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História Stalker - Amigos


Escrita por: T0ki

Capítulo 40 - Amigos


Ian não queria aceitar que Mio tinha ido embora de casa, muito menos que teria sido o culpado por tal atitude do outro. Sua vingança tinha saído pior do que o esperado, a mistura do álcool com ciumes prejudicou ainda mais sua situação. Queria sim, magoar Mio, mas não era exatamente dessa maneira. Queria apenas deixá-lo chateado como ficou ao saber o que aconteceu no final de semana entre ele e Kame. Ele poderia tentar suportar ver Mio com outro cara, se tivesse ainda a certeza de que era o único que ele amava. 

No entanto, depois do que fez, as chances de Mio falar com ele novamente eram minímas. Estava angustiado, precisava falar com alguém à respeito disso. Informou a Natally que iria para casa de Rafael e que não queria seus seguranças seguindo ele, ela estava aérea em seus pensamentos, sentindo que eles eram um casal finalmente de corpo e alma. Depois da noite juntos, ninguém seria capaz de separá-los, então permitiu que ele fosse para casa de Rafael sem estar acompanhado de seus fiéis seguranças.

 Ian tomou um banho bem rápido, abriu o guarda-roupas e pegou uma roupa básica para ir até a casa de Rafael, olhou para o armário irritado, quase não tinha mais espaço para suas coisas, e boa parte do que havia comprado foi trocado por roupas que Natally achava melhor que ele vestisse. Calçou seu tênis e saiu correndo, com Natally entregando o celular dele e dando beijo de despedida, enquanto os seguranças olhavam sem entender, o motivo dela não permitir que eles o seguissem.

Assim que passou pelos seguranças, Ian limpou a boca, não queria lembrar do grande erro que cometeu. Dirigiu o mais rápido que conseguiu, por muito pouco não recebeu um multa, em locais que ele sabia que tinha rastreador de velocidade, ele diminuía respeitando as placas. Sua cabeça estava cheia de perguntas, um delas era : — Para onde Mio iria? 

Ele raramente saia sozinho, mesmo depois da reviravolta que deu em sua vida, parecia que os locais que ele ia somente era o curso e trabalho. Então, para onde ele foi? Simplesmente pegou uma mochila cheia de coisas e saiu sem destino pelo mundo? Isso não poderia ser verdade! Seria perigoso com tão pouca experiência de vida, se aventurar dessa maneira. Para Mio fazer algo como isso, deveria estar muito triste com ele. Começou a bater muito bravo no volante do carro, chamando-se de estúpido, idiota, inúmeras vezes. Ian estava extremamente chateado consigo mesmo, que não conseguia controlar a raiva que sentia. Quando chegou na casa de Rafael, o porteiro conhecido abriu a portão para ele que entrou com o carro. Não tinha avisado o amigo sobre a visita, veio desprevenido, mas sabia que iria escutar umas boas verdades.

— Não acreditei quando o Mitsuki disse que você estava entrando sozinho de carro, onde estão os seguranças de Natally? — perguntou o amigo, vestindo a camisa quando Ian entrou transtornado na sua sala de estar. 

Ele não esperava pela visita de Ian, estava em sua academia particular quando foi comunicado de sua chegada.

— Rafael, eu fiz a maior besteira da minha vida! Eu... Eu não sei o que farei agora! 

— Calma, sente-se. Me conte pelo começo o que aconteceu, não matou Natally e seus seguranças não é? Não desconfiando de seu talento, só acho meio difícil você fazer tamanha façanha sem se machucar ou morrer junto. — perguntou Rafael mostrando preocupação, na sua cabeça ele só pensava que Ian perdeu a cabeça e agrediu a noiva louca.

— Antes fosse, seria menos dolorido. 

— Diga de uma vez homem! Odeio rodeios.

— Mio foi embora, ele saiu de casa.

— Como assim? — perguntou Rafael sem entender, franzido a testa.

— A mãe dele veio hoje na minha casa muito furiosa, querendo saber aonde eu tinha escondido ele. Parece que ele pegou seus pertences e saiu pelo mundo sem avisar à ninguém.

— Isso é estranho... Tem certeza que ele não está na casa do namorado?

— Não sei, pode ser que esse esteja o escondendo. Será? 

— Bem, não sei. É só uma suposição. Ele fugiu por conta da briga de vocês hoje?

— Não... É ai que está todo o problema.

— Seja mais especifico.

— Ontem, você sabe, eu estava muito zangado e bebi um pouco além da conta. Fui para casa querendo me vingar do Mio, e tive uma ideia estúpida, muito estúpida que no momento achei que seria o melhor a si fazer. Acabou que... Eu ferrei com tudo cara! — falava transtornado, escondendo o rosto nas mãos.

— O que você fez dessa vez, Ian? — perguntou Rafael, já temendo o pior.

— Eu transei com a Natally.

— Ual! Tá aí uma grande loucura! Você sabe que agora ela ficará mais insuportável não é? Cara que vacilo... Nossa ela vai achar que você a ama de verdade depois dessas. 

— A Natally é o menor dos meus problemas agora.

— É?

— Eu fiz isso propositalmente em frente a janela do quarto de Mio, na hora, eu queria que ele me visse, queria que ficasse com ciúmes e sentisse o que senti quando vi aquelas marcas em seu corpo. Mas daí, quando ele viu a cena, sua expressão de horror e choque cortou meu coração. Tudo que eu queria fazê-lo sentir, não passou de uma ideia estúpida e sem sentido. Eu fiquei arrependido da ideia idiota que tive, ele fechou a cortina e depois disso a mãe dele bateu na minha porta pela manhã dizendo que ele tinha ido embora de casa. 

Rafael escutou sem dizer uma única palavra, mas seus olhos estavam arregalados com tudo que estava escutando. Ele imaginava a cara de choque de Mio em ver uma cena tão obscena daquelas, do jeito que ele amava Ian. 

— Fala alguma coisa cara! — gritou Ian levantando-se do sofá e andando de uma lado para o outro com uma mão na cintura e outra passando nos cabelos.

Rafael se encostou no sofá, cruzou as pernas e colocou a mão na boca como se pensasse no que poderia ser dito sobre aquilo. Depois de alguns minutos calado pensando no que dizer, Rafael disparou:

— Eu fico realmente incrédulo com sua capacidade de piorar uma situação que já está feia. Sempre que as coisas estão fora de controle, você age de forma imbecil. As vezes, tenho a impressão que estou falando com um adolescente, que toma decisões através do impulsos sentimentais e não da razão! Eu falei com você e repeti várias vezes ontem, que você deveria ter procurado Mio e tirado os fatos à limpo, antes de ficar especulando as coisas sem saber o que realmente aconteceu! Pior, além de perder o Mio, com com toda certeza, não volta mais pra você depois dessa, ainda corre o risco de ter engravidado a Natally! Você tem noção da merda que isso vai dá? 

— Não, não — dizia Ian fazendo cara de que aquilo seria impossível— Natally cuida muito do corpo, ela deve se cuidar nesse sentido também. 

— Eu se fosse você, não confiaria em uma lunática que acha que tem um relacionamento com uma pessoa que ela ameaça de morte. Mas, enfim, eu no lugar do Mio, faria a mesma coisa. Não voltaria com você! Sabe, eu conversava com ele sobre o relacionamento de vocês,  eu sempre te avisei que ele parecia realmente apaixonado por você, a ponto de fazer qualquer idiotice que eu pedisse se pudesse ficar alguns minutos ao seu lado. Convenhamos, você mudou a vida do garoto, lembra o que me disse? Ele era um trancafiado no quarto que a mãe arruinava, deixando ele doente com a super-proteção. Foi você quem tirou ele do seu mundinho e fez ele acreditar em você, não o contrário. Então, qual a possibilidade de ele ser um sacana pronto para te arruinar o juízo? Não ver que não tem lógica o que me contou e o que você diz hoje? Você consegue lembrar o motivo de Mio conseguir um novo relacionamento? Quem é o culpado por isso? Não foi você quem abandonou ele quando ele achava que iriam ficar juntos, sem explicar a existência de Natally? Não foi você que ainda o provocou a mando dela, passeando com ela no bairro dele? O cara tinha todos os motivos do mundo para nunca mais falar com você, mas ainda assim, quando você pediu, ele voltou. Você não deveria ter um pouco mais de confiança nele depois disso tudo? 

Ian escutou tudo calado, sentindo-se o pior homem do mundo. O que seu amigo falou era verdade, veio atrás de um pouco de consolo, mas recebeu uma chuva de "tapas-na-cara", sobre seu mal comportamento com Mio. Rafael tinha razão em dizer tudo aquilo, foi burro, agiu como criança e colocou tudo a perder. Agora encontrava-se ali arrependido, querendo uma nova chance de consertar a burrada que fez.

— Eu preciso encontrar, Mio. Eu preciso pedi perdão. Eu sei que sou errado por tudo que está acontecendo, mas eu o amo de verdade, Rafael. Nunca amei alguém assim em minha vida, ele me completa. Eu não aceito desistir dele nunca! Não suportaria uma vida onde ele não estivesse. 

— Eu aceito procurar, Mio, mas não apoio que ele volte com você estando ainda envolvido com a Natally. Ele é um bom rapaz, não merece ficar sendo ameaçado de morte e se iludindo com um futuro com você onde não existe nenhuma pretensão disso acontecer. Te ajudarei nisso, porque ele é muito inocente quanto o mundo, falo por perceber isso no pouco que conversamos. Se ele realmente estar por ai, perdido pedindo ajuda a estranhos, ele pode se complicar. — disse levantando do sofá  e indo até o telefone.

— O que vai fazer? 

— Pedirei por um investigador particular venha até aqui em casa, será mais fácil com com alguém especializado em procurar pessoas desaparecidas. Depois disso, iremos de carro ver os locais que ele poderia ter pedido ajuda.

— Obrigado. — respondeu Ian, envergonhado.

 

 

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Mio se perguntava se sua ideia foi idiota ou estúpida demais. Estava a horas trocando de ônibus, sem saber exatamente para onde estava indo. Sua ideia inicial era ir passar alguns meses na casa da sua tia que morava em outra cidade, porém, para evitar ser localizado pelos irmãos, optou não ir de avião como sempre fazia quando ia visitá-la, pois os irmãos localizariam ele facilmente pelo cartão de crédito onde ele era adicional. Foi para rodoviária, e lembrou-se que nunca se deu o trabalho de procurar saber o nome da cidade, endereço, ou bairro que sua tia morava, no fim, estava perdido pegando qualquer ônibus de viagem. Havia esquecido o celular em casa também, o que piorava toda a situação, mas resolveu que não iria procurar ajuda da policia para voltar para casa. Não queria voltar. Seu objetivo era sumir, fica longe de todos, e pelo menos, nessa parte ele estava se saindo bem. Tão bem, que nem ele mais sabia aonde estava. Apesar de não ter muito costume de sair sozinho, Mio sabia que era perigoso mostrar para outras pessoas que ele estava perdido, se alguém levasse o pouco das economias que ele havia trazido consigo, estaria em uma péssima situação. Com o dinheiro que tinha em mãos, poderia pelo menos se hospedar em algum hotel ou pensão, até arranjar um novo emprego em algum lugar.  Quando o ônibus parou e o motorista informou que era a última parada, ele não teve outra opção a não ser descer junto com os outros passageiros. A cidade onde se encontrava, parecia um pequeno interior, era bonita até, com praças e pequenas lojas. Andou por alguns minutos, cansado e com fome, o sol estava forte e ele estava começando a se sentir mal. Não via nenhum hotel, e ficar sem perguntar a ninguém onde haveria um, não estava sendo uma boa ideia. Pensou que seria mais seguro entrar em uma daquelas lojas de roupas femininas e perguntar a alguma vendedora. Seria menos perigoso, estava quase anoitecendo e ele não queria passar à noite na rua.

Viu uma loja que chamou sua atenção, tinha aspecto vintage, as modelos da vitrine eram acima do peso, ele achou diferente e resolveu entrar. Por dentro a loja parecia mais um atelier que uma loja simples de roupas, a decoração cheia de máquinas de costuras de diversos formatos e estilos, todas antigas, fazia parte do cenário. Uma garota que aparentava seus vinte e poucos anos, gordinha, usava um estilo diferente de cabelo, um topete grosso na frente e o resto do cabelo preso em um rabo de cavalo, uma flor enorme presa na orelha. Suas roupas pareciam saídas da década de cinquenta.

— Olá! Seja bem-vindo! — disse toda sorridente, suas bochechas coravam quando ela sorria — Está procurando algo para sua mãe? Sua irmã? Ou sua namorada tem tamanho Plus Size?

— Plus o quê? — perguntou Mio sem entender.

— Você é engraçado! — disse ela rindo — São roupas para mulheres volumosas como eu. — respondeu ela dando uma volta para ele apreciar seu look — Gostosas demais para acharem roupas em lojas de garotas comuns, temos nosso próprio estilo na loja, eu realmente amo moda Pin up!

— Compreendi. — disse sorrindo, ela parecia ser uma boa pessoa, Mio se sentiu aliviado.

— Então, qual o estilo da mulher que você quer presentear? Temos a coleção nova de primavera de vestidos lindíssimos! Aposto que ela vai adorar! — disse mostrando alguns vestidos nos cabideiros.

Mio achou que ela seria uma boa pessoa para contar a verdade.

— Na verdade, eu não entrei aqui para comprar nenhuma roupa, e nem conheço nenhuma mulher estilo plus size. Desculpe, eu estou perdido, não sei nem em que cidade me encontro no momento, estou procurando algum hotel ou pensão para ficar até achar um emprego. 

— É, você não tem cara que curte gordinhas. Para ser sincera, você nem tem cara de quem curte mulher. — disse rindo.

Mio ficou constrangido.

— Calma. Foi só uma brincadeira, não me leve a mal. Tem homens que ficam extremamente ofendidos com esse tipo de brincadeira, espero que não seja um deles.

— Não, tudo bem... Na verdade, eu realmente não sinto atração por mulheres. — confessou.

— Meu Deus! Você é gay???!!! — perguntou a garota animada.

— Acho que sim...— respondeu Mio sem entender o motivo daquela alegria dela.

— Desculpe, sabe é que aqui na minha cidade é difícil você encontrar caras assumidos, isso para não dizer que não tem nenhum. Eu sou o tipo de garota que adora histórias gays, tenho um monte de quadrinhos gays em casa, encomendo da capital sabe? Nossa, eu sempre quis um amigo gay, passivo, fofo! Será que meu sonho vai se realizar finalmente? Desculpe te perguntar, mais você tem namorado? Ou já namorou? Você é ativo ou passivo?

— Desculpe, mas eu não entendo o que está falando.

— Eu devo ter te deixado sem graça né? Minha mãe sempre reclama da minha falta de sensibilidade quando converso com as pessoas. Desculpe.

— Não, não tem porquê. Eu sou meio lento nessas coisas. Sobre ter namorado... Bem, não tenho mais.

— Ohh, você parece triste, acho que toquei em uma ferida, né? Desculpe. — disse ela dando tapinhas de conforto em suas costas.

— Tudo bem. — disse Mio tímido.

— Com essa carinha, aposto que você é o passivo, apesar que tem uns ativos com cara de passivo que fazem o maior estrago... — falava consigo mesma. 

— Ahn?

— Nada! Deixa para lá, vem cá, me conte o que aconteceu. Posso te ajudar, sinto que você é um ukesinho fofo. 

— Uke ?

Mio passou uma hora conversando com a garota que se chamava Ana Bella, mas conhecida como Anabê. Era a dona da loja, apaixonada por romances gays, e vivia meio no mundo da lua. Ela perguntou tudo sobre a vida de Mio, que acabou desabafando com ela tudo que aconteceu em sua vida e o motivo de ter fugido de casa e parado naquela cidade sem querer. 

— Que Seme horroroso esse Ian! O outro Seme também é pavoroso! Você não teve sorte querido, mas em compensação, pelo que descreveu, são dois Semes sexys e lindos. Nossa, isso dá uma historia boa. Posso escrevê-la na minha pagina de historias gays? — pediu ela.

— Não! Claro que não! Eu não quero que ninguém saiba sobre minha vida, principalmente dessa maneira.

— Tudo bem, eu respeito sua decisão. Pelo menos me rendeu boas ideias para historias. Olha, já que você não sabe onde sua tia mora e nem pode ficar na rua sem saber o que fazer, que tal ir para minha casa? Você pode ligar para sua família, comunicar que está bem e aproveita pergunta o endereço da sua tia, e comunica a eles que ficará lá por um tempo. Aposto que todos devem estar aflitos. — sugeriu ela.

— Mas, eu mal te conheço... Não é estranho levar um estranho para sua casa assim que você o conhece? — perguntou Mio meio preocupado.

— Você vem dizer isso para mim? Você vigiava um estranho pela janela do seu quarto durante um ano, deixou seu namorado te "estuprar" por pena dele... Eu te convidar para minha casa, não é nada perto disso tudo. Além de quê, sinto que você é uma boa pessoa e que não está mentindo para mim. Fique tranquilo, qualquer coisa eu quebro você em dois, do jeito que é magrinho, isso é fácil para mim. — disse rindo.

Mio respirou fundo, e sorriu. Não tinha muita escolha, estava cansado e com fome, levou dois dias de viagem dentro de um ônibus. Queria tomar um banho descente,e dormir. Sem contar que não sabia nada sobre a cidade que estava, não seria muito inteligente dizer não para ela, e ficar se aventurando por ai.

— Se você não se importa, eu aceito seu convite. — disse por fim.

— Que nada! Você está realizando um sonho, sempre quis um amigo gay.

— Ah para de falar assim, isso é embaraçoso...

— Ok, pode me chamar de Anabê! Seremos bons amigos a partir de agora!

— Obrigado, Anabê. Seremos sim! — disse apertando a mão dela, mas ela puxou ele para um abraço forte.

— Mas você é tão fofo, Mio. Nossa, parece saído de uma das minhas histórias.

Mio deu risada, pela primeira vez depois de muito tempo, o aperto que sentia no coração, havia diminuído.



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