Talvez a resposta esteja em como você fica bonito no inverno.
A neve cai e seus olhos também, demasiadamente tristonhos e pueris, pequenos, inchados e brilhantes. Você observa um pássaro branco voando sozinho no céu invernal, ele atravessa as nuvens e
Eu me apaixonei. Foi assim. Sem um nome ou certezas, eu apenas estava ali, sentimental, sozinho e derretido.
Uma réstia de luz atravessa a cortina e ela é azulada, então ela alcança o teu olho esquerdo e incomodado você a cobre com as mãos. Essa cena, antes programada na minha mente, mas até então, nunca vivenciada.
Imagino-te nas manhãs em que acorda mais cansado do que quando havia se deitado, às vezes a gente passa por essas situações, não? De olhos mais inchados, mais tristonhos, mais perdidos e bonitos. O seu feio me prende, doce e astutamente, em um olhar antigo que continua contemporâneo e ladrão de fôlegos e sentimentos derretidos que deixam meu estômago amargo.
E seu cabelo parece a juba de um leãozinho sapeca e dengoso, não sei se isso existe, mas tal comparação encaixa-se em você tão bem quanto eu não me encaixo. E eu respiro sôfrego e desconsolado, você tem toda uma lindeza incapaz de se encaixar apenas no âmbito físico, vai além e eu, bem, eu...
Mas você sumiu, sabe? Dos meus olhos, em algumas manhãs, não do meu coração.
Você passa por mim nas sextas-feiras, mesmo que nas segundas eu sinta mais tua falta. Não que você esteja muito presente, de fato, mas é como se estivesse, te conheço, afinal (às vezes tenho a impressão que você sabe meu nome e que ele está preso em algum canto do céu da sua boca).
Seu pomo de Adão sobe e desce quando você ri e você olha para tudo, tudo, com olhos fantasticamente ingênuos. Inclusive para mim e cá estou eu, tentando lembrar-me de te esquecer.
Esses dias eu brinquei comigo mesmo, eu nunca brinquei tão sério. Sobre uma calçada movimentada eu me indignei, é doloroso, sabe? Você é como aquela pintura bonita e expansiva pendurada na parede de algum museu. Posso te ver, mas te tocar está longe de cogitação.
E eu quis te esquecer, mesmo que meu riso solitário soasse mais como dor e hesitação, eu desejei te esquecer e acreditei conseguir.
E em uma (várias) noite(s) eu sonhei com você e foi tão bonito, na verdade foi com seu cheiro que eu sequer conheço. Como um anjo lindo você me abraçou, até que eu estivesse acordado e sua lembrança também me abraçasse, como um anjo lindo. Ou um gatinho manhoso e preguiçoso.
E você me fez esquecer de te esquecer, incapaz de perceber que seus passos pela avenida são silêncios convidativos à lembranças de um amor que compartilho comigo mesmo. Pois sempre que já não me lembro lembras para mim. Quieto e sereno e doce e bonito e único e dói um pouco.
Eu já parei e também já apressei meu passo, eu não saí de casa, mas fui regar uma planta na janela e te vi na calçada rindo do artigo de alguma revista. E eu vi o seu casaco na propaganda de uma loja, pela televisão, enquanto comia a mesma pipoca doce que você costuma comer. Eu murmurei adeus, adeus seu idiota. Mas você não deixou e passou por mim em uma quarta-feira no caminho para casa. E mais bonito do que seus olhos sobre mim são eles sob nuvens, eu sempre achei isso.
O que é que eu vou fazer para te esquecer?
Eu pensei em te pedir para prender com as mãos bonitas os fantasmas seus, que costumam atormentar-me sempre que acordo, abraçando-me, beijando-me, lembrando-me, como velhos conhecidos. Mas, mais leve que o ar, tão doce de olhar você me deixou claro, em uma calçada movimentada sendo a mais linda das vozes e mãos não conhecidas, que um adeus nunca seria capaz de te apagar.
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