História Somebody To You - Jantar de noivado.

O trajeto foi silencioso. Cameron conseguia até mesmo respirar em silêncio, mas eu sempre o pegava me olhando de lado. Tentava reprimir o riso, mas a maioria das vezes um risinho anasalado escapava. Abaixei o olhar para sua mão direita, notando que seu dedo indicador batucava sobre o câmbio. Por um breve momento, me permiti imaginar ela se afastando dali, correndo até minha perna e apertando minha coxa. Também imaginei o quão largo seria o meu sorriso se ele elogiasse minhas roupas, algo que obviamente não iria acontecer. Nada disso iria. Neguei com a cabeça rapidamente, atraindo um olhar interrogativo dele.

Entramos em um residencial fechado que acabou por me deixar abobalhada. As casas, o lugar… Mas nem se eu juntasse todo o dinheiro que ganharia na vida inteira, eu conseguiria comprar uma casa ali! As ruas estavam um tanto desertas por causa do horário, mas as luzes acesas das casas e o tanto de árvores que tinham ali deixavam o local mais bonito.

Paramos em uma segunda portaria, e enquanto Cameron conversava com o porteiro e os seguranças, notei que havíamos chego nos limites do condomínio, e provavelmente na maior casa dele. Tentei espreitar pelo vidro, mas a entrada ficava no fundo, então estávamos atrás da casa. Ele contornou o lugar, parando na escadaria da frente. Olhei abismada pela janela, mal acreditando no que eu via. O lugar era enorme! E quando eu digo enorme, não estou exagerando! Branca, de telhado cinzento, com piscinas, quadra de tênis e até mesmo um heliporto!

— Isso porque você ainda não viu por dentro. — Cameron deu uma piscadela, cumprimentando alguns convidados que estavam na varanda.

Abri alguns sorrisos para os aristocratas barrigudos que se empanturravam de champagne e seguimos para dentro. Abaixei o olhar para a minha roupa, puxando um pouco a saia e ajeitando o decote do vestido.

— Você está ótima, aliás. — Falou, me puxando na direção da casa.

Não pude deixar de abrir um sorriso satisfeito. O lugar estava lotado! O salão da entrada era enorme, e havia todo tipo de magnata ali! Homens conversando sobre negócios em seus ternos incrivelmente caros, mulheres exibindo suas jóias exuberantes, garçons incrivelmente bem engomados circulando entre as pessoas e até mesmo crianças! Futuros anfitriões que por enquanto se ocupavam mais em correr por entre as pernas dos garçons. Apertei a mão de Cameron inconscientemente e ele me olhou de soslaio.

— Parece a selva para você? — Indagou e eu assenti rapidamente com a cabeça. — Qual é, você foi secretária do meu pai por quanto tempo? Uns três anos? Não é possível que não conheça ninguém assim… — Indicou o salão com a cabeça.

— Nunca precisei lidar com eles. — Sibilei, trincando os dentes. — A única coisa que fazia quando eles iam até a Dallas era anunciar e servir café!

Ele riu divertido e negou com a cabeça, soltando minha mão. Arregalei os olhos e ele estalou os dedos, me oferecendo o braço em seguida. Entrelacei o meu ao dele, coloquei a alça da bolsa sobre o ombro e usei a mão livre para apertar seu bíceps. Cameron me olhou de soslaio e eu senti minhas bochechas esquentarem: Cara, como ele era forte!

Entramos no salão, atraindo alguns olhares. Paramos para conversar com alguns sócios da empresa, e eles nunca deixavam de me notar! Uns pareciam felizes, outros pareciam decepcionados — a grande maioria tinham filhas na idade de Cameron, e provavelmente não gostavam da ideia de que não poderiam empurra-las para ele —, e alguns pareciam até mesmo com inveja. Eu sorria tanto que minhas bochechas chegavam a doer.

— Luiza?

Me virei atordoada, encontrando Lorraine muito bem arrumada com um vestido branco marcado na cintura. Atrás dela vinha Marisa, com um vestido vermelho apertado e extremamente decotado. Bem, eu é que não poderia criticar…

— Tenho que admitir que não acreditei quando ouvi os boatos… — Começou Lorraine, com sua voz arrastada. Ouvi Cameron pedir um “licença” para os sócios ao fundo.

— Lorraine! — Disse ele, cumprimentando-a rapidamente. Acenou discretamente para Marisa, que só faltou soltar fogo pelas ventas. — Fico feliz que tenha vindo!

— Eu não perderia o seu jantar de noivado por nada, Cameron. — Ela sorriu cínica e eu fuzilei Cameron com o olhar, como assim um jantar de noivado?! Olha a minha roupa! — Eu não sabia que você e Luiza mantinham um relacionamento…

— Ah, sim… Nós não queríamos muita atenção para isso, não é querida? — Indagou ele, virando o rosto para mim. Rapidamente abri um sorriso largo, assentindo com a cabeça.

— As pessoas se metem demais onde não deveriam, por isso preferimos manter em segredo. — Encarei Lorraine diretamente, desviando o olhar para Marisa em seguida.

— Cam?

Nos viramos, encontrando uma moça alta muito elegante em um vestido vinho, cabelos presos e sapatos e jóias douradas. A incrível semelhança com Cameron não negava: Era a Sra. Dallas. Engoli em seco, abaixando o olhar rapidamente para as minhas roupas. Como eu queria um espelho para ter certeza de que estava tudo bem com a minha cara!

— Oi mãe. — Disse ele, sorrindo sereno e comprovando minhas suspeitas. Cameron jamais sorriria daquele jeito para alguém que não fosse importante para ele. Ele soltou meu braço, indo até ela e beijando-a na bochecha. — Tá uma gata, hein? Estou de olho.

— Isso quer dizer que nos outros dias eu não estava uma gata? — Ela estreitou os olhos e ele engoliu em seco. — Estou brincando… — Desviou o olhar do filho, correndo-o por Marisa, Lorraine e então em mim. — Esta deve ser Louise…

— Luiza, mãe. — Cameron corrigiu, e eu suspirei aliviada por não ter que fazê-lo.

— Ah sim, desculpe. — Ela sorriu abertamente. Pensei em estender a mão mas ela se inclinou, beijando minha bochecha.

— Sem problemas, Sra. Dallas. — Respondi, retribuindo o cumprimento. Ela se afastou, rindo melodiosamente.

— Sra. não, por favor. Só Gina já é o suficiente… — Disse, parecia um tanto aborrecida. Notei Lorraine e Marisa se afastando, e a loira não afastou o olhar até que um empresário gordo parou a sua frente. — Você já a apresentou a Sierra?

— Ainda não, onde ela está? — Cameron indagou e ela deu de ombros. — Depois eu a procuro…

— Certo… — Gina abaixou o olhar, olhando para a minha mão. Pegou-a, observando o anel e então voltou a olhar para Cameron, sorrindo radiante. — Bem… É melhor eu ir cumprimentar os outros convidados, Annika chegou da Rússia hoje.

E com o mesmo sorriso, ela se afastou. Pensei em perguntar o motivo da reação para Cameron, mas ele apenas pegou duas taças de champagne e estendeu uma para mim. Aceitei-a de bom grado, até porque o único jeito de aguentar aquele monte de dondocas e aristocratas era enchendo a cara.