1. Spirit Fanfics >
  2. Stalemate. >
  3. V – Cruz da tempestade.

História Stalemate. - V – Cruz da tempestade.


Escrita por: Ciel-Lawliet

Notas do Autor


Kyah, que saudade daqui... To tentando atualizar as outras fics, me deem um tempo pra me organizar ^-^
Mas tá aí xD

Capítulo 5 - V – Cruz da tempestade.


Fanfic / Fanfiction Stalemate. - V – Cruz da tempestade.

Raios. Trovões. A chuva impiedosa a cair.

Uma tempestade jorrava forte contra o orfanato. As poucas crianças que restavam nos jardins corriam freneticamente para se proteger da chuva, algumas gritando de medo. Um senhor idoso chamava-as pelo nome, gesticulando com as mãos e pedindo para que entrassem.

Mello observava calmamente o decorrer da cena.

Sentava-se, de modo desajeitado, no parapeito da janela de seu quarto. Os pingos que investiam constantemente contra sua janela lhe obscureciam um pouco a visão, mas ainda assim podia ver alguns pontinhos correrem rapidamente para dentro, esvaziando os jardins. A altura lhe dava uma visão privilegiada, porém esta de nada lhe agradou. Jamais gostara da chuva.

Todo aquele excesso de água, caindo bruta e rapidamente sobre sua cabeça lhe angustiava. Prendia-lhe dentro de casa (se é que poderia chamar aquele lugar de casa), limitava seu espaço já tão reduzido, impossibilitava-o de observar o sol da manhã ou mesmo as estrelas na escuridão da noite. E sua angústia parecia refletir-se na tempestade, uma gigantesca nuvem de tristeza que desabava seus mais profundos lamentos. Não hesitava em castigar os outros com suas ‘’lágrimas’’, como se, com aquilo, de certo modo, castigasse a si.

Perdido em seus pensamentos melancólicos, Mello virou-se, quase que por reflexo, para encarar sua casa, esperando ver ali um ruivo de olhos verdes, meio encolhido entre as cobertas, com as mãos a tampar os ouvidos.

Matt, assim como ele, odiava a chuva.

Mas ele não a odiava apenas por odiar. Havia um motivo, um forte motivo para que suportasse ouvir sequer falar em chuva.

A noite da morte de seus pais fora uma noite chuvosa.

O pequeno ruivo acreditava que, a cada vez que chovia, a água trazia de volta sua dor. Aquela mágoa, as lembranças que tentara tão avidamente esconder... Era obrigado a rever tudo o que mais odiava, obrigado a desenterrar suas memórias e temores a respeito daquele dia.

E, quando isso acontecia, Matt corria para o quarto de seu melhor amigo. Corria para o quarto de Mello.

Este, porém, já nem se importava mais. Acostumara-se a deixar a porta de seu quarto destrancada, para que o menor pudesse entrar e sair sempre que quisesse. E, com o tempo, isso ampliou as capacidades auditivas de Mello. Despertava com o menor ruído, esperando que fosse o ruivo que entrara, com o corpo trêmulo e lágrimas rolando-lhe pela face. Então Mello, sem pensar duas vezes, lhe daria espaço para que pudesse deitar ao seu lado e, juntos, adormeceriam.

 

Naquele dia, entretanto, havia algo errado.

 

A tempestade caía sem piedade do lado de fora, produzindo estrondos que sacudiam toda a estrutura do instituto. Aproximava-se a hora do jantar, de modo que os jardins encontravam-se parcialmente obscurecidos pela noite. Algumas crianças gritavam a cada trovão, o que produzia ecos altos e agudos pelos corredores. As janelas e portas batiam, o vento sussurrante e gelado ultrapassando suas frestas. E, ainda assim, os sons assustadores da chuva não haviam atraído um certo ruivo de olhos verdes para àquele quarto.

Inconscientemente Mello começou a caminhar. Suas vestes, nada mais do que um pijama negro e levemente largo, esvoaçavam atrás de si, enquanto ele andava sem destino aparente. Desceu rapidamente as escadas, passando por crianças aflitas e desesperadas, sem parar para encarar nenhuma delas.

Sua mente começara a trabalhar freneticamente. Não lembrava-se ao certo de onde o ruivo disse que estaria àquela hora, apenas recordava-se de que tinham combinado, como sempre, de almoçar juntos e tinha uma vaga lembrança de Matt mencionando algo como ‘’procurar’’ e ‘’perdido’’. Mas o que aquelas duas palavras podiam significar? Matt havia perdido algo e agora estava a sua procura? Se sim, por que não pedira ajuda ao loiro?

- Jaden! – Assim que avistara o menino de olhos violeta e cabelos negros, Mello o chamara. Este, que estava reunido com algumas crianças trêmulas que observavam a chuva, aproximou-se rapidamente. – Você viu o Matt?

O menino franziu a testa, concentrando-se por um momento.

- Hum... Acho que ele disse alguma coisa sobre procurar... O que era mesmo? – Ele fez uma pausa, os olhos desviando-se para os lados. – Não lembro direito... Faz uns vinte minutos, eu acho... Ele correu direto para as árvores altas... Mas com esse temporal já deve ter saído de lá.

Mello suspirou. Aquela informação provavelmente não valia muita coisa. Já virava-lhe as costas, pronto para ir embora e procurar em outro lugar, quando Jaden disse algo que lhe fez parar no ato.

- Um crucifixo! Sim, era isso que ele ia procurar... M-mello? Mello... MELLO ONDE VOCÊ VAI?

O loiro já não podia ouvi-lo. Estava longe, muito longe, atravessando o principal jardim do instituto. Watari não tentara impedi-lo, em parte pelo susto de ver o loiro sair desabalado pela tempestade e em parte por estar rodeado de crianças que precisavam ser acalmadas.

A grama fazia cócegas nos pés descalços de Mello e algumas poças de lama espalhadas pelo chão ajudavam a molhá-lo ainda mais. Sua pele tornava-se mais gelada a cada instante, conforme os pingos fortes ultrapassavam suas roupas. Ocasionalmente relâmpagos iluminavam o caminho em direção às maiores árvores, sendo seguidos por altos e estrondosos trovões.

Entretanto, nada, nem mesmo a chuva que tanto odiava, impediria Mello de chegar ao seu destino.

Lembrava-se de ter comentado com Matt que perdera seu crucifixo, um objeto que ocasionalmente carregava consigo em seu pescoço. Explicara para ele que seu irmão mais velho havia lhe dado aquela corrente dias antes de morrer no acidente de carro que matara toda a sua família.

Acidente do qual Mello fora o único sobrevivente.

E Matt havia passando os últimos minutos reconstituindo os passos do loiro, na esperança de que pudesse encontrar o objeto.

Mello apertou o passo, correndo desesperadamente. Àquela altura nem pensava em seu crucifixo. Nem se importava mais se o encontraria ou não.

A única coisa que queria encontrar era um certo ruivo de olhos verdes.

 

 

__________________________________________________________________­­­­­­­­­­­­­­

 

                                         // Stalemate //

___________________________________________________________________

‘’Ele me deu para que eu estivesse sempre protegido. Disse que nada poderia me fazer mal enquanto eu o usasse... E ele tinha razão.’’ Mello explicara ao ruivo naquele dia mais cedo, virando a pequena cruz em suas mãozinhas.

Naquela hora, além de não entender muito bem o que Mello queria lhe dizer, Mail ainda sentira uma pequena pontada de inveja. Jamais alguém lhe dera algum objeto importante, tão importante que carregaria consigo. Entretanto não pôde dizer nada, pois quase que imediatamente o loiro acrescentou:

- É a mesma coisa com os seus goggles. – Mello deixou o crucifixo de lado, na grama excessivamente verde e apontou para os óculos de piscina que encimavam os cabelos ruivos de Matt. – Um presente especial. De mim para você

Mail retirou o objeto de sua cabeça com cuidado, observando as lentes alaranjadas em suas mãos. Brincou algumas vezes com o elástico negro antes de se dirigir novamente ao loiro.

- E eles têm alguma função especial?

Mello pensou um pouco, olhando-o de lado.

- Hum... Talvez te deixar com cara de bobo? – Perguntou, rindo.

- Seu chato! – Mail levantou-se, rindo e correndo atrás de um loiro que disparava alegre pelos jardins.

 

.

 

 

.

 

 

.

 

‘’Onde está?’’

Mail continuava sua busca frenética, que já durava certo tempo. Espirrava de vez em quando e tremia repetidamente, a chuva investindo contra sua cabeça. Perguntava-se há quanto tempo estaria ali. Alguns minutos, talvez? Não saberia dizer. Fora tudo muito rápido: o objeto perdido de Mello, a decisão de Mail em ajudá-lo, a procura incessante, a tempestade...

E, apesar de tudo, Mail continuava sua procura. Afastava algumas porções de grama com as mãozinhas, seus olhos verdes varrendo todo o ambiente. Quando nada encontrava, caminha um ou dois passos e recomeçava. De vez em quando parava o que fazia para afastar os cabelos molhados do rosto, mas esses insistiam em cair. Os trovões assustavam-no mais do que tudo, mas ele não queria, não podia parar.

Aquela corrente... Era algo especial para Mello. Para seu amigo. Portanto, deveria ser algo especial para ele também, não é? Era a lógica. Procurá-la era a coisa mais certa a se fazer, mesmo que a chuva estivesse castigando-o tão cruelmente.

Matt queria ajudar. Apenas isso.

Entretanto, o tempo não estava nem um pouco a seu favor. Apesar das árvores acima de si amenizarem parcialmente a chuva, algumas gotas misturavam-se ao vento gelado e instigavam suas roupas que, àquela hora, estavam ensopadas.

O ruivo começara a considerar que deveria voltar, quando um objeto imediatamente lhe chamou a atenção. E, quase que em seguida, ouvira uma voz familiar a chamá-lo, um tanto abafada por um estrondoso trovão.

‘’MATT!’’

 

 

__________________________________________________________________­­­­­­­­­­­­­­

 

                                         // Stalemate //

___________________________________________________________________

 

 

 

Mello avistara, ao longe, uma pequena cabeça ruiva por entre as maiores árvores. Estava no local exato onde ele e Matt estiveram mais cedo.

‘’ MATT!’’ – O loiro passou a gritar a plenos pulmões, correndo rapidamente em sua direção. Sentiu o ar deixar-lhe os pulmões em um suspiro cansado, para em seguida inspirar profundamente. Finalmente havia achado-o.

- MATT! – E então, quando o loiro o chamou quase que pela quinta vez, Mail finalmente o olhou. Seus cabelos estavam colados no rosto, a chuva escorrendo pelos fios vermelhos. Estava agachado junto a uma grande macieira, a blusa listrada, a calça jeans larga e os tênis vermelhos totalmente ensopados.

- MATT VAMOS SAIR DAQUI! – Mello teve de gritar por conta da chuva. Havia alcançado Matt e abaixava-se para passar o braço por cima dos ombros do ruivo, em um abraço desajeitado. Mail timidamente deixara-se conduzir, encolhendo-se contra o corpo de Mello e andando a passos rápidos até a parte de dentro do instituto. Tremia da cabeça aos pés, principalmente quando um raio iluminava o céu, sendo seguido por um trovão.

- SAIAM DA FRENTE! – Mello gritava para as crianças curiosas que barravam seu caminho. Ele e Matt subiram pelas escadas, a tropeços, em direção ao terceiro andar.

‘’Malditas escadas!’’ – Mello pensava, sentindo que o ruivo ao seu lado tremia mais a cada passo que dava. Felizmente chegaram ao quarto de Mello, que era mais próximo, e este o abriu com um chute. Correu com Matt para o banheiro, onde rapidamente ajudou-o a tirar a camiseta ensopada.

‘’Matt... O que estava pensando?’’ – Mello não parava de se perguntar enquanto ligava rapidamente a água da banheira.

- Entra rápido. Você está gelado. – O loiro virou-se, esperando que Matt terminasse de se despir e entrasse na banheira. Quando ouviu o barulho de água virou-se novamente para o ruivo, que abraçava os próprios joelhos dentro da água quente. – Melhor?

Mail confirmou, timidamente.

- Tem que mergulhar o cabelo também. Senão vai ficar doente.

O ruivo obedeceu, afundando o corpo por completo e sentindo a água lhe aquecer. Emergiu depois de alguns instantes, afastando os cabelos do rosto e piscando repetidamente.

- Mello... – Os olhos verdes lhe fitavam curiosamente. – Seus dentes estão batendo.

Era verdade. O queixo de Mello tremia, seu corpo todo estava gelado e seus lábios, assim como os do ruivo, estavam arroxeados.

- Vem. – Mail estendia timidamente a mão para o loiro.

Mello deu um passo para trás, os olhos arregalados e o rosto corado.

- Q-que?! – O loiro olhava-o, sua expressão em uma mescla de vergonha e incredulidade. – T-tomar banho? – Mail assentiu. – C-com você? – O ruivo tornou a assentir.

‘’ De jeito nenhum.’’ – Foi o primeiro pensamento de Mello. Sentia vergonha, mas acima de tudo, sentia frio.

Reunindo toda a coragem que tinha, Mello se livrou rapidamente do pijama ensopado e entrou na banheira, sentando-se no canto aposto a Mail. Imediatamente agradecera mentalmente por tê-lo feito. A água aquecia cada centímetro do seu corpo, trazendo uma sensação de tranqüilidade.

- Isso é... - Mello observou, ao erguer os olhos azuis para o ruivo. - ... estranho.

- Você está com frio e eu estou com frio... S-só isso. – Mail acrescentou, corando. – N-não vai molhar a cabeça?

Com um leve sorriso, Mello deixou-se escorregar pelo canto da banheira, mergulhando todo o corpo sob a água. Observava, no outro canto, que Mail continuava a abraçar os próprios joelhos.

- Matt... – O loiro lhe chamou, depois de emergir e afastar os fios loiros dos olhos. – Você... – Ele suspirou. – N-não precisava ter ido lá buscar.

- Mas é importante pra você, não é? – Mail olhava-o com a cabeça levemente inclinada para o lado, suas órbitas verdes penetrando-o. – E-então é importante pra mim também. – Timidamente Mail erguera a mãozinha e apontara para uma corrente que deixara sobre a pia. Ao pousar os olhos no crucifixo, Mello sentira-se ... estranho.

Não é que não se sentira feliz por ter recuperado um de seus objetos mais preciosos. Mas também não era como se estivesse bem com aquilo.

Aquele pequeno ruivo de olhos verdes, que Mello conhecera a cerca de cinco meses, havia se arriscado na chuva para trazer de volta uma das coisas que o loiro mais valorizava no mundo. Havia enfrentado um de seus maiores medos para ajudá-lo, sem pensar duas vezes.

A partir desse dia, Mello percebera que havia algo muito mais precioso que seu crucifixo.

Algo não... Alguém.

 

__________________________________________________________________­­­­­­­­­­­­­­

 

                                         // Stalemate //

___________________________________________________________________

 

 

Às frases do ruivo se seguiu um silêncio incômodo. Mail imaginava o que Mello estaria pensando, até que depois de um tempo este se aproximara, engatinhando sob a água até onde Mail se encontrava.

- M-Mello... – Matt sentiu-se enrubescer.

- Me prometa. – Os olhos azuis se estreitaram.

- O-o que ?

- Me prometa que nunca mais vai fazer isso.

Os olhos de Mail se arregalaram.

- O que?! – Ele repetiu, confuso. – M-mas eu pensei que fosse importante...

- É importante. – Mello o interrompeu. – Mas... – Ele desviou o olhar, dizendo algo que o ruivo não conseguiu entender.

- O que foi?

Mello estreitou novamente os olhos, corando.

- E-eu disse que você é mais importante. – Desviou imediatamente o rosto para o lado.

Mail não tinha menor ideia do que dizer, ou melhor, do que pensar.

Mello preocupava-se com ele?

- E-então me prometa! Estou mandand... P-pedindo... Pra você me prometer, Matt! – O loiro exclamou, inclinando-se e penetrando o outro com o olhar.

- E-eu prometo. – Mail engoliu em seco.

Mello suspirou, aliviado. Não queria dar um sermão no ruivo, mas não queria que aquilo se repetisse.

Sentia-se culpado.

- E... Sobre os goggles... – Mello olhou para o objeto, caído no chão do banheiro, e Matt acompanhou o seu olhar. – Eles devem servir para alguma coisa. Só precisamos descobrir pra que. – Finalizou, sorrindo timidamente para o ruivo

Mail retribuiu o sorriso, sentindo-se mais feliz do que há muito tempo não se sentira.

Na chuva, enquanto pensava em desistir, havia finalmente encontrado o que procurava. O frio tomava conta de seu corpo que reclamava de exaustão. Jamais imaginara que Mello seria atraído justamente para o lugar onde ele estava, que seria guiado até ele.

‘’ Mello... Talvez eu tenha uma ideia da utilidade desses óculos...’’


Notas Finais


(Alguém percebeu o crucifixo na mão do Matt na imagem? xD Eu só percebi bem depois de ter escolhido a imagem do capítulo u.u >.< )


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...