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História Sol da Meia Noite: O Despertar - taeten - johnil - O Beijo de Lótus


Escrita por: SafiraOpaca e SafiraZen

Notas do Autor


Oi pessoinhas ><
Esse cap meio que finaliza o núcleo dos feiticeiros, então peço que leiam com calma novamente por ter bastante informação ^^
Devemos ter só mais um ou dois caps antes do fim...

Boa leitura, perdoem os errinhos e até as NF!

Obs.: a flor de lótus é considerada sagrada em mts culturas asiáticas :3

Capítulo 15 - O Beijo de Lótus


A espuma do mar crepitava com borbulhas quando beijava a areia e os pés descalços que se aventuravam pela orla. O sol estava calmo e manso, sem incomodar os olhos ou desprender muitas gotas de suor dos corpos. Nas águas tranquilas e azuis, peônias e lírios interagiam com as ondas em um leve balançar, pintando de branco a última porção de água antes de chegar à areia. Tais como elas, feiticeiros e lobos trajavam roupagens brancas e solenes. A cor do luto.

 A brisa soprou morna e afastou os fios escuros e ondulados do rosto de Chittaphon, mostrando na têmpora uma marca esbranquiçada que agora lhe acompanharia por toda a vida, como uma benção, uma lembrança constante de ter se cedido à Mãe-Terra: como uma cicatriz curada, o desenho delicado de uma pequena lótus prateada quase tocava sua sobrancelha agora. Dependendo de como a luz do sol batia na marca esbranquiçada, algumas nuances de dourado pareciam aparecer brevemente, relembrando-os da origem celestial da nova tatuagem.

 Os lobos acompanhavam a cerimônia mais perto das árvores, em um respeitoso silêncio pelas tradições feiticeiras, e notaram que envolvia muito menos magia do que imaginavam. Os pés descalços afundavam na areia enquanto caminhavam como uma procissão albina e o único traço de magia que se observava era a jangada feita de madeira e palha flutuando entre eles, o plasma verde sustentava o estrado acima da areia e saía dos dedos de Taeyong, Chittaphon, Taejoon e Jaehyun. Os últimos a verem a figura viva e resfolegante de Kibum. Esse, agora em um descanso eterno do qual seus olhos não mais se abririam, repousava na jangada com as mesmas roupas brancas como todos os outros. Nas mãos cruzadas sobre o peito, um lírio branco. Na cabeça adornada por uma coroa de flores, peônias de mesma cor.

 O silêncio quebrado pelas ondas do mar era calmo, mas os rostos daqueles que levavam Kibum pela orla da praia eram impassíveis. Ninguém soube exatamente quem começou, a vila inteira viera prestar uma última homenagem ao melhor curandeiro que já existiu, mas baixo e doce como o chiar do vento na copa das árvores, a mesma melodia que um dia Kibum oferecera a Sunmi preencheu a passeata não mais silenciosa. Taeyong derramou lágrimas silenciosas, incapaz de entoar o cântico que guiaria Kibum ao próximo plano. Taejoon tinha o marejar dos olhos embaçando sua visão, mas acompanhava na voz grave as palavras que uma vez foram cantadas para seus amigos, para seus aliados na Aliança, mas que seu cárcere o impedira de acompanhar. Jaehyun seguia com o queixo erguido, mas o olhar perdido muito além da praia, os pensamentos na bravura de Kibum e cada palavra cantada dedicada a ele de todo coração.

 Chittaphon, primeiramente, não cantou.

 Havia algo dentro de seu coração que ligava uma lembrança extremamente triste àquela música tão bela e melancólica, mesmo que ele não soubesse dizer bem qual lembrança era essa. Não conseguia formar o rosto da mãe em sua mente, mas se lembrava de ter fugido para as árvores quando essa mesma canção foi dedicada a seu pai. Por mais bela que fosse, para ele sempre seria a música que levava, de uma vez, as pessoas que mais amava para longe de sua vida.

 Quando os pés tocaram a água, no entanto, sentiu que devia isso a Kibum. Devia prestar a última homenagem ao homem que fora seu pai, avô e amigo durante toda uma vida. E assim que as primeiras palavras escaparam de seus lábios, a primeira lágrima contornou seu rosto. Aprofundavam as passadas mar adentro e o luto encontrava o caminho Chittaphon afora. A magia cessou e os quatro homens carregaram a jangada com as próprias mãos até sentirem a água fria bater-lhes no peito. Fungando, Chittaphon observou a mesma face serena que lhe recebia em casa de braços e sorrisos abertos, a mesma mão que preparava os melhores chás e também lhe cedia os melhores carinhos. Em um conformismo ainda magoado, sorriu um sorriso triste e confirmando uma vez com a cabeça, permitiu que os outros três pares de mão o ajudassem a guiar o estrado para além das ondas, entregando ao mar o que tinha de mais precioso. O sal das lágrimas se perdeu no sal das águas abaixo e Chittaphon não negou a mão de Taeyong contornando seus ombros, tombando a cabeça no ombro dele enquanto observavam o corpo de Kibum se afastar na imensidão das águas.

 Enquanto voltavam, os feiticeiros tinham as mãos unidas frente ao corpo e cabeças baixas, prestando seus últimos pensamentos de agradecimento e desejos de bonança por trás dos olhos fechados. Os lobos, em uma tradição deles, tinham as mãos dadas em uma corrente que parecia infindável por trás dos feiticeiros e observá-los enquanto se desprendia do mar fez Chittaphon derramar um pouco mais das próprias lágrimas.

 Era lindo ver dois povos se unindo daquela forma, o respeito que consolidaram depois de enfrentarem uma batalha juntos. Agora, mais do que nunca, viam que eram irmãos. Em um último gesto de agradecimento que encerraria a cerimônia, Chittaphon colocou-se um passo na frente dos outros e com as mãos unidas na frente do corpo, inclinou o corpo em uma reverência de noventa graus. Sendo respondido mecânica e timidamente pelos feiticeiros, a praia começou a se esvaziar. E quando enfim se ergueu, pôde ver o caminhar de mãos unidas de Youngho e Taeil em sua direção. Sorriu pequeno quando percebeu o olhar preocupado do rei ômega por cima do sorriso acalentador que lhe oferecia.

 – Foi uma cerimônia linda, Chitta – disse, levando as duas mãos a acariciarem os braços escondidos pelo pano branco e molhado das roupas dele.

 – Obrigado. Espero que ele tenha gostado também – disse com um sorriso pequeno.

 – Tenho certeza de que gostou e chegará ao próximo plano com um daqueles sorrisos brilhantes para conquistar todos por lá também – a voz de Taejoon o fez rir fraco, mesmo que ainda sentisse os olhos inchados pelo choro recente.

 Taeil passou os polegares pelo rosado dos olhos e o puxou para um abraço como os que entregava a Jeno. Sem palavras, vagaram de um abraço a outro até que todos se sentissem confortados e foi só então que Chittaphon notou a movimentação à direita da praia, para onde os lobos seguiam e um navio despontava pelas águas.

 – Já estão de partida? – questionou surpreso e viu Youngho apoiar a mão no ombro de Taeil como Taeyong havia feito consigo ainda na água.

 – Ficaremos até o anoitecer, Yuta vai na frente – esclareceu – Nós sabemos que ainda há muito a ser feito, mas precisamos nos assegurar que tudo está bem por lá também antes de impulsioná-los às mudanças.

 Chittaphon pareceu tão confuso quanto os outros três feiticeiros que o cercavam. Taeil sorriu.

 – Conversei com Yuta, ele é príncipe regente de um dos maiores e mais poderosos reinos lupinos. Com o apoio dele, dificilmente alguém se oporia aos nossos projetos. E todos eles se estenderão aos feiticeiros a partir de agora.

 – O que? – foi Taeyong quem questionou quando Chittpahon perdeu as palavras.

 – A começar pela reestruturação da vila – Youngho continuou as palavras do marido – Yuta e nós cederemos nossos homens para auxiliá-los na construção das casas que foram destruídas durante a batalha e cedemos nossas terras à vocês até que tudo esteja melhor.

 – Sem os Anciões, vocês poderão usar as terras para o próprio cultivo, como sempre deveriam ter feito – Taeil abraçou a cintura do marido. Pareciam se aconchegar um ao outro sem perceberem, mas era visível o quão mais confortáveis ficavam assim – Não temos planos de assumir qualquer reinado nessa ilha, ela é do povo mágico e não há o que contestar. Mas desejamos oferecer uma verdadeira aliança agora. Uma via de mão dupla onde lobos poderão oferecer serviços para feiticeiros e o contrário também seja benéfico, onde nossas moedas valham em qualquer que sejam as terras e que seus esforços sejam valorizados em todo serviço prestado.

 Chittaphon arfou e deu um passo para trás quando ergueu a mão até a cabeça, tonto pela quantidade de informações recebidas. Havia em seu peito uma euforia provocada pela esperança reavivada pelas promessas que agora pareciam tão próximas de serem cumpridas: a Ilha da Montanha Furada seria verdadeiramente deles, sem intenções de guerra por parte dos lobos e sem feiticeiros tentando tomar o que não lhes pertencia. Viveriam naquela terra que era a própria fonte de magia, no ceio de Gaia, e teriam o apoio dos lobos para isso.

 – Isso parece tão inacreditável – foi a voz de Jaehyun a primeira que ouviram – Até algumas semanas atrás eu tinha certeza de que estaríamos todos aniquilados hoje, que os dragões destruiriam tudo. A possibilidade de vivermos em paz em nossa própria casa... – ele suspirou e foi um sorriso agradecido que ofereceu sob os olhos marejados – Obrigado por nos ajudarem a tornar isso possível.

 Taeil negou. A força dos lobos era sim impressionante, mas a garra de proteger a própria casa e a própria família era toda dos feiticeiros. A barreira que tão bravamente ergueram ao redor da ilha durante a luta não somente impediu os dragões de atacarem as embarcações como também impediram o ataque massivo às terras lupinas distantes, que eram o verdadeiro objetivo dos Anciões. Deviam tanto a eles quanto Jaehyun parecia achar que devia aos lobos e era essa a narrativa que Yuta e Taeil levariam de volta a seus povos para convencê-los: a de que por força dos feiticeiros continuavam todos vivos e bem.

 – Por que não conversamos melhor enquanto almoçamos? – Chittaphon sugeriu – Sei o quanto deve estar ansioso para ver Jeno de novo, então agradeço que tenha decidido passar um último dia ao nosso lado antes de partir.

 Os reis sorriram bonito e o acompanharam pela trilha já conhecida até à vila. A simples menção ao nome de Jeno fizera o peito de Taeil apertar em uma saudade e ânsia de tê-lo em seus braços mais uma vez, mas se permitiu empurrar tais sentimentos para o fundo do coração por um momento mais quando encontrou feiticeiros e lobos reunidos ao redor de uma gigantesca fogueira que ardia no centro do negrume da terra. Mal conseguiam prestar atenção nas paredes derrubadas ou os telhados chamuscados das casas, havia vida ali no meio.

 Crianças corriam e riam, adultos preparavam porções de comidas típicas dos feiticeiros com legumes e carne suína, como as reservadas apenas para grandes eventos. E a vitória sobre uma guerra que durava uma vida inteira merecia comemoração à altura.

 Foi observando-os que Chittaphon deixou-se inundar por uma verdadeira onda de esperança, de que finalmente a mudança poderia ser vista e vivida pelo seu povo. Que o desejo de Kibum se realizaria e eles perceberiam a singularidade de sua terra, o quanto suas existências estavam entrelaçadas a ela, o quanto a amavam e o quanto era recíproco.

 – Não foi algo pequeno que fizemos aqui – para a surpresa de Chittaphon, era a voz de Yuta se dirigindo a ele.

 O príncipe dos Reinos Distantes pouco havia lhe dirigido a palavra desde que acordara, apenas assegurando-se de seu bem-estar antes de voltar ao conforto dos próprios soldados. Mesmo assim, Chittaphon sorriu pequeno.

 – Eu sei – respondeu sincero. Yuta brincava com a aliança no dedo, voltando a atenção à circunferência no anelar antes de observar Chittaphon mais uma vez.

 – Acho que lobos e feiticeiros têm uma visão um pouco diferente do que aconteceu aqui – ele começou e conseguiu toda a atenção concentrada do feiticeiro – Metade desses homens veio apenas pela lealdade a mim e ao rei dos lobos. Mas todos eles, sem exceção, voltarão contando histórias sobre como os feiticeiros tornaram-se seus irmãos.

 As sobrancelhas arqueadas de Chittaphon voltaram-se mais uma vez às pessoas reunidas ao redor da fogueira. As vestes brancas pareciam ditar a paz que reinaria entre os povos, agora, aliançados por muito mais do que a política. Irmãos de batalha, que se sacrificaram um pelo outro quando a luta das raças tornou-se uma só. E aquelas pessoas bem ali, aqueles lobos que agradeciam pela comida aos feiticeiros, que deixavam as crianças montarem em suas costas ainda cansadas; aqueles eram os lobos que compartilhariam lutas e vitórias grandiosas ao lado dos feiticeiros com o restante de seus conterrâneos. Eles seriam os verdadeiros responsáveis por abrir uma fresta nas mentes que ainda se fortaleciam com receio da magia.

 Um rei sozinho não poderia impor a diferença para sua sociedade com preconceitos tão bem consolidados. Mas agora que a própria sociedade deixava ruir as sombras do passado que pairava sobre os povos... Chittaphon sorria genuinamente para Yuta, que pela primeira vez, abriu um sorriso igualmente verdadeiro para ele.

 – Eu sei que muitas vezes te deixei desconfortável com minhas atitudes e peço sinceras desculpas por isso – a mesura feita tinha algo de tão nobre que Chittaphon sentiu-se momentaneamente constrangido por recebe-la até Yuta estar com a coluna aprumada novamente – Espero que vocês possam ver minhas terras como um lugar de descanso sempre que quiserem ou precisarem se abrigar. Que nos vejam como amigos.

 A palma de dedos compridos se esticou em sua frente e quando Chittaphon a apertou contra a sua, os sorrisos simplórios pareceram iluminar o futuro que se abria frente a eles. Yuta ainda prometeu homens para ajuda-los a reerguer a vila quando assim decidisse seu novo líder, e foi essa última parte que deixou o feiticeiro pensativo mesmo depois de o príncipe partir para perto dos companheiros. Pulou levemente quando os lábios de Taeyong estalaram um beijo entre suas sobrancelhas, fazendo-o rir curto.

 – No que tanto pensa? – ele questionou, as mãos acariciavam seus braços e Chittaphon subiu as próprias pelos braços dele. Parecia automático que estivessem em um quase abraço sempre que estavam juntos.

 – O que faremos agora que não temos os Anciões mais? – sem meias palavras, compartilhou seus pensamentos – Sempre quis que nos livrássemos deles, mas e se agora não soubermos como gerenciar nosso povo? Nós precisamos de um líder, Taeyong.

 O mais alto acariciou-o as bochechas, querendo desfazer as marcas da preocupação no rosto dele com os próprios dedos. Sorrindo ladino, o puxou mais perto até colá-lo em seu peito em um abraço protetor, sentindo as mãos dele subindo por suas costas e um suspiro ser lançado contra seu pescoço.

 – Não acho que teremos que nos preocupar com isso.

 Chittaphon preparava-se para contestá-lo quando notou, no sorriso caloroso que estava muito mais nos olhos que nos lábios, Taeyong observando algo à suas costas. Girando nos braços dele, percebeu Taejoon, com a cicatriz de meia lua no rosto e um sorriso gentil, conversando com velhos conhecidos que, além de genuína felicidade, demonstravam grande respeito pela figura do homem. Chittaphon sentiu uma sensação nascer no estômago e se espalhar como um arrepio suave por seu corpo ao observá-lo dali. Sorriu, descansando a cabeça no peito de Taeyong. Talvez realmente não precisassem se preocupar com isso.

 O crepúsculo era opaco contra o céu noturno e Yuta há muito havia partido para seu reino quando chegou a vez da despedida dos reis dos lobos. Os soldados prestaram saudações aos feiticeiros que vieram se despedir deles na praia, alguns ganhando flores e frutas típicas da ilha, um gesto amigável de quem se unira para muito mais do que uma guerra.

– Espero que nos visitem logo. Jeno sente falta de vocês – o sorriso de Taeil contagiou os feiticeiros antes que ele arrumasse os fios que o vento noturno desarrumara na cabeça de Chittaphon – E eu também.

 Assentindo, se embalaram em um abraço caloroso enquanto Youngho fazia o mesmo com Taeyong.

– Sua bravura não deixa de me impressionar – a voz do rei alfa apartou o abraço e Taeyong o olhou com certa curiosidade. Daquele ângulo, com os olhos escuros e quase inocentes refletindo a luz lunar, Youngho o viu tal como veria uma criança. Tal como veria Jeno – Espero ver Jeno crescer para se tornar um homem como você.

 Ele viu o feiticeiro se constranger em uma risada contida e o puxou pelos ombros em um abraço ladino. Percebia agora o quanto quisera protege-lo enquanto ele buscava solitariamente formas de reaver o pai. Agora que Taejoon estava de volta, seu lugar seria primariamente como amigo na vida de Taeyong. E Youngho se alegrava em perceber que as coisas finalmente se encaminhavam para ser como sempre deveriam ter sido. Taejoon se aproximou quando os abraços findavam e com o mesmo sorriso calmo que lançava a tudo, estendeu uma simples e bem trabalhada caixa de madeira na direção dos reis.

 – Devo essa nova oportunidade de viver a vocês, reis dos lobos – ele começou, surpreendendo aos demais ouvintes – Por terem cuidado de meu Taeyong quando eu não pude, por terem auxiliado ele a me encontrar. Por terem lutado ao lado do meu povo. Esse... É um presente muito simples, mas espero que simbólico para nossas terras.

 Com uma mesura em um sorrir sutil, Taeil pegou a caixa mediana e quadrada que não tinha muitos centímetros de profundidade. Levou o polegar ao fecho metálico na madeira clara e arfou quando viu o bordado repousando sobre palha fofa. Era uma miniatura de bandeira, com um brasão bordado à mão que entrelaçava a lua pálida dos lobos à labareda esverdeada dos feiticeiros. Em faixas delicadas acima e abaixo, lia-se: sob a Lua e sobre a Terra, a Aliança resiste a qualquer ameaça.

 Como uma força que não saberiam explicar, depois de lerem as escritas no pano bordado, sentiram que os corpos se aproximavam mais naquele meio círculo de despedida. Era mais que isso, maior que isso, no fundo sabiam. Era o fortalecimento da tal aliança citada no bordado em âmbitos além da guerra, englobando a política de suas terras e as amizades que estabeleciam. Taeil assentiu e os olhos gentis de Taejoon pareceram sorrir ainda mais em sua direção.

 Prometiam manterem-se unidos, sob qualquer que fosse a circunstância.

 Quando o navio virou uma silhueta difusa contra o mar noturno, Taejoon se despediu do filho e do genro e caminhou pelas trilhas secas de volta ao coração da vila. Tendas simples tinham sido erguidas e os feiticeiros se arrumavam para dormirem sob as estrelas. Para alguns, aquela seria a última noite durante um tempo que dormiriam em suas próprias terras. No dia seguinte, dois navios cedidos por Yuta e Taeil levariam crianças e feiticeiros de saúde delicada para terras lupinas, enquanto todos aqueles em condições de ajudar a reerguer seu lar começariam as atividades. Taejoon recostou contra uma árvore ressequida às margens da vila. Ele observou as tendas e mantas estendidas a céu aberto, observou a força de um povo unido que dividiria o teto enfeitado de estrelas por aquela noite em um sono repleto de esperanças, pela primeira vez, para o dia seguinte.

 À direita, no sigilo pouco eficaz das poucas folhas de árvores baixas, ele pôde notar Doyoung. Os olhos felinos esbanjavam uma força e inteligência que se derretiam lentamente a cada vez que Jaehyun, ao seu lado, deixava nascer um sorriso. Taejoon também sorriu. Em sua mente, Dosoo apareceu, com o mesmo sorriso doce que o filho havia herdado. Sentiu alívio de poder ver as possibilidades por tantos anos negadas ao seu povo se abrindo bem diante de seus olhos, a tempo do filho de seu melhor amigo vive-las. Pela primeira vez, sentiu que os últimos dez anos haviam valido a pena.

 Na praia, sob um lençol simples estendido próximo a uma pedra escurecida onde as costas descansavam, Taeyong e Chittaphon observavam o reflexo trêmulo da lua na água. Parcialmente abraçado por Taeyong, Chittaphon descansava contra o peito esguio enquanto era envolvidos pelos braços carinhosos. Em sua mente, imagens difusas de um estranho sonho vinham como flashes de luz dourada que sua mente tentava tocar, em vão. Soltou o ar que prendia ao sentir os lábios de Taeyong em sua têmpora, relaxando os músculos que não percebera estarem tensos.

 – Está muito pensativo hoje – ele murmurou, os lábios ainda em contato com sua pele o fazendo sorrir minimamente. Haviam alguns lírios e peônias que o mar mandara de volta com suas ondas espalhadas pela areia. Chittaphon suspirou.

 – Eu sonhei com ela, com Gaia – disse por fim, sabendo que Taeyong prestava atenção sem ao menos precisar olhá-lo – Durante o tempo em que estive dormindo, ela esteve comigo.

 Depois de encontra-lo desacordado, Taeyong foi quem o carregara até uma tenda montada para atender os feridos. Velou o sono dele com preocupação, mesmo que curandeiros dissessem que ele estava apenas dormindo. Quando o dia começou a raiar, se ergueu e tomou a frente da organização da cerimônia fúnebre de Kibum: como Chittaphon, depositou sua fé em Gaia. Ela não levaria o amor de sua vida depois de tudo o que ele havia vivido por ela. Foi nisso que acreditou enquanto o sol iluminava seus passos ao redor da ilha, acompanhado de outros feiticeiros que apanhavam flores e limpavam as vestimentas brancas para a cerimônia solene, enquanto subia o monte de lava desacordada e descia com, a ajuda de seu pai, o corpo de Kibum - o único ao qual os dragões não fizeram mal algum. Quando voltou à tenda, foi para encontrar Chittaphon de olhos abertos e impecavelmente bem.

 Nenhum arranhão, nenhum rastro visível de que Gaia havia ocupado seu corpo até quase desintegrá-lo. À exceção do Beijo de Lótus, como apelidara a nova marca sutil perto da sobrancelha.

 – Para vocês foram só algumas horas, mas para mim... O tempo era tão engraçado – a voz contemplativa tirou Taeyong de seus devaneios – Mas eu sei que o tempo que passei com ela me curou muito mais do que o corpo. Quando acordei, era como se uma brisa morna tivesse sido soprada em meu coração. Eu não tinha preocupações nem dores e eu sei que conversamos enquanto eu estive desacordado, mas não me lembro de nada.

 Taeyong assentiu, deixando que ele se concentrasse no próprio silêncio antes de falar.

 – Às vezes era uma mensagem para o seu coração. Sua mente não precisa se lembrar – ele disse e Chittaphon acabou sorrindo, aconchegando-se ainda mais no abraço.

 – Eu lembro da bênção – ele disse, a simples menção fazendo seu corpo se energizar e remexer pela sensação da lembrança tomando suas células – Lembro do beijo que ela me deu antes de despertar.

 E levando os dedos até a lótus em sua têmpora, deixou claro sobre o que estava falando. Sentia que qualquer que fosse o obstáculo que se erguesse a sua frente, era apenas lembrar do momento em que aquela lótus fora deixada ali. O beijo que marcara Chittaphon como o escolhido da terra. Com sua fé inabalável, sentia que poderia qualquer coisa.

 – Você sempre foi especial, Chitta – Taeyong disse e se olharam banhados pela noite, sorrisos cúmplices antes dos narizes se acariciarem – E eu nem digo sobre ser o escolhido de Gaia ou carregar a marca do Beijo de Lótus.

 Chittaphon sorriu antes dos lábios se encontrarem na calmaria da paz que começava a despontar sobre aquelas terras. Era fácil e doce, como sempre seria entre Taeyong e Chittaphon.

 Entre todas as incertezas, tiveram um ao outro. E mesmo entre as certezas, continuavam ali. No amor que Chittaphon sabia que nunca deixaria de existir.

 

 

 

 

 

 

 

 Em um plano completamente diferente e ininteligível à mente humana, Gaia sorriu.


Notas Finais


É isso, galeris!
Mais tarde eu reviso melhor, mas espero que vcs tenham aproveitado tanto esse cap quanto eu achei lindo de escreve-lo :')

Obrigada por lerem até aqui e até o próximo ~
XOXO


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