História Solace - Part VII

Part VII

“Ok, isso foi estranho” Capitão pensou consigo mesmo. Estava claramente exposto em sua expressão facial que ele não sabia como responder à pergunta de Bucky, então tudo o que ele fez foi mudar rápido de assunto, como se nem tivesse entendido a pergunta e passou pelo amigo indo em passos largos em direção à sala. James apenas riu baixo e o seguiu, na verdade, já tinha em mente o que tinha acontecido dentro daquele banheiro, mas astuto como sempre foi, queria ouvir seu velho amigo confessando-se sobre seus pecados. Os dois dividiram o café da manhã que o moreno tinha preparado e seguiram em direção à torre dos Vingadores.

Quando chegaram no local marcado, uma reunião já acontecia. Era um tanto informal já que era possível notar as feições descontraídas e um ar risonho em toda sala, mas ainda assim, o assunto que se tratara ali era um tanto quanto sério. Por conta dos inimigos que andavam ameaçando o grupo de heróis e das preocupações que eles compartilhavam, Tony Stark, vulgo Homem de ferro, propôs algo que julgava ser aparentemente vantajoso para todos. Aparentemente.

-Capitão! Que bom que veio, estávamos o esperando, mas acabou que a escolha foi unânime. – O sorriso de Thor surgiu de orelha a orelha ao ver o outro ali.

-Mesmo? E sobre o que estavam tratando? – Por mania, suas sobrancelhas se arquearam sem ele perceber.

-Dei a ideia de ficarmos “acampados” aqui na torre por uns tempos. Muita coisa vem acontecendo conosco e nunca sabemos quando virá a próxima ameaça... – Tony respondeu e se pôs numa postura superior. – Além disso, Potts fez um favor imenso pra todos nós e providenciou que algumas salas de tralhas se tornassem quartos perfeitamente mobiliados... e essa parte eu mesmo quis opinar, então os quartos estão perfeitos!

-Mas... qual a necessidade disso por hora? – Os braços cruzados abaixo do peitoral demonstravam que aos olhos de Steven, aquilo não era tão boa ideia assim.

-Pra não sofrermos um ataque surpresa e se sofrermos não estarmos tão longe um do outro?! Dã! – Como se fosse mais do que óbvio, Stark zombou de Steven o respondendo de forma sarcástica.

-E decidiram que isso seria melhor sem meu voto? – Além dos braços cruzados e a sobrancelha arqueada, pra completar a expressão de indignação de Rogers, seus lábios se contraíram e ele franziu o cenho numa careta emburrada como uma criança mimada.

-Capitão, me diga um argumento contra, e deixamos essa ideia de lado. – Stark o olhou sério esperando por uma resposta que não viria.

-Uh-ow... –Bucky soltou baixo mantendo um olhar assustado sobre Steve, assim como seu companheiro, Thor.

Num ato impensado, o patriota se virou em direção ao elevador e sem esperar que alguém viesse atrás dele, apertou o botão de comando pra fechar as portas e descer para o térreo. Demorou um pouco, mas ele aproveitou esse curto tempo pra pensar e processar essa ideia –ao seu ver – ridícula que Anthony sugeriu. Não era por ter alguma aversão a algum Vingador, mas sim pelo fato de que ele e Thor já não tinham tanta liberdade pra ficarem juntos nem em seu apartamento, muito menos terão se passarem a morar junto com o resto do grupo debaixo do mesmo teto. Quando iriam ter um tempo pra si? Quando iriam se beijar? Se tocar? Conversar sobre eles? Aquilo o frustrou bastante e frustrou ainda mais saber que Thor concordou com aquilo sem hesitar.

Talvez o mais velho não tenha notado a “burrice” nas palavras de Anthony, afinal, assim como o próprio Capitão, o asgardiano não era o tipo de “pessoa” que capta rápido as referencias, mas isso não impediu Steve de ficar um tanto chateado com seu companheiro. Conferiu se as chaves do apartamento e a carteira estavam nos bolsos do casaco e vestiu o capuz para evitar de ser reconhecido nas calçadas de Nova Iorque. Andando sem um rumo certo por entre os quarteirões, Steve ainda não tinha engolido aquela maldita ideia. Pode ser que tenha exagerado na reação em frente aos outros e até consigo mesmo, mas na verdade, só não queria ter que ficar sem as afinidades e caricias de Thor.

Rogers parou em uma padaria que dava de frente para a estátua da Liberdade, ponto turístico da cidade, e enquanto a garçonete trazia seu café, plugou os fones no IPod e aproveitou pra ouvir umas musicas que tinham sido indicadas pra que ele ouvisse. Uma delas o chamou muita atenção. Era bem diferente das musicas de sua época, as batidas eram mais marcantes e presentes, os instrumentos pareciam ser eletrônicos, mas de certa forma, animou um pouco o humor carrancudo do Capitão América.

“Where there's a will, there's a way, kinda beautiful

And every night has it's day, so magical

And if there's love in this life, there's no obstacle

That can't be defeated

For every tyrant to tear upon the vulnerable

In every lost soul, the bones of the miracle

For every dreamer, a dream we're unstoppable

With something to believe in

We are one of a kind irreplaceable

How did I get so blind and so cynical

If there's love in this life we're unstoppable

No we can't be defeated

Monday left me broken

Tuesday I was through with hoping

Wednesday my empty arms were open

Thursday waiting for love, waiting for love

Thank the stars it's Friday

I'm burning like a fire gone wild on Saturday

Guess I won't be coming to church on Sunday

I'll be waiting for love, waiting for love

To come around” **

-Capitão. – A voz grossa o tirou de seus devaneios e o fez olhar o maior pelos ombros.

-Como me encontrou aqui?!

-Talvez eu já o conheça suficientemente bem pra saber que gosta de uma boa xícara de café quando está nervoso ou ansioso. – O sorriso bobo do deus do trovão fez o mais novo corar por vergonha. – Posso lhe fazer companhia?

-Você não tem que me pedir nada, Thor. – Um tanto sem graça pela forma que agiu, Steve desviou o olhar.

-Por que saíste daquela forma de nossa reunião? –O asgardiano se permitiu roubar dois goles rápidos do café de Rogers.

-Ahm... não achei boa ideia.. – As mãos passaram pelo cabelo em sincronia, jogando-o todo pra trás deixando um topete baixo nos fios loiros.

-E por que não?!

-Nós não teremos privacidade alguma, Thor. – Steve murmurou em um sussurro quase inaudível pra que ninguém mais escutasse. – Já mal temos em minha própria casa, imagine dividindo um local com o resto dos heróis.

-Tens toda a razão.. – Thor torceu os lábios e desviou o olhar de forma pensativa. – Mas nós vamos achar um jeito... E se assumirmos o que temos? Assim não precisamos esconder deles, pelo menos não na torre.

-O que eles vão pensar de nós Thor?

-Você realmente se importa? – A voz séria soou com clareza dessa vez, quase como se fosse atacar ali mesmo.

A resposta veio de forma gratificantemente negativa,  porém não parecia ser assim tão sincera. Ok, ninguém realmente gosta de uma zoação ou uma crítica, mas as vezes é preciso, principalmente quando o assunto é evolução pra si mesmo. Mesmo ali no meio de todo mundo, Thor guiou sua mão aos fios de Steven e os acariciou, bagunçando-os em seguida pra poder disfarçar.

-Ok, vamos voltar pra torre então? – Odinson o chamou sorridente.

-Uhum...

Dessa vez, o acenar positivo veio calmo e depois de pagar, eles deixaram o local andando como pessoas normais. No caminho se falaram pouco, apenas o necessário e depois de tanta coisa na cabeça, acabou esquecendo de contar pra Thor sobre a pergunta de James. A tarde passou rápida na torre dos vingadores, de uma forma descontraída, eles conversavam sobre assuntos sérios e também assuntos completamente aleatórios. Pepper serviu algumas bebidas para o grupo e providenciou que o pimball e os jogos de dança do Xbox de Tony fossem colocados ao alcance deles pra que se sentissem mais a vontade com a “nova casa”. Vez ou outra, Thor e Steven trocavam olhares e Bucky, o amigo que ainda estava se acostumando com a ideia de se tornar “um herói”, notava o que acontecia entre os loiros, fazendo-o rir de forma discreta.

Em um ponto do dia, todos estavam bem animados, Natasha deu um jeito de fazer Brucce dançar no Just Dance e pelo colega ser tão duro ao dançar, fez com que todos caíssem no riso, um ia desafiando o outro, até que Bucky sugeriu:

-Ei, loirinhas, só falta vocês dançarem para nós. – James se referiu a Thor e Steven e parecia já estar bem a vontade no meio dos outros.

-O que?! Bucky, eu não danço! – O rosto do capitão ficou rubro no mesmo momento e ele evitou olhar pros amigos.

-Mas vai dançar comigo, venha, filho de Roger... Não vais negar um desafio, vai? – Thor estendeu a mão em direção ao mais novo com um sorriso convidativo.

-Qual é, Capitão?! Vai deixar Shakespear na mão? – Tony soltou de forma irônica.

Depois de muita enrolação, Steve finalmente segurou a mão de Thor e se permitiu ser guiado até o centro da sala, de frente para o console. Numa decisão tomada pelos dois, a musica escolhida foi “Livin’ La vida loca” do Ricky Martin. Um pouco sugestivo, talvez, mas Odinson achou a batida interessante. A musica começou animada e já um tanto difícil. Eram dois homens grandes e sem molejo algum pra tentar dançar uma musica latina, ou seja, os quadris duros não os permitiram tirar a nota máxima nos movimentos. Pulavam e rebolavam sem jeito fazendo o resto do grupo rir. E enquanto Thor se divertia rindo junto, Rogers sentia seu rosto ferver por vergonha do que fazia. Vez ou outra, os passos tinham que ser em dupla, o asgardiano girou o mais baixo no ar algumas vezes e segurou-o em posições estranhas se não estivessem dançando. Os heróis aplaudiram a performance ridiculamente animada dos dois e ao fim da mesma, Thor roubou um selinho rápido de Capitão. Os aplausos cessaram na mesma hora e os sorrisos deram lugar a uma feição de espanto no rosto da maioria.

- Ok... Jarvis, pode me ajudar a compreender o que acabou de acontecer? – Tony brincou com a expressão ainda assustada.

-Eu acho que isso foi um beijo, senhor. – A voz robótica soou na sala.

- O que foi, guerreiros. Nunca viram um gesto de carinho? – O de cabelos longos soltou num tom brincalhão e sorridente.

- Thor! – Steve exclamou em um sussurro, virando o rosto na tentativa de esconder a vergonha.

-Não entre dois companheiros de batalha, Shakespear... Não sei no seu mundinho, mas aqui na terra, não temos o costume de beijar os amigos na boca. Não quando são só amigos. – Stark tentou explicar ao outro.

-E quem disse que somos apenas amigos, filho de Stark? – Um tanto sério por já esperar as piadas que viriam, Thor ergueu suas sobrancelhas e franziu o nariz.

-Vocês estão brincando conosco, certo? – Natasha soltou em baixo tom um tanto atônita com o que ouviu.

- Uh, por que diabos eu brincaria com algo do tipo? – Os braços do asgardiano passaram envolta do loiro mais baixo e o puxou para seu lado. – Eu e o Capitão começamos algo a um tempo, e como vamos morar todos juntos nesse palácio, decidimos contar logo.

-Fizeram o certo,,, - Brucce aludiu com um sorriso no rosto. – Parabens pelo relacionamento, então...

-Eu já sabia... – Bucky cantarolou balançando a cabeça para os lados. – Sabia até demais...

-Ok...Ok... já po-podemos mudar de a-assunto? - Ainda envergonhado, Rogers falou baixinho.

A noticia de fato tinha assustado um pouco os vingadores e aquilo provavelmente ficaria na cabeça deles por um tempo, mas viria a se tornar normal daqui a um tempo, afinal, que mal tem em amar alguém?! Sendo do mesmo sexo ou não, do mesmo reino ou não, o importante realmente é o que se sente. O amor pode ser visto de varias formas. Para o preguiçoso, amor é aquele que divide a cama consigo. Para o guloso, amor é aquele que divide a comida consigo. Para o sábio, amor é aquele que divide conhecimento consigo. E no caso desses heróis, amor é quem simplesmente demonstra o que sente pelo outro, amor é agir, amor é salvar, amor é ajudar como um ajudou o outro desde que se reencontraram.