei quieto. Não fazia sentido ficar bravo por ele não ter percebido algo errado. Ele percebeu, mas confiou em mim quando eu disse que não era nada. Tentou não me deixar pior. Eu não podia querer que não confiasse.

— Eu sei… — Eu respondi, apenas para não ficar em silêncio. Não estava gostando do clima tenso que se instalara no carro, mas não havia algo que pudesse ser feito.

                — Aconteceu naquele dia, não foi? Quando te contei sobre… — Ele deixou a frase morrer, e eu entendera o que quisera dizer. Pensei que talvez ele estivesse com medo de tocar naquele assunto e me fazer esquecer outra vez, e algo em mim se revirou com o mesmo temor.

— Sim.... — Afirmei, constrangido. — Eu esqueci tudo desde que te conheci, então eu não sabia o que te dizer. Eu nem sabia quem era você! — Expliquei, vendo-o totalmente confuso sobre aquilo. — Desculpa não ter te contado, mas você ficava pedindo desculpas... Eu fiquei com medo de você.

— Eu me lembro de você estar totalmente estranho. Porra... — Seu rosto tinha uma expressão pesada de remorso. Imaginava que acabasse sendo assim. Sabia que, quando contasse, ele se sentiria muito mal por não ter descoberto. Isso só queria dizer que estávamos muito afastados e que não estávamos realmente bem. — Me desculpe por não insistir em saber o que era isso. — Ele pediu, me fazendo ficar sem jeito. Eu neguei. Também devia pedir desculpas a ele. — Eu não consigo acreditar que você simplesmente esqueceu e eu…

— Tudo bem... Fui eu quem não contei nada. Eu pensei que voltaria a lembrar logo, então eu que fiz de tudo para você não saber. Eu me lembro de grande parte agora. — Tirei sua culpa, apesar de querer fazer o contrário. Ainda estava com ódio de Jongin por certas coisas, então ficava com raiva de mim mesmo por não conseguir gritar e espernear como fizera no dia anterior.

— Você devia ter me contado, Kyung... Eu iria te ajudar...  — Ele disse, como se sentisse impotente frente aquilo tudo, mas também entendia que eu estivesse com medo dele naquele instante, e que estivesse magoado. Era provável que ligasse isso ao fato de eu não ter conseguido confiar nele.

Olhei para seu rosto. Ele parecia frustrado e chateado. Eu sabia que seria assim. Jongin queria ter podido me ajudar quando eu estava mal e eu o tirara da reta. Também não tive coragem de conta-lo depois que tudo estava melhor... Bem, era uma culpa compartilhada.

 — Onde está Myungsoo? — Questionei, baixo, fugindo do assunto.

                — Está na escola. — Jongin respondeu, me fazendo pensar onde então estaria a outra criança. Não quis perguntar. — O que vamos fazer agora? — Questionou, e eu neguei com a cabeça, como se dissesse que não sabia. Pensei por um momento, antes de falar.

— Me leve para a casa da minha mãe. Eu preciso pensar, Jongin. — Pedi, em tom ameno. Algo se revirou dentro de mim ao ver seu olhar decepcionado em minha direção. Paramos em outro sinal vermelho e eu amaldiçoei o trânsito por criar tantas chances de conversarmos de verdade. Eu não queria conversar.

— Kyungsoo...Você não vai voltar para casa? — Ele perguntou, e eu neguei, fungando e segurando-me para não deixar qualquer lágrima cair. Ele segurou meu rosto com carinho, me obrigando a olhá-lo nos olhos um pouco. — Escute... Eu amo você, e não quero terminar o que nós temos. Eu quero cuidar de você. Quero me redimir por todo esse tempo sem saber o que estava acontecendo com você. Por favor, eu... Você consegue entender que eu não tenho escolha? — Questionou, com seriedade, me fazendo parecer uma criança.

— Eu entendo, mas você não entende que eu também não consigo me encaixar? — Afastei suas mãos, desviando o olhar e me odiando mais uma vez por recusá-lo. Estava confuso. Eu queria odiá-lo e realmente abandonar tudo o que tinha, ao mesmo tempo queria voltar para a casa e encontrar tudo no lugar.

Mas nada estaria no lugar quando eu voltasse e nenhum e nós poderia fazer nada para mudar isso.

                Ele respirou fundo, derrotado, e pegou o caminho para a estrada. Eu engoli em seco, com medo da longa estrada que teríamos que enfrentar em meio a aquele clima tenso. Virei-me para a janela e decidi que ficaria assim pelo máximo de tempo que conseguisse. Não me importava que aquilo fosse pirraça ou qualquer coisa assim. Eu tinha direito de estar insatisfeito, e precisava pensar com calma no que estava acontecendo entre nós. E sinceramente, não me sentia nem um pouco preparado para pensar nisso ainda.


Notas Finais


;; Nada me doeu mais que escrever esse capítulo. Sério.
Bem, sobre o próximo capítulo, eu irei postar logo. Provavelmente daqui a três dias, na segunda ou na terça. Bem, depende de vocês e da resposta.
E eu tenho algo a perguntar: Sobre as memórias, vocês querem que eu faça um resumo, na ordem, de tudo o que eles viveram nesses dez anos e poste como um extra? Ou não, está bom apenas o final? É vocês quem sabem, então, por favor respondam a isso!
Eu espero que tenham gostado, de qualquer forma.
Acho que até mais!


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