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História Sorriso Contagiante! - Você não está sozinho.


Escrita por: sekainoowari

Notas do Autor


Oizinho!

Capítulo 4 - Você não está sozinho.



O dia passava vagarosamente para todos os garotos do time. Não que treinar fosse ruim, na quadra todos tinham o mesmo objetivo, ascenderem como jogadores e ficarem fortes o bastante para ganhar o próximo jogo, já que quem ganha, pode continuar jogando. E seguiam assim, porém, aquela terça-feira ainda parecia lenta demais, talvez pelos muitos sentimentos espalhados, pelo barulho das bolas ou ainda pelas trocas de olhares que há muito deixaram de ser discretas.

— Eles estão agitados hoje. — Takeda disse, surgindo do nada ao lado de Ukai. Keishin nem se assustou dessa vez, estava ficando cada vez mais acostumado com as súbitas chegadas do mais velho. 

— Estão distraídos demais. — O loiro reclamou entre dentes gritando um "foco, Hinata!" e ouviu o riso do homem menor, tirando seus olhos da quadra para direcioná-los a Ittetsu. — O que foi? — Perguntou desconfiado, tendo os braços cruzados em frente ao corpo. 

— A forma que você cuida deles. — Takeda respondeu, um pouco sugestivo quanto aos sentimentos paternos visíveis de Ukai para com os adolescentes do time. — Parece um pai preocupado. 

— Não começa, eu sou o treinador deles, é por isso. — O loiro murmurou, demonstrar - ou melhor, não demonstrar - sentimentos era tão cansativo. 

— Oh, claro, Keishin-kun, você nem queria ser o treinador deles, agora os trata assim… O que mudou? — A pergunta soava como uma provocação branda, mostrava como Ittetsu estava se divertindo com aquilo.  

— Nada mudou, só que agora eles precisam de um treinador para, você sabe, treinar eles! — Ukai respondeu, se embolando com as palavras, naquela fervorosa discussão sussurrada. 

— Claro, mas antes você não achava que podia ensinar muita coisa a eles e hoje os leva para tomar sorvete na sua loja. — Takeda alfinetou, vendo o loiro encolher os ombros, como se houvesse sido pego em sua contradição, ele de fato não sabia como responder a aquilo. — Isso não é ruim, Ukai! Na realidade eu fico feliz de você ter aceitado meu pedido, você faz uma enorme diferença na vida dessas crianças. — Takeda disse sorrindo com os olhos, dando leves batidinhas nos ombros largos do homem loiro. 

E enquanto essa discussão acontecia, dois pares de olhos atentos visualizavam tudo. 

Yamaguchi sorriu assim que Takeda chegou, não era recente o fato de Ukai se mostrar totalmente distraído na presença do professor, mas recentemente isso chegava a parecer cômico, como se eles protagonizassem uma história romântica adolescente.  

A conversa que se sucedeu era menos fervorosa que a discussão dos treinadores, mas igualmente discreta. 

"Olhe só Tsukki, eles estão fazendo de novo." 

"Ha! Ukai-san é péssimo disfarçando." 

"Será que eles têm algo a mais?" 

"Acho que não, talvez até queiram, mas não se parecem de fato com um casal" 

"Ukai-san parece meio esquivo, não? Mas ao mesmo tempo acho que ele é o mais interessado." 

"Sim, ele realmente deve gostar do sensei. Parece mesmo que pra ser jogador de vôlei você precisa gostar de garotos" 

Um sorriso surgiu nos lábios do mais baixo, que se segurou para não gargalhar no meio do treino. Os olhares se desencontraram e Tsukishima parou para contemplar a própria constatação. Não pensava nisso diariamente, o assunto "gostar de caras" não era um segredo nem para seus pais, mas simplesmente não era uma pauta comum em sua cabeça, mas, parando para pensar, quase todos na equipe, salve exceções como Tanaka e sua paixão incontrolável pela gerente do time, pareciam gostar de caras também. O que o fazia querer rir, mas ao mesmo tempo o fazia se questionar sobre alguém em especial. 

Por algum motivo nunca havia falado sobre isso com Tadashi. Não que o rapaz não soubesse sobre sua sexualidade, ele sabia! Foi algo que Tsukishima escolheu não esconder do amigo já que, embora fosse difícil que ele descobrisse sozinho, ele queria evitar surpresas que pudessem aparvalhar a amizade dos dois. E mesmo Yamaguchi sabendo do fato, o próprio Kei não sabia se Tadashi gostava de garotas, de garotos ou não gostava de nada. Aquilo nunca antes o havia incomodado, mas agora o fazia se questionar demais, qual seria o tipo de Yamaguchi Tadashi? 

Mesmo distraído, o rapaz conseguiu bloquear a bola que vinha direto ao seu rosto de forma intencional. 

— Tsukki! — Yamaguchi alertou-se. — Kageyama para com isso! — E lá se foi ele discutir com Tobio sobre a bolada que faria um estrago no nariz de Kei caso tivesse o atingido, mantendo o loiro sem respostas sobre a pergunta que ele mesmo não havia feito, mas que também não era hora de fazê-la. 


·


Ennoshita caminhava devagar, carregando cinco sacolas pesadas demais para apenas duas mãos fortes, ele se cansaria logo e era apenas o início do caminho. Às vezes moreno odiava ir ao supermercado sozinho, já que mesmo que pudesse escolher as coisas com paciência, depois do treino quando o movimento no mercado já estava mais calmo, carregar as compras para casa sozinho era cansativo. 

— Chikara-kun! — O soar de duas vozes alegres a chamá-lo o fez acordar de seus pensamentos, virando o rosto para vislumbrar a então chegada de duas pessoas bem conhecidas por si.

— Oe, Hisahi! Kazuhito! — Abriu um sorriso grande ao ver os dois se aproximando. — O que fazem por aqui, não deveriam ter pego a rua de cima? 

— É, você tinha razão, Narita! O Chikara é um idiota. — Kinoshita cruzou os braços, formando um bico nos lábios, que durou apenas o riso do rapaz mais alto dentre os três. — Falamos na sexta passada que iríamos te ajudar com essa sua mania de repôr os mantimentos toda semana. 

— Verdade, não acredito que esqueceu e saiu sem a gente! — Fora a vez do outro dizer, não demonstrando a mesma "frustração" que o menino loiro, muito mais calmo do que qualquer um que o moreno conhecia. 

— Céus! Eu tinha realmente me esquecido disso. — Ennoshita respondeu envergonhado. — Mas não precisam fazer isso, eu- — Foi logo interrompido por mãos velozes pegando suas sacolas, das cinco acabou ficando com apenas uma. 

— "Aí não precisava e não sei o que" — Kinoshita o imitava. — Claro que precisava, como não? Você é besta por acaso é? Se a gente prometeu a gente vai cumprir, né Kazuhito? 

— Claro, claro, nos importamos com você e também não é esforço nenhum, Chikara! — O rapaz respondeu com um sorriso calmo. 

— Tá vendo, não é esforço nenhum! Você já cuida da gente o tempo todo, por que não podemos simplesmente responder a isso? Fora que você sempre se perde e compra o supermercado inteiro só pra fazer bolo pra gente. — Kinoshita voltava a dizer, como se não enxergasse a vergonha que tomava o rosto do moreno, ou os risos baixos de Kazuhito.

Sempre que estavam os três juntos, parecia que existia uma bolha os prendendo, Ennoshita gostava disso, mas não sabia lidar com o sentimento especialmente bom que surgia de momentos como aqueles, parecia que ele simplesmente não merecia todo aquele cuidado, até porque não fazia "nada demais" para merecer aquele tratamento. 

— Aliás, eu aprendi uma receita nova com a minha mãe, acho que vou fazer ela hoje, vocês tem tempo, podem dormir lá em casa? — Ennoshita disse, reavendo um pouquinho da voz perdida pelo interim envergonhado. 

— Claro! — Os outros dois responderam em unissono. 

E pela estrada seguiram conversando sobre todo tipo de assunto trivial que existia, como se no mundo apenas os três existissem, e quem poderia dizer que não? Quando juntos, aqueles três apagados jogadores de vôlei se sentiam intocáveis. 


.


— Mãe! — Yamaguchi gritou pela casa, Tsukishima entrava loga atrás, deixando a mochila sobre o sofá da residência. — Mãe! — O esverdeado gritou outra vez. 

— No escritório, Tadashi. — O pai do rapaz apareceu, surgindo da cozinha vestido com um divertido avental arroxeado, aparentemente trabalhava em secar a louça recém lavada. — Olá, Kei! — O homem alto sorriu dotado de cordialidade. 

— Oi Yamaguchi-sama. — Tsukishima cumprimentou o homem formalmente, fazendo o senhor sorrir e sumir de volta a cozinha, então o loiro apenas subiu as escadas, caminhando calmamente até o quarto do melhor amigo.

Enquanto isso, Tadashi caminhava por entre os corredores de casa, até bater de frente ao escritório dos pais. Comumente não ia até ali, Makoto e ele tinham, desde que ele se conhecia por gente, o acordo de que não deveriam atrasar ou atrapalhar o trabalho dos pais, por isso Tadashi mal os via pela semana, restrito a ficar com os genitores apenas nos finais de semana, o que também vinha acontecendo com menos frequência, já que com os treinos a sua própria agenda era mais corrida. No final das contas era sempre ele e Makoto, sozinhos na maior parte do tempo. 

— Mãe? — Tadashi bateu na porta do escritório, ouvindo um "pode entrar" da genitora. O rapaz abriu a porta, caminhando pelo ambiente pouco iluminado, indo até onde a mulher estava, aparentando estar ocupada demais em digitar num computador. — Posso dormir na casa do Tsukki? — Tadashi perguntou sem cerimônias. 

— Claro, não precisa pedir, querido, pode só informar ou alertar seu irmão. — A mulher disse docemente, embora não olhasse no rosto do filho. 

Os pais de Tadashi eram tão distantes quanto pareciam, sempre focados em trabalhar, não apenas para colocar dinheiro em casa, mas porque pareciam verdadeiramente gostar do trabalho incessante e das várias horas ocupadas. E o adolescente às vezes se sentia mal com isso, já que diferente da maioria dos seus colegas, ele podia simplesmente fazer o que queria, mas não valia a pena de toda forma, seus pais ao menos faziam as refeições junto a ele e Makoto. 

— Tudo bem, vou arrumar minha bolsa e ir, certo? — Indagou mais uma vez, assistindo a mulher apenas balançar a cabeça. 

— Tudo bem, te amo filho, fique bem. — Respondeu, porém, mesmo com o tom amável, Tadashi não conseguia se sentir amado. 

Um suspiro frustrado deixou os pulmões aborrecidos, aquilo o cansava um pouco, como se fosse sempre negligenciado. 

— Ela deixou né? — Kei perguntou compadecido, se em seu caso seus pais às vezes sufocavam, os pais de Tadashi o deixavam tão livres a ponto de fazê-lo ficar perdido. 

— Uhum, ela sempre deixa. — Forçou um sorriso, separando peças de roupa dentro de seu guarda-roupa. 

— A gente pode ficar aqui se você quiser, eu invento alguma coisa pros meus pais. — Tsukishima ofereceu. 

— Não se preocupa, nem sei a hora que o Makoto chega e hoje é um dia importante pra sua família. — Remexeu em mais algumas peças, colocando-as em cima da cama. 

— Você nunca vai estar sozinho, okay? — Tsukishima falou mantendo uma expressão branda no rosto, internamente se questionava quanto a própria frase, não era de seu feitio e muito menos pensou antes de dizê-la, mas agora estava feito, no entanto, mesmo envolto de perguntas sobre a motivação de sua frase, dois motivos o faziam relaxar quanto ao fato de tê-la dito. Primeiro, não era uma mentira e se dependesse dele, o amigo jamais ficaria sozinho. E segundo, o sorriso bonito que Tadashi lhe ofereceu compensava toda e qualquer dúvida que viesse assolar seu coração.  


.


O movimento era baixo naquele Konbini, já era quase noite e Makoto sentiu-se um pouco entediado, sentado em sua cadeira enquanto lia um livro. Alguns minutos antes havia recebido uma mensagem do irmão mais novo, lhe informando que ele não passaria a noite em casa e não havia motivos para se preocupar, já que ele dormiria na casa do melhor amigo e só retornaria no dia seguinte após o treino. Estava tudo bem para Makoto, embora fosse um dia de semana, ele não demonstrou tanta preocupação com o fato. Na verdade não havia muitos motivos para se preocupar com Tadashi, já que o adolescente era educado, determinado e obediente, porém, não podia deixar de se preocupar com o mais jovem. 

Mas seus pensamentos foram despertados pelo formigar em seus lábios e o calor próximo ao seu rosto. 

— Yusuke! — Makoto repreendeu o loiro, que riu alto, dando-lhe um beijo casto. — Você quer me matar de susto? 

— Jamais! — Takinoue exclamou divertido, caminhando para trás do balcão. — Conversou com seu irmão? 

— Ainda não. — O Yamaguchi suspirou. — Não sei direito como vou falar pra ele. 

— Pensei que seus pais seriam o problema, quando eles aceitaram tão bem nosso namoro, achei que contar pro Tadashi não seria difícil, pensei que ele iria aceitar fácil. — Takinoue informou, não havia peso ou acusação alguma na frase genuína, a relação familiar de seu namorado era difícil de se entender. 

— Não acho que ele não vá aceitar, Tadashi é um garoto bom e tem a mente bastante aberta, só é mais complicado que isso. — Maneou a cabeça para o lado, escorando-se no ombro do loiro. — Dizer a ele que estamos namorando implica informar também que eu quero me mudar para morar com você. 

— Sim, e o que tem? — Yusuke parecia buscar qual era o ponto de impedimento do fato, porém, não o encontrava de forma alguma. 

— Lembra quando eu disse que a minha família nunca seria um problema pro nosso relacionamento? — Makoto perguntou e Yusuke respondeu com um "uhum". — É porque eles simplesmente parecem não ligar pra nada. Eu me acostumei com isso, mas acho que Tadashi é mais sensível que eu. — Outro suspiro frustrado o deixou. — Me mudar com você significa deixar o Tadashi com nossos pais, a mesma coisa de deixá-lo sozinho. 

— Se for por esse motivo, por que não chama ele para morar com a gente? — Takinoue perguntou seriamente e apenas ouviu a risada do namorado. 

— Não, melhor não, Yu. Quero finalmente ter um lugar só nosso, o Tadashi não atrapalharia em nada, mas acho que não é justo com você. Eu só preciso criar coragem para falar com ele, sei que ele vai achar ótimo me ver seguir a minha vida, mas não sei… Meu medo é que ele se sinta muito sozinho. — Yusuke nada disse, apenas deixou um beijinho no topo da cabeça do namorado. Jamais havia vivido algo parecido, mas se compadecia daquela preocupação. 

— No seu tempo então, amor. — Takinoue disse depois de um tempo. — Enquanto isso, podemos terminar de arrumar as coisas pra casa, ela parece um labirinto branco ainda. — Riu. 

— Pensei em amarelo nos quartos. — Makoto murmurou. 

— Amarelo no quarto? Que horror! — Takinoue exclamou insatisfeito. 

E então o casal começou uma discussão fervorosa que era apenas uma piada. Estavam ansiosos para viverem juntos na nova vida que escolheram. 

E no fundo, Makoto sentia que Tadashi não estaria tão sozinho assim, mesmo que ele deixasse sua casa e se mudasse para o bairro vizinho. 



Notas Finais


Bye.


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