História Stigma - Where?

- VOCÊ QUER PEDIR O YOONGI EM CASAMENTO?! - Praticamente berrei tais palavras, com a boca entreaberta em surpresa. 

- Abaixa esse fogo e senta aí, caralho! O shopping inteiro não precisa saber! - Jimin diz me olhando com repreensão. Se seus olhos fossem metralhadoras, estaria morto agora. 

- Desculpe. - Digo sentando-me novamente em meu lugar, olhando para os lados como se estivesse me escondendo de alguém e inclinando meu corpo para frente minimamente, agora dizendo em um tom mais baixo. - Mas você não acha que está cedo demais? Faz um pouco mais de um mês que começaram a namorar. - Digo passeando meu dedo pela borda do canudo do milkshake que estava tomando à pouco, ainda com meus olhos vidrados em Jimin.

- Firmamos algo mais sério faz pouco tempo, mas nosso "lance" já é de quase um ano... - O ruivo suspira pesadamente, cerrando os olhos por poucos segundos e logo voltando a me fitar. - E não é como se eu fosse pedir ele em casamento hoje ou amanhã, eu não estou tão desesperado assim. - Um riso soprado vem da parte do ruivo, seguido de um suspiro de alívio meu. 

- Mas agora, mudando um pouco de assunto, Jungkook... - Por favor, não pergunte aquilo. - E você e o Taehyung? Depois que vocês transaram... - Merda, ele perguntou. 

- Eu... Olha, eu não... 

- Não adianta dizer que não quer falar sobre isso, me poupe Jeon Jungkook. Desembucha. - O olhar insistente de Jimin sobre mim me fez ceder, afinal, não é como se o mais velho fosse desistir de arrancar alguma informação sobre o ato, nem que ele tivesse que perguntar diretamente para o acastanhado. 

Eu estava começando a suar frio. Quando o assunto se tratava de Taehyung, começava a sentir as famosas "borboletas" em minha barriga, e pelo visto elas estavam dando uma festa. 

- No outro dia de manhã, quando acordamos, ele disse que tinha que ir até a cafeteria porque iria cobrir o horário de outro funcionário, então disse que me ligaria depois, mas ele meio que... Não ligou e nem mandou mensagem. - Dou de ombros, desviando meu olhar para meu dedo indicador que estava sob o canudo.

A verdade era que fazia um pouco mais de duas semanas que eu e Taehyung havíamos transado, e desde então não trocamos nem sequer uma palavra. Na verdade, confesso que nem ao menos o vi durante esse tempo. Não o via sair de casa, não escutava nem o barulho de Buster latindo ou fazendo alguma travessura. Nada. Confesso que até mesmo fiquei na portaria do prédio algumas vezes quando estava próximo do horário do mais velho ir trabalhar, mas nem sinal de sua sombra. 

- E nem você ligou 'pra ele, não é? - Jimin diz em um tom irritadiço. Eu apenas maneio a cabeça negativamente, recebendo uma risada baixa do mais velho. - Francamente, Jungkook... Você parece uma criancinha. 

- Por que eu pareço uma criancinha?! Ele também não me ligou! - Bato minha mão de forma não tão bruta na mesa, agora tendo meu olhar sobre o ruivo à minha frente. 

- Primeiro : Vê se fala direito que eu não sou tuas negas. - Jimin diz umedecendo os lábios e me encarando, o que de certa forma me intimidou. - E segundo : Jungkook, você gosta dele, isso está mais do que claro. Você não pode simplesmente deixar ele desaparecer por conta de um orgulho bobo ou pura infantilidade. Achei que quisesse ser feliz ao lado dele.

- Eu quero, mas pelo visto ele não quer isso. - Digo em um tom baixo, quase como um sussurro. De certa forma, ouvir aquelas palavras saindo de meus lábios fora uma surpresa e um choque ao mesmo tempo. Eu estou inseguro. Inseguro e com medo.

- Aish... Eu odeio te ver assim, moleque. Eu vo... Só um minuto. - O toque do celular de Jimin que antes era quase imperceptível, se tornava cada vez mais alto, até que se extinguiu quando o mais velho atendera a ligação. 

- Oi, Yoongi.

Não estava tão interessado na conversa dos dois hyungs, então passei a observar as pessoas que passavam e estavam presentes na praça de alimentação do shopping. Talvez eu estivesse fazendo isso na esperança de que alguma delas fosse Taehyung. Eu definitivamente precisava o esquecer um pouco. Olhando para uma mesa mais à frente, pude perceber quatro garotas que me olhavam e riam. De certo modo, aquilo me deixou um pouco envergonhado, e o que me deixou mais ainda foi quando uma delas mandou um beijo soprado para mim, o que me fez virar a cabeça para o mais velho quase que imediatamente. Meu rosto estava queimando, provavelmente estava corando. 

- Jungkook, contei do seu caso para o Yoongi e...

- O que?! Você já contou pra ele?! Por que você contou pra ele?! 

- Deixa eu falar, desgraça. Então, ele disse qu...

- Fofoqueiro!

- Cala a boca, porra! - O ruivo pressionou sua mão contra meus lábios, me fazendo me calar subitamente. - Vai me deixar falar?

Maneio a cabeça positivamente, logo a mão do mais velho se afasta lentamente, com certo receio de que eu voltasse a falar. Por sorte, ali era Jimin. Porque se fosse o Yoongi, tenho certeza que ao invés de ser calado, iria receber um soco ou então algo arremessado em minha cabeça, e essas seriam as opções mais gentis. 

- Eu conversei com o Yoongi, e ele te chamou pra ir no cinema com a gente e um amigo dele. 

- Amigo? 

- Eu esqueci o nome dele agora... Só sei que vocês dois tem a mesma idade, então acho que vão se dar bem. - O ruivo se levanta, vindo para trás de mim e afagando meus fios escuros gentilmente. - Agora vamos passar em mais algumas lojas, e vamos embora. 

- Mais lojas? Você quer comprar o shopping inteiro? - Me levanto, tombando minha cabeça para o lado um tanto quanto cansado. Jimin sempre me arrastava para as suas compras e me fazia andar de um lado para o outro a tarde inteira. 

- Sim, mais lojas, e se reclamar passamos em outro shopping. - Tendo meu pulso agarrado pelo mais velho, o mesmo praticamente me arrasta para fora da praça de alimentação em passos apressados, como se eu pudesse fugir a qualquer momento, o que não seria má ideia, porém teria que lidar com a fúria de um Park Jimin depois, e isso era tudo o que eu menos precisava. 

Alguém me mata, por favor, é meu único jeito de escapar disso...

(...)

- Finalmente, Jungkook. Achei que tinha morrido afogado na privada do banheiro. - Yoongi diz vindo até mim e me dando um abraço apertado. Mesmo com seu comentário, aquilo era reconfortante. 

- Também estou feliz em te ver, hyung. - Digo revirando os olhos assim que o mais velho se afasta e bagunça meu cabelo. 

Faz algum tempo que eu não vejo Yoongi, estava até começando a sentir falta de suas piadas de tiozão e comentários nada educativos. Acontece que durante as férias o mais velho passou uns dias com Jimin e depois viajou para visitar alguns de seus parentes que agora moravam no Japão. Yoongi voltara fazia um pouco mais de uma semana, e durante o tempo que o mesmo ficara fora, tive que aguentar a carência, caprichos, reclamações e crises de existência de Jimin. Confesso que a ideia de o encontrar hoje havia me animado e me ajudado a esquecer um pouco Taehyung, mas assim que entrei no cinema e vi um garoto de cabelos acastanhados e franzino, não pude deixar de me recordar do mais velho. 

Só espero que eles não citem o nome de Tae hoje.

- Jimin, que cara de cu murcho é essa? - Yoongi diz entre risadas, cutucando as fartas bochechas de Jimin e as apertando em seguida, recebendo um tapa em suas mãos vindos da parte do ruivo. - Isso tudo é porque eu escolhi um filme de terror? 

- Você sabe que eu odeio esse tipo de filme! - Eu não pude conter uma baixa risada. Jimin parecia uma criança fazendo birra com seu cenho franzido, braços cruzados e as bochechas cheias de ar. 

- Ah, olha o Yugyeom. - O mais velho de todos nós diz olhando para trás de Jimin, e seguindo seu olhar, pude ver um garoto com um semblante tímido que se aproximava à passos apressados, como se andar no meio daquelas pessoas sozinho o assustasse de alguma forma.

- Boa noite, demorei muito? - O rapaz diz dando uma risada baixa e sem graça, colocando suas mãos nos bolsos de seu moletom preto em seguida. 

- Não esperamos muito, aliás, é um prazer te ver de novo, Yug. - Yoongi diz dando um sorriso fechado. - Se lembra do Jimin?

- Ah, eu me lembro sim. É um prazer te rever. - De forma um tanto quanto tímida, o garoto retribui ao abraços que Jimin lhe dera, tendo seu corpo mais rígido que uma estátua. 

- Digo o mesmo. Aliás, Yugyeom, esse aqui é o Jungkook. - O tal Yugyeom leva seu olhar para mim, me analisando de cima a baixo e em seguida se aproximando, direcionando sua mão para mim.

- É um prazer te conhecer, Jungkook. O Yoongi hyung fala muito de você. - Ele dá um sorriso acanhado, o que consequentemente me faz sorrir também. Logo aperto a mão do garoto. Me perguntava se o mesmo era mais novo ou mais velho que eu. Não seria nada mal ter alguém que me chamasse de hyung.

- Fala é? - Dou um sorriso sacana, lançando um olhar para Yoongi. 

- É, eu falo que você é um pirralho que precisa aprender que a vida não é só ficar o dia inteiro trancado dentro de casa durante as férias. - Logo o mais velho me corta, estirando sua língua para mim e passando o braço pelos ombros de Jimin em seguida. - Acho melhor irmos comprar os ingressos agora, se não, não iremos conseguir sentar juntos, a seção é daqui meia hora.

Olhar para aquela fila enorme e saber que o filme começaria daqui meia hora me deixou um pouco desanimado. Impossível conseguirmos ingressos a essa altura, mas não custava nada tentar. 

- Vocês acham que vai dar tempo? - Suspiro pesadamente, decepcionado. Queria muito ver aquele filme desde que anunciaram que iria ser feito. 

- Vamos fazer assim para não perder tempo : Eu e o Yoongi compramos os ingressos, e vocês dois vão comprar pipoca, essas coisas. Nos encontramos... - Jimin olha em volta, buscando um ponto de referência. - Do lado daquela pilastra que tem uns pisca-piscas. 

- Aproveitem para se conhecerem melhor. - Yoongi gesticula algo com as mãos, dando as costas com Jimin em seguida e indo para o final da enorme fila. 

Eu e Yugyeom nos entreolhamos, um pouco confusos. Ambos tímidos e não tínhamos nada para conversar, bom, pelo menos nada passava pela minha mente. Apenas dei de ombros, caminhando até a fila onde era possível comprar algumas besteiras para comer durante o filme. Yugeyom para ao meu lado, e aquela silêncio já estava me deixando constrangido ao ponto de eu olhar para qualquer lugar menos para o garoto ao meu lado. Felizmente, aquele silêncio constrangedor fora quebrado com uma pergunta simples, porém o suficiente para ser o início de uma conversa.

- Você tem quantos anos? - O garoto com o cabelo colorido em um azul marinho pergunta, me fazendo olhar instantaneamente para ele.

- 19. E você? 

- Ah, eu também. - Droga.

- Você nasceu em que mês? - Pergunto, tentando alimentar um pouco da esperança que me restava.

- Novembro. Você?...

- Setembro... 

- Droga. Tinha esperanças de ser o hyung de alguém. - Ele diz abrindo um sorriso, me fazendo gargalhar baixo.

- Eu também estava pensando nisso.

- Acho que agora eu vou ter que te chamar de hyung, não é? 

- Não precisa, dois meses não fazem diferença. - Eu continuava com um sorriso em meu rosto que insistia em não se desmanchar. Talvez Yugyeom fosse uma boa companhia. 

- Mas e então, o que você gosta de fazer? - Yugyeom perguntou, me fazendo ficar um pouco pensativo.

- Bom... Eu não tenho nenhum hobbi e só fico em casa o dia inteiro sem fazer nada. - Dou um riso soprado. - Mas eu gosto bastante de desenhar. - Dou um sorriso orgulhoso de mim mesmo. 

- Desenhar? Que incrível! Aposto que você é muito bom nisso, hyung. - A ênfase do garoto na palavra "hyung" me fez ficar um pouco desconcertado, então apenas dei um leve soco em seu braço. 

- Já falei 'pra não me chamar assim, pirralho. - Dou um sorriso de canto. 

- Com licença? É a vez de vocês. - Uma garota atrás de nós diz apontando para o caixa vazio. Havia me envolvido tanto na conversa que nem ao menos prestei atenção. Isso era um sinal bom, certo? Apenas agradeci a garota rapidamente e me dirigi até a mulher no caixa, pedindo duas pipocas grandes, quatro refrigerantes e...

- Doces, hyung, doces! - Yugyeom diz animado, dando pulinhos mínimos no mesmo lugar. Levaria algum tempo para me acostumar à ouvir o mesmo me chamando de hyung, sendo que era somente dois meses mais novo que eu, mas suas ações eram adoráveis. 

- Certo, doces. 

Depois de pagar, com certa dificuldade eu e Yugyeom conseguimos nos virar para pegar tudo que compramos, e de forma um pouco atrapalhada fomos até o ponto de encontro, ao lado da pilastra. Não demorou muito para Yoongi e Jimin chegarem com os ingressos, e a primeira reação de moreno fora olhar Yugyeom de cima abaixo e dizer :

- Pra que tanto doce? Quer morrer de diabetes? Isso parece o saco do papai noel de tão cheio. - A reação de Yugyeom, ao contrário do que eu achava que seria, fora algo um tanto quanto fofo. Um biquinho se formou em seus lábios. 

- Por que ao invés de ficar reclamando da felicidade do garoto, você não ajuda a gente? - Digo levando meu olhar até os dois sacos de pipoca e o copo de refrigerante que segurava. Parecia que iria desmoronar a qualquer momento. 

- Quanto tempo falta para o filme começar? - O azulado ao meu lado pergunta, tendo agora somente um copo de refrigerante e seu enorme saco repleto de diversos doces em mãos. 

Jimin retira seu celular do bolso de sua calça visivelmente apertada, o que marcava bem suas coxas e bunda. Muitas pessoas olhavam, tanto homens quanto mulheres, e Yoongi parecia ficar cada vez mais incomodado com aquilo, ao ponto de ficar parado atrás do ruivo e ter seu queixo apoiado pelo ombro do mesmo. 

- Faltam dez minutos. Vamos ficar esperando em frente à sala. 

Assim como Jimin sugeriu, fomos para frente da sala em que o filme passaria e começamos a conversar sobre assuntos aleatórios. Um assunto agradável que não se resumia em Kim Taehyung. Nos distraímos tanto que nem percebemos que já podíamos entrar para assistir o tão esperado filme. À principio, Jimin não queria entrar na sala de forma alguma, então foi necessário eu pegar o ruivo e sustentar seu corpo em meu ombro, o carregando que nem um saco de batatas. Um saco de batatas que socava minhas costas e esperneava como uma criança. Escolhemos os lugares na última fileira e no canto, onde podíamos falar merda e fazer bagunça à vontade. Por sorte, só haviam duas pessoas perto da gente. Yoongi sentou-se ao lado de Jimin e eu ao lado de Yugyeom, assim o casal de amigos poderia dividir a pipoca e eu dividiria com o azulado ao meu lado. 

Durante os primeiro dez minutos de filme, Yugyeom comeu a pipoca, porém logo começou a comer as balinhas de goma e açucaradas do saco e não parou mais. Aquele garoto parecia uma formiguinha, como alguém pode gostar tanto de açúcar? O lado positivo disso, era que o azulado não dava nem um piu pois estava ocupado demais saboreando suas balas. Eu diria que estava prestando mais atenção em qual bala pegaria em seguida do que no próprio filme. Porém, como tudo tem um lado negativo (pelo menos na minha vida), Jimin não parava de falar nem um segundo, e o pior : à cada cena de susto o garoto pulava em seu lugar, se contorcia tentando se encolher na cadeira e ainda puxava minha blusa algumas vezes (Isso quando não agarrava no braço de Yoongi). Eu estava começando a ficar um pouco nervoso com o ruivo ao meu lado, mas logo suavizei minha expressão quando chegara a parte do filme que eu mais aguardava. Eu estava concentrado, porém...

- Hyung... - Yugyeom diz quase como um sussurro.

- Agora não, Yugyeom. 

- Mas, hyung... Eu... 

- Yug, silêncio.

- Hyung.... Por favor... - O garoto puxa a manga de minha camisa, me fazendo olhar para ele irritado. Eu estava com a língua afiada para dizer poucas e boas para o mais novo (que não era tão mais novo assim), porém o que eu vi me fez abrir a boca imediatamente. 

- Aish... Seu... Como você fez isso?! 

- Foi um acidente... - E mais uma vez o biquinho em seus lábios. Ele tem que parar com isso, eu não resisto à essas coisas.

Para resumir bem : Yugyeom estava com um copo enorme de refrigerante aberto e virado no meio de suas pernas. Metade de seu moletom e até a região da metade de sua coxa estavam encharcados de refrigerante. Tá aí alguém que é mais desastrado que eu. 

- E agora?! O que eu faço com você?! - Pergunto claramente frustrado.

- Eu não sei! Por isso te chamei! Me ajuda! 

- Mas que porra! - Nós sussurrávamos de forma afobada, eu não podia perder o filme que tanto queria ver por causa de uma criança desastrada. - Pra início de conversa, desvira esse copo e tira esse moletom.

De forma obediente, o garoto desvirou o copo. Tenho pena dele, o líquido deve ter sido todo absorvido por sua calça e cueca. Deve estar bem desconfortável. Assim que o mesmo retira seu moletom, eu pego a peça de roupa, sentindo minha mão começar a grudar. Malditos refrigerantes. Analisei Yugyeom de cima a baixo, e não tinha jeito, nem sua blusa se salvou. Nem se fôssemos no banheiro teria como resolver, o garoto tinha que ir embora urgentemente. De forma um pouco decepcionada, me viro para Yoongi em busca de uma ajudinha.

- Hyung! O Yugyeom se cagou todo de refrigerante.

- Novidade... - O moreno suspirou, virando sua face para mim junto de Jimin. - Manda ele ir pro banheiro. 

- Você não tá entendendo, ele tá todo melado! - Essa frase ficou meio estranha... Espero que ninguém mais tenha escutado isso.

Yoongi inclinou um pouco seu corpo para olhar Yugyeom, e balançou a cabeça negativamente assim que viu o estado do mais novo. Deprimente. 

- Esse Yugyeom... Minha casa e a do Jimin é um pouco afastada daqui... Kookie, a sua é mais perto, só uma quadra daqui, leva ele pra sua e dá um jeito nele. 

- Eu?! Por que eu?! Eu tenho cara de babá?! - Elevo um pouco o tom da minha voz, claramente indignado. Acabara de conhecer o garoto e já estava me dando problemas. 

- Você me escutou?! É você sim, agora vai. - Yoongi diz seriamente. Era realmente errado deixar o coitado assim, mas... Aish!

- Certo. - Me viro novamente para Yugyeom, que mesmo na situação em que se encontrava, ainda comia suas balas. - Vamos pra minha casa, você vai se limpar. - Digo levantando-me com o moletom do garoto em mãos e seguindo para fora da sala do cinema. Eu estava frustado, e por conta disso não conseguia desmanchar meu olhar de reprovação e meu cenho ficara levemente franzido. 

- Hyung, eu...

- Nah! Nem uma palavra! - Digo segurando os lábios do garoto com as pontas de meus dedos, os soltando em seguida e seguindo para fora do local. 

- Coloca isso. - Entrego minha jaqueta que até então estava amarrada em minha cintura. Iria me arrepender disso depois, mas era melhor do que o deixar daquele jeito, atraindo os olhares das pessoas. 

O garoto obedeceu, agradecendo baixinho e colocando a peça de roupa, assim pelo menos escondendo sua blusa branca manchada. Ao olhar para o lado e ver o saco de balas na mão do garoto, não pude deixar de dar uma baixa risada, comprimindo meus lábios como uma forma de auto repreensão em seguida. Eu tenho que ser firme com ele, até parece uma criança. 

Andávamos calmamente pela rua onde somente algumas poucas pessoas passavam. Estávamos quase chegando em meu prédio, quando uma menininha que passava com uma mulher que aparentava ser sua mãe solta um comentário que somente crianças fazem : 

- Mamãe, olha! Aquele moço fez pipi na calça. Fala pra ele que é feio! Ai ai ai, moço! - A mulher assim como eu solta uma risada, e o que fora motivo de risada para mim, para Yugyeom fora um motivo para ficar constrangido. As bochechas dele tomaram um tom rubro, o que me fez afagar seus fios azulados. 

- Tudo bem, já estamos chegando. 

(...)

Assim que chegamos em casa, mandei Yugyeom direto para o chuveiro, dando uma blusa e bermuda que caberiam nele e tratei de logo colocar as peças molhadas e grudentas por conta do refrigerante para lavar. Feito tudo isso, sentei-me no sofá na famosa posição "perninha de chinês" e comecei a mexer em aplicativos aleatórios pelo meu celular enquanto esperava o mais novo terminar seu banho, e isso não demorou muito tempo. Assim que o azulado saiu do banheiro, pude perceber seu semblante cansado e frustado. De certo modo aquilo me deu um pouco de compaixão, e vendo a hora na tela do aparelho em minhas mãos, suspirei pesadamente. Estava tarde. Seria muita maldade mandá-lo ir embora agora?

- Yugyeom... Você parece cansado, por que não passa a noite aqui? Até amanhã suas roupas já devem ter secado... - Cerro meus olhos, me repreendendo internamente por ter dito aquilo.

- Tem certeza? Eu posso ir embora, já fez muito por mim hoje... - Ele diz baixo, claramente envergonhado. No lugar dele eu também estaria.

- Você pode dormir no quarto de hóspedes. Já está tudo arrumado lá, é só ir dormir quando quiser... Eu vou tomar um banho e ir dormir, então, boa noite. - Levanto-me do confortável sofá, afagando os fios do garoto assim que passo por ele e indo em direção ao meu quarto. Agora ele que se vire. 

Chegando ao cômodo, fui direto para o banheiro anexado à ele e me despi, indo para o chuveiro em seguida. Apoiei ambas as minhas mãos na parede, deixando que meus pensamentos e inseguranças sobre Taehyung descessem pelo ralo junto com a água. Aquilo estava me torturando. Grande parte do dia meus pensamentos se resumiam nele, mesmo que sem querer. Terrível. Isso é terrível.

Me permiti ficar no chuveiro mais do que o tempo necessário para um bom banho, e assim que saí do box pude sentir a pele rugosa de meus dedos. Me vesti com o básico, cueca, bermuda e uma larga blusa. O suficiente para se sentir confortável para dormir. Já deitado em minha cama, que ao meu ver era grande demais para uma só pessoa, com meus braços atrás de minha cabeça, passei a observar o céu escuro fora de minha janela que tinha suas cortinas abertas. Aos poucos, sentia meus olhos pesarem. Confesso que estava quase dormindo quando escuto batidas em minha porta e em seguida o som da mesma se abrindo e fechando. 

- O que foi, Yug? - Pergunto com a voz embargada, ainda domado pelo sono.

- Hyung, eu posso dormir com você? - Espera... O QUE?! COMO ALGUÉM PODE DIZER ISSO DE FORMA TÃO NATURAL PRA ALGUÉM QUE ACABOU DE CONHECER?

- Como assim? - Pergunto abrindo meus olhos de imediato e sentando-me na cama, assim podendo encarar o garoto parado em frente à minha cama.

- É que eu não sou acostumado a dormir sozinho... 

- Você tem 19 anos ou 5? - Franzo meu cenho.

- 4.

- Como você é engraçado, hein. - Reviro os olhos. - Dorme abraçado com um travesseiro, sei lá. 

- Por favor, eu não vou nem encostar em você! - E mais uma vez, a porra daquele biquinho se forma nos lábios do garoto.

Eu juro que tentei resistir, mas não deu. Eu sou uma pessoa muito fraca.

- Tá. - Deito-me novamente na cama, logo sentindo o colchão afundar-se e um peso ao meu lado. Eu apenas fiquei de costas para o garoto. Não queria conversar, trocar olhares ou algo do tipo. Só queria dormir. 

Aish... Taehyung, o que você tá fazendo?