História State of Grace - Give Me Love

Assim que Joana entrou em seu quarto ela se jogou na cama. Viagens curtas eram seu pesadelo, sempre acabava mais cansada que depois de um jogo que durava horas.

Deitada na cama, ela observava cada detalhe do quarto que tinha sido seu lugar favorito por dezoito anos. Ela gostava das paredes roxas que deixaram a mãe dela bem irritada anos atrás, gostava dos seus troféus que lotavam uma das paredes e até mesmo da penteadeira que sua bisavó havia lhe dado quando ela tinha oito anos. Observar tudo aquilo deixava a garota com um aperto no coração. Ela sabia que passaria alguns meses longe e na verdade ela já até estava acostumada com isso.

Sendo jogadora profissional de quadribol nos últimos dois anos, ela tinha passado pelo menos metade desse tempo viajando por todo o país e até para fora dele, mas ir para a Seleção era diferente. Ela estaria em um lugar que conhecia tão bem como a própria casa, afinal, tinha passado boa parte da vida naquele castelo. Entretanto, tudo parecia errado.

Ela e Cygnus tinham um acordo. Ela seria os olhos e ouvidos dele no meio das selecionadas, ele a manteria na competição por quanto tempo fosse necessário. Ela havia sugerido isso, mas já estava quase se arrependo, apesar de saber que podia apenas falar com o príncipe e estaria de volta ao seu quarto no dia seguinte, no fundo ela achava que não podia fazer isso com seu primo e amigo. Ela tinha dito que o ajudaria e não voltaria atrás.

A jovem sabia que permanecer na competição tinha muitos prós e contras, ela havia feito uma lista, e naquele momento no qual ela sentia que sua vida estava indo para um lugar que ela não queria, a garota abriu a gaveta de seu criado mundo e tirou de lá sua lista.

Prós e contras de ficar na Seleção

Prós

Eu conheço o castelo

Cassiopeia e Calisto

Estarei perto de casa

Logan

Contras

Vou perder minha vaga no time

A rotina de selecionada

Não estarei em casa

Logan

Logan Otis era um item que praticamente brilhava na sua lista. Cygnus não estava errado em dizer que ela estava completamente apaixonada pelo soldado, ela estava e sabia disso há muito tempo.

Joana se lembrava do dia que o conheceu. Foi durante um treinamento, ele ainda era só um recruta. Cygnus e Dean o apresentaram para todos e logo ele já era muito querido pelos adultos, principalmente pelo pai dela que só faltou dar pulos de alegria quando um ano depois o rapaz apareceu na porta da casa deles para leva-la pra sair. Ela se lembrava de cada detalhe daquele encontro, de como eles ficaram envergonhados durante toda a noite, das luzes na praça central de Angeles, de como ele sorria ao deixá-la na porta de casa no final daquela noite. Parecia que tudo aquilo tinha acontecido há tão pouco tempo, mas ao mesmo tempo parecia que tinha sido a milhares de anos atrás.

Seu segundo encontro com ele tinha sido melhor, eles tinham ido a um restaurante chique de Angeles, o mesmo que os pais dela tinham ido no primeiro encontro. Naquela noite ela realmente o conheceu. Ela se lembrava de cada palavra e de cada coisa que tinha acontecido naquela noite.

Eles conversaram sobre suas famílias. Ele contou que antes de se alistar era pintor e que hoje sua antiga profissão era um hobby. O rapaz falou sobre os irmãos mais novos, ele tinha três, sobre seus pais e sobre sua província. Ela contou sobe seus inúmeros primos e sobre os almoços mensais na fazenda dos bisavós. No fim da noite, ele a levou pra casa e eles se beijaram no jardim. Ela lembrava da sensação de perceber que estava apaixonada, ela lembrava do sorriso bobo que a acompanhou enquanto entrava em casa e se jogava na mesma cama que havia se jogado hoje.

Depois daquele encontro a temporada de quadribol começou, fazendo com que ela passasse seis meses longe. Eles só se viram de novo na final do campeonato, eles foram à festa pós-jogo juntos e no fim deram um passeio por Angeles. Hoje, ela sabia que devia ter contado para ele sobre a inscrição na Seleção, mas naquele dia ela achou melhor ocultar a informação.

O que estava começando entre eles teve o seu fim trágico no dia do sorteio da Seleção. Ela havia ficado no palácio para assistir a um filme com Calisto e Cassiopeia, enquanto ele estava no quarto do príncipe o ajudando com as fichas. Quando o filme acabou, as três garotas permaneceram na sala conversando e ela contou para as princesas como estava aliviada por não ter sido sorteada. Logan que havia ido até a sala com a intenção de ter ao menos alguns minutos com ela ouviu tudo que a garota falou e saiu de lá sem querer ouvi-la. Daquele dia em diante ele começou a tratá-la como uma pessoa qualquer no palácio e apesar de todas as tentativas a ignorava por completo.

Jogada, mais uma vez, em sua cama de casal, com sua lista de prós e contras ao seu lado e sua pequena mala ao lado da porta, a garota pensava como as coisas teriam sido diferentes se ela não tivesse que aceitar cada uma das apostas que lhe eram propostas. Ela pensava em como tudo seria diferente se tivesse contado para Logan naquela noite após a festa que tinha feito a inscrição para a Seleção, ela sabia que naquele dia, ele ouviria a história completa. Talvez, se ela tivesse feito isso, ir para a Seleção não seria tão ruim assim, ela poderia ajudar seu amigo e ainda ficar perto do cara que amava, é, ela o amava.

Seus pensamentos foram interrompidos por uma batida em sua porta e a voz de seu pai inundando o cômodo.

-Devia se aprontar. Tem que estar na praça em uma hora. –Alvo avisou a menina.

-Pai, podemos conversar? –ela perguntou se sentando na cama.

-Claro, meu amor. –o homem entrou no quarto e se sentou ao lado da filha.

-Acho que ferrei tudo com o Logan. –ela falou num fôlego só.

-Por que acha isso? –Alvo sabia exatamente o porquê, mas como a filha não tinha falado nada sobre isso antes, ele resolveu perguntar.

-Porque eu devia ter ao menos comunicado ele sobre isso, não simplesmente deixar que ele sorteasse o meu nome e tivesse que ler para todo o país. –ela falou olhando para os próprios pés. –Eu sei que nós não estávamos juntos, mas olhando agora, parece errado não ter falado. Acho que ele nunca mais vai falar comigo ou sequer olhar pra mim.

-Veja bem, querida, eu não acho que você tinha alguma obrigação de contar ou não para ele, mas se você acha que errou, devia falar isso pra ele.

-Ele não me deixa nem me aproximar.

-Crie uma situação. Vocês estarão no mesmo lugar nos próximos meses, em algum momento ele vai precisar se aproximar de você, nem que seja pra defendê-la de um ataque rebelde.

-Pai, não tem ataques rebeldes há mais de vinte anos.

-Eu sei Joana, é uma situação hipotética. –Alvo deu uma risada. –O que quero dizer, é que, é impossível ele te ignorar durante toda a Seleção, principalmente sendo o único amigo do príncipe que estará por perto. Você vai dar um jeito nessa situação, eu si disso. –ele se levantou e beijou a testa da filha. –Por hora, confira sua bagagem, tome um bom banho de banheira pra relaxar e se prepare, ok? –ela assentiu.

-Obrigado pelos conselhos, pai. –ela sorriu para o homem que já estava na porta. –Amo você.

-Também amo você.

Ele saiu do quarto deixando-a sozinha novamente.

Não demorou para que a campainha da casa tocasse.

Joana já estava pronta e olhava para si mesma pelo espelho da sua penteadeira. A blusa cinza estava no lugar, o jeans claro fazia suas pernas parecerem mais finas, o rabo de cavalo alto estava perfeito. Ela era a selecionada perfeita que estava há instantes de ter seu rosto estampado em todos os locais pelo país, mas não mais como Joana Potter, artilheira do Angeles Sport, um dos maiores clubes de toda Illéa, mas como Joana Potter, selecionada de Angeles. A jovem tomou fôlego, se levantou da cadeira e deu uma última olhada em seu quarto, então saiu fechando a porta atrás de si e dando adeus aquela fase de sua vida e vislumbrando aquela que começaria no mento que chegasse ao térreo de sua casa.

Quando finalmente pisou no térreo, ela sentiu como se seu coração tivesse parado. Ele estava ali, ao lado dos pais dela, com seu uniforme militar e com toda a sua postura profissional. Quando ouviu os seus passos ele a olhou como não olhava há tempos. Ela até chegou a criar esperanças que talvez as coisas finalmente se resolvessem como seu pai falou.

-Senhorita Potter, estou aqui para escoltá-la até a praça. –ele falou assumindo novamente a postura profissional.

-Obrigada soldado Otis. –ela sorriu tentando mostrar a ele que respeitaria a distância que ele queria.

A família Potter saiu da casa junto com o soldado e um funcionário que aparentemente estava ali apenas para levar a mala da garota. Da casa da família até a praça eram aproximadamente quinze minutos à pé, mas eles fizeram muito mais que isso, pois a todo tempo eram parados por pessoas querendo cumprimentá-la e dizer que estavam torcendo por ela. Era quase cómico saber que aquelas pessoas realmente achavam que ela estava na competição pra valer.

Graças ao atraso no caminho, Joana foi à última selecionada a chegar à praça. Ela abraçou os pais, apesar de saber que os veria novamente antes do fim daquele dia. Logan abriu a porta do trailer que estava estacionado em um das laterais da praça e ela entrou se deparando com todas as outras trinta e quatro selecionadas. Foi apenas naquele momento que ela percebeu que a competição era mesmo real.

A maioria das garotas a olharam feio, Joana não sabia dizer se por medo dela estar ali pelo príncipe ou por desconfiarem que ela fosse uma espiã. A jovem passou pelo meio daquelas garotas e se dirigiu até o único espaço vazio no local. Ela se sentou entre uma garota ruiva e uma garota de cabelo verde. As duas a encaram como se ela fosse um objeto em uma exposição estranha até que a menina de cabelo verde finalmente falou.

-Oi, eu me chamo Thalia e eu queria saber se um dia, quando a competição acabar ou sei lá você poderia me dar um autógrafo seu? Minha irmãzinha te idolatra e seria muito legal conseguir isso para ela. –a garota falou quase em um sussurro.

-Posso tentar arranjar um pôster do time, e você manda pra ela. –Joana sorriu.

-Obrigada, isso significa muito. –Thalia também sorriu.

-Meus irmãos sempre falaram que você era legal, mas nunca acreditei. –a garota ruiva falou olhando para Joana.

-Seus irmãos? –Joana e Thalia olharam para a garota.

-Eles são grandes torcedores de quadribol. –a garota sorriu. –A propósito, sou Kristen West.

-Thalia Avery. –a menina de cabelo verde se apresentou.

-Joana Potter. –a do meio falou. –Não que vocês não saibam disso. –ela acrescentou envergonhada e as outras duas riram.

Nesse momento a porta do trailer foi aberta e a rainha entrou, sendo seguida por suas filhas. Ela se apresentou àquelas garotas, falou um pouco sobre a sua Seleção, sobre o palácio, sobre Lisa Nott, e finalmente sobre o príncipe.

-Cygnus está ansioso para conhecer cada uma de vocês. –Joana percebeu a expressão de Cassiopeia e Calisto e tinha certeza que as princesas discordavam da mãe.

A rainha terminou sua conversa com aquelas garotas e todas saíram do trailer e se posicionaram no pequeno palco. Joana não prestou atenção em uma palavra sequer que era falada pela rainha. Ela olhava para aquela multidão e naquele momento entendeu tudo que Rose falava sobre sua Seleção. Sobre como era estar de pé na frente de todas aquelas pessoas que a conheciam desde que ela era apenas uma criança, naquela praça que por anos ela brincou com as crianças que moravam perto de sua casa. Ela só percebeu que o discurso havia acabado quando ouviu o som ensurdecedor as palmas que preenchiam todo aquele espaço, ela pensou que a garota que fosse escolhida por Cygnus teria muito trabalho para ser tão boa quanto a atual rainha.

As selecionas desceram do palco em fila, seguindo a rainha e a princesa, os guardas que as escoltavam continuaram próximos a elas até que elas estivessem dento dos carros.

Joana foi acomodada em um carro junto com Kirsten, Thalia, a prima de Dean cujo nome ela não lembrava, e mais três garotas. Uma delas tinha traços orientais, cabelo liso e uma franja, outra era negra e tinha um cabelo black que a lembrava Roxanne, prima de seu pai, a última menina era loira e parecia se achar melhor que todas ali.

O percurso até o palácio foi silencioso. As seis outras garotas no carro pareciam impressionas com a estrada que ligava o resto da província ao palácio. Ela pensou em como aquilo parecia ridículo e se repreendeu no mesmo minuto, porque sabia que era uma privilegiada. Ela havia nascido na mesma família que a rainha, e isso fazia com que ela estivesse acostumada com tudo aquilo, mas ela tinha certeza que se aquela paisagem não fizesse parte de sua rotina ela também estaria pendurada nas janelas apreciando tudo aquilo.

Quando os carros pararam próximo ao castelo, as garotas saíram uma a uma dos carros e foram guiadas pelos guardas até o hall principal. Joana aproveitou a distração das outras garotas pra falar com Logan.

-Você me evitou por semanas e agora não sai do meu lado. E nem adianta vir com “estou fazendo meu trabalho”, ninguém se importaria se eu seguisse sozinha. Já estamos dentro dos muros.

-Vão explicar tudo lá dentro Joana.

Joana. Era a primeira vez desde que ela havia sido sorteada que ele a chamava assim. Ela não evitou o sorriso e pensou que talvez tudo se resolvesse logo.