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História Sprinterkombi: a van fic - Um sprinter mais kombi ainda 2


Escrita por: Shanderson

Notas do Autor


achou que não teria o último capítulo da fic? se equivocou, amante de sprinterkombi

dia de são valentaine é jovem

lembrando aos dodóis que é humor e preconceito é coisa de cigano

Capítulo 3 - Um sprinter mais kombi ainda 2


No dia seguinte, Maurílio aceitou o amável convite de Rogerinho para irem ao bar Barra Music após ele fazer questão de sua presença (“Tô aqui na frente, ô arrombado do caralho, sai logo!” a plenos pulmões). Então encontraram seu lugar de sempre, um pouco mais iluminado, próximo ao palquinho, onde Renan já os esperava. De repente, já sentados e plenos, quando Maurílio começava a ficar suave, Rogerinho apontou para seu pescoço e berrou como se a música estivesse estourando, coisa que não estava.

“Isso aqui é tudo chupão, Maurílio? É chupão?” Graças ao habitual tom, por alguns momentos Maurílio não sabia se Rogerinho iria lhe dar uma coça tal qual sua mãe ou se era um mero apontamento.

“Chupão é gentileza da sua parte, ein, Rogerinho? Tá em neon esse negócio.” Renan acrescentou. “Parece que você tava pegando um, um aspirador de pó desgovernado, ô Maurílio.”

Maurílio cobriu o pescoço com a mão e tentou puxar a cadeira para um ponto com mais sombra, flashes da noite anterior vindo à sua mente como vários quadros por segundo.

“É carnaval, pessoal. Época de aproveitar a festa, a música, mas também os prazeres da carne.” Delicadamente ele respondeu.

“Não tira sarro dele, não, Renan! Tá de parabéns o Maurílio!” Rogerinho apontou para Maurílio e fê-lo sorrir. “Quem diria que tu pega alguém! Sempre falei pra todo mundo que tu era um virjão da porra que batia punheta pensando em atriz que já tá morta!” De um jeito orgulhosos ele deu com a mão pesadamente no ombro do colega, colega cujo sorriso desapareceu na frase final. Ao menos Julinho não estava ali pra presenciar a cena, ele conjecturou, mas foi, todavia, um pensamento mais rápido que a kombi na descida, com timing típico de enredo de filme sessão da tarde ou de fanfic que precisa amarrar as pontas para arquitetar um final. Por entre as pessoas, a figura de Julinho sorrindo e quase de imediato puxando uma cadeira pra si na mesa, um latão de Skol na mão.

“Julinho! Cê não disse que não vinha porque tava de ressaca?” Rogerinho perguntou.

“Resolvi escutar a sabedoria popular, caros colegas. A melhor cura pra ressaca é continuar bebendo.” Ele sentou na cadeira virada, o peito contra o encosto das costas.

“A sua lógica não tem nenhuma lógica, Julinho.” Maurílio falou, tentando ser casual, mas não erguia direito o olhar para Julinho. Era mesmo de um clichê tremendo achar aquele homem tão bonito agora, uma descoberta de algo que na verdade estava sempre lá, como se abrisse um porta-malas e encontrasse um cadáver dentro. Julinho lhe sorriu tão aberto que lhe deu um arrepio; parecia na verdade existir algo de quase incrédulo nos olhos dele.

“Palestri-inha, meu anjo, conheci tua irmã ontem.” Ele esticou a mão por cima da mesa e segurou a de Maurílio. O moreno quase pode ouvir a voz da Joelma cantando “Acelerou” ali novamente, dentro de seu coração. “E conheci muito bem conhecido, diga-se de passagem. Amanda dos Anjos, aquele pãozinho de mel, vestida com a elegância de uma dama de novela das seis. Até me lembrou Garota Dinamarquesa.”

“Não, parou aí! Irmã de Maurílio?" Rogerinho perguntou. "Como assim Maurílio tem irmã gata e a gente não sabia?” 

“Eu não fico falando dela que é justamente pra vocês gaviões não ficarem rondando.” Maurílio cruzou os braços em defensiva, puxando a sua mão da de Julinho. Ia tentar descobrir o que ele lembrava da noite anterior. “E o que você quer dizer? O que você fez com a minha irmã?”

“Eu não fiz nada, fizemos apenas um ao outro de forma livre e consensual, dodói. A gente deu uns belos beijos tórridos na sprinter mas acho que não passou disso, não. Sei lá, eu acordei na minha garagem. Jamais pensei que diria isso, parceiros da pilotagem, mais eu bebi mais do que devia. Poderia ter acontecido um final muito mais feliz nessa.” Ele disse. 

Eu duvido muito que aconteça um final feliz nessa história, Maurílio pensou, sentindo o peito apertar como o interior da Towner em dia que Renan leva os velhos pra jogar bingo. E falando nele; Renan, em um inusual silêncio, acariciava o queixo barbado de uma forma muito enigmática.

“Bem, nenéns, como o carnaval segue firme e forte eu vou curtir um sonzinho ali e já volto.”  

Julinho pediu pra si uma dose de alguma coisa duvidosa e ficou ali pelo balcão, perto da caixa de som. Maurílio percebeu que ele olhava de volta um tanto frequentemente, mas não se atreveu a deixar seus olhares colidirem. Então Renan quebrou o silêncio.

"Maurílio, tu é filho único, Maurílio."

"Não sou, não. Você que não conhecia ela.”

“Chama ela aqui pra tomar uma breja com a gente, então.”

“Pra jogar ela pro colo do Julinho? Agradeço.”

"Ela tá no colo dele exatamente agora, Maurílio. Sabe porque? Porque ela não existe! Todo o ar em volta dele é sua irmã agora! É fantasma, é sonho de uma noite de verão isso. Você que tava com a roupa da novela das seis de moça do menino talentoso aquele do Steferrauquis. Eu sou perspicaz, Maurílio. É perspicácia isso.”

“Que que aconteceu aí, Renan?” Rogerinho se intrometeu.

"Shhh." Maurílio cotovelou Renan. Ele iria dar trabalho. Não sabia por que e como ele estava dando uma de xeroque holmes, mas tinha que ficar com aquilo pra si. 

“Nada não, Rogerinho. Tamo falando de, de música que nós tamo falando.” Renan assegurou.

“Vamos parar com assunto de hipster maconheiro aí. E se for falar de filme e cultura vocês esperam a hora da gente gravar o programa porque vocês nem têm repertório pra falar mais coisa, se falar demais aqui acaba tudo que vocês sabem já. Vamo falar de futebol aí, de bunda, assunto bem Carnaval mermo.”

Rogerinho logo virou mais uma vez para o outro lado pra assistir ao desfile das escolas de samba na TV, e aparentemente só deu o assunto porque ele tinha que pilotar também as conversas de um modo geral. Afinal, ele também tinha que julgar as escolas de samba.

Renan retomou o assunto direto ao ponto.

“Você e Julinho cometeram atos homoafetivos juntos, Maurílio?”

Maurílio engasgou-se com a cerveja.

“Quê?”

“Não se faz de sonso não que você é bobo mas tem limite a bobeira da pessoa. Foi Julinho que saiu derrapando no seu pescoço aí?”

Suspiro.

“Claramente não com ciência dele por parte da homoafetividade.”

Renan bateu com as mãos na mesa.

“Finalmente acabou essa putaria. Julinho toma dois copo de qualquer coisa, uísque, cerveja, catuaba, jurupinga, xarope pra tosse, qualquer coisa e já não cala a boca ah porque palestrinha isso Maurílio aquilo. Grava o programa com a perna dele grudada na sua, olha o tamanho do estúdio, ô Maurílio. Maior que minha casa aquilo lá, você acha que não tem espaço pra perna dele ficar livre, leve e solta?”

Maurílio engoliu em seco e olhou pra suas próprias mãos.

"V-Você acha?"

"Aqui ó, o cérebro, Maurílio." Renan bateu com o dedo em sua própria cabeça. "A gente tem que usar o cérebro pras coisa. Até meu filho viu isso. Mas foi meu primo Daniel que deu a letra. É muito sensitivo o menino. Por parte de mãe a gente é muito esperto, é o gene do meu pai que dá uma estragada. Renanzinho que o diga, tem duas vezes o gene.”

“Mas isso tudo que você disse, essas nuances, isso não quer dizer nada. O Julinho se interessou pela Amanda, não por mim.”

“Você podia colocar a mão na sua consciência antes de se manifestar. Tem que pensar antes de falar, Maurílio. Quer dizer que ele nem percebeu que você era você ontem, então? Virou As Branquelas você agora. Cê não enganava ninguém não. Julinho tá se fazendo, Maurílio. O que ele tá fazendo é se fazendo. Até pra ele mesmo ele tá.”

Maurílio tinha dado um risadinha, mas talvez as esperanças devessem ser como um carro esporte: rebaixadas. Porque erguer os olhos pra perto das caixas de som e ver Julinho dançando com (outras?) morenas com uma proximidade de quadris, coxas e bocas que só acontecia entre dois corpos físicos em Copacabana no Ano Novo foi uma colisão muito mais brusca, e fatal pro seu coração. Percebeu que estava ouvindo conselhos amorosos de Renan, que casara com a própria prima. 

“Valeu mesmo a tentativa, Renan, mas você está equivocado. Acho que já deu o que tinha que dar aqui.” Maurílio deixou uma nota de cinco na mesa para a lata de cerveja e levantou-se para ir embora dali, saindo do ambiente imaginando-se no clipe de I’m with you, da Avril Lavigne.

Segunda vez em dois dias que pegaria um uber. Os sofrimentos que a paixão fazia um piloto passar.

***

Naquele restante de carnaval, Maurílio curtiu sua fossa com arte e sensibilidade. Comprou dois litros de sorvete barato e enterrou-se em uma sessão de comédias românticas. Como realmente não se dignava a chover no Rio de Janeiro, ele até pagou um lava-jato pra Kombi só pra poder ficar dentro, com a cabecinha na janela, olhando a água escorrer e ouvindo canções tristes da soundtrack de filmes renomados como Efeito Borboleta. Dramaticamente encostar no vidro ao som de "Stop crying your heart out" era o suprassumo do drama de qualidade.

Foi assim que, na Quarta-Feira de cinzas, depois de voltar do trabalho, Maurílio estava 100% na bad, tirando glitter de dentro da sua Kombi, um trabalho árduo e infinito. Foi quando a campainha tocou. Pela primeira vez, ao atender, desejou que ao invés quem estava lá fossem Testemunhas de Jeová.

Mas era Julinho, com um buquê de flores na mão, deixando o outro completamente sem ação.

“Ô,chuchu, tua irmã tá em casa?” Ele já atravessou o portão e foi entrando. “Preciso falar com ela.”

“Ela não tá, não. Ela saiu... Ela saiu com algum indivíduo aleatório. Você podia fazer como todo brasileiro e desistir de uma vez quando a coisa fica vagamente difícil.” Maurílio deu as costas pra ele e voltou pra garagem, dando a volta pra tornar ao serviço ingrato e dar a entender que estava ocupado pra ver se Julinho ia embora. “Aliás, bem canalha da sua parte passar o feriado colecionando DSTs e ressurgir como Jesus no último dia de Carnaval pra falar com ela.”

“Eu não tava curtindo carnaval com ninguém, palestra boy. Eu só tava bebendo e sambando pra tentar esquecer a bagunça que Dos Anjos fez na minha cabeça.” Julinho o seguiu até a garagem, um caminho que já conhecia de cor. “Mas era justamente tipo os filme bunda que tu assiste. Eu nem imaginava que dava pra se sentir assim, mas vai lá e plau, tô sentindo. Depois que eu vi que tava lá o sentimento, não dava mais pra desver. Fiz até música pra ela e postei na internet.”

Trincando os dentes, Maurílio bufou com força e estourou como um escapamento, virando para o outro novamente.

“Não tem Amanda nenhuma, Julinho! Esquece essa porra! Eu que tava de Garota Dinamarquesa! No começo eu só queria tirar um sarro da sua cara e me deixei levar no improviso, eu não segui nenhum roteiro. Meu coração tomou o volante e eu saí do meu controle.”

Nessa, Maurílio até fechou os olhos esperando o top socão que iria levar, colocando as mãos na frente do rosto. Qual foi sua surpresa quando Julinho segurou seus pulsos para tirar aquelas mãos do caminho e no momento seguinte aquele bigodinho estava roçando em seu lábio superior. 

Maurílio abriu os olhos de súbito, mas correspondeu. Os poucos segundos que o beijo durou não foram suficientes para seu corpo relaxar, e ele estava confuso e desconcertado, ou mesmo desconsertado, como um veículo que estava consertado e não está mais. Era assim que estava sua cabeça.

Julinho deu aquele sorrisinho mole.

“Eu já sabia, neném. Tá achando que eu sou idiota, é? Dia seguinte eu já saquei o que que tinha rolado.

“Você notou? Como?”

“Só bêbado eu ia te confundir desse jeito. E porque puta que pariu tu dirige mal demais uma sprinter, meu anjo. Deixou vestígio de clássico motorista habitual de Kombi por tudo. Você tá falando com um especialista.”

“Por que você não me falou antes?” Ele perguntou, já bravo, o que parecia entreter mais ainda o outro piloto.

“Eu tava tirando uma com a tua, dodói. Cê meio que mereceu por bancar o engraçadinho. E merecia mais, porque arranhou a sprinter.” Julinho deu de ombros. “Eu tava vendo no que podia dar essa história, sei lá o que eu acho de segurar esse teu freio de mão aí, mas agora que a gente já meteu o pé na jaca acho que o melhor é só seguir a estrada.”

“Não pensei que iria um dia achar sábio algo que você disse.”

Julinho deu um passo pra trás e entregou o buquê pra ele.

“Então toma isso aqui. Eu atropelei um jardim de uma velha muquirana esses dias, ninguém pode provar que foi intencionalmente, e achei essas rosas ainda bem bonitinhas dentro do motor. Acho que é tua cara essas frescuras.”

Aquelas rosas meio estrunchadas e sujas de óleo eram as mais lindas que já tinha visto. Ele as segurou e abriu seu sorrisinho.

“E eu tenho um litrão de Itaipava gelando que a gente pode usar pra brindar.” 

“Porra, palestrinha, até ouvi a música romântica do filme tocando agora.” Julinho deu uma risadinha.

Maurílio lembrou-se que não imaginava nem vagamente que aquela história poderia ter um final feliz, e se emocionou com aquilo a ponto de se embananar com o que queria falar, e seu tonel de referências de filme despejou.

“Sabe o que isso me lembra? O disfarce do vilão de 007 Contra a Chantagem Atômica, especialmente quando-“

Julinho rolava os olhos o máximo que conseguia.

“Beijo na boca faz cê ficar quieto, né mesmo? Apenas vantagens.” Ele interrompeu antes de tornar a beijar Maurílio, dessa vez com toda a vontade de ultrapassar os limites de velocidade. Empurrou suas dúvidas pra valeta como ele pode ou não ter feito com um folião de merda que desmaiou dentro da sua van. Assim, com toda a convicção, puxou Maurílio contra si, e velozes e furiosos, deitaram-se na parte de trás da Kombi. Entre glitter caído de fantasias de coadjuvantes e pétalas de rosa sujas de óleo, era uma sublime catarse para quem queria capotar nas vias do amor. O desenrolar era consequência. Roupas apenas estavam no caminho, como pedestres ou policiais de trânsito, e sem esses empecilhos eles tinham a autonomia pra correr e derrapar sem nenhum tipo de impedimento. Seus corpos estavam quentes e não tinha nenhum ar condicionado no 15, então eles eram apenas motor prestes a ferver a água do radiador. Eles não conseguiam parar. E não queriam parar. Não era apenas estar sem freio, era estar sem freio e pisar ainda mais fundo no acelerador. Era apenas o ranger da mola gasta do veículo, o suor brilhando em suas peles e respirações arfantes. O abraço enquanto seus corpos retesavam era firme um no outro, como um cinto de segurança em torno de seus corpos possivelmente faria se eles usassem cinto alguma vez na vida. O orgasmo era como ligar um carro novo pela primeira vez; mais: era como um caminhão dando cambalhota e um soco em Transformers. 

Ainda ofegantes, Julinho olhou no fundo dos olhos de Maurílio e disse, do fundo de seu coração:

“Eu não acredito que cê geme em inglês, Maurílio, puta merda. Que mané fãqui, mermão, porra, tá achando que aqui é Brazzers?”

Maurílio não se fez de rogado.

“É dirty talking que chama, você não tem a sensibilidade cultural pra apreciar-“

“Na moralzinha, volta a fazer as outras coisas com a sua boquinha que tava dez porque você quando fala é uma catástrofe.”

Existia, contudo, dessa vez, um pequeno sorriso nos lábios de ambos enquanto discutiam. Aquela poesia era digna de um filme de trem, um romance de filme de navio. Isso porque eles sabiam que se eram o Maurílio e Julinho de sempre até com um entre as pernas do outro, é porque eles descobriram que aquele romance, aos trancos e barrancos, aos freios e derrapadas, tinha potencial pra durar por muitos outros carnavais.


Notas Finais


acabou, acabou o programa


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