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História Soledad - São só garotos


Escrita por: Yarv

Notas do Autor


Véspera de dia dos namorados, e o amor está no ar... O Cinco já tratou de colocar uma máscara, como vocês vão reparar bem nesse capítulo XD

Obrigada a todo apoio de vocês até aqui! ♡ Espero que tenham uma deliciosa leitura!

BJão! ♡

Capítulo 6 - São só garotos


Agosto de 1998

Soube assim que o vira naquele fatídico dia, em pé na calçada, o guarda chuva colorido em riste e os cachos caídos sob os olhos tão sorridentes quanto os lábios: seria sua companhia de todos os dias. Seria seu melhor amigo. Klaus era feliz apesar da chuva; apesar de tudo.

Os dias passaram corriqueiros e ligeiros, um após o outro, no ir e vir da escola. Era incrível como nunca lhes faltava assunto e, ainda assim, sobrava tempo para um breve aceno a porta da sala de aula. Quando não bastava (e nunca bastava), o recreio lhes reservava conversas tolas e deliciosas, recheadas com chicletes explosivos e "garotos bonitinhos" que jogavam basquete.

Entre eles, estava Ninguém. Roma dava o seu melhor para fingir prestigiar as dúzias de garotos diários por quem Klaus se apaixonava, mas sua atenção, involuntariamente e desobediente, sempre se voltava para o dono dos olhos verdes e faiscantes no estopim das partidas.

Não entendia o rebuliço formado dentro de si ao vê-lo ou esbarrar com ele nos corredores. Mas havia um caos inegável, um magnetismo que a atraía para perto dele, sem que ao menos percebesse. Colocava toda a culpa nos hormônios e na dramaticidade da adolescência.

Por isso estava ali, na arquibancada da quadra, prestes a ver Ninguém fazer uma cesta de três pontos. Gostava (mais do que devia) das rugas formadas entre as sobrancelhas, estudando o adversário, o maxilar travado antes de correr e driblar seus oponentes.

A bola deslizou pela cesta, afundando, os gritos histéricos e femininos preenchendo o lugar junto com o apito do fim da partida. Ninguém se agarrou por tempo suficiente na cesta, abrindo um sorriso debochado, o suor brilhante escorrendo pelo corpo ainda em formação e grudando na camisa larga que lhe caía tão bem...

Sobressaltou-se com a mão de Klaus em sua testa.

— Santo Deus, como você está quente! — e antes que pudesse desviar, Klaus olhou na direção que observava segundos antes. Abriu um sorriso presunçoso, como se entendesse tudo. — Ah sim...

— Não é nada do que você está pensando!

— Relaxa — disse esticando as pernas e estourando a bola de chiclete nos lábios. — Você não é a única garota afim do meu irmão.

Roma não soube definir seu próprio corpo, principalmente o estômago. Mas uma sensação desagradável perpassou as entranhas.

E para sua sorte, só tendia a piorar.

Ninguém começou a subir as escadas divisíveis da arquibancada a passos largos, em direção aonde eles estavam. No compasso do desespero de Roma, uma garota loira do outro lado da quadra assobiou para Ninguém. Ele olhou para ela brevemente antes de fazer um sinal feio com os dedos.

Roma não estava preparada. Mas ele já estava bem na sua frente, bebendo...

— Ei! Essa é a minha garrafinha!

Ele baixou a garrafa alguns segundos depois, olhando-a com a costumeira indiferença.

— Sério?

Poderia levantar e pegar a garrafa das suas mãos ou pedir para Klaus fazê-lo. Mas tudo que conseguiu pensar era no fato de que era a primeira vez que se falavam, após o ocorrido no banheiro.

Aquilo ainda feria, machucava. Principalmente as lacunas e perguntas que deixara...

Um clarão loiro borrou sua visão, repentinamente, até postar-se ao lado de Ninguém e simplesmente beijá-lo. Pego de surpresa, o garoto acabou por deixar a garrafinha cair no chão com um barulho desagradável.

Roma paralisou, em choque. Queria que fosse pela garrafinha... Era a mesma garota que havia gritado do outro lado da arquibancada.

Era comum, nos seus jeans marinhos e tênis All Stars. A camisa vermelha, parte essencial do uniforme escolar, soava no corpo dela como algo belo, não obrigatório. Era linda de uma forma indiscutível.

Abriu um sorriso de dentes quase perfeitos.

— Desculpem, é que se eu não agarrar esse garoto assim ele foge de mim. Vive sumindo — ela beijou o queixo de Ninguém que sorriu brevemente, os dentes ocultos. — E aparece na minha janela quando não posso atender...

Klaus tentou dizer algo, mas falhou miseravelmente. Roma limitou-se a um sorriso fechado e educado, tentando conter a erupção dentro de si.

A garota virou-se para ela, subitamente interessada, como se a reconhecesse de algum lugar.

— Ei, eu conheço você! Roma França, não é? — antes que pudesse confirmar a garota já voltava a falar: — Eu sou Verônica Foster, muito prazer. Você não é aquela menina que escapou do incêndio no Circus França? Meu pai é repórter e na época cobriu o acidente. Pelo visto você não sofreu nenhuma sequela, né?

Roma gelou.

Até mesmo Ninguém e Klaus, que não se mostravam muito interessados no assunto, viraram-se instantaneamente para ela.

Escondeu as mãos nos bolsos do casaco, que instintivamente começaram a tremer.

— Eu... — Respirou fundo, com dificuldade e fechou os olhos, tentando afastar os fantasmas, os gritos, o fogo. — Eu não quero falar sobre isso. Desculpa.

Até mesmo as conversas ao redor pareceram silenciar. Ninguém continuou a observá-la até que Verônica soltasse uma risada nervosa.

— Claro, claro, eu que peço desculpas — ela pegou na mão de Ninguém que se virou quase que imediatamente. — Vamos?

— Avise a minha avó que vou chegar tarde. Não precisa me esperar pra jantar — anunciou Ninguém, olhando diretamente para Klaus antes de se afastar com as mãos dadas à Verônica.

Roma os observou. Sentia-se sucumbir num frio excruciante, de bater os dentes e congelar o coração. Tudo parecia sem cor e vida; quase estava pedindo a Klaus que a levasse nos braços para casa, para que pudesse chorar num peito quente e seguro.

O amigo a observou de soslaio antes de murmurar baixinho:

— Você quer falar sobre isso?

Quase acreditou que fosse sobre Ninguém e Verônica, mas não era. Ela sabia.

— Não estou pronta — se encolheu ainda mais, mesmo que isso não adiantasse ou significasse nada. — Acho que nunca vou estar...

Sentiu pena de Klaus. Por alguns minutos pareceu desorientado, como se não soubesse o que dizer ou fazer.

Então aproximou-se de Roma até que somente ela pudesse ouvi-lo. Sussurrou em seu ouvido:

— Marcos acabou de passar. Escutei ele dizendo que vai à loja de doces, Cocomel. Se importa de ir lá comigo, só para eu ter uma desculpa de falar com ele?

Roma olhou bem para ele. Klaus era como um fino raio de sol em meio à nuvens pavorosas.

— Coração de vó — murmurou de volta e riu das sobrancelhas curvadas em dúvida.

— Coração de vó? O que isso quer dizer?

— Que no seu coração sempre cabe mais um.

Klaus ia reclamar, mas ela já estava rindo. Não iria privá-la de modo algum de sentir-se melhor.

Pegou a garrafinha quebrada e os pedacinhos do coração, e desceram as escadas, discutindo sobre qual seria o garoto do dia seguinte, e com as juras falsas de amor de Klaus dizendo que aquele menino seria o último e verdadeiro.

Não poderiam escapar dos clichês da adolescência. Mas poderiam dribla-los.

Roma observou o amigo de guarda chuva colorido e cachos falando sem parar, e perguntou-se como conseguiu sobreviver sem sua amizade por tanto tempo.

Um grito ao longe lhes roubou a atenção: era Isac, franzino em seu costumeiro casaco negro, acenando com aquele sorriso maravilhoso que esbanjava simpatia. Era o que faltava.

Por alguma razão, Roma amava sua maneira de andar. Klaus o observou com um muxoxo se aproximar, antes de dizer:

— Ele é tão bonitinho... Pena que está afim de você e não de mim.

Roma lhe deu um soco carinhoso. Logo os três se uniram, caminhando falantes. A garota não disse, mas era grata por cada um daqueles minutos.

— Olha só para nós! — exclamou Klaus, dançando a frente dos dois. — Somos o trio da Grifinória!

— Eu sou da Corvinal — murmurou Isac, achando graça.

— Dane-se — Klaus fez bico. — Eu sou a Hermione. Preciso do Ron e do Harry!

— Mas para ser a Mione é necessário ser inteligente — disse Roma displicente.

Klaus sorriu até semicerrar os olhos e sussurrar para a garota:

— O que você quer dizer com isso?

— Só aceito se eu for o Harry — disse Roma rapidamente, mudando de assunto.

— Então eu fico com o Ron — Isac ponderou por um segundo. — Ou a Luna. Gosto dela.

— Logo quando eu ia comemorar por ter um par romântico! — protestou Klaus.

Os três soltaram gargalhadas tão gostosas quanto os doces da loja.

E Roma teve uma certeza: não podia se dar ao luxo de perdê-los.




— Onde está o Klaus?

Não queria soar como uma juíza ou ditadora. Mas temia ter se dado conta da urgência da situação tarde demais.

Se tratava de Klaus. Era parte de si. Não teria paz enquanto não soubesse.

Cinco a observou atentamente, até colocar os punhos algemados sobre a mesa bamba.

— Não vai me soltar hoje? Vou ficar chateado...

— Será que pelo menos uma vez na vida você pode ser sincero ou verdadeiro sem usar sarcasmo? — tentou esconder o tom de súplica na própria voz. — Ele era meu melhor amigo. Eu o amo.

Cinco estalou o pescoço. Um silêncio agourento pareceu recair sobre a sala quando seu maxilar enrijeceu, antes de dizer:

— Você quer mesmo saber?

Roma teve forças apenas para afirmar sem emitir um único som.

— Muito bem — ele se ajeitou na cadeira. — Passando pelos corredores você deve ter ouvido alguns burburinhos sobre eu ter matado alguém com uma caneta. É um dos meus assassinatos mais famosos. Klaus está morto. Eu o matei.

A forma simples como dissera, como se contasse uma história, ricocheteou como um tiro em Roma. De repente a sala pareceu escurecer e os mínimos sons se tornaram altos demais.

— O quê?

— Não me venha com incredulidade! — exaltou-se, socando a mesa e revelando-se subitamente alterado. Roma achegou-se para trás, trêmula, encarando seus olhos verdes e ferrenhos, sem qualquer sombra de dúvida ou remorso. Havia apenas resignação. — Eu matei o meu próprio irmão com uma caneta, senhorita França. Satisfeita?

A cabeça de Roma pareceu mover-se sozinha, em total estado de negação.

— Não... Você não pode...

Cinco riu abertamente pela primeira vez. Um sorriso frio como gelo.

— Você é uma mulherzinha muito triste, sabia? Se prende a misericórdia e esperança, duas coisas que não existem — chegou-se para frente no mesmo instante que uma única lágrima descia do rosto de Roma. — Continue acreditando que eu tenho salvação. E que Klaus está vivo. Vou adorar ouvir o fim dessa história...

Roma levantou-se com violência, derrubando a cadeira. Passou tão rápido pelo guarda que o mesmo quase não a viu, olhando a silhueta da garota afastar-se trêmula e veloz.

Cinco apoiou-se na cadeira, fechando os olhos e respirando fundo.

A quietude durou alguns minutos. Logo passos ecoaram pelo corredor, revelando-se saltos finos e rubros bem engraxados ao atravessar a porta.

Cinco subiu os olhos pelo sobretudo preto, até o sorriso escarlate da diretora Marília.

— Cinco! — saudou animada, como se estivessem prestes a tomar um café e falar sobre a família. — Que prazer em vê-lo...

— Queria poder dizer o mesmo.

A mulher riu, aproximando-se e levantando a cadeira momentos antes ocupada por Roma com unhas bem decoradas.

— Precisamos conversar.


Notas Finais


Muita verdade pra engolir, né? Corre lá, toma um copo d'água e volta aqui pra comentar! ^-^

Até quinta que vem mozamores, se Deus quiser! BJão! ♡

PS:. Esse aqui é o Isac! (O bichin é tão lindo que eu suei pra escolher apenas uma foto)

https://www.tumblr.com/tagged/marcel+ruiz+icons


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