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História Sold My Soul. - Frank (Parte II)


Escrita por: mryiero

Notas do Autor


Oizinho, pessoas lindinhas da minha vida! ♥

Quase demorei um pouquinho, mas já estou aqui de volta com capítulo novo, algumas relevações, algumas teorias que serão concretizadas E TRAILER DA FIC SIM. (o link vai ficar nas notas finais, aproveitem) Eu vou fazer vídeos de cada personagem, já estou com Gerard e Frank prontos, então se preparem pra muitos surtinhos por aí. E AVISO QUE ESSE CAPÍTULO DE HOJE É MEU MAIOR ORGULHO DE TODA VIDA, LEIAM COM CALMA, SEM JESUS NO CORAÇÃO MESMO E APROVEITEM, POIS AGORA AS COISAS VÃO FICAR PESADAS.

Sobre o capítulo de hoje: Eu sei que muita gente teorizou certo, outras pessoas nem tanto, mas o que importa é o que vai acontecer daqui pra frente. Eu disse, em alguns comentários, que eu iria começar a mostrar o que realmente está acontecendo com o Frank e isso aqui é tipo a ponta do iceberg, como dizem por aí. Tem muito mais coisa que eu preciso mostrar e eu vou fazê-lo com calma, afinal, a gente precisa saber como ele chegou a esse ponto, o que ele fez, quem é o que quer que seja que tá ali, enfim. Não vou dar spoilers antes de vocês começarem a ler!
Como vocês devem ter reparado, eu relaciono o "ele" de forma diferente algumas vezes aqui, propositalmente. Assim como uso o itálico pra destacá-lo, pois ás vezes fica repetitivo e é necessário, afinal, ainda não vamos dar nomes aos bois, pois está cedo demais.
Também gosto da forma como existe um paralelo (vocês vão entender quando lerem) quando um demônio se apodera de uma pessoa, eu sempre tive curiosidade e interesse em escrever algo dessa forma, não só uma possessão, não só demônios brincando de Deus na Terra, mas uma coisa mais profunda, então eu fiquei bastante orgulhosa desse "olhar", que eu acredito ser novo, nesse tipo de narrativa.
E sim, vocês sabem que vai mudar muita coisa na narrativa do Frank, muita coisa vai se esclarecer, muita coisa vai ser confrontada, enfim... Muita coisa. Muita coisa mesmo. E, como eu andei lembrando em uns capítulos anteriores, é bom teorizar, mas nem sempre acreditem 100% em uma coisa que eu posso expor, ela pode ter várias ramificações, várias interpretações e ser muito mais profunda. Ou não, ou eu posso tá zoando com a cara de todo mundo. HUAHUAUHHAU


Enfim, acho que é o bastante por hoje, espero que gostem do trailer (ELE INFELIZMENTE SÓ RODA NO PC, porque tem direitos autorais da música, estou bem triste) e desse capítulo lindinho. Obrigada às manas que comentam por aqui, cs são lindinhas demais, levarei no coraçãozinho sim.

Boa leitura, demoninhos. ♥

Capítulo 6 - Frank (Parte II)


Fanfic / Fanfiction Sold My Soul. - Frank (Parte II)

Capítulo Cinco – Frank (Parte II)

 

“Inside us there is something that has no name, that something is what we are.”

– José Saramago.

 

- Ele não sabe, não é? Não faz a menor ideia do que está acontecendo com você e é por isso que o odeia tanto… Ele não vê o que você é, mas sente... E você tenta esconder de todas as formas. Será que consegue fazê-lo por muito tempo? – Não era a primeira vez que um demônio me confrontava a respeito… Eu sabia o que ele queria dizer com aquilo, assim como todos os outros que cruzavam o meu caminho. Então, o respondi com a mesma expressão insolente que emoldurava para Gerard, ao que falava “Não sei o que está querendo dizer… Posso começar a mandar você pra puta qui pariu ou tem mais algum pedido sem sentido pela frente?”, tentando manter o mesmo Frank nem um pouco polido diante daquele Way. – Como é que faz? Ele parece inteiro, sem alucinações… São. O corpo está em ótimo estado. – E continuou a ignorar-me, quase entreabrindo a cela, já previamente destrancada por uma Alicia que não media consequência alguma. Michael poderia ter fugido, mas não o fez… E eu era o motivo. Aliás, ele. – Eu preciso saber… Samyaza precisa saber, me daria um prêmio e tanto.

 

 Samyaza.

 Estagnado, mantive uma das mãos prendendo a grade da cela, sentindo meu rosto em chamas… Aliás, não só ele, os olhos eram acompanhados por um Michael que os via queimar, abrindo-se em um sorriso radiante, algo que não era comum vindo de uma entidade daquelas. E não era apenas isso, não só comportar-se com curiosidade e ignorar a destruição e o caos que sempre buscavam tratar… Era a menção daquele nome, como se fosse um teste que eu não consegui passar, querendo trazê-lo… Querendo despertá-lo. E eu sequer tentei impedir os efeitos em mim, sob aquela pressão que eu sentia, forçando passagem, criando caminhos obscuros que eu não era capaz de preencher com a minha essência.

 O nome talvez fosse um plano, a menção do anjo era muito mais do que inquietante e não havia sido feita por acaso. Um anjo… Um anjo caído, que, pela história que havia aprendido com meus pais, caiu ao forçar outros seres celestiais a fornicarem com humanos, quando então desceram para uma “visita”. O tipo de registro que os Iero deixavam bem seguro, lendas e histórias que não sabíamos de sua veracidade. Eu tinha minhas apostas, há anos, e nunca havia me aproximado de uma verdade absoluta… Até então. Aquele demônio era capaz de plantar dúvidas, provocar e minimizar qualquer humano com jogos bem calculados de palavras, assim como todas as outras entidades.

 Porém, a menção de um anjo… Aquilo era grande. Impassível de qualquer escárnio.

 

- Samyaza?! – Perguntei, pendendo a cabeça para baixo, encarando o chão feito de concreto, ao que o empurrava para dentro novamente… O abater, a dor que amassava meu peito, massacrando-me e quase causando meu fraquejar instantâneo. Um pouco mais firme, ergui meu olhar para Michael, vendo-o pender o rosto para o lado, afastando-se da grade, com um sorriso satisfeito… Ele deveria notar, sabia que eu estava a um fiapo de não mais responder por mim, fraco e ofegante, suando incessantemente em um ambiente frio. – Você só deve estar brincando. – Acompanhei Michael e toda sua escuridão encostarem-se contra a cela, do lado direito, divertindo-se às minhas custas e observando-me tentar obter algum controle.

 

- Eu quero falar com ele… Com a sua escuridão. – Michael falava e eu apenas escutava, a voz grave e ás vezes rouca demais atrapalhando meus pensamentos… Meus olhos fecharam-se, as mãos agarraram-se contra as grades de cela, enquanto eu tentava não cair naquele truque… Naquela voz melodiosa, incitando, chamando-o em uma provocação que o atiçava dentro de mim, e queimava. Queimava como nunca. – Se ele aparecer, eu conto tudo o que quiser… Podemos nos aliar, Samyaza tem um exército e você seria muito útil dentro dele. – De novo a menção do nome, atribulando e fervilhando o caos dentro de mim. Eu fazia força, como nunca havia feito antes… Os dedos quase machucados contra a superfície de metal na qual eu me apoiava, ao que escutava sussurros contra o meu ouvido, como se ele estivesse parado bem ao meu lado. Quando ele estava muito bem abrigado e escondido… Algumas vezes acendendo, outras vezes congelado e tão frio quanto eu me obstinava a ser. – Vamos fazer um trato… Não foi isso que fez com ele? Eu devolvo esse corpo fraco, se negociar comigo. – As palavras estavam sob medida certa, me fazendo apertar as pálpebras, a combustão tomando-me quase que por completo, enquanto eu me obrigava a ficar acordado, são. Grunhi um “Saia do corpo dele imediatamente ou eu vou ter que tomar medidas extremas.”, a voz quase não mais soando como a minha… Era animalesca, afiada, rasgando minha garganta, amargando-me como da primeira vez em que o havia sentido apoderar-se do meu corpo. – O que você fala para os seus amigos? Que sabe toda aquela merda sagrada, aquele enoquiano exemplar somente de estudos? Você não me engana… Eu já ouvi Samyaza falar como você, já ouvi matar dezenas como você. Revele-se de uma vez por todas!

 

 Eu não estava mais ali.

 Talvez nunca estivesse, talvez ele só me emprestasse o meu corpo quando estava entediado ou cansado de suas estripulias sanguinárias. Eu era uma sombra, um rascunho do que um dia já havia sido e do que havia amaldiçoado em uma noite fatídica de plena fraqueza. Frank não estava ali… Frank havia fugido, mas Frank estava ao lado, observando tudo, com amarras na boca, mãos atadas, o corpo sendo abrigado e dominado como um fantoche pequeno e simples de manusear.

 Lembrar-me do que eu havia feito comigo mesmo era a primeira dentre muitas lembranças que pairavam como flashes em minha memória… Misturando-se às dele, ao seu conhecimento e as vidas que viveu, que abandonou, que perdurou por pura diversão ou com seus intuitos luxuriosos. Era como um despencar e um ascender intelectual, tudo ao mesmo tempo… Ele dizia que eu era inabalável, que nunca havia visto alguém suportar tamanho peso com facilidade. Mas não era fácil, sua lábia enganava-me para acreditar que eu seria capaz de aguentar quantas vezes ele quisesse aparecer e dominar-me.

 Infernal e em chamas, o senti expandir-se, alastrando-se por cada parte minha, como um incêndio que doía, criava queimaduras em minha sanidade, a cada vez que o permitia queimar por mais tempo, mas que modestamente, eu conseguia controlar. Mas isso não queria dizer que a chama em si estava extinta… Ela havia sido dividida em vários pequenos fragmentos de uma força obscura, de um enegrecer que eu via diante dos meus olhos. E eu tinha certeza de que eles estavam negros, cintilantes como a lua enorme do céu, quando eles encontraram Michael acuado, surpreso, prendendo risadas, em um misto de sensações que só inflavam o manipulador da minha alma.

 Alma fraca, pequena, deixada para escanteio, uma vez que eu era forte o bastante para não deixá-la morrer, mas não o suficiente para mergulhá-la em pureza. Eu ainda estava ali, sentia minhas mãos, meus pés, respirava pausadamente, nunca tão seguro de mim e de minhas atitudes, mas era como um espectador secundário, aprisionado em um sonho vermelho e preto, que cheirava a enxofre e flores… Não flores comuns, rosas bonitas e que arrancavam sorrisos por aí. Coroas de flores, enormes, largadas em cima de caixões de pobres desafortunados… Flores e terra molhada. O cheiro da morte, mas uma morte sedutora, que o puxava para dentro, que havia me envolvido e vencido a minha falsa austeridade e vivacidade… Uma morte que sorria para mim, cúmplice e desprendida daquela realidade.

 Uma morte que brincava de Deus. Que queria ser Deus e usava o mundo como sua maquete, seu projeto… O palco do calvário humano.

 

- Você é uma criancinha mimada insuportável! Samyaza não cuidou de você como deveria?! Ele não é a sua maldita, babá?! Pelo inferno, seu verme birrento! – A voz que saía dentre meus lábios não me pertencia. Era aliciadora, com um “quê” sedutor, longe do meu sotaque limpo… Britânico, muito diferente de quando eu tentava imitar um dos Way. Ele falava fluentemente, com ímpeto e tão cheio de si, que eu me aquietava somente para escutá-lo. Não era à toa que eu estava na situação em que eu estava. Ele sabia como ter todos os holofotes para si. – O que você quer? Saia logo desse humano raquítico e me poupe de mais estresse. –Afastou-se da grade, alguns bons centímetros para que eu percebesse que a cela não havia sido aberta pelo impulso de suas mãos ou seu toque. E ele o fez porquê podia, simples assim. Não para se exibir ou mostrar sua superioridade, mas porquê queria. Assim como tudo aquilo que fazia, utilizando meu corpo como instrumento para tal. – Não tenho mais idade pra isso e estou aqui pela diversão, não pelo trabalho árduo de lidar com dezenas de vocês… Mas não… - Ele era teatral, não dramático, como algumas vezes eu era. Gesticulava abertamente com uma das mãos, ao que dava alguns passos em direção a um Michael que não mais sorria. Eu o via cercado por uma áurea diferente… Estar sob o domínio dele me fazia compreender tanta coisa, que a explosão de informação me deixava tonto, mas, assim que eu assimilava tudo, eu via o mundo sob o olhar dele. Sob o olhar da escuridão suprema. – Não! Eu tive que cair justamente no corpo de um exorcista! Eu deveria ter pedido um currículo antes de ter enfiado aquele contrato goela à baixo dele! – Ah, nisso eu tinha que concordar e, sequer poderia retrucar, ainda que ele me escutasse. Sorrindo para si, fazendo Michael arquear as sobrancelhas, ele respondeu à mim, as mãos apoiando-se na cintura e a voz soando menos hostil, como se falasse com um velho amigo. – Ora, não fique chateado… Você é o meu melhor contrato até agora.

 

- Quem você é? Você não é um dos nossos! – Michael teve sua atenção de imediato, o fazendo cruzar os braços e suspirar, exasperado. Em minha cabeça, mas sob suas memórias, percebi que, ao focar-se melhor em Michael, ele finalmente o viu… Não o magrelo esquisito e todo sujo, mas a verdadeira criatura que havia se apoderado dele. Aquela era uma das vantagens de deixá-lo assumir o controle: eu era capaz de enxergar o mundo como realmente era.

 

 Não como os humanos eram forçados a engolir e fingir que era conturbado, mas tolerável. Eu via além das camadas, dos “filtros” colocados para que cada cabecinha vazia ou muito próxima de tomar atitudes erradas vissem o mundo mascarado, um mundo onde anjos e demônios não existissem. Um mundo ao qual eu era apresentado pistas opostas quase diariamente, sob os olhos de alguém que o conhecia mais do que o próprio famigerado Deus ao qual a humanidade tanto era devota.

 Assim, com os olhos queimando e percebendo o local ao meu redor mais escuro, mais pútrido do que qualquer beco sujo no qual eu já havia me enfiado por ele, além de notar que Michael não era mais o rapaz alto e esguio que eu conhecia. Era como mudar de canal, sintonizar em um paralelo mais sujo e obscuro do que eu havia enfrentado para salvar Michael Way. Era como uma prisão dos infernos, que exalava culpa e um princípio de vingança quase intoxicante.

Ele agora era mais baixo, ainda mais pálido e seus olhos eram enormes, negros e destes escorria um líquido tão escuro quanto a opacidade de suas orbes. O corpo era ainda magro, vestindo as mesmas roupas do Way mais novo, mas desproporcional, com braços longos demais e pernas pequenas demais para um rapaz que deveria ter minha altura… A ausência de cabelos era um tanto quanto perturbadora, uma vez que, em sua cabeça, eu poderia ver alguns insetos longilíneos, quase como vermes, rodeando-o. Não era a toa que havia recebido aquele apelido tão delicado tão de imediato.

 Aquela era a primeira vez que eu via uma entidade de verdade. Passeios noturnos, enxergar o mundo com seus fantasmas e monstros era comum, mas não tão de perto… Não olhando fixamente para pálpebras quase inexistentes, uma boca com lábios finos, quase nulos, desconcentrando-me ao perceber que eu me via diante de algo que nenhum dos livros e rascunhos de meus pais nos haviam ensinado. Demônios, espíritos e qualquer mal que habitasse um ser humano, eram sempre representados por monstros exagerados, grotescos demais, fumaças sem formato corpóreo e dentre outras exemplificações que não se assemelhavam ao que eu via. Aquele ser era mais… Mais forte, mais intenso, mais despreocupado… Mais real.

 

- Sou alguém que está pagando todos os meus pecados, enquanto resolveu tirar algumas merecidas férias equivocadas. – Ele começou, cruzando os braços e encurralando o demônio em uma das quinas da cela, logo ao lado do banco de concreto sujo de sangue e dejetos (que eu sequer queria imaginar do que se tratavam), um sentimento de soberania imediatamente me tomando, sem qualquer aviso. O ser ali ficou, sendo quase indecifrável a sua expressão, ao que continuava a fala, alguns poucos metros de onde estava alojado. – Aqui é frio pra cacete, esses demônios são fantoches maltrapilhos de vermes inexperientes como você… E esse humano é pequeno demais pra mim. – Apontou para si, aliás, para mim, após abrir rapidamente os braços, com uma indignação de alguém que já estava habituado a encontrar um humano maior como abrigo. Ajeitou meus cabelos, como se fosse os dele, enquanto a voz do demônio, antes tão quieto, pareceu desafiadora como antes, ao exclamar um “Cale a boca e responda! Eu preciso saber! Eu preciso levar informações para ele!”, quando, na verdade, transbordava em desespero. Pude sentir a diversão no sorriso dele, seguido de uma gargalhada adorável. É sério, do tipo que é agradável de ouvir e quase contagiante, se eu não soubesse o tipo de pensamento impiedoso que deturpava aquela alma tão sombria. – Oh, você não sabe mesmo, não é? Achei que fosse falar alguma estupidez cabulosa, mas… A sua burrice insulta a minha existência, para falar a verdade.

 

 Passou a caminhar, de um lado para o outro, mas com o olhar fixo na criatura, cuidando de cada movimento, cada “respirar” ou grunhido impaciente que liberava, pronto para atacá-lo, caso necessário. E queria… Sua essência pedia sangue, implorava por ver aquele corpo morto, mas não podia. A minha índole ainda o confundia o bastante para mantê-lo domado.

 Ao menos naquele caso, onde, internamente, eu gritava para manter Michael inteiro… Eu me lembrava de Gerard, de seu pedido, da angústia em seu olhar e de tudo o que eu já havia sentido ao perder um ente querido. Eu não queria que tivesse o mesmo destino que eu, apesar de todas as diferenças… Eu não queria que se perdesse, como eu me perdi.

 

- Devo aniquilá-lo imediatamente. – Concluiu, em uma ameaça que me fez alertá-lo mentalmente, ameaçando-o inúmeras vezes, mesmo sabendo que eu não teria tamanho poder… E o divertindo-o, sentindo-o sorrir em meus lábios, suspirar e voltar a se aproximar daquele ser bizarro, agora apoiando uma das mãos sobre a parede, logo ao lado do seu fétido corpo. – Eu até pediria para que deixasse um recado para Samyaza, algo como… Ahn… Deixe me ver…- Ele era bom… Muito bom. Do tipo que cortejava as palavras, as dominava e as enfeitiçava para conseguir o que quisesse. Sempre conseguia, não havia sombra de dúvidas, eu poderia até abominá-lo e me cercar de trevas, para deixá-lo satisfeito, mas não era burro. Eu gostava de vê-lo em ação, seduzido por como ele me fazia crescer, descomedir-me e ganhar tudo o que eu quisesse. Embora “tudo o que eu quisesse”, era tudo o que ele queria. - “Querido, Samy… Pare de sair fodendo humanos por aí e criar nefilins desenfreadamente, isso é infindavelmente repugnante”. – Seu sotaque era diferente, não mais britânico, agora com vestígios de um alemão que quase me fez gargalhar por dentro, sabendo que era um deboche a Samyaza, a um ser celestial que nunca havia visto, mas que meu subconsciente parecia conhecer tão bem. – Mas… Acredito que existam outros métodos mais eficazes para lhe mandar para a danação eterna.

 

 Aproximou-se da criatura ainda mais, fazendo-me sentir o cheiro pútrido do seu corpo, ainda sem entender o que faria, mas permitindo que eu sentisse o medo daquele ser ao seu máximo. Não tremia, mas, vagarosamente, os vermes em sua cabeça recuavam, escondendo-se em um ponto atrás dele, o cheiro de podridão aumentando, deixando-me um tanto tonto. Mas não ele… Ele continuava firme, uma das mãos indo sobre o topo da cabeça da criatura, espalmando-a ali, enquanto eu agradecia mentalmente por todos aqueles vermes nojentos terem desaparecido.

 Eu era o mestre do exorcismo, mas ele… Ele era mestre em outra coisa e sequer precisava de um terço das palavras que eu soltava por aí, profanando a língua dos anjos diante de entidades tão sujas. Ele os enfrentava com a sujeira, com um poder que parecia não caber dentro de mim. Se eu já sentia meu corpo inteiro enfraquecer quando o permitia avançar e tomar as rédeas, eu era capaz de apagar, deixando-o quase apoderar-se por inteiro da minha alma infeliz, quando decidia mostrar suas habilidades.

 Pude sentir, em seguida, um formigar sob meus dedos, algo transpassando meu corpo, até o daquele ser, cercando-o por uma áurea negra que eu sabia que apenas eu e ele conseguíamos ver. A parte ruim dentro de mim se divertia em como o alvo parecia menos cheio de si e inquieto, perdendo toda a pose anterior, onde e achava superior e o todo poderoso, quando, nitidamente, estava muito longe disso. Tão longe, que eu sentia todo o pavor em seu olhar e em sua voz. Pois ele era teimoso ou talvez devesse demais para o tal Samyaza para desafiar alguém tão forte.

 Alguém tão inconsequente.

 

- O que você está fazendo? – A voz do outro era fraca, quase chiada, já sob o efeito de enfraquecimento. Ele tomava a escuridão para si, fazendo-a sua força, sem abalar-se nem por um segundo… Ele crescia dentro de mim, me deixando ainda mais minimizado, ainda que alerta. “Querido, que tal me contar algumas coisinhas? Se possível, resuma, eu não tenho muito tempo e não quero matá-lo antes de ao menos saber o que o fodedor Samyaza está fazendo aqui…”, ele usava o seu tom matriarcal. Era como me ouvir falar com uma criança travessa, tentando incitá-la a falar a verdade sobre alguma merda feita… Mas com olhares e toques que diziam o contrário. Que seriam capazes de matar aquela pobre e indefesa criança, não tão criança assim… Que seria capaz de desgraçar o mundo com uma simples birra. E ele gostava do mundo, das criações humanas, das perversões, do caos… Não queria que nada daquilo tivesse fim. Por isso me ajudava, indiretamente, sempre fingindo não estar de acordo com meus métodos, mas sempre cooperando. Como ali, fincando suas unhas no crânio da criatura, impedindo-a de se mover. – Eu não… Eu não devo. – “Oh, sim, você deve… Sabe, seria muito mais confortável pra você falar naturalmente, se abrir comigo… Vamos, docinho, não me desaponte.”, ele era mais delicado e sarcástico em sua voz, não mais tentando enganar com doçura ou benevolência. Nada disso existia dentro de si, só a intolerância, o sarcasmo e o revirar dos olhos, que subitamente pousaram na criatura diante de si, quando se atreveu a responder. – Ele… Samyaza está contatando todos os seus filhos na Terra, está tentando reuni-los para o seu plano maior.

 

- Oh, um plano maior, como eu não desconfiei antes? Vocês são todos previsíveis, inacreditável. – A última palavra havia saído em um ar britânico inconfundível, ecoando pelas paredes espessas daquela prisão, rebatendo-o no rosto acuado do ser, que, aos poucos, se ajoelhava, sem sequer reparar. Era o que todos faziam: se submetiam a ele sem qualquer temer das consequências. – Esses desgraçados se esquecem que eu sou o exemplo vivo… Aliás, morto, aliás… Vivo, morto… Que seja. – Ás vezes ele era engraçado também, falando consigo mesmo, me fazendo assisti-lo com uma devoção que não deveria existir, mas morava dentro de mim… E crescia, alastrava-se por meu corpo, cada vez mais habituado com seus trejeitos e sua violência tão repentina. – Vocês não aprendem mesmo.

 

- Como…? – A voz da criatura era fraca, um fiapo, e ele se aproveito disso. As mãos estavam o agarrando pela cabeça, mantendo-o ajoelhado, fraquejando e inteiramente trêmulo aos seus pés. Então, eu senti a força vir com tudo, relampejos de um vermelho sob meus olhos, o calor passando por todo meu corpo e se alojando em minhas mãos, nos dedos tatuados e trêmulos, que quase afastei com uma onda súbita contrária, gritando para que parasse… Temendo que machucasse Michael durante aquele processo. “Me fale sobre o plano… Frank Iero é mais endiabrado do que a maioria da população humana e, geralmente, ele não me deixa com muito tempo de consultoria, então... Mais rápido, por favor.”, a resposta não era só para ele, mas para mim… Como se voltasse a me empurrar para o lado, cheio de si, como um irmão mais velho perturbando o caçula. E eu o assisti, com um fervor que não cabia dentro de mim e que o fazia sorrir. Um sorriso que eu não sabia se era dele ou meu, tão confuso e tão satisfeito com a cena que eu via diante de mim. – Azazel. – O ser respondeu, sem qualquer demora. Eles nunca demoravam, quando o olhavam diretamente nos olhos e ele pendia a cabeça, aprofundando maior o contato, invadindo a alma do outro, dilacerando-a fiapo por fiapo, só para ter o que queria. – Eu não lembro mais nada… Eu juro, por favor, senhor… Eu juro. – Lágrimas negras e avermelhadas escorriam pelo rosto pálido da criatura, ao que ele o encarava mais intensamente. Ele não o tocava na cabeça por nada, ele estava o tirando de dentro de Michael… Ele estava o matando, serenamente.

 

- É o suficiente pra mim… - Ele proferiu, sorridente e com um peso em minhas costas, que, se ele não estivesse sobre o controle, eu não conseguiria suportar. Algo que inflava e fazia com que o outro o respondesse em meio a soluços, quebrado por completo, entendendo, enfim, quem ele realmente era e percebendo que não deveria ter o atiçado de forma alguma. “Não, eu vou… Eu vou direto pro inferno, eu… Por favor, senhor…”, e eu o deixei assumir tudo, satisfeito em vê-lo sofrer, em descer do seu pedestal, um padrão que ocorria com entidades que acreditavam poder tudo contra os humanos… Mas que pereciam diante de mim, que desciam para onde nunca deveriam ter saído. – Eu não dou a mínima, querido. Eu não dou a mínima… Essa será apenas uma viagem de ida... Não volte mais, seu vermezinho… - A força com que pressionava o crânio da criatura era refletida no craquelar de seus ossos, uma energia que eu era incapaz de obstruir… Internamente, eu gritava, pedindo para que não afetasse Michael, para que o poupasse, que o deixasse viver… Pensei em Gerard, em toda a sua dor, em todo o meu remoer, em tudo o que eu poderia fazer para evitar aquilo. E ele continuou a falar, me ignorando por completo, a voz ríspida e carregada de um remorso e raiva que eram destinados diretamente para o dono daquele recado. – Considere isso um recado à Samyaza, para que aprenda a não mais atravancar o meu caminho. E ah… - Uma pausa, ao que se abaixava e tocava a testa da criatura com o indicador e o mediano, coisa que havia aprendido com ele, assim como tocar o ínfimo de uma entidade e libertá-la… Ou melhor, aprisioná-la em seu eterno calvário. Sussurrou, sorrindo, jovial e menos maquiavélico que antes, como se fosse uma piada de muito bom gosto. E era. – Vá se foder.

 

 O que ocorreu em seguida, eu não pude enxergar, mas senti. A criatura desfaleceu-se sobre meus dedos, em algo líquido e gosmento, de uma só vez, respingando em mim, no chão e, provavelmente, até nas paredes daquela cela, sob um grito agudo, como uma harpia queimando e definhando com intensa lentidão. Eu senti o fogo contra o meu rosto, não queimando, mas empurrando-me para trás, afastando meu corpo daquele mal, e o arremessando contra o chão, do lado oposto onde antes estava. Não doeu, só ainda queimava e me fazia gritar e perceber que, parte dos ruídos doloridos e chiados desesperados escapavam de mim, da minha alma que, pouco a pouco, era libertada por ele.

 Nunca por completo. Nunca por inteiro. Sempre envolvida à dele e a dele emendada à minha.

 

- Okay, garoto, pode voltar… Isso me esgotou emocionalmente e… - A sensação era de ser empurrado de um precipício, direto para um buraco escuro, aparentemente sem fim. Ao atravessar aquela fronteira, tudo ficava para trás, tudo ficava sob o meu domínio… Toques que eu podia sentir intimamente, não sob a máscara d e outra pessoa, a mão sobre meu rosto, verificando se eu não estava queimado… E ofegos, que eu liberava, percebendo que eu havia mergulhado diretamente em mim, retomando o ar, retomando tanta coisa, que a tontura quase me impediu de verificar uma coisa. – Michael?! – Gritei, arrastando-me pelo chão, quase engatinhando, com o corpo em brasas, metaforicamente falando, ao ver o corpo do Way mais novo ali, largado no chão, estirado em uma posição estranha… Como se tivesse sido arremessado como eu, os braços estirados, as pernas em ângulos esquisitos, me tirando o ar e deixando um gosto de desespero em minha boca. Eu não poderia ter matado Michael Way… Não, não mesmo. – Você… Ahn, está vivo, certo? – A pergunta era fraca, tanto quanto meus movimentos, assim que o toquei, ajoelhando-me diante de seu corpo, espalmando a mão sobre a camisa branca e ensanguentada, aliviado em ver que era Michael, com seu nariz estranho, cabelo desigual e olhos que abriram-se, gradativamente, encontrando os meus. Esverdeados, não mais negros e opacos, sonolentos e com algumas lágrimas pairando sobre tais, como se houvesse recém acordado de um pesadelo ruim. Quase sorrindo, o vi ajeitar-se, esticando-se e ossos estalando, juntamente com o farfalhar de suas roupas, em uma normalidade que me tranquilizou. Ele estava suando frio, trêmulo e completamente frágil, quase acuado, ao perceber quem havia o tirado daquela. – Se segure em mim, vou tirá-lo daqui.

 

 Ainda bem que é responsabilidade sua carregar um saco de ossos, Iero. Assim como descobrir o que o meu adorável irmão Azazel quer na Terra e o que ele pretende destruir dessa vez, você tem um trabalho fodido, garoto.

 Pela primeira vez, ele estava certo. Parcialmente certo. Não era só responsabilidade minha. Ao olhar para Michael, eu vi com clareza: eu precisava da ajuda dos Way. E, dessa vez, eu não iria negar.

 


Notas Finais


TRAILER LINDINHO, ASSOMBROSO E MARAVILHOSO DE SOLD MY SOUL, GENTE.

https://www.youtube.com/watch?v=6g_G7Ioj7uU

Playlist de Sold My Soul : https://open.spotify.com/user/12146824956/playlist/0JEieaGAAfRir5sQawkngv


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