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História Soulmate - Aquele intenso natural que foi embora


Escrita por: ArsLilith_ e Yayabs

Notas do Autor


E era fato que algum dia, perderia aquele intenso do teu olhar, sem controle algum, meu coração doeu e por míseros segundos, parou de bater.
Aquele intenso que sem explicação me deixou.

Capítulo 29 - Aquele intenso natural que foi embora


Fanfic / Fanfiction Soulmate - Aquele intenso natural que foi embora

O dia em Carlon parecia não querer ir embora, assim como o calor presente no reino. A temperatura estava elevada, causando transtorno em certos carlonianos não acostumados com tal sensação.

 

Os moradores da enorme vila se dividiam em seus afazeres, ajudando uns aos outros no comércio e na organização da decoração para as festividades.

 

Foram sete dias de ausência, trancados em suas respectivas casas por ordem do governo, já que eram os sete dias das duas luas unidas. E essa união era esperada por todos os viventes, sejam do reino ou não. O fato era que a presença das duas luas, tão distintas e únicas, evidentes no céu do reino era sinal de bênçãos, prosperidade e longevidade.

 

O povo estava contente com isso, pois fazia séculos que um espetáculo como esse não acontecia, finalmente os deuses estavam os acolhendo novamente e isso enchia os corações dos cidadãos.

 

Os passos dos dois jovens eram despreocupados, o silêncio se perdia em meio ao falatório alegre de certos comerciantes. Jimin não tirava seus olhos do Beta que parecia inerte nas coisas ao seu redor, sempre sorrindo e cumprimentando certas ômegas que lhe sorriam pelo caminho.

 

— Hã… será que é pedir muito que pare de me olhar assim? — Hoseok ditou baixinho, apertando as mãos na barra da farda real.

 

— Perdoe-me, é que eu realmente tenho a impressão que te conheço de algum lugar e isso está me enlouquecendo, porque eu sou bom com fisionomias e tenho uma memória boa, mas você… seu rosto me deixa confuso.

 

O alfa parou em frente ao ruivinho que lhe olhava num misto de surpresa e curiosidade. As bochechas coradas arrancaram um sorriso de canto do Park, que sentiu seu coração pulsar mais rápido.

 

— Tenho certeza que se nos conhecêssemos antes, eu não te esqueceria. — a voz melodiosa pareceu por segundos ser a coisa mais linda que o alfa já pode ouvir. Pelos sóis, Jimin se sentia caindo nos encantos daquele beta aos poucos.

 

— Eu também tenho certeza que se tivéssemos nos conhecido antes, não te esqueceria, porque eu não seria louco de esquecer alguém como você.

 

Hoseok piscou algumas vezes, tentando entender cada palavra e o olhar que caía sobre si. Se sentiu nervoso e trêmulo, quando o alfa lhe lançou um sorriso belo, lhe mostrando toda a beleza que aquela boca rosada tinha. Riu soprado, envergonhado com o olhar ainda em cima de si, sentia seu rosto quente, assim como seu corpo que fervia sabe-se lá o porquê.

 

Hoseok já estava se acostumando com o fato de que estar com Park Jimin era se sentir aquecido. Em sua cabeça aquilo acontecia pelo fato do Park vir de um reino caloroso e ter essa recepção quente, fazia sentido pensar desse modo em sua concepção.

 

— Vamos comer o quê?

 

— Ah eu conheço um lugar legal, é comida tradicional, acho que irá gostar.

 

— Bom, se está dizendo… então vamos. Estou morto de fome. — Riram juntos.

 

Hoseok começou a explicar o caminho que deveriam seguir, sendo seguido pelo alfa em seu encalço. Vez ou outra se pegava admirando o rosto do príncipe, se policiando, muita das vezes, para não ser pego pelo outro. Não conseguia controlar o sorriso, que sempre surgia nos lábios cada vez que ouvia Jimin falar sobre algo e, esse algo, sempre lhe interessava.

 

Ambos se sentiam bem na presença um do outro, um bem que Jimin não estava acostumado a sentir. Almoçar com o beta ruivo, foi definitivamente a melhor coisa que tinha feito desde que colocará os pés em Carlon. Hoseok parecia lhe entender em cada mísera palavra que deixava sair pela sua boca e aquilo lhe causava uma sensação gostosinha no peito, fora ainda, a forma cuidadosa que o Jung tinha consigo de, sem querer, lhe acalmar.

 

Porque, querendo ou não, Park Jimin ainda estava sobre a dominância de seu lobo calculista e frio, mas, a cada olhar ou toque inesperado, algo dentro do seu peito se acalmava e lhe fazia sorrir.

 

Hoseok lhe fazia sorrir e céus, aquilo era bom em tantos níveis.

 

— Gostou do lugar? — Hoseok caminhou mais à frente. Tinham saído do estabelecimento construído a madeira de lei, em formato rústico. Uma taberna incrementada no quesito carloniano.

 

— Sim, claro que sim. Realmente a comida é muito boa, mas acho que a companhia foi melhor do que qualquer outra coisa. — Jimin se aproximou do beta, caminhando devagar, com as mãos nos bolsos. O olhar baixo e o sorriso divertido dançando nos lábios. — Podemos fazer isso mais vezes, por favor?

 

— Hãã… claro! Éh… tem mais tabernas boas para Vossa Alteza conhecer. — o tom trêmulo divertiu Jimin, que recuou um pouco, sentia os batimentos de Hoseok aumentarem quando chegava perto, sabia que tinha um limite no espaço pessoal do ruivo e respeitava aquilo.

 

— Então, marcaremos mais vezes, sim?! Quero que me mostre mais lugares. E, por favor, sem essa de “Vossa Alteza”. Apenas Jimin, okay?

 

O beta mordeu o lábio inferior concordando, mantendo suas mãos em frente ao corpo.

 

— Quanto tempo ficará aqui?

 

— Ficarei mais uma semana. Logo voltarei para Soleil, mas volto para visitar meu irmão, meus amigos e… você, é claro. — Jimin soltou uma piscadela, rindo baixinho.

 

— Argh! Você me deixa envergonhado. — a face corada não passou despercebida pelo alfa, mesmo o ômega tapando o rosto com as duas mãos.

 

Jimin gargalhou alto, como a tempos não fazia.

 

— Você é fofo!

 

— Yah! Eu não sou fofo! — Hoseok estapeou de leve o braço esquerdo do alfa, arrancando mais risadas, ocasionando em mais tapas.

 

— Fofo e agressivo! Isso é excelente. — O tom de voz se tornou mais denso, causando arrepios no beta que teve suas mãos seguradas rente as suas costas.

 

Os olhos se conectaram, brilhando intenso um no outro.

 

— E-eu… eu t-tenho que voltar. — Balbuciou falho, sentindo o corpo esquentar com a proximidade do Park. Jimin lhe olhava com um misto de ansiedade e indecisão e aquilo lhe corroía. Se sentiu deslocado quando o alfa se afastou rápido de si, como se quisesse evitar algo.

 

— C-claro! Eu… eu posso te acompanhar até certa parte do caminho. Irei visitar uns amigos. Podemos ir conversando até lá.

 

— Claro.

 

Hoseok passou as mãos pelos fios ruivos, os bagunçando levemente. Sentia seu coração sair pela boca e aquela sensação era nova para si. Não muito diferente do outro, que queria se estapear naquele momento por agir tão precariamente, tão contra seu autocontrole.

 

Estava enlouquecendo, só poderia ser isso.

 

Seguiu com Hoseok até boa parte do seu caminho, no primeiro momento houve um silêncio ruim que fez o coração de ambos se preocupar, mas a necessidade de falarem algo era maior e o assunto começou com a simples menção das flores da decoração do vilarejo para render em tantos outros.

 

— Você tem certeza que não quer que eu te acompanhe até o castelo? Não há nenhum problema para mim.

 

— Yah, não se preocupe. Eu ainda preciso resolver algumas pendências na casa do exército, depois ir ao cartório e, só assim, seguir para o castelo.

 

— Mesmo assim, eu posso te levar. — Jimin segurava as rédeas do cavalo manso, enquanto mantinha seus olhos no outro.

 

— Deixe disso. Seus amigos já devem estar te esperando e eu preciso ir agora. Ah foi realmente muito bom almoçar com você. Obrigado pelo convite e, por favor, da próxima vez quem pagará a conta serei eu. Não aceito não como resposta.

 

— Com toda certeza, Senhor mensageiro real! — Riu divertido, batendo continência.

 

— Ah Jimin você não tem jeito. Obrigado mesmo, foi muito legal para mim.

 

— Foi muito especial para mim, Hoseok. Eu que tenho que agradecer, você não sabe o bem que sua companhia fez para mim. Espero que possamos repetir.

 

— Com toda certeza iremos. Agora eu preciso ir. Tenham uma boa tarde.

 

— Você também. Ah e bom trabalho.

 

Ouviu o agradecer do beta, enquanto o outro se afastava. Sorriu uma última vez abanando com a mão. Sentiu algo bom no peito ao lembrar dos sorrisos do beta, era incrível como Hoseok, mesmo no pouco lhe contagiava.

 

Subiu em seu cavalo, ouvindo o relinchar. Acalmou o bicho, rumando para a casa do Jeon e do Kim.

 

Atravessou algumas vielas paralelas, que cortavam caminho e não eram movimentadas, assim evitava ter que ficar aceitando a reverência daqueles que não lhe convinha o prestígio.

 

A ida até a casa dos amigos durou vinte minutos. Jimin sentia o suor escorrer pela lateral de seu rosto e não negava o quão quente estava aquela tarde. Desceu do cavalo rapidamente, já amarrando o animal rente ao local adequado.

 

Correu até a entrada da casa, já adentrando o portão sem nem pedir licença. Subiu a pequena escadaria, dando um vislumbre na sacada de entrada, coberta de malas. Riu, sabendo de quem se tratava aquele monte de bugigangas.

 

— Tae, abre a porta! — Gritou, batendo na porta de forma nada gentil. Estava morrendo de calor e sede. — Tae!

 

Gritou, mais uma vez, ouvindo os resmungos que vinham de dentro. A porta foi aberta por um Kim Taehyung todo despenteado e com trajes de dormir. O morador se espreguiçou na frente do alfa, bocejando sem vergonha alguma.

 

— Não acredito que você estava dormindo até essa hora. — Adentrou a casa, sem permissão alguma, já caminhando em direção a cozinha.

 

— Ser preso dá sono. — Taehyung resmungou, fechando a porta.

 

Logo arrastava os pés até onde o amigo estava se pondo sentado na banqueta que ali tinha.

 

— Você parece animado.

 

— E você acabado.

 

— Tenha um ômega como Jeon Jungkook e entenda o que é estar acabado. — Ditou de olhos fechados, apoiando o rosto sobre a mão, quase cochilando sentado.

 

— Me poupe dos detalhes sórdidos de vocês.

 

— Hey! Não é nada disso que você está pensando, seu depravado! — O Kim pareceu acordar por míseros instantes apenas para ralhar o outro. — Jungkook me fez ajudar ele a arrastar todos os móveis da casa em plena madrugada porque ele disse que o enquadramento não estava correto.

 

Jimin riu, já imaginando o ômega aos surtos com os móveis. Jungkook tinha uma mania de perfeccionismo exacerbada demais.

 

— E então, como está? Você parece diferente.

 

— Eu estou bem… — sorriu sem motivo, vendo Taehyung crispar os lábios em curiosidade.

 

— Onde esteve?

 

— Eu saí com Hoseok, acabei não falando dele pra vocês…

 

— Dele quem? — A pergunta ecoou pela cozinha, levando os dois alfas a voltarem sua atenção para a entrada do ômega.

 

Jungkook usava uma camisa larga, junto de calças beges, um conjunto de pijamas extremamente grandes para seu corpo.

 

— Desembucha! Quero detalhes, dos mais bonitinhos até os mais obscuros. — A malícia no sorriso alheio o fez revirar os olhos em indignação, enquanto Taehyung apenas puxava o ômega para si, sorrindo em meio a um selar na bochecha do amado.


 

Jimin se sentou na banqueta de madeira, começando o seu diálogo, sabendo que se não contasse cada detalhe, um dos dois iriam lhe importunar, então como estava de bom humor, não se importou com nada. Falar de seu passeio com Hoseok era se perder em meio a sorrisos sinceros e leveza.

 

Taehyung estava inerte na história, encantado com a forma que o amigo falava do beta, diferente de Jungkook que analisava cada detalhe do príncipe. Não que não estivesse feliz pelo Park, longe disso, mas Jimin ainda estava sobre efeito do lobo e mesmo que ele tentasse mascarar, Jungkook sentia na pele a criatura presente.

 

— Quero conhecer esse garoto, ele parece ser incrível. — Disse calmo, alisando os fios cinzas do Kim.

 

— Ah você vai adorá-lo! Tenho certeza, não há ninguém que não se encante com ele.

 

O sorriso brilhante nos lábios do Park fez Jungkook sorrir junto, um sorriso preocupado, mas que não foi percebido pelos dois.

 

Ambos os três passaram o resto da tarde ali, na cozinha, contando tudo o que fizeram nesse tempo em que se mantiveram afastados enquanto Taehyung preparava àquela hora, o almoço dele e de seu ômega.

 

Jungkook era uma negação para cozinha e isso era fato consumado por todos. Deus os guarde se um dia comerem a comida do Jeon.

 

— Tem notícias de Chanyeol? — Taehyung virou-se, pegando o prato com os legumes e os pondo na panela.

 

— Creio que volta hoje. Pedi para que dois bruxos o acompanhassem até aqui. Sehun está cuidando dele, junto de Nayeon. — Falou simples, ajudando o ômega a roubar alguns cozidos que o alfa fazia.

 

— Sehun cuidando de Chanyeol? — Jungkook sorriu maldoso, pondo na boca o cozido quente, logo ganhando um olhar reprovador do Kim.

 

— Você só tem maldade nesse seu coração Jeon, que feio!

 

Os dois riram cúmplices, sendo xingados por Taehyung por estarem roubando a comida que nem pronta estava.

 

— Quando eu começo a ficar a par dos pagamentos?

 

— Provavelmente essa semana mesmo. Kyungsoo irá te ajudar com tudo, não se preocupe. Você apenas não deve esquecer.

 

— Não irei. — Pôs a panela em cima da mesa para a comerem.

 

Mesmo que já tivesse almoçado e não fosse um horário propício para aquele tipo de refeição, Jimin não negou, pois sentia falta daqueles momentos com o casal. Das risadas escandalosas, das coisas inapropriadas que Jungkook perguntava.

 

Estava de bem consigo.

 

Jinyoung tinha razão, seus amigos eram sua família. Eram sua alegria e suporte e nada e nem ninguém tiraria aquilo de si.







 







 

Os raios de luz do Sol tardio adentravam o quarto dos dois jovens deitados na cama, abraçados. Jinyoung cochilava sereno entre os braços do alfa que vez ou outra lhe encarava.

 

Jaebum acariciava os fios negros, sentindo o aroma que extraía deles, se inebriando no cheiro que agitava cada parte de si. Sua visão ainda estava turva, enxergando tudo num tom avermelhado. Lembrava-se de momentos atrás, onde atacara um alfa qualquer que ousou afrontar seu ômega. Seu lobo se revira dentro do corpo só com esse pensamento.

 

Jinyoung se remexeu, em meio ao abraço forte que se encontrava. Seus olhos pararam nas orbes atentas em si, o que lhe causou leves arrepios na nuca.

 

— P-Por que me deixou dormir? — Disse rouco, levantando levemente o tronco.

 

— Aquele alfa disse que era pra você descansar.

 

Jinyoung fechou os olhos minimamente, sentindo a sensação de preguiça lhe acertar em cheio. Seu corpo estava exausto com toda certeza e aquelas poucas horas de sono pareciam ter valido por uma noite inteira.

 

Voltou a se aconchegar no peito do alfa, sentindo o cheiro forte característico dele; seu corpo se aqueceu quando inspirou com vontade, deslizando seu nariz pelo pescoço do ruivo, sentindo sua cintura ser envolvida com força.  

 

Os dedos do Im se prenderam em seus fios, voltando a carícia que ali faziam, deixando Jinyoung mais sonolento ainda.

 

— Você precisa dormir mais. — A rouquidão na voz do alfa deixava Jinyoung arrepiado, sensível a tudo que vinha do outro.

 

— Sim… você também precisa dormir mais.

 

O tom era baixo, como o momento pedia. Sem exageros ou algo do tipo. Era calmaria pura naquele quarto e os dois apenas queriam manter aquilo.

 

Não demorou para ambos voltarem a cair no sono novamente. Jinyoung estava exausto dos dias que se manteve acordado cuidando do Im e o ruivo, apenas sentia seus olhos pesarem ao som do ressonar baixinho que vinha do ômega. Como dito antes, Im Jaebum não tinha o luxo de dormir durante seu cio ou até mesmo os três dias sofridos que passava. Era de sua natureza manter-se acordado, porém aqueles dias eram diferentes, tudo era de uma maneira confusa e diferente de como sempre viveu seus dias de dores.

 

Era acostumado com os cuidados de betas desconhecidos, dos soldados de ZhouMi e nada mais do que isso. Ter alguém de cheiro diferente a sua volta era novo, mais novo ainda, era ter essa pessoa junto de si, colado em seu corpo, respirando rente ao seu pescoço.

 

Era diferente, novo e estranhamente bom.







 








 

A brisa quente adentrava a janela, movimentando a cortina fina azulada. Os olhos do soldado estavam fixos no rapaz deitado na cama.

 

Sehun movimentou o corpo, levemente, assim que viu o mais velho se remexer, ouvindo um gemido de dor.

 

— Hey, não se mova. Por favor! — Pediu baixo, chegando perto do amigo, o ajudando a se sentar na cama.

 

— E-eu p-preciso de água.

 

Sehun olhou o Park, constando a palidez que o mesmo se encontrava. Balançou a cabeça, prontamente atendendo ao pedido alheio. Serviu o copo de água, ajudando o maior a tomar o líquido, o bebendo rapidamente, pedindo por mais e sendo atendido com toda a atenção.

 

O comandante se sentia diferente, tudo em si parecia estar novo. Seus sentidos pareciam estar mais aguçados, renovados. Ouvia de longe o barulho das árvores se balançarem, assim como o falatório que sabia vir de quilômetros de distância.

 

— Quanto tempo eu fiquei aqui? — Fitou Sehun profundo. Sua voz saíra mais rouca que o normal, causando um reboliço no corpo do mais novo.

 

— Uns sete ou oito dias. Não sei direito, acabei parando de contar por achar uma tortura. Só queria que acordasse logo. Eu fiquei com medo de te perder para sempre.

 

Em outro momento, Sehun se amaldiçoaria por ter sido tão sincero, mas ali, vendo Chanyeol bem, vivo à sua frente, nada lhe importava. Nada e nem ninguém.

 

— Eu lembro de tudo e isso é um pouco assustador. — Envolveu-se mais nas cobertas, como se desse modo pudesse fugir de algo. — E-eu vi ela. Ela estava lá… me senti sufocado.

 

Uma lágrima solitária desceu pelo rosto pálido, fazendo o coração de Sehun doer dentro do peito. Levou sua destra até a lateral do rosto do mais velho, limpando as lágrimas que agora desciam sem parar.

 

E sim, Park Chanyeol desabou ali. Chorou dolorido, sentindo seu peito doer e o ar quase lhe rasgar a garganta. Era demais para si todas aquelas lembranças. Aqueles malditos fios loiros e sorriso sempre iriam lhe assombrar.

 

Soluçou alto quando sentiu os braços do Oh lhe envolverem num abraço apertado em meio a sussurros carinhosos. Devolveu o ato na mesma intensidade, se sentia vulnerável, fraco, um mero covarde por não conseguir enfrentar seu passado.

 

— Ela não merece nenhuma lágrima sua. Ela não merece nada que venha de você, Chanyeol, nada.

 

— E-eu… eu não con-consigo mais suportar essa dor. D-dói demais… E-eu não quero mais viver desse jeito. Tá doendo, Hunnie… tá doendo.

 

Sehun fechou os olhos, controlando a vontade de chorar junto do outro, porque vê-lo naquele estado lhe machucava mais que tudo. Era acostumado a ver o amigo sempre forte, o posto de comandante lhe cobrava aquilo, mas o Park tinha esse gênio de braveza que não cabia mais a ninguém. Então, se deparar com ele naquele estado era deveras estranho, pois Chanyeol podia ser tudo, menos vulnerável ou fraco. E ouvir os soluços e lamúrias do homem em seus braços era querer colocá-lo em um lugar longe de todos, longe da maldade daqueles que um dia lhe fizeram chorar. Chanyeol era bom demais para se afundar em lágrimas que ninguém era capaz de merecer.


 

— Olha pra mim… — pediu, afastando o corpo do maior e segurando em seu rosto. — Você é mais forte que isso e sabe muito bem. Você é o comandante de Soleil, Chanyeol. Você conquistou esse cargo com o seu suor, com a sua vontade e garra. Você fez tudo o que estava ao seu alcance e, acredite, não se pode mandar no coração.

 

Chanyeol pareceu lhe escutar, mesmo que aquelas palavras naquele momento não lhe fizessem sentido. Não queria acreditar que tudo que conquistou foi por mérito seu, não lhe cabia tal façanha, porque a voz daquela mulher lhe gritando barbaridades em sua cabeça lhe atingia como um soco, um golpe baixo e covarde.

 

As palavras dela tinham um poder enorme sobre seu corpo e sua mente. Dahyun sempre seria a droga do seu tendão de Aquiles. Aquela que em um simples mencionar lhe desmoronaria.



 

[...]



 

Os olhos amarelos estavam compenetrados na vista a sua frente, o coração doía dentro do peito, alastrando um incômodo sem razão pelo corpo.

 

— Ele ainda sente algo por ela… como, pode isso acontecer? — bateu no batente da janela, irado com tamanha revolta que se apostava de si.

 

— Ele sofreu um imprinting por ela, é impossível esquecê-la. O lobo nunca esquece. — Nayeon terminou de arrumar a cama, enquanto Sehun divagava, olhando a vista da janela.

 

Sentia uma mistura ruim de sentimentos em relação a Dahyun, ela era a pior ômega que já passou em seu caminho, justamente, por machucar o coração de alguém tão incrível como Chanyeol.

 

— Um imprinting não pode ser curado. — A voz saiu baixa, porém a bruxa tinha uma boa audição e não deixou de sorrir com a falsa confirmação do outro.

 

— Vocês têm essa mania de achar que algo é o fim do mundo. É engraçado isso, porque vocês alfas se apaixonam por um ômega, mas é só outro alfa vir e marcá-lo que vocês já desistem deles.

 

— É uma marca! Quer que façamos o que? — Virou-se em direção a moça, se deparando com o sorriso pertinente em seus lábios.

 

— Entenda, meu jovem, uma marca não é tudo. Um imprinting, não é tudo. Se não é algo que os deuses ou a natureza de nossas almas deseja e necessita, você pode marcar quantos ômegas quiser e nunca vai achar a completude, porque não basta uma marca… você tem que sentir a alma do outro e se você não sente… meu querido, a marca não irá te segurar por muito tempo.

 

— Está me dizendo que um casal pode viver sem marca?

 

— Estou dizendo que a marca não é o princípio de tudo.

 

— E como você explica a ligação que a marca nos dá? — Sehun se aproximou de Nayeon, sentando-se na beirada da cama recém arrumada.

 

— Sehun, você já amou alguém? — Nayeon encarou o mais alto, firme nos olhos, sua mão estava na cintura, as sobrancelhas arqueadas… o rosto esperando com expectativa a resposta.

 

Resposta essa que não veio, devido à demora do alfa e o fato da porta do quarto ser aberta lentamente.


 

— A-Acho que temos um problema. — A voz rouca de Chanyeol ecoou por todo o quarto, os olhos dos dois jovens colidiram com a figura parada diante da entrada do cômodo.


 

— Pelos sóis… — Sehun deixou escapar, ao admirar a figura a frente.

 

Chanyeol estava diferente, muito diferente. A pele estava corada, um tom não muito elevado, porém o que mais chamava atenção eram os fios negros. A mudança de cor no cabelo acontecia toda vez que um jovem alfa completava suas vinte uma luas, porém Chanyeol já tinha completado as suas há muito tempo e aquilo surpreendia aos dois alfas que se mantinham inerte em seus olhares um para o outro.

 

— Chanyeol, olha para mim! — Nayeon se aproximou com cautela, averiguando o estado do alfa.

 

Quem olhasse para o Park não acreditaria que ele, dias atrás, estava em cima de uma cama, delirando em febre e que, há horas passadas, estava aos prantos, chorando no ombro do amigo. Porém, Chanyeol ali, estava o total oposto de tudo.

 

Estava mais forte, aparentando mais saúde e cheio de vitalidade. Os fios negros caíam sobre a testa, dando um contraste de tirar o fôlego junto da pele.


 

— As tatuagens… — Nayeon segurou o braço esquerdo, vendo a pele desenhada, coberta de rosas pretas, alinhadas numa fileira de espinhos. — Você sabe o que rosas negras significam não é?

 

— O que significam? — Sehun se intrometeu entre os dois, pegando o braço alheio e dedilhando cada flor.

 

Não houve resposta de ambas as partes o que fez Sehun se irritar ainda mais, e repetir a pergunta. Sentiu Chanyeol puxar o braço com força e lhe olhar como se quisesse perfurar tudo o que possuía no corpo.

 

— Significa que a cada pétala caída a partir de hoje é um dia a menos de vida que eu tenho. — Disse abaixando a manga e fechando o botão. — Ao cair a última pétala, eu morro. — Sua voz saiu simples, como se já soubesse tudo aquilo decorado.

 

— Não! Não, isso é brincadeira! Você não pode estar falando sério. — O desespero na voz do mais novo era palpável, assim como a agonia que transbordava nos olhos e na fala. — Nayeon, por favor… faz alguma coisa! Tira isso dele.

 

— Eu não posso fazer nada, Sehun. Chanyeol já usou magia para sobreviver, ele… ele só depende do tempo agora.

 

— Não, isso é injusto! Eu não aceito isso.

 

— Chega, Oh Sehun! É a minha vida, se alguém tem que achar isso injusto ou não, esse alguém sou eu! — Chanyeol se exaltou, reverberando seu tom por todo o quarto abafado. Seus olhos cravaram em Sehun como flechas certeiras.

 

— É tudo culpa daquela desgraçada!

 

A raiva consumia seu coração, assim como o medo de perder um dos poucos que lhe fazia bem. Sehun via Chanyeol como seu exemplo, seu ponto de partida e não iria admitir perder quem mais lhe tinha significado na vida. Era injusto.

 

Não voltou seus olhos ao comandante, apenas se retirou do local, marchando para fora dali tomado por tudo de angustiante que sentia.

 

— Ele está apenas preocupado com você.

 

— Eu não quero que ele se preocupe comigo.

 

— Você sabe que é inevitável.

 

— Do que você está falando?

 

— Não se faça de sonso, Park Chanyeol. Você sabe que Sehun tem muito mais do que simplesmente sentimentos de amizade por você! E não negue! — Nayeon pareceu explodir em suas palavras naquele momento, seu rosto estava levemente corado, indicando o pouco de paciência que lhe restava.

 

— Eu vou fingir que não escutei esse absurdo. — Virou seu corpo, caminhando em direção a jarra d’água.

 

— Você é um imbecil! Seria mais fácil se pelo menos você tentasse se apaixonar por alguém, assim salvaria sua vida e Sehun entenderia que não teria chances com você.

 

— Você acha mesmo que eu vou me apaixonar por alguém? Olha para mim Nayeon, olha para o que eu me tornei! — Chanyeol tinha voltado sua posição, agora com um copo na mão, enquanto seus olhos fitavam com indignação a mulher. — Eu não tenho nada aqui dentro, além da droga dessas flores que são a chave da minha morte! Não vou me apaixonar, porque não tenho mais nada aqui dentro pra sentir. Eu não posso. Eu não quero. E para o seu interesse, não tenho medo de morrer e saiba, prefiro morrer numa guerra, do que por pétalas de um destino desgraçado. Sehun sabe do lugar que ocupa na minha vida, ele sabe que mesmo que nós dois nos envolvamos eu nunca vou amá-lo, porque não posso amar ninguém. Eu sou oco por dentro. E você melhor do que ninguém sabe disso, então para de tentar achar uma saída pra droga da minha vida, sendo que nós dois sabemos, qual será o meu fim.

 

Nayeon escutou tudo calada, permitindo que a voz do alfa se bem fizesse naquele ambiente. Chanyeol precisava extravasar e ali era o momento e lugar perfeito.

 

— Você, pelo menos, poderia buscar morrer tentando, como um verdadeiro soldado. — Ditou baixo, sem desviar do olhar alheio.

 

— O meu campo de batalha não é o coração, Nay… eu escolhi a guerra, o combate e não a droga do amor. Respeite minha escolha. Um dia todos nós iremos morrer, a minha morte só virá um pouco mais cedo. — Deu de ombros, bebendo a água que tinha pego.

 

Nayeon saiu do quarto, irritada com a teimosia do alfa. Chanyeol podia pelo menos tentar, porém lá no fundo entendia os motivos alheios. Era preferível morrer oco por dentro, do que de coração partido e alma amargurada. No fim, sabia que Chanyeol só tinha medo de amar novamente.


 

Assim como todos tinham.






 

[...]







 

O Sol já tinha se posto e os últimos raios e rastros dele diziam adeus quando Chanyeol, Sehun e alguns bruxos deixaram o Clã. A caminhada de volta ao castelo foi calada, apenas o barulho dos galhos se movendo conforme o vento quente os balançavam. Ambos os alfas ferviam em seus pensamentos, buscando um meio de se comunicarem.

 

Chanyeol martelava as palavras de Nayeon em sua cabeça em relação aos sentimentos do amigo, sabia das coisas que Sehun sentia por si, nunca foi bobo para isso, por mais que o Oh tentasse, ele sempre fazia algo que o entregava. Já Sehun, pensava em um meio de se desculpar pela forma infantil que agiu. Não era daquele jeito que um soldado deveria agir em uma situação como aquela, foi negligente ao perder o controle de suas emoções e se deixar levar. Mas não soube conter a raiva quando soube que Chanyeol morreria por culpa de uma infeliz.

 

O grande arco do reino que dava entrada a ponte principal foi avistado por todos. Ambos os dois alfas se despediram dos bruxos, lhes agradecendo pela ajuda e hospitalidade. Seguiram para a entrada, ainda em silêncio. Dessa vez os galopes dos cavalos eram mais rápidos, quase que em uma competição interna para ver quem chegava primeiro. E de certo modo era, porque Sehun sorriu ladino, olhando para trás e vendo o Park atrás de si que percebeu o entusiasmo e não poupou esforços para ultrapassá-lo.


 

— Não, eu não acredito! — Sehun chegou em frente a coxia dos cavalos aos berros, tamanha indignação por ver Chanyeol a sua frente, já descendo do bicho. — Eu estava na frente!

 

— Eu sou bom no que eu faço! Apenas aceite.

 

Sorriu convencido, arrancando um revirar de olhos do mais novo. Acabou rindo fraco do jeito mimado do soldado.

 

— Vem que eu te ajudo. — Chanyeol estendeu a mão para o amigo, que lhe olhou semicerrando os olhos, mas aceitou rapidamente.

 

Sehun passou sua perna por cima do lombo do cavalo, se pondo sentado de frente, esticando os braços para o Park que resmungou com o ato. O mais novo desceu, quase perdendo o equilíbrio do pulo, tendo de se segurar nos ombros do mais alto.

 

Ambos se olharam por míseros segundos, que pareciam durar uma eternidade, até que as palavras saíram da boca.

 

— Desculpa!

 

Os dois disseram ao mesmo tempo, sentindo o agito dos corpos se mesclar um no outro. Os olhos compenetrados se fitavam intenso demais. Sehun não se fez de rogado e se permitiu segurar firme nos ombros largos do homem que lhe tinha nos braços. Chanyeol sentiu o aperto, sendo instintivo fazer o mesmo na cintura do mais novo.

 

— Eu… — Mais uma vez a fala foi dita junto, o que arrancou um riso fraco de ambos.

 

— Me desculpa, eu não quis agir daquela forma com você. — Chanyeol tomou a frente. — Eu sou grato por ter cuidado de mim durante esses dias. Obrigado.

 

— Não precisa me agradecer. Eu faria tudo de novo. — A sinceridade na voz do outro pegou Chanyeol desprevenido, o fazendo respirar com cautela. — Eu também peço desculpas por ter agido de forma errada. Não é daquela forma que um soldado age.

 

— Tudo bem, se tivesse um chefe como eu e estivesse no seu lugar também surtaria. Imagina perder um chefe maravilhoso assim? — Brincou, sendo correspondido por um par de olhos revirados.

 

— Você tem que estragar o momento, não é?

 

— Só pra descontrair. Não quero falar mais desse assunto, okay? Vamos deixar isso lá no Clã. Eu quero só viver a minha vida e o pouco que eu ainda tenho dela, não quero falar do passado e nem nada do que possa o trazer de volta, por favor.

 

— Quer viver só o presente, Senhor Comandante? — Provocou, usando um tom baixo.

 

— Eu sou um homem do presente, Oh Sehun, e você sabe disso. — Devolveu a provocação apertando a cintura, arrancando um ofego surpreso do alfa. — Você está me pondo a exposição sabia disso?

 

Olhou ao redor, mesmo que não tivesse ninguém no local, seu instinto não deixava de estar sempre alheio a tudo.

 

— Você que se expõe demais, Comandante.

 

— Você não tem jeito mesmo, Oh Sehun. Quando vai aprender que eu não posso te dar nada? Já conversamos sobre isso.

 

— Só não entendo porque você diz que não pode, sendo que o que mais quer é o mesmo que eu quero.

 

— Eu não quero te machucar. Você é bom demais para mim.

 

— Por favor, sem essa de “Eu sei o que é melhor para você”. Eu já sou maior, sei o que quero e sinceramente, agora, eu estou deixando claro que quero você. Nayeon me disse algumas coisas que antes me deixavam com dúvidas ou sei lá, talvez medo, mas agora, eu não quero perder tempo. Eu te quero Park Chanyeol, te quero muito e eu não me importo se somos dois alfas, se você tem a droga dessas flores no braço. Eu arrisco dizer que sou completamente apaixonado por você.

 

Chanyeol tinha consciência de que Sehun sentia algo por si, mas não iria mentir, estava surpreso, impressionado com a declaração do mais novo. Não esperava ter aquelas palavras tão sinceras e seguras jogadas na sua cara. Se afastou do Oh, desfazendo o abraço ou seja lá no que estavam metidos.

 

— Eu…

 

— Não diga nada. Eu sei que nunca vai poder me amar, mas, sinceramente, estou aqui para lutar por você e enquanto tiver chances vou continuar. Porque sei, Chanyeol... Eu sei que lá no fundo, mexo com você. Então aguarde, porque de uma forma, ou de outra, vou me mostrar presente. Você me ensinou a nunca desistir daquilo que eu quero, que amo e sonho. Você faz parte das minhas três linhas de alcance e eu vou lutar por você.  

 

Sehun se aproximou novamente, selando os lábios do alfa moreno, sorrindo com a falta de reação. Desejou a ele uma boa noite e se pôs a caminhar até a casa do exército de Soleil.

 

Chanyeol estava estático no lugar, sentindo os lábios formigarem, enquanto o cavalo relinchava em seus ouvidos.

 

— Que alfa maluco! — Ditou ao vento, segurando as rédeas dos dois cavalos, os levando para o estábulo.


 

Sehun era maluco se estava com o pensamento de lhe conquistar, porém não podia negar que lá no fundo, gostava daquela ideia.






 






 

O barulho da água acalmava os ouvidos do rapaz, sentado na gigantesca pedra em meio ao riacho. Seus olhos estavam vidrados no pôr do Sol, belíssimo que arranhava o céu.

 

Sentia suas mãos e o corpo inteiro quente, era diferente a sensação. Seus ouvidos contemplavam a doce voz que entoava uma canção distante, o tom era calmo e delicado… sem pressa de nada.

 

Era estranha aquela calmaria. Sentiu a cabeça doer, logo levando sua mão até a parte da nuca. Seus olhos miraram na mancha de sangue em sua palma, lhe causando uma ânsia horrível por todo o corpo.

 

O cenário a sua volta não era mais o mesmo, seus pés pisavam em panos sujos e cheios de sangue. A canção que ali existia era abafada por gritos e um choro absurdamente irritante para seus ouvidos, levou a mão até eles, os tampando, tamanha irritação que os acometia.

 

Seu peito doía, a cada passo que dava para dentro da mata. A luz amarelada, que vinha de tochas chamavam sua atenção, o sangue ainda escorria e o chão era coberto por panos por toda a parte… todos sujos, cheios de sangue.

 

Seu coração parou algumas batidas, quando seus olhos se deparam com a casa em frente coberta por mato. O choro da criança aumentava, junto dos gritos que começavam a ficar mais desesperados.


 

Sentia seu corpo tremer quando o olhar da mulher em frente a casa colide com o seu.

 

Os olhos de cristais, aquele olhar nunca sairia de si.


 

“Filho da Lua”



 

Os olhos amarelados são abertos com rapidez, assim como a boca que busca por ar. A sensação de sufocamento o toma por completo, fazendo-o se mexer na cama. O corpo trava ao sentir um peso sobre o seu, lhe deixando apavorado.

 

O cheiro doce adentra seu sistema o deixando zonzo e enjoado. A ânsia de desconforto o toma por completo, lhe fazendo se afastar do outro.

 

Jaebum se afasta do garoto deitado em cima de si, sentindo seu coração se acelerar com o pânico que lhe atormenta. O corpo de Jinyoung se moveu lentamente, mas não o suficiente para acordar.

 

Os olhos do Im caiem em cima do ômega, que voltou a se mexer na cama, buscando mais conforto para dormir. Sua mão passa pelos cabelos, os bagunçando de modo nervoso. Ainda sente a sensação do sonho lhe tomar por completo… podia sentir o sangue em suas mãos.

 

Respirou fundo, sentindo o peito doer. Caminhou com rapidez até o banheiro, tirando a roupa por completo e se pondo abaixo do chuveiro.

 

A água gélida colidiu em sua pele, lhe causando pequenos espasmos pelo choque.

 

“Filho da Lua”


 

Aquela voz… aquela maldita voz ecoava em sua cabeça, lhe ferindo todas as partes de sua mente. O peito descia e subia, a dificuldade de respirar sempre vinha após cada pesadelo. Nunca se livraria daqueles malditos sonhos, eles sempre voltariam para lhe assombrar, mesmo que gritasse ao mundo que não se importava.

 

Se banhou por completo, esfregando o corpo marcado, como se daquele modo conseguisse tirar as sensações e culpas que lhe assolavam. Resmungou doído ao sentir uma dor latente no seu braço esquerdo. A atadura estava ensanguentada. Tirou-a observando as marcas de dentes cravadas na pele.

 

Buscou em suas memórias algum resquício de onde e como poderia ter feito aquilo, porém nada lhe vinha à cabeça. Não se lembrava de nada. Nada e nem ninguém.

 

Fechou o registro, puxando a toalha pendurada e a enrolando na cintura. Caminhou até em frente a pia, mirando seu reflexo no espelho. Esperava encontrar o mesmo de sempre, o rosto pálido e a magreza evidentes, porém não era aquilo que via. Sua cor de pele estava normal, parecia até mais corado e não havia muita diferença em seus traços. Parecia mais forte, encorpado. Talvez o poder das vinte uma luas fazia sentido agora. Todos sempre lhe disseram que com a chegada das luas mais importantes da vida de um alfa, tudo mudava. O corpo se habituava a um novo sistema, o organismo mudava e o lobo começava a entender seu papel de liderança.

 

Nada daquilo importava a Jaebum. Não se importava com quantas luas estava ou esteve fazendo. Sua única preocupação era se livrar de suas responsabilidades como filho do grande Hyunsik. E pensando em tudo que precisava fazer, fez sua higiene, murmurando incômodo pelo braço machucado. Saiu do banheiro parando para fitar o ômega deitado em sua cama. Não fazia ideia de como ele tinha vindo parar ali, mas de uma coisa tinha certeza, não gostou nenhum pouco da presença alheia.

 

Se pôs em direção ao closet, procurando algo para vestir, não contendo o suspiro de revolta ao ver malas e algumas roupas, que não lhe pertenciam ao lado das suas. Pegou a primeira peça que viu, a vestindo com rapidez. Seu braço latejava cada vez que o movia. Buscou na gaveta, uma atadura simples, a amarrando em volta do braço com auxílio da boca.

 

Saiu do quarto sem nem voltar seu olhar a cama. Estava andando pelos corredores do castelo inerte em seus pensamentos a mil, fervendo em irritação, quando sentiu seu corpo se debater em alguém. Levantou seus olhos irritados, pronto para ralhar quem lhe acertara, porém o outro a frente foi mais rápido, logo lhe sorrindo torto.

 

— Que desprazer lhe ver a essa hora da manhã, Jaebum.

 

— Digo o mesmo, querido irmão! — sorriu forçado, dando um passo à frente sendo parado pelo outro. — Eu quero passar. — disse óbvio, suspirando pesado.

 

— A sua sorte é que você tem aquele ômega agora, porque senão fosse ele, eu teria feito você pagar com o próprio sangue o que fez a Sungmin. — Kyuhyun cuspiu as palavras na cara do ruivo, o empurrando cheio de ódio. — Eu quero ver Jaebum, quando não existir ninguém para te defender, vai ser só você e eu. Corpo a corpo. E eu vou acabar com você.

 

Jaebum olhava confuso o mais velho, sentindo a agitação tomar conta do seu corpo ao ser empurrado com tudo.

 

— Do que você está falando, seu imbecil?

 

— Você sabe do que eu estou falando! Não se finja de desentendido. Você atacou meu ômega e vai pagar por isso. Pode ter certeza que irá. — Sentiu o dar de ombros do irmão. Fechou as mãos em punho, controlando a raiva que crescia dentro de si.

 

Kyuhyun tinha esse poder de lhe irritar até a alma. Socou a parede, odiando aquela forma cínica que era tratado pelo mais velho.

 

Os filetes de sangue escorriam pela mão, enquanto voltava a caminhar soltando chiados de irritação e xingando todos os deuses existentes.

 

A porta do gabinete principal foi escancarada, fazendo os dois homens ali dentro correrem seus olhos até o indivíduo parado rente a entrada.

 

— Jaebum. — Hyunsik levantou, surpreso com o filho ali.

 

Caminhou até o meio da enorme sala, constando os traços do mais novo que lhe fitava de modo diferente.

 

— Quero falar com o senhor a sós. — A frase foi dita em alto e bom som.

 

— Ah Jaebum… conte-nos sobre tudo, eu sou quase um segundo pai para você. — O olhar que o ruivo deu a ZhouMi fez o conde se mexer incomodado na cadeira.

 

— A sós. — Foi a única coisa que disse, voltando seu olhar ao pai.

 

— Eu não tenho segredos com ZhouMi, meu filho. Então, apenas fale.

 

— Quero aquele ômega fora do meu quarto. Eu não suporto o cheiro dele. — Despejou as palavras friamente, sentindo o olhar de ambos caírem sobre si.

 

— Você está casado com Jinyoung, precisam estar no mesmo quarto. O que…

 

— Não, eu não preciso estar no mesmo quarto que um desconhecido só porque o senhor pôs na sua cabeça que eu e ele somos predestinados. Eu não casei por agrado meu e o senhor sabe muito bem disso, então caso não queira que eu faça um inferno na vida daquele ômega, tire ele e tudo que o pertence do meu quarto. Ao contrário do senhor, eu não tenho nada a perder.


 

Hyunsik escutou atentamente e olhou para ZhouMi que mantinha a testa franzida.

 

— É sua coroação hoje Jaebum, o povo lhe verá sendo coroado por mim. Pelo menos hoje, aja como um rei e não como um moleque. Jinyoung não irá sair do seu quarto, vocês são casados. O que as pessoas irão pensar se souberem que vocês não dormem juntos?

 

— O senhor acha mesmo que eu estou me importando com isso? Quero é mais que elas descubram, assim vão ver que esse casamento não é feito pela droga do destino coisa alguma. Muito diferente do que elas acreditam, eu e aquele ômega nunca iremos nos envolver. Amo YoungJae e é só com ele que viverei. E… tenha certeza, eu não irei na droga dessa coroação. Não quero ser rei e não serei. Eu me casei com aquele ômega, como o senhor queria… mas não disse que aceitaria tudo. Coroe Kyuhyun, ele sempre quis aquela coroa.

 

— Jaebum você está passando dos limites!

 

— Foi o senhor que passou dos limites quando me obrigou a subir naquele altar e além de tudo, me fez casar com aquele ômega no meu período de cio. Foi o senhor que começou com o jogo sujo, agora arque com as consequências. Deveria ter escutado seu braço direito, quando ele lhe falou que esse casamento seria o fim de Carlon. — Seus olhos caíram sobre ZhouMi, que lhe fitava atento. — Eu não vou afundar a minha liberdade na droga de uma relação fadada ao fracasso. Se o senhor abriu mão de algo para ser rei, eu sinto muito, mas não irei fazer o mesmo.

 

Jaebum não esperou uma resposta, saiu do local batendo a porta com força. Seus pés caminharam com rapidez até a saída lateral do castelo. Seu coração estava acelerado, era como se tivesse tirado um peso de suas costas. Correu até onde os cavalos ficavam, adentrando o lugar. Foi até seu cavalo, o ouvindo relinchar afobado. Passou as mãos no pelo negro, sentindo a maciez do bicho. Destravou o pequeno compartimento que guardava o cavalo, o puxando pelas rédeas.

 

— Aonde você pensa que vai? — O tom duro chegou até seus ouvidos, o fazendo parar e virar o corpo até o ser que lhe questionava.

 

— Ah é você, Jackson…

 

— Onde você vai? — Retomou a pergunta, indo em direção ao ruivo.

 

— Vou dar uma volta, não posso mais?

 

— A coroação é daqui algumas horas, você não vai. — Falou seguro de si, olhando sério nos olhos alheios.

 

Jaebum riu soprado, sentindo a leve indignação lhe acertar em cheio. Estava exausto de todos querem dar pitaco em sua vida.

 

— Eu não vou para a droga dessa coroação, mas não vou nem arrastado.

 

— Há pessoas que dependem disso.

 

— A única coisa que as pessoas dependiam era se eu subisse naquele altar, eu subi e agora não há mais nada que eu possa fazer por vocês.

 

— Jinyoung…

 

— Sem chiliques, Jackson. Se é tão importante a coroação, vá no meu lugar. — Disse subindo no cavalo, ajeitou o corpo fitando o amigo lhe olhar com julgamento. Sorriu divertido, achando graça da sua loucura.

 

— Só queria dizer, que se você sair nesse cavalo, você está muito ferrado.

 

— Oh… que bom saber disso. Até mais. — Puxou as rédeas, instigando o animal a se movimentar.

 

Saiu em disparada, ouvindo os gritos do Wang lhe chamando, não deu ouvidos. Naquele momento nada lhe importava a não ser o vento fresco que colidia em seu rosto.

 

Era apenas aquilo que fazia sentido para si… liberdade, ah isso nada e nem ninguém iriam lhe tirar.






 





 

Jimin adentrou o quarto com cautela, caminhando vagarosamente até a cama onde o irmão se encontrava. Balançou o corpo devagar, chamando pelo ômega, sendo correspondido por resmungos sonolentos.

 

— Jinyoung… acorde querido. — Chacoalhou mais uma vez, obtendo sucesso ao finalmente acordar o outro.

 

Os olhinhos verdes lhe miraram preguiçosos. Jinyoung se aninhou mais as cobertas, gostando do calor que elas tinham e lhe proporcionavam.

 

— Bom dia, Jiminnie. — Saudou sonolento, arrancando um sorriso do mais velho que inclinou o corpo para lhe deixar um selar carinhoso na testa.

 

— Bom dia, bebê. Dormiu bem? — A confirmação veio em um balançar de cabeça.

 

Jimin passou a mão nos fios negros do ômega, um carinho gostoso que Jinyoung gostava de receber.

 

— Você precisa levantar, se arrumar e descer para o desjejum. A coroação para o povo é hoje.


 

Ao ouvir aquilo Jinyoung sentou bruscamente na cama, olhando ao redor do quarto e constando onde estava. Jimin percebeu a procura que havia naqueles esverdeados e tomou a frente, antes que o moreno perguntasse.

 

— Ele não está aqui. — Disse simples, sem tirar a atenção do outro.

 

— Onde ele deve estar? E-ele está machucado. Jimin, a gente precisa achar ele. — Jinyoung se destapou com rapidez, sendo parado por Jimin, que lhe olhava carinhosamente.

 

— Ele voltou ao normal, Jinyoung. Jaebum não é mais o cara que você se acostumou e que você cuidou.


 

Jinyoung olhava atentamente o irmão, sentindo as palavras lhe deixarem de alguma forma desconfortável. Sentiu seu coração dar algumas leves falhadas, não que tinha se apegado ao outro, mas admitia lá no fundo gostar do jeito do alfa daquele modo, completamente livre dos entraves da razão humana.

 

Respirou com cautela, sentindo o ar lhe faltar um pouco, buscou qualquer canto do enorme quarto que não fosse os olhos amarelos a sua frente. Sentia que Jimin queria lhe perguntar algo e esse algo, eram milhares de coisas. Engoliu o amargor, a garganta seca lhe deu agonia. Desceu da cama, sentindo uma tontura e vertigem se apossar de si, sendo amparado rapidamente pelo irmão.

 

— Hey… o que foi? — A pergunta parecia estar em looping sem fim algum. Sentiu sua nuca doer e a visão ficar turva levemente.

 

— Jimin… eu não… eu não estou me sentindo bem… — disse fraco nos braços do irmão.


 

Os trotes do cavalo junto com a poeira tomavam a sua vista. Sentiu seus ouvidos zunirem com o barulhinho das pedras e dos gritos.


 

Sangue…

 


 

— Jaebum…


 

Foi a última coisa que disse antes de sentir as vistas escurecerem e perder os sentidos. Jimin o acudiu nos braços, desesperado com o ocorrido.


 

— Socorro! Alguém! Ajuda! — Gritou em plenos pulmões. Agarrou firme o corpo desfalecido em meio aos seus braços, sentindo seu coração se acelerar.

 

— O que houve? — Sungmin adentrou o quarto às pressas, se deparando com Jimin sentado na cama e Jinyoung desacordado em seus braços.

 

— Chama alguém! Rápido! — Voltou sua atenção ao mais novo, ouvindo os passos de Sungmin se tornarem distantes.

 

Abraçou o corpo com cuidado, beijando o topo da cabeça. Seus dedos deslizaram pelo rosto do irmão, sentindo a frieza da pele maltratar a ponta dos seus dedos. Jinyoung estava gelado como uma calota.

 

— O que aconteceu com ele? — Jimin levou seu olhar a porta, vendo Sehun se aproximar rapidamente junto de Sungmin.

 

O alfa loiro se aproximou do ômega, ajudando Jimin a deitá-lo na cama, logo checando os batimentos e pulso do mais novo.

 

— Estão fracos… — disse baixo, afastando Jimin de perto do ômega. — Você precisa ficar longe, seu jeito protetor pode interferir. — Por favor senhor Cho, tire ele daqui.

 

Sehun encarou Sungmin, pedindo sutilmente, sendo atendido com rapidez. Viu o ômega puxar o Park e o tirar do quarto. Sua atenção se voltou ao ômega, que parecia ressonar pesado.

 

Sentia que era mais uma das recaídas e aquilo lhe fez arrepiar da cabeça aos pés. Buscou manter a cabeça erguida do ômega, num momento como aquele, era preciso ter calma, agir de modo frio. Não podia interferir.

 

Era mais uma das inúmeras recaídas.

 

Recaídas que doíam na alma.








 







 

Os passos se apressaram a subir os degraus, após ter deixado o cavalo bem seguro. Correu até a parte lateral da enorme casa assobiando em frente à janela de vidraça.

 

— YoungJae! — Gritou, voltando à frente da casa, indo em direção a porta.

 

Demorou alguns minutos até ouvir o barulho de passos e da tranca sendo aberta.

 

— Alteza. — A ômega reverenciou o ruivo, sendo correspondida rapidamente.

 

Jaebum foi rápido, logo perguntando de YoungJae e sendo levado até o quarto do mesmo.

 

Adentrou o cômodo, se deparando com o ômega no meio do quarto, totalmente alinhado e polido. Sorriu ao olhar para ele da cabeça aos pés, caminhando com urgência para abraçá-lo.

 

— Como eu senti sua falta! — Confessou em meio ao abraço, inalando o cheiro do ômega.

 

— Você não devia estar aqui! — Jaebum não viu, mas Youngjae sorria em meio a fala, aproveitando do abraço que ganhava. Não tinha nada melhor do que estar nos braços de Jaebum.

 

— Eu precisava te ver ou enlouqueceria. — Afastou-se minimamente, segurando o rosto do loiro com as duas mãos, não perdendo tempo em manter aquela distância.

 

Tomou os lábios alheios para si, sendo correspondido prontamente. Suas mãos deslizaram pelo corpo alheio, buscando com urgência cada toque. Jaebum mantinha YoungJae firme em seus braços, buscando por mais contato.

 

Era acostumado com aquela urgência do loiro, junto das mãos afoitas dele. Porém não parecia o suficiente.

 

Sentiu-o se afastar, buscando respirar com calma.

 

— Uau… estou vendo que você sentiu a minha falta mesmo. Bom saber que eu ainda tenho o meu alfa. — Selou os lábios do ruivo, sem perceber que o outro estava em outra perspectiva.

 

— E-eu precisei te ver…

 

— Você já disse isso, meu amor. — Riu divertido, segurando o rosto do ruivo e voltando a beijá-lo.

 

— Y-YoungJae… — murmurou fraco, não correspondendo o beijo a altura.

 

— O que foi querido? — Os olhos verdes lhe fitaram curiosos.

 

Jaebum ponderou, pensando em coisas que nem tinham sentido para si.

 

— Nada! Nada! Só me beija. — Balançou a cabeça de um lado para o outro, sentindo o corpo se agitar sem explicação alguma.

 

Voltou a sentir a textura dos lábios alheios sobre o seu, se permitiu relaxar diante do loiro, sentindo as mãos alheias brincarem com a parte de cima da sua roupa.

 

Youngjae lhe beijou o pescoço, adentrando sua camisa, dedilhando cada parte de sua pele. O toque frio fez Jaebum estremecer, o que fez o menor parar o ato e lhe encarar.

 

— O que está acontecendo Jaebum? — Se afastou, sério demais.

 

— Eu não sei.

 

— Ah se você não sabe, como eu vou saber? Você chega aqui diz que está com saudades de mim, me beija como se não houvesse amanhã e agora age desse jeito! Francamente.

 

— Me desculpe, eu só… só estou com problemas. Será que a gente pode só ficar junto, por favor.

 

— Ah agora eu virei passatempo dos seus problemas! — O tom mimado fez Jaebum suspirar audível, mexendo nos fios ruivos.

 

— Eu só quero ficar em paz, YoungJae… só isso. É pedir muito pra nós dois ficarmos deitadinhos juntos?

 

— Jaebum você está me achando com cara de cuidadora de crianças agora? Você nunca foi disso. O que deu em você? — Cruzou os braços, batendo o pé no chão.

 

— Não me deu nada, YoungJae. Nada! Eu só quero deitar com você, não posso mais?

 

— Você está estanho.

 

— Eu me casei com um ômega que nem conheço. A minha vida está sendo um verdadeiro inferno e irá continuar a ser a partir de hoje. Eu passei a droga do meu cio e mais uma vez sinto ódio de mim. Você ao menos me perguntou como passei essa última semana e eu não tenho o direito de ficar estranho? — Despejou as palavras com irritação na voz.

 

— Jaebum eu não quero saber dos detalhes do seu cio com aquele ômega. Pelo amor de Deus!

 

— Ah você acha mesmo que eu passei meu cio com, Jinyoung? Sério isso, YoungJae?

 

— Ah pelo amor, Jaebum. Você estava no cio, em cima daquele altar você já estava todo afetado, me pergunto o que não fizeram naquela cabana. Ainda mais um garoto como aquele, aposto que se exibiu pra você só para ter o que queria. Tome cuidado, porque daqui a pouco ele aparece dizendo que vai ter um filhote seu e é aí que você não vai conseguir se livrar dele, por-...

 

— CHEGA! — Gritou tomado pela raiva. — Eu não passei meu cio com Jinyoung! E não admito que fale de mim dessa forma. Quer saber de uma coisa? Eu nem devia ter vindo aqui. — Disse saindo do quarto.

 

— JAEBUM, VOLTA AQUI! — O grito chegou aos ouvidos do Im enquanto ele descia os lances de escada rapidamente.

 

YoungJae gritara tantas vezes seu nome que perdeu as contas. Subiu no cavalo com pressa, sentindo seu corpo inteiro tremer e um suor absurdo lhe tomar por inteiro.

 

Céus, como estava quente.


 

Os galopes eram rápidos, precisos, numa velocidade invejável a qualquer corredor. Jaebum sentia a dor latente no braço ser dividida por todo o corpo enquanto rumava de volta ao castelo. Poderia seguir o caminho do riacho, o lugar que era o único a conhecer, porém voltar lá era lembrar da droga do pesadelo que teve pela manhã, portanto, só lhe restava a bendita moradia.

 

Sentiu-se zonzo com o balanço que sofria, sentindo vez ou outra sua vista ficar turva.

 

Cessou os movimentos do cavalo com o puxar das rédeas, descendo desajeitado do animal. Pousou suas mãos nos joelhos, buscando fôlego.

 

A dor na nuca voltava a lhe incomodar, e um barulho absurdo começava a machucar seus ouvidos.

 

As falas altas lhe adentravam a mente, uma voz mais diferente que a outra, mais alta que a outra. O barulho parecia reverberar por todos os lados, lhe deixando zonzo demais.

 

Sentiu sua vista ficar avermelhada e a dor torturante lhe tomou o corpo. Sentia seus ossos se moverem embaixo da pele, lhe arrancando grunhidos de dor.

 

Cedeu os joelhos, sentindo-os colidirem nas pedras soltas. A dor era absurda, o imobilizava. As garras rasgavam a pele dos seus dedos, fazendo o sangue jorrar e manchar partes de sua roupa. Gritou doído ao sentir seu lobo querer tomar forma, estava lutando consigo mesmo para não se transformar.


 

— Jaebum! — O grito ecoou pela viela. Os passos rápidos chegaram até os ouvidos do alfa ruivo que buscou se mover, porém a dor que sentiu só lhe permitiu gritar dolorido.

 

— Ja-Jackson… me-me aju-juda.  — Sentiu os braços do platinado lhe segurarem com força, o pondo de pé.

 

Jackson buscou lhe chamar para ter sua atenção, porém tudo o que conseguia fazer era só clamar por ajuda. Sentia seu corpo fraco e, a dor insuportável lhe doía até a alma.

 

— Fica aqui. Irei chamar alguns guardas para me ajudarem.

 

Jackson correu até o ponto mais perto em que alguns soldados ficavam, os chamando para ajudar enquanto Jaebum choramingava de dor e sentindo o medo lhe abater com a visão de tudo ao seu redor vermelho, junto com o falatório dentro da sua própria cabeça.

 

Os pensamentos… os malditos pensamentos de todos pareciam gritar em sua cabeça.

 

Sentiu seu corpo ser puxado e carregado, enquanto se perdia em meio as vozes que lhe assolavam.

 

Não soube como, mas a única coisa que lhe fazia sentido em meio a tudo aquilo, era aquela voz doce, lhe cantando algo calmo. A sensação de conforto foi o que lhe permitiu fechar os olhos e apenas se deixar ser carregado.

 

Conseguia ouvir os gritos de Jackson chamando seu nome, era distante, assim como os flashes vermelhos.



 

 

“Se eu estou sonhando, nunca me acorde

 

Eu quero ouvir sua melodia, a única coisa que eu poderia precisar

 

Porque se tivesse que viver sem você eu estaria perdido

 

E neste momento, eu quero mais”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jaebum fechou os olhos, ouvindo a única coisa que parecia lhe trazer algo de bom.  






 










 

— Seu filho está passando dos limites Hyunsik. É bom colocar rédeas nesse garoto. Ele é o novo rei.

 

— Deixe que de meu filho cuido eu, ZhouMi.

 

Após Jaebum sair batendo a porta, ambos os alfas ficaram ali, discutindo o modo de agir do Im mais novo. Hyunsik entendia que precisava manter o filho nos trilhos, porém sabia do gênio forte do herdeiro, era como o seu… ou melhor, era como o da sua progenitora. Um espírito livre demais para viver preso a obrigações impostas sobre si.

 

— Você trata Jaebum como uma criança, é por isso que ele age e faz o que bem entende. Você nunca deu a ele limites, ao contrário de Kyuhyun, que você sempre obrigou a andar na linha, a se portar como um príncipe. Por que você fez a criação de ambos ser tão diferente? Me diga com sinceridade. Você ama mais Jaebum do que o Kyuhyun, não é?

 

— Por Lua, homem! Não diga uma coisa dessas! Eu amo meus filhos de igual para igual. Eu dei a mesma criação para ambos os dois, mas Kyuhyun é diferente de Jaebum e sabemos bem disso. Kyuhyun gosta da disciplina, enquanto Jaebum foge dela. É essa diferença que acaba ficando evidente e que faz todos pensarem que eu os trato diferente, mas não há nenhuma diferença. Eu os amo na mesma intensidade.

 

— Não é o que parece, meu amigo. Admita para si mesmo que a uma diferença, senão nos filhos que seja as ômegas então. Você sempre amou mais a mãe do Jaebum do que a do Kyuhyun e isso você não pode negar.

 

— Isso não justifica o amor que eu sinto por meus filhos.

 

— Amor… as pessoas se matam muito mais por esse sentimento do que nas próprias guerras. Contraditório, não acha?

 

— As pessoas não sabem amar.

 

— O mundo é daqueles que sabem sobreviver meu caro e não de quem sabe amar.

 

— Suas filosofias são falácias para mim.

 

— Você é um pobre romântico incorrigível.

 

— E você um soldado sem alma. — Sorriu divertido, sendo seguido pelo outro.

 

Conheciam-se a tempos, eram como irmãos.

 

— Espero que saiba se virar com Yangmin, logo ele estará aqui.

 

— Soube que ele irá embora logo após a coroação. Houve um contratempo. Parece que os deuses estão olhando para mim.

 

— Parece que sim.

 

Deuses ou não, Hyunsik era grato por saber que o rei de Soleil estaria há milhas de distância de si. Não suportaria olhar para aquele rosto, sem ser tomado por lembranças do passado.

 

Ah existem aqueles que nunca poderão viver completamente sem lembrar de algo dolorido. E a dor é capaz de causar sintomas diferentes em cada um.

 

E na maioria das vezes… o rancor e sentimento de vingança prevalece.







 






 

Jimin caminhava de um lado para o outro em meio ao corredor que sucedia ao quarto onde Jinyoung se encontrava. Estava nervoso e os falatórios de seu pai junto a si não lhe ajudavam em nada se acalmar. E tudo piorou quando viu Jaebum ser carregado por Jackson e alguns guardas, totalmente desacordado.

 

Seu coração se agitou, ao lembrar da última palavra que Jinyoung falou antes de desmaiar. Sentiu a boca ficar seca diante da cena. Agora ambos os dois príncipes se encontravam no quarto, deitados um do lado do outro.

 

— Mas o que está acontecendo com esses dois?

 

A voz de Yangmin reverberou pelo extenso corredor, fazendo Jimin lhe olhar torto, porque sinceramente, seu pai nunca entenderia nada.

 

A partir do momento em que se encontrarem, ambos estarão com sua ligação mais forte e não importa como, mas sempre sentirão um ao outro.”

 

Lembrava perfeitamente do dia em que escutara isso, sentindo seu peito doer. Queria entender melhor o que se passava entre duas pessoas ligadas, porém não entendia como podia existir uma rejeição de alguma parte, porque era fato que Jaebum rejeitava seu irmão e não colocaria a mão no fogo por Jinyoung também, mesmo que o ômega não deixasse claro em alguns momentos, ele também não queria estar ao lado do Im.

 

Começava a se perguntar se Jinyoung e Jaebum estavam realmente ligados como o ancião o disse, porque não fazia sentido e isso, agora, começava a lhe preocupar.

 

Foi desperto de seus pensamentos ao ver Sehun saindo do quarto e lhe fitando com cautela. Viu o olhar do alfa cair sobre seu pai e prontamente entendeu o que se passava.

 

— O que aconteceu com meu filho?

 

— Jinyoung está fraco, é provável que não tenha se alimentado direito devido a lua de mel. — Disse simples e seguro, vendo o pequeno sorriso que se moldou nos lábios do rei.

 

— Esse garoto não me decepciona. Cuide dele perfeitamente, será recompensado por isso Sehun. — Sentiu o aperto em seu ombro em forma de comprimento.

 

Acabou sorrindo forçado, se sentindo enojado com o jeito do homem tratar o próprio filho.

 

— Me diga a verdade! — Jimin puxou Sehun pelo braço, assim que viu seu pai sumir pelo corredor.

 

— Ele teve uma recaída. Você sabe que eu não entendo muito disso, porque a minha área é mais científica, porém sugiro que o leve ao guardião dele. Se ele continuar desse jeito, as pessoas vão descobrir o que ele carrega. Jinyoung precisa aprender a dominar o dom dele antes que seja tarde demais e eu não estou falando apenas como um médico do exército, estou falando como amigo também. Seu irmão precisa se controlar Jimin, pelo bem dele.

 

Sehun sentenciava sério, confiável e preocupado, deixando Jimin a par da situação do ômega. O Oh saiu de seu campo de visão, mas antes que fosse embora foi segurado pelo Park.

 

— E Jaebum?

 

— Eu não cheguei a analisá-lo, mas se ninguém tomar providências com ele, as coisas irão piorar. Ele foi trazido para cá tendo o corpo transformado, ele desmaiou de dor, não sei se é por causa dos ferimentos. A mordida que ele tem no braço está infeccionada, o alfa que o mordeu deveria estar doente ou algo do tipo.

 

— Isso afeta Jinyoung?

 

— Por que afetaria? — Franziu o cenho, não entendo a pergunta.

 

Porém na cabeça do Park fazia sentido ou quase.

 

Jinyoung tinha tido uma visão com o Im, por isso desmaiou, agora restava saber se ele desmaiara pela energia que as visões exigiam de seu corpo ou se foi causado pelo fato de ser com Jaebum.

 

— Esquece o que eu disse. Me ache Namjoon, diga a ele para que me encontre com urgência em meu quarto.

 

Ouviu a confirmação do alfa e se pôs em direção ao seu quarto. Sua cabeça estava a mil e odiava sentir a sensação de que estava deixando algo passar.

 

— Isso é impossível! — Fechou a porta do quarto, caminhando em círculos pelo quarto. — Impossível!

 

Grunhiu mais uma vez, sentindo pela primeira vez o medo lhe arrepiar.


 

Oh depois de tantos séculos aquilo poderia estar sendo vivido novamente.







 




 

— Você acha que ele poderá ir para o desfile?

 

— Talvez, se ele acordar a tempo, mas por hora deixaremos ele repousar ao lado do ômega dele. Por favor. — O doutor seguiu junto de Hyunsik para fora do quarto, fechando a porta logo em seguida.

 

— Não entendo como isso aconteceu.

 

— É normal das vinte uma luas isso acontecer, ainda mais para Jaebum que se transformou apenas uma vez e era muito jovem. Ele não tem domínio da transformação e o corpo está sofrendo uma mutação natural. Ele deve ter se assustado com isso e acabou perdendo os sentidos. — Explicou plausível, arrumando a roupa impecável. — Estarei em minha casa, caso necessite de algo apenas mande me chamar que virei o mais depressa possível. Não o deixe ficar sem os tranquilizantes caso ele venha a perder o controle.

 

— Eu sinto que esses tranquilizantes só o prejudicam mais… — ditou incerto.

 

— Eles acalmam Jaebum e são confiáveis. Não se preocupe com isso. Andei pesquisando sobre o caso de seu filho e sugiro que se ele continuar assim, seria melhor o levar para a Europa.

 

— Europa?

 

— Sim. Vivemos em distritos que ainda não possuem toda a ciência exemplar dos europeus. As cortes japonesas estão em processo ainda. Há um lugar incrível para levar Jaebum, para que ele se sinta melhor em relação aos cios.

 

— Irei pensar sobre isso, mas acredito que com o casamento esse assunto venha a acabar.

 

— Talvez. Um casamento pode salvar ambas as partes e sinceramente, esse é um belo casamento diga-se de passagem.

 

Hyunsik balançou a cabeça com concordando com o outro. Sentia que precisa ter um cuidado maior agora com o filho.

 

Talvez, se tivesse se dedicado mais a ele quando era menor e não tivesse escondido certas coisas dele, teria evitado muitas tragédias e acontecimentos.

 

Mas como dito antes, não se pode mandar no destino, porque mesmo que tentem o mudar, ele sempre dará um jeito de fazer o predestinado, sendo pelo caminho mais fácil ou o mais difícil, levado pela dor sofrimento.

 

E infelizmente, alguns optavam pela dor e sofrimento, porque eram infelizes com suas linhas, buscando mudá-las de qualquer forma.







 






 

Jinyoung se remexeu, dolorido sentindo seu corpo se agitar sabe-se lá o porquê. Se pôs sentado, ficando sobre os cotovelos e rondando o quarto, parando seus olhos no alfa ao seu lado. Franziu o cenho ao vê-lo ali, pois se lembrava de ter falado com Jimin e de não ter o visto pela manhã.

 

— Jaebum… — murmurou baixo, cutucando o alfa na bochecha, achando graça da careta desgostosa que o outro fez. — Jaebum… acorde.

 

O ruivo mexeu-se, virando o corpo, logo gemendo de dor ao sentir o braço latejar. Acabara dormindo em cima do local ferido e agora a dor estava insuportável.

 

— Oh meu Deus! — Jinyoung se levantou da cama rapidamente, segurando o braço do Im e constando o agrave do machucado.

 

Correu até a caixa de primeiros socorros, logo voltando a sentar ao lado do outro e cuidando do ferimento.

 

Só após terminar o curativo que pode olhar o rosto do alfa, só ali percebendo as orbes vermelhas lhe fitando. Sentiu seu coração se acelerar com aquilo, se perguntando o porquê de Jaebum continuar daquela maneira sendo que seu cio e os dias de resguardo já haviam acabado.

 

— Seus… olhos… — parou de falar ao perceber as mãos machucadas do alfa. — Você… você tentou se transformar?

 

O desespero tomou-lhe a voz, sentindo um amargor na boca e uma sensação ruim lhe apossar do corpo. Céus, Jaebum correu um perigo tremendo e ele não pode fazer nada.

 

— Eu… eu consegui m-me controlar.

 

Jaebum lhe fitava sem parar. Intenso em cada olhar que cravava o ômega.

 

— Não quero ir embora… — disse baixo, fazendo o ômega lhe olhar confuso, sem entender a confissão.

 

— Jaebum… você precisa voltar ao normal.

 

— Você quer que eu vá embora? — Se inclinou sobre o ômega o fazendo quase deitar na cama.

 

Os rostos estavam próximos um do outro, fazendo Jinyoung fechar os olhos mergulhado naquele cheiro forte e presença que lhe convinha bem.

 

— N-Não… — sua voz saiu trêmula, fraca demais para o momento.

 

Se sentia intimidado com o par de olhos vermelho sangue em sua frente e não soube controlar o ofego que soltou ao vislumbrar o sorriso que desenhou a boca alheia.

 

E céus, aquela boca…

 

— Gosto de saber disso.

 

Jaebum disse por fim, se aproximando do ômega e findando a distância entre seus lábios.

 

Sentiu a maciez dos rosados junto com o choque que se apossou de seu corpo, quando foi prontamente correspondido. Jinyoung entreabriu os lábios, recebendo a língua alheia, não se fazendo de rogado ao deixar um gemido prazeroso escapar.

 

Levou suas mãos aos fios do alfa, o trazendo para mais perto de si, sentindo as mãos do outro lhe apertarem com volúpia.

 

O beijo era cheio de desejo, aquecendo o corpo do ômega que parecia querer entrar em combustão com os apertos sofridos. Jaebum o pegou por debaixo de suas coxas, de modo a lhe surpreender, fazendo-lhe gemer lânguido rente a boca alheia.

 

Não soube explicar a sensação ao sentir Jaebum entre suas pernas, colando o corpo frio no seu. Era uma mistura boa.

 

Deixou suas mãos adentrarem a roupa alheia, arranhando com a vontade as costas do alfa, sentindo o mesmo ofegar diante de si.

 

Jaebum lhe beijava com vontade, cheio de querer. As línguas se colidiam, buscando explorar cada canto das bocas. O ruivo sentia-se em outra órbita com aqueles lábios, era como se sentir completo, era se sentir aquecido, mesmo que seu corpo estivesse congelando, numa sensação absurda de prazer.

 

Oh, Jinyoung conseguia lhe fazer se sentir bem de um jeito louco. A quentura da pele alheia lhe fazia sofrer espasmos gostosos demais, não sabendo controlar os gemidos que deixava escapar nos lábios do garoto.

 

Afastou-se da boca carnuda com sabor doce, vislumbrando o desalinhar que aquele ômega se encontrava. Moveu o corpo, roçando nele e o ouvindo soltar um gemido manhoso que só lhe causou estragos maiores a seu lobo, que rosnou inerte em um prazer absurdo.

 

Desceu seus lábios até o pescoço que continha algumas marcas, sorrindo satisfeito ao saber que tudo ali tinha sido ele a ter feito. Ah seu ego estava no auge da glória.

 

Sentiu Jinyoung puxar seus fios, lhe fazendo arrepiar com o ato, gostava do modo como o outro tentava se controlar, logo falhando miseravelmente, pois sabia que não conseguiria resistir.

 

— Doce… tão doce…

 

Aquilo pareceu como um estalo ao alfa, que se afastou rapidamente, arregalando os olhos ao perceber o que estava fazendo.

 

— Mas que merda é essa? — Levantou-se da cama, passando as mãos de modo nervoso pelos fios acobreados.

 

Jinyoung vislumbrou o par de olhos amarelados e virou seu corpo em direção ao alfa, se afundando entre as cobertas.

 

— Por que você estava me beijando? — Perguntou desesperado, vendo o ômega levantar a cabeça de um jeito preguiçoso, como se já esperasse por aquilo.

 

— Foi Vossa Alteza que me beijou.

 

— O QUÊ? Eu nunca faria isso! — Indignação… essa era a palavra perfeita pra definir todos os sentimentos que compunham a voz do ruivo.

 

— Você é muito dissimulado! — Levantou-se da cama se pondo à frente do alfa, logo o vendo recuar.

 

— Não se aproxima de mim!

 

— Ah faça-me o favor! Vossa Alteza acha mesmo que eu iria perder meu tempo lhe beijando? — Explodiu irritado.

 

— Claro que sim! Porque eu nunca faria isso. — Jinyoung riu, debochando do alfa e sentindo o olhar assassino alheio cair sobre si, porém não tinha medo, Jaebum não lhe dava medo, apenas confiança… confiança para lhe confrontar.

 

— Você é um alfa insuportável e eu nunca perderia meu tempo beijando um príncipe metido, que se acha o poderoso.

 

— E eu não perderia meu tempo beijando um ômega irritante e com um cheiro ruim! — Aproximou-se um passo do outro, lhe encarando firme nos esverdeados.

 

— Ah eu tenho cheiro ruim? — Deu um passo à frente. — Vossa Alteza já sentiu seu próprio cheiro? Além de alfa insuportável, cheira que nem um… que nem um…

 

— Que nem o quê, em? Me diz? — Mais um passo.

 

— Que nem um… um porco! É… você cheira que nem um porco! Apesar que os porquinhos são mais cheirosos que você. — Sorriu divertido, vendo os olhos amarelos faiscarem ódio.

 

— Você está me comparando a um porco? — Perguntou indignado, sentindo a respiração do outro colidir na sua.

 

— Na verdade acho que os porquinhos se sentiram ofendidos com a comparação. — O modo fofo como o ômega mostrava pensar fez Jaebum ferver em ódio. Ah odiava coisas fofas.

 

— Você que cheira mal, seu ômega insuportável!

 

— Alfa imbecil! — Retrucou sentindo seu nariz encostar no do outro.

 

— Ômega manhoso!

 

— Ogro!

 

— Irritante!

 

— Alfa tosco!

 

— Você é insuportável! — Disse se afastando, não sabendo se quem estava agitado era seu lobo ou seu lado humano. Torcia para que fosse o humano.

 

— Vossa Alteza é um alfa sem criatividade!

 

— Será que dá para você parar de me chamar assim? Isso me irrita!

 

— Não, não dá! — Disse por fim, caminhando até o closet, mas logo parando ao ouvir um grunhido de dor vindo do ruivo.

 

Virou-se rapidamente, caminhando em direção ao mais velho, fitando a careta contorcida de dor e a destra pressionar o lugar do ferimento.

 

— Deixe-me ver isso… — pediu calmo, vendo Jaebum se afastar bruscamente.

 

— Não toca em mim! Eu não preciso da sua ajuda. — Disse seco, massageando o local dolorido.

 

— Esse seu ferimento é grave, pare de agir de maneira infantil.

 

— Olha, já tem gente demais cuidando da droga da minha vida, vai me dizer que agora quer entrar para a fila também? — Seus olhos caíram sobre o ômega como flechas, mas não foi o suficiente para Jinyoung recuar ou se assustar. — Eu não preciso que me diga se essa merda é grave ou não! Quem cuida de mim sou eu, entendeu?

 

— Que seja, então! Faça o que quiser da droga da sua vida! Espero que não tenha esquecido do acordo que fizemos, em ajudar um ao outro.

 

— Acordo? Você acha mesmo que eu irei fazer algo para lhe ajudar?

 

— Você prometeu! — Bateu o pé indignado, já sentindo seu coração acelerar mais com o olhar cínico a sua frente.

 

— Eu não acredito que você confiou na porcaria do meu lobo. Eu não sei o que raios eu devo ter prometido a você, mas saiba de algo, esqueça tudo! Tudo.

 

— Você não se lembra de nada? — Sua voz saiu trêmula, lhe fazendo se xingar mentalmente por aquele deslize evidente.

 

— Não. Não lembro e também não faço questão de lembrar. Tudo que se refere aos meus dias de cio e de resguardo é insignificante. Não há importância alguma para mim, então seja lá o que eu disse a você, apenas esqueça. Meu lobo é um desgraçado, que só vive para acabar comigo.

 

Jinyoung sentiu as palavras alheias lhe acertarem como flechas, nem o olhar sério ou a voz levemente alterada lhe causaram aquela sensação ruim no peito. Sabia que teria que lidar com tudo sozinho, mas não esperava que teria que ser tão prontamente.

 

— Eu só não quero transformar isso num inferno, eu só queria sua ajuda, pelo menos, para sermos amigos. — O tom baixo e doce desarmou o Im por alguns instantes, lutando contra si mesmo para manter a muralha da razão.

 

— Não somos amigos. Não seremos amigos e, sim, nós já estamos no inferno.

 

— Vossa Alteza não precisa dificultar as coisas.

 

— Eles dificultaram primeiro, é justo.

 

— Não precisamos ser como eles, por favor. — Suplicou, sentindo o medo lhe tomar o corpo.

 

Estava contando com a ajuda de Jaebum para manter seu pai satisfeito, sem ele estava perdido, assim como quem precisava de si.

 

Jaebum observou o ômega a sua frente e a sinceridade esvair pelas palavras. Viu os olhos escarlates molhadas, sabendo que o outro estava se segurando para não chorar. Ah aquilo agitou seu lobo e Jaebum sabia perfeitamente que era seu animal, pois estava num entrave entre sua razão e o instinto.

 

Céus, como odiava aquela batalha interna.

 

— Eu só te peço que me ajude… por favor. — Jinyoung implorou mais uma vez sentindo o olhar frio lhe arrepiar a pele.

 

— Eu não tenho como te ajudar. — Disse simples, sentindo seu braço doer mais.

 

Queria ter dito mais, ter deixado claro que aquele casamento acabaria logo, mas antes que voltasse a abrir a boca, a porta do quarto foi aberta, revelando os dois alfas que adentravam o recinto.

 

Jimin e Jackson correram seus olhos até o ômega, que limpava o rosto rapidamente e sorria fraco em direção aos dois.

 

O irmão caminhou até o ômega, segurando o rosto alheio e o fitando com cuidado. Jackson intercalava seu olhar entre os Parks e Jaebum que mantinha-se parado, com a mão no braço.

 

— O que você fez ao meu irmão? — Virou seu corpo, com raiva impregnada na voz.

 

— Jimin… — Jinyoung segurou a camisa do irmão, o impedindo de chegar perto do outro.

 

— Eu não fiz nada.

 

— Ele não fez nada, Jiminnie. Eu só estou com dor, por causa… — baixou o tom fazendo Jimin entender seus motivos.

 

— Vocês precisam se vestir para a coroação em frente ao povo. Não será mais adiada.

 

— Ah mas eu não vo…

 

— Você vai! — Ambos os alfas falaram juntos, num tom duro que fez Jaebum suspirar pesado.

 

— Você vai a esse desfile, Jaebum, nem que seja acorrentado! Meu irmão não enfrentou todo aquele povo para que você dê chiliques de garoto mimado e irresponsável. Está na hora de agir como um homem de verdade e não como um moleque covarde que não sabe encarar suas responsabilidades e eu estou pouco me importando com sua opinião! Você vai a essa coroação ou eu não me chamo Park Jimin!


 

Os olhos amarelos escuros cravavam no olhar alheio, transmitindo a revolta dentro de si. Ambos os lobos se agitaram, sentindo na pele a presença que não sabiam controlar quando estavam perto um do outro. Sobrava a Jackson proteger o único ômega ali dentro e fora isso que fez ao dar alguns passos e se colocar ao lado do outro, lhe sorrindo reconfortante.

 

— Por favor, controlem-se. Há um ômega aqui.

 

Jimin virou instintivamente, com o coração na boca ao olhar Jinyoung um pouco encolhido ao lado do Wang. Respirou com cautela, acalmando seu corpo e sua mente, não entendia como Jaebum conseguia lhe arrancar o pior dentro de si.

 

— Perdoe-me, Jinny! — Jinyoung balançou a cabeça, buscando sorrir para mostrar ao outro que estava tudo bem. — Eu irei levar Jinyoung para se vestir em meu quarto. Esteja daqui meia hora na biblioteca Jaebum, caso não esteja lá, eu lhe busco até no inferno se for preciso. Morto ou vivo.

 

Puxou Jinyoung pela mão, caminhando para fora dali, deixando os dois alfas se encarando.

 

— O que foi? Por que está me olhando assim? — Perguntou irritado.

 

— Você é um merda! — Disse simples, jogando a roupa passada que carregava sobre a cama.

 

— Ah… vai me dizer que está do lado daquele ômega e do imbecil do irmão dele.

 

— Vista-se! — Disse com raiva.

 

— Eu não vou nessa coroação! — Caminhou indo em direção a sacada, mas sendo parado com o puxar em seu braço.

 

— Olha Jaebum, você é meu melhor amigo, mas eu não me importo de lhe dar uns corretivos. Você vai na droga dessa coroação, senão for por seu pai ou por você, você vai por Jinyoung, então.

 

— Ah o que Jinyoung fez de tão importante? E me diga que merda é aquela que Jimin falou.

 

— “Aquela merda” você se refere ao fato de Jinyoung ter ido à sacada principal, enfrentando a todos para dizer que você não estava em condições de ser coroado, é a “aquela merda” que você se refere? — Fez aspas, soltando as palavras de modo indignado, vendo Jaebum se afastar de si alguns passos.

 

— Ele não fez isso… — disse desacreditado.

 

— Ah meu amigo, ele fez! E fez mais, se não fosse por ele, você nem vivo estaria. Nós aqui, estaríamos te velando agora. Jinyoung salvou a sua vida durante esses últimos dias mais vezes que eu ou seu pai, ou qualquer outro guarda que já tenha lhe defendido.

 

— Para…

 

— Para o caramba! Você vai me ouvir agora. Jaebum, eu cresci junto contigo… você é meu melhor amigo, eu sei de tudo o que você passou… eu estava lá com você quando todo aquele pesadelo aconteceu. Eu tentei enfrentar ele contigo, mas eu não fui capaz e hoje você se tornou esse alfa fechado para tudo que lhe ocorreu. Eu me perdi nos meus problemas e esqueci de você e dos seus. Eu podia ter te ajudado Jaebum, mas eu só enxerguei a droga da minha dor.

 

— Jackson…

 

— Me escuta. Eu vi aquele ômega cuidando de você. Vi ele enfrentar seu pai, deixar claro que você não estava em boas condições para a apresentação. Ele enfrentou ZhouMi por você, acredite… — fitou o rosto surpreso ao mencionar o nome do alfa. — Você acabou se transformando e ficou vagando por aquela maldita Floresta Vermelha, você ficou uns dois ou três dias transformado, eu, Namjoon e Sehun, dois soldados de Soleil fomos atrás de você, após nossa correria para achar Chanyeol que se perdeu de nós. Você acabou parando em nossa frente e jurei que nos atacaria, porém sua atenção foi para outro ponto e do nada você sumiu. Nós seguimos suas pegadas e depois de um tempo o achamos brigando com um lobo solitário… foi horrível, porque era como me lembrar de dez anos atrás… você estava transtornado, Jaebum, eu vi seus olhos exibindo fúria, a mesma fúria… — parou de falar por instantes, fechando os olhos ao lembrar da sensação ruim de anos passados. — Em algum momento da briga aquele lobo lhe feriu e você recuou, ele lhe acertou em cheio, te fazendo ir pra longe, então foi aí que Jinyoung interveio. Você estava brigando com aquele lobo, não era por simplesmente querer uma briga ou território, você queria defender aquele ômega e mesmo que você negue agora, naquele momento, era só isso que se passava junto ao teu instinto. Quando Jinyoung viu que aquele animal lhe atacaria para te matar ele correu em sua direção, se atirando na tua frente pra te defender. Ele iria morrer no teu lugar para te salvar, mas aí como um milagre Jimin chegou sei lá por onde, também transformado, salvando ambos, porque ele não salvou só Jinyoung, mas você também. Eu não sei o que está se passando na tua cabeça agora, porque tudo deve estar confuso, mas Jaebum… Jinyoung fez tudo aquilo que em anos as pessoas ao seu redor não souberam fazer. Eu vi com os meus próprios olhos a fúria dele ao ver o modo como lhe tratavam, quando eu te tirei daquela cabana ele só faltou socar a minha cara por estar te carregando de modo a te machucar mais. Ele… ele me fez abrir a maldita porta do teu quarto só para cuidar de você. Sabe… sabe o que é ver um anjo belo, estonteante, puro cuidar de um sanguinário, de um animal? Você não está entendendo Jaebum, Jinyoung cuidou de você durante seu cio e de uma forma absurda, ele cuidou de você durante o teu resguardo que nós dois sabemos que é o seu pior período. Ele não merece o descaso que você está fazendo com ele. Olha, ele podia muito bem ter te deixado naquela floresta, perdido e cometendo atrocidades, mas ele foi no frio, no escuro atrás de você. Por favor, não seja ingrato com ele. Eu deixei que seus medos e suas dores lhe afastassem das pessoas. Que a sua revolta e culpa te distanciassem do teu irmão, mas eu não vou cometer os mesmos erros em relação a você e Jinyoung. Aquele príncipe lhe faz bem você aceitando ou não. Ele é o único que sabe te controlar.

 

— Eu… não me lembro de nada disso… — Ditou sincero, baixando o olhar, vendo o estado de suas mãos.

 

— Eu sei que não se lembra, mas eu estou aqui para te fazer lembrar. Eu não serei como Jimin que virá aqui e lhe arrastará até aquela bendita sacada, mas eu confio em você, porque sei que fará o certo. Vá a coroação por Jinyoung, como uma forma de agradecer a ele tudo o que ele fez e passou. Caso você não apareça naquela sacada… tenha em mente que você decepcionou a única pessoa que lhe tratou como alguém, quando todos te viam como um monstro. — Finalizou, caminhando em direção a saída. — Se você for, passe na biblioteca para ambos chegarem juntos. Com licença. — Saiu do quarto, batendo levemente a porta.

 

O barulho da madeira colidindo na outra fez Jaebum soltar um suspiro longo, levando sua destra até os fios vermelhos, os bagunçando. Seus olhos caíram sobre a roupa na cama, o fazendo pensar e pensar.

 

— Eu só posso estar louco! — Pegou a roupa, indo rapidamente para o banheiro, perguntando-se em que ponto tinha deixado ser tão manipulável.


 

Céus… estava perdido.






 






 

Jimin deixava seus olhos caírem sobre o irmão de uma forma admirável. A roupa caiu como luva ao outro, realçando toda a formosura que o outro possuía.

 

— Você está lindo, como sempre. — Passou os dedos pela roupa, sorrindo com o revirar de olhos do garoto.

 

— Pare com isso. — Disse se afastando, logo sentando na beirada da mesa que havia no canto da enorme biblioteca.

 

— Apenas digo a verdade.

 

— Quero que isso acabe logo.

 

— Irá acabar, não se preocupe.

 

— Nosso pai irá perguntar coisas… não sei se as minhas respostas o agradarão. — A insegurança tomou-lhe a voz.

 

— Eu estarei com você. — Chegou perto do ômega, segurando as mãos alheias, girando de forma lenta a aliança que continha no dedo anelar. — Se algum momento você não suportar mais isso, prometa que irá me dizer?

 

— Jimin…

 

— Me prometa. Por favor.

 

— E-eu prometo. — Jinyoung sentiu os braços ao redor de seu corpo, prontamente correspondendo o abraço ganho.


 

O barulho da porta se abrindo fez ambos se separarem e Jinyoung desceu da mesa rapidamente. Os olhos dos dois irmãos caíram sobre o alfa a frente que lhes olhava de modo superior.

 

— A coroação irá começar. Tenham a bondade de se encaminharem ao local. — ZhouMi sorriu presunçoso, encarando Jimin que parecia querer lhe cravar a pele.

 

— Ma-mas o príncipe ainda não está aqui.


 

O tom doce fez o conde fitar intenso o ômega da cabeça aos pés, constando o quão belo ele estava, não deixando de imaginar o quão perfeito o corpo do jovem deveria ser por debaixo daqueles trajes caros. Mordeu o lábio, guardando seus pensamentos para si, sentindo a presença de Jimin lhe irritar.

 

— Então seja apenas você a ir lá, novamente, sozinho, porque seu alfa, sinceramente, não parece se importar com você. Valeu a pena ter me enfrentado para defender um ingrato? — ZhouMi queria se aproximar, intimidar o ômega, mas a presença do alfa moreno era forte demais. — Onde está seu alfa agora, Doce Jinyoung?


 

— Aqui. Onde mais eu estaria? — Jaebum adentrou o local, exalando seu perfume característico, sendo fitado por todos.

 

Parou em frente ao conde o fitando da cabeça aos pés, sentindo seus nervos aflorarem à medida que conseguia ler, mesmo que com certa dificuldade, alguns pensamentos alheios.

 

— Vejo que dessa vez não há saída para você.

 

— Sempre há uma saída e eu escolhi a minha. Agora me deixem a sós com Jin… com o meu ômega. — Controlou o sorriso ao constar a face surpresa do alfa.

 

Não que não gostasse do Visconde de Montreó, apesar de tudo, de certa gratidão que tinha, seus instintos lhe obrigavam a ficar atento demais.


 

— Jinyoung se…

 

— Pode ir, Jiminnie… eu estou bem.


 

ZhouMi observou a interação dos dois irmãos, assim como Jaebum. Viram ambos irem embora, mas antes ouviram a voz do mais velho lhes dizer que não era para demorarem.


 

Jaebum girou seu corpo, podendo ter, agora, uma visão completa do outro e precisava de muita coragem para dizer a si mesmo que não ficou levemente abalado com a vista.

 

— Então agora eu virei o “seu ômega”? — Retrucou pertinente.

 

— Ele estava te importunando, apenas lhe ajudei a não se sentir afetado com a presença dele. Deveria me agradecer.

 

— Vossa Alteza deveria me agradecer mais. — Disse por fim, caminhando em direção a saída, sendo parado com o outro que se pôs a sua frente.

 

— Vai atirar na minha cara isso, agora?

 

— Não, eu não vou. Não lhe ajudei pensando em ter algo em troca, nem, muito menos, um agradecimento. Eu te ajudei porque eu quis, sem me opor contra.

 

— Eu sei… eu não me lembro de nada… mas Jackson me falou o que ele soube. — Seu tom mudou, ficando mais baixo e calmo. — Obrigado por ter cuidado de mim, mesmo que eu não tenho pedido.

 

— Você pediu. — Engoliu seco, lembrando das súplicas do alfa.

 

— Eu te pedi o que mais?


 

“Quero que me beije… me beije como seu Alfa… como o seu homem. Apenas me beije porque me quer mais que tudo essa noite.”

 

Ofegou fraco ao lembrar das palavras fervorosas que lhe foram sussurradas. Lembrou do pedido de modo automático, como um estalo que seu corpo sofrera.


 

— Na-Nada… n-não me pediu nada a mais. — Sentiu seu coração acelerar, com o nervosismo tomando conta de si.

 

Era absurdamente diferente fitar aquelas orbes amarelas, elas eram sem sentido na sua visão, opacas demais e pareciam carregar consigo uma dor e culpa gigantesca.

 

— Você precisa me dizer o que aconteceu na cabana… eu preciso saber.

 

— Não ocorreu nada demais. Depois que você voltou a forma humana, te levamos para a cabana e eu cuidei de você, apenas isso.

 

— Por que seu coração está acelerado? — Ambos estavam perto um do outro e era impressionante como não se davam conta disso. — Você está mentindo pra mim.

 

— Vossa Alteza se odiaria se soubesse a verdade. — Fechou os olhos, se inebriando na colônia natural que provinha do alfa.

 

Sentiu a pele arrepiar quando os dedos frios tocaram-lhe a parte do pescoço, dedilhando o local.

 

Jaebum olhava atentamente as marcas arroxeadas na pele branquinha, mordendo o lábio ao conferir que elas se perdiam mais para baixo. Jinyoung parecia corresponder ao mínimo toque que lhe dava. A textura da pele arrepiada lhe agitava no interior.

 

— Quem fez isso? — Perguntou inerte nos espasmos que causava ao outro.

 

Antes que Jinyoung o respondesse, ambos se afastaram, ouvindo passos em direção ao dois. Jaebum virou o corpo, apoiando-o na mesa enquanto o ômega balançava a cabeça de um lado para o outro.

 

— Jinyoung! — A voz grave ecoou pelo cômodo, chamando a atenção de ambos os presentes.

 

Jinyoung olhou em direção ao ser a sua frente, não contendo o sorriso e a vontade de abraçá-lo.

 

— Chany! — Sentiu os braços ao redor do seu corpo, lhe rodearem com força e um calor absurdo.

 

— Eu senti tanto a sua falta. — Confessou diante do pescoço alheio, não contendo a vontade absurda de inspirar aquele cheiro inigualável.


 

O rosto de Jaebum se contorceu em uma careta, não sabendo explicar o turbilhão de sentimentos que se apossou de si. As mãos do então, alfa moreno estavam ao redor da cintura alheia, assim como o nariz dele rente no pescoço do ômega. Não controlou o chiado revoltado e nem a cara de poucos amigos, quando finalmente teve os olhos do alfa sobre si. Se aproximou de Jinyoung, se pondo do lado dele e o puxando pela cintura.

 

— Sinto em acabar com o momento de amigos, mas precisamos ir para a coroação.

 

Seus olhos cravavam o outro como agulhas. Os lábios do comandante se moldaram em um sorriso curto, o que irritou Jaebum.

 

Jinyoung estava em outra dimensão, procurando entender o jeito do alfa ruivo, que estranhamente, usava sua presença para lhe proteger.

 

Oh sim… Jaebum mudava facilmente da água para o vinho e isso Jinyoung nunca poderia contestar.









 







 

As batidas na porta eram incessantes. O rapaz se escondia através de uma capa cinza escura, enquanto olhava para todos os lados, cuidando para que ninguém o visse.

 

— Quem é que está desmoronando a minha porta? — Ouviu a voz abafada vir em sua direção, junto com passos apressados. A porta foi aberta, lhe dando a visão do garoto a sua frente, que lhe olhou surpreso e de olhos arregalados. — O que você está fazendo aqui?

 

Não obteve resposta, ao ver que o indivíduo apenas adentrou o local, dando de ombros consigo.

 

— Tranque a porta, ninguém pode saber que eu estou aqui.

 

— Por que você está aqui? Já pensou se alguém te vê aqui seu idiota?

 

— Cala a boca e me escuta! É bom você ter um bom plano, porque sinceramente eu já estou de saco cheio disso. — Tirou o capuz irritado, caminhando de um lado para o outro.

 

— O que houve dessa vez?

 

— Arrume um garoto qualquer para mim

 

— O que?

 

— Isso mesmo que você ouviu! Arrume um garoto que se passe por Yoo YoungJae, meu querido. Esse nome é familiar pra você? — Perguntou, arqueando a sobrancelha, sorrindo presunçoso com a face surpresa a sua frente.

 

— Da onde você tirou esse nome?

 

— Kyuhyun fez questão de expor na cara do Jimin enquanto Jaebum tinha mais um de seus surtos e agora, o seu amado alfa quer meu rim caso eu não descubra esse garoto. Agora pouco eu falei com ele, pois eu praticamente fui intimado. Ele quer saber tudo sobre Jaebum, tudo.

 

— I-Isso não pode acontecer.

 

— Rá, você quer falar isso pra mim? Se Jimin chegar no Yoo você e sua mãezinha estão ferrados. É bom que aquele garoto esteja morto ou bem longe daqui.

 

— Namjoon… lembre-se que você está tão ferrado quanto eu.

 

— Há uma diferença entre nós. Eu não tenho mais nada a perder ao contrário de você e Hyuna. Eu não sei nada sobre Jaebum e a relação dele com aquela mulher, mas sinceramente, isso não me cheira bem. Não entendo porque Hyuna o protege como um filho, mas saiba de uma coisa, Jimin não vai descansar enquanto não descobrir sobre aquele alfa e tenha em mente que quando Park Jimin quer alguma coisa, ele consegue.

 

— Você precisa dar um jeito nisso.

 

— QUE JEITO? Que jeito, Yoongi? Está mais do que na hora de você aparecer e parar de agir como um fantasma! Eu estou cansado de ver o sofrimento daquele alfa, cada vez que ele vê algo e se lembra de você! Dói… — as lágrimas já caíam, molhando o rosto vermelho de raiva. — Dói saber que o meu amigo sofre por um imbecil que ele acha que está morto! Eu não aguento mais, não aguento mais mentir pra ele, me sentir culpado.

 

— Vai ser pior se ele descobrir.

 

— Que se dane! Você tem medo do que vai acontecer. Tem medo que ele te rejeite, mas sinceramente, eu não te entendo… você prefere o ver sofrendo pelos cantos do que apenas aparecer.

 

— Isso não é verdade!

 

— É VERDADE SIM! Esse seu amor egoísta é o fim do Jimin. Você não o ama, Yoongi, nunca o amou!

 

— Não fale algo que você não sabe.

 

— O que eu sei, Yoongi, é o que você me mostrou esses últimos anos. Essa sua frieza em lidar com o estado deplorável e vulnerável daquele que você enche a boca pra falar que ama.

 

— Há mais pessoas envolvidas nisso… — não queria transparecer a mágoa que estava sentindo.

 

— Não me importa. Dê um jeito de achar esse garoto e de fazer ele encenar direito para Jimin, porque caso ele não fique convencido, eu não irei me importar de contar que você está vivo e que continua vivendo nessa merda de lugar. Eu não tenho nada a perder, Yoongi.

 

Deu de ombros com o outro, secando as lágrimas que caiam.

 

— Jimin não irá lhe perdoar. — parou rente a porta, respirando fundo.

 

— Eu já não me perdoo desde o início quando aceitei te ajudar. O pior não é a falta de perdão dos outros, o pior é a falta de perdão a alma, e a minha alma, Yoongi… essa eu perdi dois anos atrás.




 

Saiu da casa, deixando o bruxo ali, em meio a uma angústia que lhe consumia. Cedeu aos joelhos, gritando, chorando tudo o que precisava.

 

Ninguém lhe entenderia. Ninguém entenderia que mesmo que encontrasse quem lhe completasse por inteiro, às vezes o destino, não queria seus corpos juntos.

 

Não eram capazes de entender seu coração.

 

Seu destino já estava traçado e nada e nem ninguém mudaria aquilo.




 

— Se um dia você me perdoar… saiba que eu te amei desde o primeiro olhar…










 


Notas Finais


AHHHHHH
Caralho, foi um parto esse capítulo!!!
Gentiiiiii eu tô muito feliz com esse capítulo sjsjsnsj
Saibam que não era para ter essa pegação bnior que teve, só fiz ela pq eu surtei quando vi meus resultados e descobri que passei naquela porra de técnico 😍😍😍

Bom, esse capítulo foi o maior de todos, pq tem muita cena, desculpaaaa, mas eu começo a escrever e socorro, só vai e fica inviável dividir ele, portanto ficou desse jeito 🤗🤗

Estejam cientes de que agora é Im Jaebum sem seu lobinho, portanto não fiquem putos com o meu pitiquinho

Ele é um bebê arteiro que precisa se cuidados.


AHHH eu quero agradecer aos mais de 200 favssss vcs são muito lindo, na MORAL eu surtei muito.
Obrigada pelo carinho e toda atenção que vcs dão a fic. Eu amo vcs!!!

Agora eu estou de férias e com novos projetos e prometo que as atualizações irão vir com mais frequência.

AHHH GALERA, ESTREIOU UM PROJETO DEDICADO A FANFICS SÓ PARA JJP, POR FAVOR VÃO LÁ SEGUIR A CONTA.
O NOME É @descubrajjp vão lá dar aquela moralzinhaaa 😍😍😍😍

Eu tenho tantas coisas pra falar que acho que vou até fazer um jornal sjsjnsdnbd
Bom é isso!!
Até o próximo loucura. Um beijo na bunda E FELIZ NATAL SUAS POC LINDAAAA
ESSE É MEU PRESENTE PRA VCSSS AMORES DA MINHA VIDAAA


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