História Sobre traições, idas ao mercado e cachorros - Único.

— Amor, 'tá faltando leite! — Jisung exclamou, já arrumando as mangas do moletom. — Vou buscar, ok? Volto logo. 

Hyunjin anuiu, lentamente, sem acreditar totalmente naquilo. 

Há uma semana, Jisung começou a sair de casa — sempre na hora do jantar —, afirmando estar indo ao mercado para comprar algo que faltava para a comida. Hyunjin, sendo o bobo que era pelo namorado, nunca desconfiou de tal fato, mesmo que venha suspeitando das atitudes do mais novo e as ligações suspeitas onde ele sempre sussurrava ao atendê-la próximo ao namorado. 

Havia algo de estranho naquilo tudo, e Hyunjin estava pronto para descobrir o que raios Jisung andava escondendo de si. 

Após receber a confirmação do mais velho, Jisung ajeitou os fios loiros e se aproximou do amado, passando os braços por seu pescoço e dando selinhos demorados nos lábios cheinhos. Mesmo estando com um pé atrás naquilo tudo, Hyunjin não demorou em segurar a cintura alheia e devolver os beijos, aproveitando o momento.

— Te amo. — Jisung disse, baixinho, com os lábios roçando nos alheios. — Prometo que não demoro. 

E assim, saiu dos braços do amado e pegou as chaves do carro — coisa que Hyunjin estranhou, afinal, o mercado era ali na esquina da rua e Jisung sempre ia a pé —, saindo pela porta de entrada logo em seguida.

Hyunjin não queria desconfiar do namorado, não queria aceitar aquilo. Portanto, seguiu em passos silenciosos até a porta, tirando o avental de cozinha que usava no processo. Parou rente à madeira e encostou a orelha ali, tentando ouvir algo do lado de fora.

— Minho hyung, já estou entrando no carro! — Jisung sussurrava, mas estava bem perto da porta, então Hyunjin não teve dificuldade em escutar bem o que dizia. — Me espera na frente da sua casa 'pra eu passar rapidinho só. Eu disse 'pro Hyun que ia buscar leite, então não posso demorar. 

E ali estava o que Hyunjin temia em escutar. 

Jisung realmente estava o traindo. Tanto que estava indo para a casa de seu melhor amigo para poder vê-lo um pouco antes de voltar para a casa que dividia com o namorado e aturá-lo novamente — era o que Hyunjin pensava.

Hyunjin nem se importou com o barulho do carro saindo da garagem. Seus olhos se encheram de lágrimas e seu corpo pesou, o fazendo cair ajoelhado no chão. 

Doía saber que a pessoa que mais amava no mundo o traía de forma tão descarada. Sete anos jogados fora, milhares de "eu te amo" sendo ditos de forma tão falsa, diversos momentos juntos sendo jogados fora por uma traição.

Hyunjin simplesmente não conseguia acreditar.

Olhava em volta, observando cada canto da sala e até da cozinha em conceito aberto. Um filme passava por sua cabeça, cada sorriso, beijo, abraço e mínimo toque. Era impossível acreditar que Jisung fazia aquilo consigo. 

Não soube quanto tempo ficou ali no chão, mas se limitou a se levantar e voltar para a cozinha, lavando o rosto na pia dali mesmo. Não estava com força o suficiente para andar até o banheiro, nem queria que sua mente o forçasse a ver outras lembranças naquele cômodo.

Apoiou-se na pia e quase puxou os cabelos de raiva. Sentiu-se um tolo por não conseguir odiar Jisung nem mesmo quando ele havia o traído, justo quando Hyunjin estava pronto para pedi-lo em casamento. Por que, não é mesmo?

Quando estava prestes a ir para o quarto de casal e arrumar uma mochila de roupas para ir dormir na casa de seu irmão mais novo, Hyunjin ouviu um barulho de algo esbarrando na porta de entrada. Foi até o centro da sala e se apoiou no sofá, apenas observando Jisung entrando cautelosamente pela porta de entrada.

Não havia nada nas suas mãos, nenhuma sacola indicando que ele havia ido ao mercado, confirmando as teorias de Hyunjin sobre a traição do Han.

— Hyunnie! — Jisung disse, animado, ao ver o namorado sentado no apoio do sofá. 

— Não vem com essa de 'Hyunnie' não, Han. — Hyunjin se levantou e cruzou os braços. Seus olhos marejados contrariavam a pose superior. — Como você pôde?

Jisung franziu as sobrancelhas, deixando uma mão para o lado de fora e a porta quase fechada, apenas impedindo Hyunjin de ver o lado de fora. Seu corpo estava do lado de dentro. 

— Isso o que, amor? — questionou, visivelmente confuso. 

Hyunjin riu em escárnio, não acreditando na cara de pau do atual namorado. 

— Você disse que ia comprar leite! — Hyunjin exclamou, apontando para o loiro.

— E eu fui. — Jisung deu de ombros, lambendo os lábios e deixando um sorriso adornar seus lábios finos. — Está no carro, eu só vim te dar um beijo antes de pegá-los. Eu estava com saudades.

— Fala sério, Han Jisung! — o Hwang definitivamente não conseguia acreditar naquela história fajuta. — Você saiu daqui não faz nem meia hora!

Jisung finalmente abriu o sorriso, apoiando-se na parede ao lado da porta, ainda deixando uma mão para o lado de fora.

— Eu senti sua falta, ué. — deu de ombros, se agachando. — Onde você achou que eu estava?

— Sinceramente? — Hyunjin tinha o queixo tremendo, indicando que estava prestes a chorar novamente. Não queria dizer aquilo em voz alta, mesmo que Jisung já soubesse quais eram as teorias do maior. — Você está me traindo, com o Minho ainda! Como eu só fui sacar agora, depois de uma semana onde você saía descaradamente daqui? Ainda mentia, dizendo que ia ao mercado!

Jisung jogou a cabeça para trás, apenas para rir. Seu corpo ainda estava apoiado na parede e vez ou outra mexia as mãos que estavam para fora. Hyunjin estranhou tal ato, mas sua tristeza estava maior que a curiosidade.

— Você, sinceramente, acha que estou te traindo? — Jisung questionou ao parar de rir. Por um segundo, houve um ar de decepção, mas soube que Hyunjin estava suspeitando há tempos, afinal, não dava tanta satisfação em tentar esconder sobre suas saídas. — Poxa, Hyunnie, pensei que eu já tivesse te dado a certeza de que te amo.

Mesmo dizendo de forma branda, as palavras acertaram Hyunjin em cheio. Seu coração se apertou, fazendo as lágrimas escorregarem de forma automática.

— Hyunnie, eu não vou ao mercado todo dia. 

Sabia! Hyunjin já sabia disso, estava certo desde o começo! 

— Todos os dias eu ia até a casa de Minho. 

Isso Hyunjin também tinha certeza, principalmente após as palavras que escutou de Jisung ao ouvi-lo em ligação com o Lee. Mas, se já sabia, por que ficou tão surpreso ao escutar da boca daquele que mais ama?

— Mas eu não te traía, amor. — disse, terminando tudo.

Hyunjin passou as mãos no rosto, enxugando as lágrimas. Não conseguia acreditar nas últimas palavras de Jisung. 

O mais novo suspirou, abrindo a porta e puxando algo para dentro. Tamanha foi a surpresa de Hyunjin que até o Han riu de sua cara.

Jisung, mesmo sentado no chão, segurava um filhote em seu colo, fazendo carinho em seu pelo. O Han segurava uma coleira, devia ser isso a causa de estar com a mão para fora de casa e o corpo para dentro, somado à porta meio fechada.

— Eu fui lá todos os dias para ver se nosso filho estava bem e se não estava apanhando das gatas do Minho... — riu, pegando o filhotinho em seu colo e se levantando, seguindo a passos lentos até seu amado. — Eu quis te fazer uma surpresa, já que hoje faz dez anos que nos conhecemos, sabia?

Não, Hyunjin não sabia. Seu coração se aqueceu ao saber que Jisung se recordava da data que se esbarraram pela primeira vez, ocasionando uma briga na época da faculdade. Foram dois anos numa rixa eterna, porém, entre tapas e socos, aconteceu um beijo, este que gerou um novo amor em ambos os corações. 

— Eu te amo, Hyunnie, eu nunca te trairia assim. — Jisung disse, por fim, aproximando-se mais um pouco de Hyunjin e encostando sua testa na alheia, encarando seus olhos, sabendo que transmitia amor nos seus.

— Desculpa, Sunggie. — Hyunjin queria voltar a chorar, apenas por, agora, saber que pensou que Jisung o traía. Olhou para o filhote e fez carinho em seu pelo, voltando a olhar para Jisung. — E eu te amo mais.

Jisung ficou na ponta dos pés para beijar os lábios que tanto amava; o sentimento da primeira vez passava por si, fazendo-o sorrir no meio do ósculo. Hyunjin, por sua vez, abraçou Jisung de lado, enquanto a outra mão ia até o cachorrinho e ajudava Jisung a segurá-lo com firmeza e cuidado.

Quando se separaram, Jisung mordeu a pontinha do nariz de Hyunjin e se afastou, sorrindo abertamente.  

— Por que não checa a coleira dele? 

Hyunjin ficou confuso de início, aproximando-se do filhote e olhando a coleira azul. Ficou extremamente surpreso ao ver uma frase completa escrita ali, nas letras de Jisung. 

— E aí? — o Han questionou, ansioso.

Hyunjin balançou a cabeça, o sorriso aumentava cada vez mais ao se recordar do pedido de namoro, o qual foi praticamente igual, só que em vez de um cachorro, era um prato de cheesecake com as palavras escritas em chocolate. 

— É claro que quero me casar com você! — exclamou, voltando a beijar os lábios do, agora, noivo. 

Agora sim poderiam criar uma família completa, afinal, já tinham o primeiro filho para cuidar. Quem sabe poderiam aprender com um cachorro a serem pais de verdade.